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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Resíduos - Jany Patricio



Resíduos  
Jany Patrício                   

        
Acordei cedo naquela quarta-feira. Levantei com cuidado para não incomodar Marcio. Calcei os chinelos e com um casaco sobre o pijama fui até o portão para deixar o lixo. Fazia frio. O sol tentava furar a neblina. Vi que a luz da casa em frente estava acesa e percebi que a cortina da sala se mexia.

            Aquela vizinha tinha o poder de me irritar. Certamente estava me espionando. Ela nunca aceitou a separação, e muito menos que Marcio e eu estivéssemos juntos.

            Foi há cinco . Eu havia me mudado para esta casa que comprei com as minhas e economias e um financiamento bancário. Numa sexta-feira  parei o carro em frente ao portão. Ao chegar na garagem o motor parou de funcionar. Tentei ligar várias vezes, mas não funcionava, ficando o automóvel atravessado na calçada.

            Neste momento, chegava Márcio para buscar seus dois filhos para passarem o final de semana com ele, como havia determinado o juiz durante a separação do casal. Ofereceu-me ajuda. Relutei um pouco, mas aceitei quando percebi que as crianças correram em sua direção e o abraçaram.

            Num instante ele conseguiu ligar o veículo. Fiquei um pouco constrangida, mas dei um sorriso e agradeci.

            Semanas após, no mesmo horário, eu não havia puxado direito o freio de mão do meu carro  movimentou-se, e bateu no carro dele, amassando a lateral. Ele balançou a cabeça negativamente e sorriu.

Eu me ofereci de pronto para pagar o reparo e foi nesta transação que começamos a conversar e estamos unidos até hoje.

           Mas ela não aceita, e inferniza nossa vida. Faz de tudo para colocar os filhos contra ele. Tentou impedi-lo de vê-los. Inventa calúnias.          
 
            Agora achou de vascular o lixo. Logo nesta viela que a vizinhança é tão educada e deixa tudo organizado para facilitar o trabalho dos garis.

Ela abre o lixo orgânico, o reciclável. Tudo!

            O que ela pensa que vai encontrar lá?

            O pior é que deixa tudo espalhado pela calçada. Então, vêm os cachorros de rua e os pombos, e terminam o serviço!

            Ah meu Deus, eu não sei mais o que faço! O pior é que não consigo pegá-la em flagrante.

            Mas já combinei com os outros vizinhos que vamos instalar uma câmera de vigilância na rua. Aí ela não escapa!



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