A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

TEMPOS MODERNOS DA BUROCRACIA - M.luiza de C.Malina



TEMPOS MODERNOS DA BUROCRACIA
M.luiza de C.Malina

A tecnologia avançada, o foguete, o celular, Google, toda a modernidade não serviu para facilitar nada, ao contrário, veio para dificultar toda a nossa vida que era mansa e previsível.

Pagar uma conta, por exemplo. Meu Deus! Sim, só clamando Ele para que permita que nossa paciência não se evapore, como a pouca água nas ressecadas represas.

Alguém vai dizer, coloca suas contas em débito automático! Débito automático, jamais! Deste mal já me livrei. Sou mais a moda antiga. Mas, para não me passar por tão antiquado, aceito o uso da internet, que tem lá os seus cuidados.

Muito bem. Aí vem a “coisa”. Viajei, viajei bem. O pensamento de quando retornar acerto tudo, não é seria problema. Vou pagar os juros que provavelmente virão na próxima conta.

Lá fui eu ao Banco mais popular da cidade pagar a tal conta, conforme instruções.

- Senhor, desculpe não posso receber e nem calcular a multa.

Pareceu-me engano, já que estava eu no Banco Popular para pagar uma conta cujo boleto é do próprio Banco Popular.

- Senhorita, a multa virá na próxima conta, está escrito aí.

A caixa olha para o papel, como se estivesse frente a um marciano e arguiu:

- Senhor, o Banco não possui caixa habilitado a fazer este tipo de cobrança, use a Internet.

- Srta. Eu preciso pagar isto! Estou aqui justamente porque, o título está vencido e a Internet não o recebe, fui orientado a vir direto ao caixa do Banco Popular, pela própria empresa, digo, pela atendente computadorizada. E, aqui estou.

- Sinto muito senhor. Tente pagar esta conta no Supermercado LevaFour até às 19:00 horas, uma vez que eles possuem caixa de cobrança.

Desanimado, lá fui eu, pensando pelo caminho. A que ponto chegamos! Um supermercado recebe o boleto de um Banco Popular. E, o que faz este Banco, apenas recebe e lucra com os clientes?

Bem, acredito que vou guardar o dinheiro no colchão.

No LevaFour.

Quantos caixas e que fila!  Bem, é melhor perguntar se isto está certo,  se posso pagar aqui.

- Sim. O senhor pode dirigir-se a qualquer caixa. Incrédulo, lá estava eu, apresentando meu boleto ao caixa.

- O que o senhor deseja?

- Pagar esta conta – outra que olha o papel como se estivesse decifrando uma análise de urina.

- Não posso receber. O senhor precisa ir ao Banco Popular.

Minha paciência estava pedindo muletas ao Deus.

-  SenhoritAA! Acabei de chegar do Banco e fui orientado a pagar neste local, porque eles não tem caixa de cobrança.

- Ora, senhor, se o senhor esteve lá, por que eles não cobraram ou calcularam a multa? - minha paciência estava no limite de olhos esbugalhados e boca salivando. Era mais uma que estava analisando letras que não conseguia entender.

- Sem oras, minha filha, aqui está escrito que a multa virá na próxima conta. – disse batendo o indicador no papel sobre a informação - Por favor, é só receber. Aqui está o dinheiro, uma nota sobre a outra, não tem sequer troco.
- Ah! Um momento. Vou apertar o botão, a luz vai acender e a gerente já vai chegar.

Enquanto isto a fila crescia e via os clientes resmungando e virando bocas,“principalmenteaqueestavaatrásdemimquejáhaviadescarregadotodooocarrinho”. 

Eu já estava no limite.

Mais uma pergunta, uma só, acredito que me transformaria em “Hulk”.

Para minha surpresa, a gerente chega mais rápido do que eu pensava, deslizando corredor afora em cima de patins, equipada com um belo capacete.  Ouve, dá clique, e ordena:

- Pode receber o valor que está aí. A multa virá na próxima conta. Você deveria ter lido as instruções. – Sem mais nenhuma palavra, retorna ao seu deslize levando minhas nuvens no embalo dos patins.

A verdade é que você cai numa rede, tal qual um peixe e não consegue sair, nem sequer comprar um McInfeliz, se o sistema cai.

A burocracia é que deveria estar sobre os patins, porque eu, pobre eu, já estava de patins na rampa, à beira de um colapso.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEIXE AQUI UMA MENSAGEM PARA O AUTOR DESTE TEXTO - NÃO ESQUEÇA DE ASSINAR SEU COMENTÁRIO. O AUTOR AGRADECE.

A última carta. - Adelaide Dittmers

  A última carta. Adelaide Dittmers   Suzana segurou o envelope meio amassado, como se tivesse passado por diversas mãos. Um frêmito s...