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terça-feira, 15 de junho de 2021

Em tempos de pandemia - Alberto Landi

 



Em tempos de pandemia

Alberto Landi

 

 

Isa levava uma vida simples e tranquila. Morava num pequeno vilarejo ao pé de uma das montanhas mais altas da Serra da Estrela, em Portugal, mas ela não sabia que essa tranquilidade estava prestes a acabar.

Isa, uma menina meiga, não queria mais amar ninguém, pois seu coração havia sido ferido várias vezes. Mas, tudo mudou!

O mundo entrou em pandemia, milhares de pessoas não se viram mais, isolamento quase total das famílias.

Isa tinha casa, mas não tinha família junto de si.

Os dias iam passando e ela reencontrou um amigo de infância. Tudo estava bem até que um dia ele fez uma revelação, confessando o quanto a admirava e o quanto gostaria de estar com ela.

Isa se emocionou diante da confissão e pensou que, sempre em algum lugar existe alguém que se ama em segredo. Ela acreditou que seu amigo estava sendo sincero, e talvez estava sendo mesmo. Mas os dois eram como água e óleo, estavam na mesma fase da vida, mas não se misturavam. O coração até queria, mas a razão prevaleceu, não daria certo essa mistura.

Uma amiga de Isa, a convidou para participar de um grupo nas redes sociais, objetivando conhecer novas pessoas e assim afastando sua tristeza.

Prontamente aceitou, afinal o que fazer em uma quarentena sem família junto de si, sem trabalho e sem um amor para curtir.

Começou a se interessar pela informática, para afastar uma possível depressão de estar só.

A quarentena foi péssima para alguns, mas para ela foi o melhor que pode acontecer.

Num dos grupos que participava havia pessoas que se tornaram interessantes. Havia um que chamou sua atenção, por terem muitas coisas em comum, era o Marcos, formado em Ciências Econômicas.

Com as trocas de mensagens escritas e as vezes por viva voz, Marcos confessou a Isa que a voz dela era muito sensual. Isso fez com que ela se sentisse lisonjeada.

Os dias se passaram, as conversas aumentaram. Após um período ela resolveu se afastar, as trocas de mensagens cessaram, e o medo tomou conta.

Alguns meses se passaram e a quarentena continuava. Isa resolveu se reaproximar. Aprendeu que a coragem não é a ausência do medo, mas o triunfo sobre ele. A pessoa corajosa não é aquela que não sente medo, mas o que conquista esse medo. Não importa quantas vezes você caia, mas o mais importante é como você se levanta.

Pensou: hoje estou renascendo. Nessa pandemia estava se reencontrando, percebendo suas fraquezas, mas também seus pontos positivos.

As nossas vidas são como um ímã que atraem ao seu lado as pessoas certas, no momento certo, e você precisa estar consciente e reconhecer.

Uma coisa é certa a pandemia estava lhe favorecendo.

Na semana que antecedia o dia dos namorados, Isa resolveu fazer uma surpresa a Marcos, e para isso estava consultando o site de compras em seu computador.

Começaram a descobrir algo muito além de uma amizade, mostrando mesmo que em tempos de pandemia, a felicidade pode ser encontrada....

E assim a vontade de viver voltou para Isa.....  

O bom deputado - Dinah Choichit

 


O bom deputado

Dinah Choichit

 

Alberto era um deputado estadual muito querido, pois o que ele fazia era se preocupar com a educação da sua cidade. Tudo que ele prometia, ele colocava em prática. Alberto procurava andar com amigos que tinham a mesma preocupação, assim ele conseguia apoio aos projetos, e dava andamento às ações. Com todo esse apoio ele conseguiu colocar mais quatro deputados que defendiam a mesma causa dentro da Assembleia.

Durante o seu mandato Alberto conseguiu abrir muitas escolas, e todas com professoras competentes que possuíam ricos currículos. Porém, havia uma escola que era da preferência dele, e que ele não saia de perto, mas ninguém sabia o porquê. Apenas eu. Eu descobri o seu segredo bem rápido! Ele estava apaixonado pela professora Camila, uma das mais queridas da cidade.

Depois que cumpriu com tudo que prometeu, no fim do ano, pediu Camila em casamento. Ela aceitou e a cidade se maravilhou.

 

Surpresa na festa - Helio F Salema

 



Surpresa na festa

Helio F. Salema

 

Numa pequena cidade as crianças estão indo para o primeiro dia de aula. Duas chegam quase ao mesmo tempo. O suficiente para olharem uma nos olhos da outra. Assim começou uma amizade duradoura entre Jane e Jessica. Até completarem o segundo grau, todo ano na mesma escola, mesma sala e em encontros em casa. Em alguns passeios estavam juntas.

No último ano, do segundo grau, a família de Jane  resolveu que mudariam, no ano seguinte, para outra cidade onde havia faculdades. Jessica que já estava com casamento marcado para depois da formatura permaneceu na sua cidade natal.

Apesar da distância , a comunicação entre elas permaneceu constante, e-mails e telefonemas.

No casamento de Jessica, Jane  voltou para ser madrinha da amiga. Conversaram por longas horas na véspera do casamento. Após a cerimônia , uma enorme alegria para ambas, muitas fotos juntas e a promessa de continuar se comunicando.

 

No dia seguinte Jane retornou, pois tinha que trabalhar no escritório de advocacia de uma amiga do seu pai. Trabalhou neste emprego enquanto durou o curso de Direito.

Embora não tivesse acontecido nenhum contato pessoalmente com Jessica, durante este período, mantiveram telefonemas e e-mails. Jessica mencionava  pouco sobre o casamento e quando dizia era para lamentar o relacionamento.

Após se formar, Jane  passou num concurso,  mudou-se para a Capital e foi morar sozinha. Sempre em contato com amiga, falava  de sua nova vida agitada, porém proveitosa.

Nos últimos meses, Jessica várias vezes reclamou do relacionamento com o marido. Ciúmes era uma das principais queixas. Jane sempre dava a maior força para a amiga.

Até que um dia Jessica informa à amiga que estava se separando.

Depois de uma longa conversa Jane sugeriu que viesse morar junto com ela.

Jessica ficou contente, mas disse que já tinha aceitado convite de seus tios e padrinhos, para morar com eles. Eles viviam em outra cidade numa casa grande, mas sozinhos, pois não tinham filhos. Ela iria trabalhar na loja com eles.

A partir daí a comunicação entre elas retornou intensa como antigamente. Cada uma falando do seu dia e planos, ouvindo da outra, histórias, totalmente, diferentes.

Numa noite, Jane chega em casa toda eufórica. Pelo celular percebe que sua amiga está online e decide não esperar o dia seguinte para contar a novidade.

- Oi, Jessica, tudo bem?

- Olá, tudo certo.

- Acabei de chegar e não consegui esperar até amanhã para lhe dar uma notícia. Lembra daquele médico que conheci quando fui ao hospital visitar uma amiga?

- Sim, estou lembrando.

- Fui no aniversário de uma colega de trabalho. Quando cheguei vi vários casais. Eu era a única sem par, o que me deixou um pouco aflita. Apesar da minha colega e o namorado conversarem comigo.

Surpreendentemente, quem chega?

Justamente ele. Cumprimentou a todos e veio se sentar onde nós estávamos.

Você imagina como fiquei. Pouco depois minha colega e o namorado saíram e ficamos a sós.

Lembrou que tínhamos estado no hospital e perguntou pela minha amiga. Estávamos numa conversa muito agradável, quando o celular dele tocou. Pediu licença e ali mesmo atendeu.

Em seguida pediu desculpa,  pois tinha que atender uma urgência. Perguntou se poderia me ligar outra hora para continuarmos a conversa, eu disse que sim, pediu meu telefone, anotou no celular e saiu.

Amiga, agora penso, imagino e desejo uma mudança enorme na minha vida.

 

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Samantha - Alberto Landi

 

Samantha

Alberto Landi

 

Desde os tempos de ginásio conhecia Samantha. Uma menina vaidosa, comunicativa, bonita, inteligente, muito querida pelos colegas e admirada por todos que a conheciam.

Ela estava sempre presente nos bailinhos que eu frequentava e era muito requisitada por conta de sua beleza.

Eu lembro perfeitamente que em um dos bailes que fomos, uma formatura como tantas outras que estava acostumado a frequentar, eu de terno básico e ela em um vestido preto, longo, “tomara que caia”, linda! Seu vestido resplandecia na luz negra.

Sorvi um gole de cuba libre para dar coragem e, finalmente, me dirigi aquela bela e estonteante mulher.

Os minutos... as horas se passavam, a música tocava e rodopiávamos pelo salão. Eu estava inebriado pelo seu perfume de lavanda.

A princípio notei certo ar de tristeza nela, perguntei o motivo e tive a resposta; simplesmente ela estava só e sua amiga teve um problema familiar.

Depois de algum tempo, seus olhos começaram a brilhar de alegria. Após algumas danças e trocas de olhares sentamos em uma mesa reservada.

Era muito euforia. Infelizmente depois daquele momento inesquecível, o nosso relacionamento não prosperou.

O tempo passou, e após o ginásio tomamos rumos diferentes na vida, não a vi mais. Mas, a doce lembrança continuou na minha memória, até que resolvi procurá-la.

Felizmente, encontrei-a cursando Direito na Universidade São Francisco.  Voltamos a nos ver com frequência.

Ela continuava elegante, conversadora, linda, os óculos escuros que usava, escondiam aqueles olhos verdes lindos mas davam-lhe um aspecto soberbo e inteligente.

Sentimos muita emoção, pareceu que o tempo não havia passado.

Nunca pude imaginar reencontrar uma amiga tão querida. Algo estava para acontecer. Não foi, no entanto, apenas a emoção de sua presença física, mas também acho que nos perdemos no tempo, pós ginásio.

Na minha memória ela continuava igual ao que era naquele tempo. Tudo isso agora veio à tona. Passamos momentos agradáveis, estávamos livres em um passado com muitas lembranças.

Nos bailes promovidos pela faculdade ela sempre se mostrava alegre, aceitando meus convites para dançar. Vestia-se sempre adequadamente com uma roupa que se moldava naquele belo corpo sensual.

O nosso relacionamento de amizade florescia a cada dia, até tornar-se um grande e verdadeiro amor.

Acho que até esse momento, não acreditava em destino.

Acredito que o Universo tenha conspirado para isso....

JANE A MULHER MARAVILHA - Henrique Schnaider

 


JANE A MULHER MARAVILHA

Henrique Schnaider

 

Jane desde pequena foi muito esperta, garota precoce, já queria namorar os amiguinhos. Na escola se sobressaía, ganhava todos os prêmios, era sempre a primeira da classe.

Seu pai era um rico empresário, porém muito ambicioso, não se contentava com o patrimônio que possuía, guloso queria sempre mais. Jane filha única, recebia todos os mimos.

Seu pai saiu fora dos trilhos e começou a entrar em negócios de ganho fácil e quando viu, estava enterrado até o pescoço. As dívidas cresceram e o dinheiro encurtou. Daí à ruína foi um pequeno passo.

A vida de luxo e riqueza para a família terminou. Veio a miséria e os problemas para Jane e seus pais. Precisaram da ajuda de uma tia rica para não passarem fome.

Jane nessa situação de penúria, teve que trabalhar cedo para ajudar a família e continuar os estudos. Como sempre foi uma menina desembaraçada, a jovem aos 15 anos conseguiu emprego rapidamente, e foi sucesso na Empresa, sendo logo promovida de cargo. E, aos 25 anos já ocupava a gerência com um bom salário.

Ela continuou os estudos e formou-se em Administração de Empresas. Mas, continuava aquela mulher agitada e muito esperta, moderna e bonita.

Namoradeira, trocava de namorado como quem troca de roupa. Por estes motivos já caiu na boca dos fofoqueiros de plantão. Apesar disso, suas amigas a invejavam pelo fato de conseguir se sobressair.

Mas, algo surpreendente aconteceu. Fiquei sabendo por uma amiga íntima dela e minha, já que trabalhamos na mesma empresa, que ela um dia ao telefone confessou que apesar de namorar muitos homens, ainda não tinha amado nenhum deles.

Jane continuou a namorar muito e nunca me olhou ou demonstrou interesse por mim. Eu antes mesmo de saber que ela ainda não havia amado ninguém, não tirava os olhos dela, pois ela era muito bonita, elegante e com um corpo esbelto. Além de todas estas virtudes era culta, tudo que um homem deseja em uma mulher.

Jane alcançou cargo máximo na empresa, ficando abaixo só do presidente, dono de todo aquele complexo financeiro.

Eu consegui um cargo Administrativo alto e os meus contatos com Jane foram cada vez maiores, pois as reuniões se tornaram constantes.

O meu amor por ela só crescia pela sua competência, e por se manter atraente. Finalmente, Jane começou a me notar com um certo interesse, além da troca de informações para melhoria da empresa. Até que um dia estávamos num papo descontraído, criei coragem e a convidei para jantar, e para minha surpresa ela aceitou.

Os jantares foram acontecendo de forma constante e, finalmente, o amor aconteceu. O meu amor por Jane é genuíno e ela, finalmente, declarou que eu sou o homem da vida dela e que me ama muito.

Nos casamos, tivemos 3 filhos e formamos uma bela família. Os pais de Jane faleceram e os meus também, todos bem idosos. Nos negócios estamos crescendo, pois, o Empresário, nosso patrão, resolveu se aposentar e nós compramos a Empresa,  e estamos nos expandindo para vários tipos de negócios, mas com muita cautela.

Somos felizes e temos tudo que queremos. Nossos filhos já todos formados, participam da nossa Empresa se preparando para nos suceder.

Presente pra toda gente - Helio F. Salema

 

 


Presente pra toda gente

Helio F. Salema

 

Claudinha adorava receber e dar presentes.  Quando ia à rua sempre parava em alguma loja. Observava, minuciosamente, cada objeto, e chegando em casa anotava num pequeno caderno os detalhes. Nas conversas com as amigas prestava muita atenção no que elas diziam sobre o que ganharam. Analisava cada informação que, posteriormente, seria incluída no caderno.

Quando necessitava presentear, a escolha era, cuidadosamente, depois de muito consultar suas anotações. Com toda certeza o presente agradaria.  Normalmente, provocava uma reação espantosa a quem recebia,  e às outras pessoas também.

Um dia uma grande amiga lhe perguntou como que ela conseguia escolher tão bem, já que para muitos, era uma tarefa difícil. Depois de hesitar bastante, resolveu revelar aquilo que na realidade nunca pensou em guardar como segredo. À medida que amiga folheava o caderno ficava mais admirada pelo que via.  Claudinha explicou como conseguiu reunir tudo aquilo, então a amiga pensou e resolveu perguntar se ela daria sugestões às outras pessoas. Novamente, hesitou um pouco, mas concordou.  Assim as outras amigas sempre que precisavam comprar presente primeiro a procuravam.  Algumas queriam saber outras informações, onde encontrar, e melhor preço, e isso fez aumentar os itens a serem pesquisados, o que tornou o pequeno caderno insuficiente

Numa das lojas, na qual pesquisava com frequência, uma vendedora lhe perguntou se era para trabalho da escola. Ela disse que não,  e explicou a finalidade. Enquanto fazia sua pesquisa a vendedora conversou com a dona da loja. A comerciante com larga experiência vislumbrou uma oportunidade. Foi até onde estava a menina, elogiou a disposição dela em ajudar as amigas, fez várias perguntas, principalmente, como era o contato entre elas.

Depois de ouvir atentamente, se colocou à disposição para entregar farto material sobre o que era pesquisado, concluiu dizendo daria desconto para quem ela indicasse. E uma comissão para ela.

Claudinha saiu da loja contentíssima e ao encontrar alguém logo revelava a novidade. Com isso, passou a receber, diariamente, várias pessoas interessadas.

Num dia, em que atendeu muita gente, estava em sua casa, Dona Helena, amiga antiga de sua mãe. Vendo todo o trabalho que dava para folhear, agora um grande caderno, pegar os panfletos e encontrar outras informações solicitadas, esperou ficar a sós com Claudinha, para perguntar por que não usava computador, onde teria tudo de maneira mais fácil e rápido. A mãe logo se apressou para dizer que já havia pensado nisso, mas o que ela recebia de pensão, como viúva, não sobrava o suficiente para tal gasto. Dona Helena, olhando para Claudinha, disse que tinha comprado um novo computador e que o antigo ainda estava funcionando. Ofereceu para que ela o experimentasse. Claudinha olhando para sua mãe e sorrindo, acenou com a cabeça. A emoção foi tanta que lhe faltaram palavras. D. Helena a convidou para ir até a casa dela para conhecer o velho computador.

Muito emocionada foi entrando, com o coração disparando e suando muito, louca para ver o presente que ela tanto desejava sem jamais ter revelado.

D. Helena o colocou numa mesa, ligou e pediu que ela sentasse na cadeira em frente. À medida que a tela do computador ia se alternando mais e mais emoção. Cada explicação era absorvida com facilidade, como se na imaginação das meninas, a muito aquilo lhe era familiar.

No mesmo dia estava o computador funcionando na casa da Claudinha. Poucas vezes ela precisou da ajuda de Dona Helena, que embora estivesse sempre à disposição, no entanto, as necessidades da Claudinha estavam aquém da capacidade de Dona Helena.

Passava várias horas consultando, pela internet, os mais variados artigos de presentes. Cada dia aumentava não só a quantidade como também a qualidade das anotações.

Certo momento, percebeu que seus conhecimentos de informática não eram suficientes para atender as necessidades do seu, agora, projeto comercial. Passou, então, a frequentar cursos de programação, adquirir livros, e se relacionar com pessoas que tinham interesses semelhantes.  Sua vida de menina de colégio foi-se transformando.

Finalmente, depois de muita dedicação conseguiu criar o aplicativo “cadernodepresentesdaclaudinha”

terça-feira, 8 de junho de 2021

A RODA DA VIDA - Claudionor Dias da Costa

 


A RODA DA VIDA

Claudionor Dias da Costa

 

Meu nome é Valentina. Minha mãe me chamava de Tina o que me agrada muito por   lembrar dos profundos olhos negros amorosos e de sua simplicidade. Estas são as poucas lembranças que guardo dela. E a última, quando de mãos dadas com meu irmão Alberto a vi caminhando rapidamente de costas para nós, após nos ter dado um longo abraço na porta daquele orfanato, que seria a escola como ela nos disse.

Mal tivemos tempo de entender o que acontecia, quando ouvimos a voz da senhora que mais tarde saberíamos ser a tia Lola:

Venham crianças, vamos brincar com os amiguinhos!

Nessa época, eu com seis anos e meu irmão Beto com quatro, ainda não nos dávamos conta de que aquele lugar seria nossa casa a partir daquele momento. Aquele cenário e tudo que o envolvia permaneceria um bom tempo conosco.

Hoje, contemplando a foto da brincadeira de roda que alegremente fazíamos com as demais crianças, cantando e pulando bastante não imaginávamos o que seria a nossa vida...

Entre explicações calmas com voz pausada que ouvíamos da tia Lola sobre o porquê de mamãe nos ter deixado naquela “escola”, indo viajar para outro país, pois necessitava trabalhar e demoraria a voltar, começamos a nos entrosar naquele grupo e passamos a entender que seria nossa família, como ela dizia.

Aprendemos a escrever as primeiras palavras e principiamos a ler, entremeados com disciplina firme e na rotina medida entre a grande mesa de refeições e o dormitório conjunto com as demais crianças. Não podemos criticar e lamentar como fomos tratados, porque embora sendo tudo muito simples, o pessoal procurava nos proporcionar educação e amenizava as lembranças de nossos pais. Estas, foram sendo diluídas em imagens remotas. E o tempo foi passando...

Após dois anos, numa manhã ensolarada de verão a algazarra da turma correndo pelo gramado, naquela brincadeira de “pega-pega” no intervalo de nossas atividades, minha atenção se voltou para um casal elegante descer de um carro e caminhar em direção à porta onde estava Dona Estela, a diretora de nossa “escola”.

Toda sorridente conduziu o casal para sua sala.

Após meia hora, já nos encontrávamos preparados para reiniciar nossas aulas quando tia Lola nos chamou:

Tina e Beto,  venham rápido.

Ela nos conduziu à sala da diretora, que se encontrava conversando com o casal que eu havia visto. Prontamente se dirigiu a nós:

Sentem-se crianças. Quero lhes apresentar o Sr. Euclides e Dona Lindaura. Vou deixá-los por alguns instantes, porque eles querem conversar com vocês.

Eles sorriram e começaram a nos perguntar sobre nossas atividades e contavam fatos curiosos sobre a vida deles e como era gostoso o lugar em que viviam. Foi agradável para nós e em pouco tempo já havíamos perdido a timidez.

A diretora voltou e nos disse que eles nos convidaram a passar alguns dias na casa deles. E assim foi.

Nos levaram para aquele bairro arborizado e naquela casa bonita conhecemos também o filho deles, o Alceu. Ficamos por quatro dias. Depois retornamos e Dona Estela, juntamente com a coordenadora que acompanhava nossas atividades nos chamou e passou a nos explicar que o casal havia demonstrado interesse em nos adotar. Nesse momento, lembrei do que nossos amiguinhos comentavam de que um dia esperavam também ser adotados e viver com uma família de verdade. Era tudo que queriam.

Com a nossa pouca idade, não havia escolha. Muito embora, havíamos até simpatizado com a ideia e nos motivamos arrumando nossas pequenas malas e até ansiando morar com eles,  mesmo um tanto apreensivos.

E na despedida com a tia Lola, o restante dos funcionários e nossos amiguinhos caminhamos para o carro deles. Até o Alceu veio nesse dia.

No caminho ainda olhei a foto da brincadeira de roda, que guardo ainda e, ficava imaginando como seria nossa vida a partir dali. Estava um pouco inquieta e ansiosa, mas com curiosidade para descobrir como seria tudo. Beto, apertando minha mão com leve sorriso olhava para mim.

A nossa nova família se esforçava em nos agradar e facilitar nossa adaptação.

Dona Lindaura, doce sorriso, olhos cor de mel, muito carinhosa foi logo nos abraçando e beijando. No princípio ficávamos um pouco retraídos e logo entendi por que as pessoas resumiam seu nome e a tratavam por Linda. Ela era linda mesmo. Tinha um grande coração. Procurava criar empatia rápido, ajudava os outros como podia. Não foi nada difícil gostar dela.

O Sr. Euclides, mais formal e não tão falador nos tratava bem e brincava tentando mostrar que era vigilante com a disciplina, costumava dizer:

Vejam, meu nome começa com “Eu”. Portanto, quem é o comandante aqui?  Nos olhava com cara irônica e fingia seriedade. Alceu, pré-adolescente com doze anos, sacudia a cabeça com suspiro irônico contraindo o canto da boca como querendo mostrar desacordo com o que o pai dizia.

Por insistência e perseverança sincera da Linda, nos habituamos a chamá-los de pai e mãe. Para o Beto foi mais fácil porque passou a ser até mimado como caçula.  Eu demorei um pouco por um retraimento natural até sentir segurança de que era realmente acolhida.

Passamos a frequentar uma escola particular no bairro, a mesma de nosso novo irmão.

Como nos sentimos aceitos naquela família, nossa vida parecia que seria muito feliz.

Contudo, alguns de nossos colegas de escola, sabedores de nossa condição de adotados, começaram a nos ridicularizar exercendo “bullying” sobre isso.

Beto ouvia que seus pais não eram de verdade. Eu, que um dia seria abandonada novamente.

 Alceu que era obrigado a escutar:

− Como vão aqueles “passarinhos” perdidos que moram com vocês.

Procuravam dissimular para que o bedel não ouvisse. Tudo isso, era muito difícil para nós.

Alceu se envolveu em brigas e confusões, tentando nos defender. E por mais de uma vez foi suspenso na escola, mesmo com os argumentos que nossa mãe colocava.

Ele passou a ser um rapaz inconformado com este tipo de situação por gostar muito de nós, seus novos irmãos. Com senso crítico social e, por não concordar com atitudes arrogantes e preconceituosas dos colegas, passou a desenvolver um sentimento de revolta. Seu aproveitamento escolar caiu muito. Trancava -se no quarto e principiou a demonstrar permanente rancor. Não demonstrava muito interesse pelo grupo de amigos. Acabou redundando em expulsão da escola.

Nossos pais,  para evitar maiores problemas, transferiram todos para outra escola num bairro mais distante.

Por um bom período, tudo se acalmou e retomamos a rotina. Parecia que tudo ficaria bem.  Ledo engano.

Já moço passou a fazer novas amizades e com seus dezoito anos, passou a contestar bastante os pais e não deixava de frequentar as festas e “baladas” como se diz, chegando cada vez mais tarde da noite. E, com muito custo foi estudando e, entre altos e baixos,  após cinco anos ingressou numa faculdade.

Quando em casa, fechava-se em seu quarto, pouco conversava, muito embora, por mim e Beto demonstrasse carinho.

E o nosso pai com sua sensata disciplina   vendo que Alceu adotava atitudes que não concordava, passou a chamar sua atenção. Isto, era motivo para discussões que foram se avolumando e deixava mamãe e nós, constrangidos e preocupados.

Por mais de uma vez escutamos nosso pai se dirigir a ele em voz alta:

Alceu, estas amizades estranhas não são boas. Poderão lhe trazer problemas e complicar sua vida e a nossa.

Ele demonstra intransigência e descontentamento.

Novamente passou a ir muito mal na faculdade. Repentinamente, passou a não mais discutir com o pai. Só ouvia. Dormia mais que o normal a ponto de perder aulas. Nas refeições ficava com olhar perdido e não participava das conversas.

Até que naquele dia de junho ele não regressou.

O desespero tomou conta da família.  Entre buscas, telefonemas, idas e vindas à Polícia após três dias descobriu-se que ele estava num hospital no extremo sul de São Paulo.

Nossos pais muito tristes só confirmaram o que vinham desconfiando a tempos: ele se drogava.

Havia sido espancado, encontrado sem documentos e encaminhado ao Pronto Socorro. Se envolveu em briga com outros viciados e foi encontrado desfalecido num beco da favela.

Passou a se recuperar em casa e após melhora nas condições físicas iniciou um tratamento psiquiátrico.

Com todo este drama, e agravado ainda por nosso pai ter sido obrigado a acertar contas com o dono do tráfico que passou a importuná-lo, não passou um mês e ele teve um AVC. Não resistiu. Perdemos como ele se autodenominava o nosso “Comandante”. Muito triste.

Choramos muito. A nossa linda Linda mal teve tempo de ter seu luto passou com muita força e dedicação a cuidar de nós todos. E conseguiu.

Alceu após dois anos parecia outro homem. A morte de nosso pai naquelas circunstâncias foi como uma alavanca a lhe dar responsabilidade e passar a ajudar nossa mãe.

Montou uma empresa no ramo de varejo, com marca própria de roupas e se saiu muito bem.

Eu me formei advogada e Beto engenheiro civil.

Estes momentos chegaram num turbilhão à minha memória e me vejo hoje anos depois com   Beto e Alceu abraçados, olhos marejados, colocando flores no tumulo de nossos pais.

É nossa saudade contida, profundamente agradecidos pela Linda e Euclides, pessoas incríveis e dedicadas que nos deixam orgulhosos como filhos.

Como valeu a pena interromper aquela brincadeira de roda na nossa infância para conhecê-los num tempo que parece perdido...

Refletindo e fazendo um paralelo com essas imagens, não posso deixar de suspirar e reconhecer que eles com muito amor foram fundamentais para movermos a Roda da Vida...

FAZENDO MÉDIA. - Leon Vagliengo

 

 


FAZENDO MÉDIA.

Leon Vagliengo

Uma bajulação romântica memorial.

 

Com o passar do tempo os fatos se sucedem, quase sempre sem que percebamos a sua relevância para o nosso destino. Por isso recorri à memória para tentar resgatar fatos importantes que moldaram grande parte do enredo de minha vida. Vou aqui relatá-los para que entendam por que estou em prisão perpétua.


Era o mês de julho do ano de mil novecentos e sessenta e três. Eu, minha mãe e meus irmãos passávamos as férias na Praia Grande, no pequeno apartamento da família, como fazíamos em todos os períodos de férias escolares havia cinco anos. O meu pai permanecia em São Paulo, em serviço no Banco do Brasil, pois não fazia jus a férias naquela ocasião, ficando conosco apenas nos finais de semana.

 

A Praia Grande na época era muito pouco habitada. Algumas casas aqui e ali, e o nosso prédio, o Edifício São Paulo, com seus quatro andares se destacava isoladamente na paisagem, juntamente com o Edifício Santo Antônio, ainda em construção, ambos compondo o Condomínio Havana.

 

Quase um quilômetro adiante a recém-inaugurada Cidade Ocian, tendo à sua frente uma grande estátua do Rei Netuno, estendia-se perpendicularmente à praia, com uma igrejinha e muitos prédios também de quatro andares, dois a dois ladeando a rua principal, iniciando o processo de expansão urbana da região e já trazendo alguma aglomeração às areias nas manhãs de sol. Mas ao longe, sem interferir em nosso recanto.

 

Seguindo uma tendência natural para as circunstâncias de então, o Havana sediava o encontro dos jovens do prédio e das imediações, uma pequena turma que lá se reunia para jogos e brincadeiras na praia pela manhã, conversas à tarde e à noite, e até bailinhos.

 

Foi nessas férias de julho que surgiu uma nova integrante em nossa turminha. Uma linda moreninha de quatorze anos que com a sua simpatia logo encantou a todos no grupo. Nas conversas destacava-se por sua facilidade para rir das bobagens inocentes produzidas e proferidas pelos jovens, mas também, e principalmente, pela forma de sua risada: rápida, intensa e muito descompassada, era absolutamente notória e, após qualquer graça dita por alguém, fazia com que todos rissem muito, muito mais. Essa é uma lembrança marcante que conservo até hoje, com a qual ela prendia a minha atenção.

 

Mas ainda era cedo para que eu pensasse em qualquer outra coisa: aos quinze anos, na praia, o foco era futebol, vôlei e pegar jacaré nas ondas do mar.

 

Ela não retornou nas férias do ano seguinte.

 

Em março de mil novecentos e sessenta e quatro meus pais se mudaram para o Jardim Paulista, na zona sul da cidade. Faltavam dois anos para me formar no curso colegial e continuei a estudar no CEDOM, colégio estadual localizado na zona norte, onde havíamos morado. Para ir ao colégio eu atravessava a cidade duas vezes por dia, tomando dois ônibus na ida e dois na volta.

 

Em fevereiro de mil novecentos e sessenta e cinco completei os dezoito anos e, finalmente, tirei a minha habilitação de motorista. Ainda ia para o colégio de ônibus, mas, vez por outra, nos fins de semana, meu pai me emprestava o Volkswagen, carro que na época ainda não tinha o apelido de fusca, e eu comecei a dirigir, fazer os meus primeiros passeios motorizados.

 

Em uma noite de maio daquele ano, já mais confiante nas minhas habilidades ao volante, e aproveitando a disponibilidade do carro, resolvi estender o passeio para os lados do Tucuruvi, Jardim Tremembé e adjacências, bairros da zona norte.

 

Foi quando, casualmente, a vi.

 

Passando pela calçada a uns vinte metros de mim, acompanhada de seus pais, lá estava ela, menos menina, mais moça e mais linda, a moreninha que dava risadas engraçadas naquelas férias de julho. Curioso, e já muito interessado, dei um jeito de segui-los e consegui descobrir onde moravam.

 

Assim que pude voltei, agora à luz do dia, e a procurei, com muito boas intenções, como se dizia antigamente. Não me recordo de detalhes, mas não obtive sucesso na primeira oportunidade. Mocinha caseira, aparentemente temerosa pela circunstância da inesperada abordagem, após alguma conversa despediu-se de mim de maneira pouco animadora.

 

Embora às vezes até pareça, não é da minha índole aceitar passivamente uma derrota quando o objetivo é importante. Naquela tarde fui embora, mas logo no outro dia, vinte e sete de maio, voltei para lhe dizer estrategicamente que a amizade continuaria a mesma; foi então que ela mudou a sua tática e sugeriu um passeio a pé pela região. Andamos muito, conversamos muito e ao final do passeio e de algumas manobras retóricas, sutis de ambas as partes, nos entendemos e já éramos aliados e namorados.

 

Eu morava na zona sul e ela na zona norte. Os quilômetros rodados do Volkswagen aumentaram rapidamente, pois eu a esperava na saída da escola e nossos encontros tornaram-se incansavelmente diários durante cinco anos, espremidos entre os horários de estudo e do meu emprego, este a partir de janeiro de mil novecentos e sessenta e sete.

 

Nossos pais mantinham uma atitude mais neutra perante o namoro, preservando aquela conveniente distância de respeito. A casa de seus avós, porém, era a nossa sede. Por eles fui logo recebido como um novo neto, com inesquecível carinho. Ela voltou a passar as férias escolares no Havana, sempre com os seus avós. E comigo, logicamente.

 

Esse foi o início de nossa longa história.

 

A vida seguiu. Cinco anos de namoro e nos casamos, ainda novinhos e apaixonados. Vieram os filhos e netos, ela se revelou a excelente esposa que é, minha parceira de muitas alegrias e algumas inevitáveis tristezas que a realidade nos impõe, em mais de cinquenta anos de matrimônio.

 

Recentemente estivemos no velho apartamento da Praia Grande, esquecido há tantos anos, mas que ainda é da família. Fiquei triste em vê-lo naquele estado de abandono, e triste também com a lembrança despertada dos momentos felizes que me proporcionou, porque ficaram no passado e não voltam mais. Mas, agradecido ao lembrar que lá encontrei a minha companheira para viver a vida. Nessa visita estava ao meu lado, como sempre está, a minha mulher, a lembrança principal que se transformou em realidade para mim.

 

Eu continuo a vê-la como uma linda menina e a curtir a sua risada, que continua a mesma.

 

Por ela eu faria tudo mil vezes, e até mais. Estou preso, não saio mais desta teia.

 

 

Com aprovação da homenageada.

 

 

SAUDADES - Dinah Choichit

 

SAUDADES

Dinah Choichit

 

Na cidade onde eu morava havia chegado um senhor que devia ter uns sessenta anos, era muito forte e bem afeiçoado.  Veio com sua esposa e seu filho Eduardo de trinta anos que também era casado. Chegou nessa cidade porque aqui era mais fácil deles arrumarem um trabalho, pois estava com muita dificuldade financeira. Aproveitaria para mudar os ares, pois estava também com problemas no casamento.

Um amigo tinha lhe oferecido uma proposta avassaladora. Era uma experiência científica da empresa em que trabalhava. A experiência, se ele aceitasse, lhe renderia alguns milhões de reais. Isso realmente o convenceu de imediato, apesar de que não estava muito confiante nem no pagamento, nem no resultado.

Silas remoeu por dias a possibilidade de enriquecer, e de ficar mais jovem, pois esse era o propósito da tal experiência. No dia combinado, ele pegou o carro e foi direto para a empresa, onde já o estavam esperando para a reunião. Sentou-se curioso. O coração batia mais depressa. Era uma equipe de médicos e cientistas, a maioria jovem. Nesse instante o responsável pelo projeto começou a falar:

— Silas, sua experiência começa agora, se prepare e vá para a sala de cirurgia. Vamos introduzir-lhe um chip.   Quant à sua vida atual, fique tranquilo, já providenciamos um novo local e um novo nome, além da sua suposta morte.

Silas estava muito ansioso para saber se funcionaria, e preocupado com o que deixaria para trás:

— Eu disse para a minha família que iria somente conhecer a cidade, e acabei vindo para cá. Mas, estou pronto.

Após duas horas Silas acordou, levantou e se olhou num espelho. Ele ficou deveras espantado, a aparência mais jovem, o corpo de trinta anos... Porém, não se lembrava muito bem do que tinha acontecido e principalmente do seu rosto, agora tão jovem. Deu alguns passos pela sala, estava inquieto. Então era isso?! Conversou com alguns médicos e disse que estava pronto para ir a sua nova moradia.  

Apesar da vida boa, da conta bancária recheada, Silas, passado um ano, começou a sentir muita saudade da família. Como estariam vivendo? Não tinham recursos, onde estariam?  Nessa divagação, Silas quer desistir de tudo e voltar ao passado. E, resolveu tirar o chip por conta própria. Porém, algo deu errado nesse processo que parecia seria simples. E, Silas danificou o chip,  ficando agora com aparência de um velho de noventa anos.

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