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quarta-feira, 1 de julho de 2020

O julgamento - Ana Catarina S’Antanna Maués



Floresta, Selvagem, Hirsch, Antler, Rotina, Humor


O julgamento
Ana Catarina S’Antanna Maués

Inglaterra, ano mil centos e um.



O vento uivava anunciando mais uma noite de baixa temperatura. Felipe tinha as mãos geladas apesar da lareira. Em movimentos mecânicos ele alimentava o calor com mais lenha. Sentia frio, muito frio, seria nervoso? A qualquer momento eles chegariam. Poderia ter fugido, mas não quis deixar toda uma existência para trás, lembrança marcada em objetos, móveis, no lar, na natureza que constituía a terra em que nasceu, por algo que no seu entender, pudesse ser resolvido. Então ficou para enfrentá-los.

Com a ponta dos dedos afastava, vez por outras, a cortina e olhava o céu por cima da floresta que cercava a casa. O tempo carrancudo com nuvens escuras, causava mau pressentimento. Até os pássaros hoje recolheram-se mais cedo. Estava só. Na sala o cuco do relógio era sua única companhia, porém péssima, pois avançando os minutos acelerava a angústia e agitava o coração.

Passado algum tempo ele escutou barulho. Lá vinham eles falando alto, subindo a estrada de chão, segurando tochas que bem sabia não eram para iluminar o caminho.

Neste momento resolveu folhear como páginas de um livro, o passado recente. Voltou cerca de quinze dias, escolheu a data em que a conheceu. Tinha acordado cedo, tomado a espingarda e se enveredado mata à dentro procurando uma boa caça. De repente viu um animal, mirou no pequeno alce, tamanho suficiente para alimentá-lo bom tempo. Disparo perfeito, mas um grito ecoou entre as árvores. Ele correu na direção do som e viu uma moça caída próxima ao alce. Felipe a carregou, o ferimento não parecia grave, foi de raspão no braço, mas a fez desmaiar. Ele havia com um único tiro, atingido a ambos.

Já em casa esperou que despertasse. Quando ela abriu os olhos ele disse:

— O ferimento é discreto, fiz um curativo, nem ficará cicatriz. Mas diga, o que fazia ali? Não há residência por essas bandas, sei, porque moro há anos e caço com tranquilidade sabendo disso.

Ela continuava calada.

 Você não fala? É muda? Sabe escrever ao menos?

Felipe toma papel e lápis e escreve perguntando o nome dela. Ela finalmente resolveu falar:

 Não há necessidade de papel, não sou muda. Estava apreciando a paisagem e me afastei do vilarejo, só isto.

— Mas, o vilarejo fica bem distante, é perigoso para uma moça sozinha aventurar-se na mata.

— Eu sei me defender. Não preciso de cuidados de estranhos.

 Oh! Sim. Basta não passar na frente de um tiro. Felipe fez uma careta e ela não segurou o riso.

Depois deste breve diálogo, outros vieram e os dois, no final da tarde, já estavam bem amigos. No almoço ele preparou um belo bife e brindaram ao falecido alce que os fez conhecerem-se.

Lá pelas tantas ele disse:

— A conversa está boa, mas preciso levá-la para sua família e explicar o acontecido. Vou só pegar um casaco para mim e outro para você. Felipe saiu da sala falando e retornou dizendo:  Não está muito perfumado, pois não sou bom para lavar roupas, mas você não se importa de por alguns minutos ficar com cheirinho de...

Ela havia sumido.

Ele andou em volta da casa, foi até a colina, que lhe dava uma visão mais ampla, mas nada adiantou, ela havia desaparecido. Então, desiludido voltou.

No outro dia ele estava preparando o chá da manhã, quando escutou um toc toc suave na porta. Abriu e quem estava lá? Ela.

— Ora, ora se não é a fujona de ontem!

 Não fugi, só não quis dar trabalho.

— Antes de mais nada diga seu nome, pois ontem quando a procurava não sabia nem qual chamar.

— Celeste.

 Combina com seus olhos, além do que é nome de princesa. Você é uma?

   Ela sorriu charmosa e balançou a cabeça negativamente.

— Mas, entre, está frio aí fora, quer chá?

— Sim.

  Posso pegar as xícaras no armário ou quando me virar você não estará mais aqui?

Celeste sorriu com timidez.

Depois deste dia ela passou visitá-lo, as vezes pela manhã bem cedo, em outras no meio da tarde, mas disfarçava quando Felipe perguntava onde morava e aí ele parou de insistir e também de pedir para levá-la em casa. Percebeu-se com medo desta curiosidade dele, afugentá-la e isso era coisa que não queria de forma alguma.

Era notável que entre os dois havia mais que simples amizade. Até que um dia ele tirou na gaita, uma música bastante animada e ela se dispôs a dançar. Estavam felizes. Felipe em certo momento largou o instrumento e segurou a mão dela e entre sorrisos dançavam e sem planejarem aconteceu um beijo. O aconchego dos braços dele em volta da cintura dela acendeu o calor no coração. As mentes embriagaram-se de desejo e ambos cederam ao impulso da paixão. O amor se fez entre carícias e afagos. Bocas e mãos atrevidas descobriram-se e deliciavam-se num sentimento envolto de pureza que constitui o amor entre dois jovens inexperientes.

Depois de breve instante as mãos continuavam entrelaçadas. Felipe rompeu o silêncio e disse que desta vez não a deixaria sair escondida, queria conhecer os pais dela e pedi-la em casamento. Neste momento Celeste confessou em prantos que era prometida ao rei e naquele dia do tiro, estava fugindo do compromisso assumido pelo pai e pela família toda, que viam neste enlace razões para deixarem a miséria de vida que o acompanhavam, mas ela jamais concordou. Queria amar de verdade e ser amada e a família queria roubar isso dela. O destino tinha colocado Felipe em sua vida, pois ela o amava. E em prantos abraçou-o forte.

Combinaram então de irem até a vila, encontrar o pai dela e contar tudo.

A recepção não foi nada amistosa. O pai de Celeste foi bruto e logo que a viu em companhia de Felipe, desferiu um tapa que fez sangrar os lábios trêmulos da moça. Felipe não teve como reagir, os irmãos dela logo o seguraram pelo braço imobilizando-o e de nada adiantavam as súplicas por diálogo, eles batiam e batiam nele. E muito pior ficou quando ela revelou que havia se entregado por amor.

A família então expulsou a pontapés Felipe do recinto. Houve uma aglomeração de pessoas em frente à residência. O pai de Celeste divulgou a quatro ventos que Felipe tinha desonrado a prometida do rei e por isso ele conclamava todos ao julgamento do fato.

Felipe foi levado para casa e jogado como um farnel, como resto humano. Entrou com dificuldade na residência e pensava em fugir, pois não acreditava numa justiça que lhe concedesse o direito de viver com Celeste.

 Logo, ele os viu vindo. Não foi preciso abrir a porta, eles arrombaram com o pé e pegaram abruptamente Felipe pelos cabelos, pelos braços e chegando fora da casa a fogueira já estava feita. Nela amarraram-no e sem perder tempo atearam fogo. Ele gritava nas chamas ardentes, jurando amor por Celeste. Nesta hora ela apareceu vinda não se sabe de onde e atirou-se às chamas e num último beijo eles consumiram-se na frente de todos.



Quando o tempo é o pior inimigo, mas nem sempre - Henrique Schnaider



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QUANDO O TEMPO É O PIOR INIMIGO, MAS NEM SEMPRE
Henrique Schnaider


Brian era um magnata das comunicações, dominava tudo como um rei absoluto, era o dono da noite, dominava como poucos a política brasileira, numa época que havia homens como Getúlio Vargas, elegia para os mais altos cargos, políticos medíocres, perto dele sempre havia uma bomba prestes a explodir, quando fazia uso das manchetes do seu jornal diário.

Tinha um faro incomum, tanto para criar celebridades como arruinar reputações, deu fama a inúmeros escritores. Naquele Outono, o sol caia com uma luz pálida e macia, nosso herói sentia um peso no coração.

Sonhava por um amor que o envolvesse por inteiro, mulheres, as tinha, quantas quisesse no jogo do amor, todas enxergavam nele a mina de ouro, puro jogo de interesses

Brian permanecia intocado pelo cupido, o rei quando estava na mesa de trabalho, sentia-se numa prisão, precisava de novos ares, deixar-se levar pelas ondas do amor.

Certo dia, nosso herói, entrou no elevador na sede do Império de notícias, ficou paralisado, entreolharam-se, aquela garota jovem, não deveria ter mais de quinze anos, ficou deslumbrado, deu um sorriso doce na direção dela, perguntou o seu nome, sotaque argentino, de nome Cora Acuña,  acompanhada da avó.

A garota, insistiu no olhar, deu um sorriso tímido, pareceu corresponder, naquele momento sua vida viraria um conto de fadas, Brian despediu-se cheio de mesuras e assim que entrou no escritório, deu ordens para obter informações daquela que balançou aquele coração de pedra.

Brian com fogo e paixão aguardava ansioso, as informações, não demoraram a chegar, o rei enviou uma corbelha de orquídeas, para aquela pensão humilde, com um convite para jantar, num restaurante luxuoso onde ele era habitue.

O rei não perdeu tempo, foi até a pensão num tremendo Roll Royce, com chofer de uniforme, provocando um alvoroço, naquela gente simples, levando Cora e a avó, deixando as pessoas verdes de inveja.

Durante o jantar, conversaram à vontade, Cora sentia que era a chance de uma vida estelar, correspondeu todo charme que nosso herói jogava para ela.

Não demorou muito tempo, já acontecia um tórrido romance, Brian convenceu a avó e foram morar num palacete os três, em uma rua fina, cheia de luxo. Corita virou celebridade, apesar de todo escândalo provocado por alguém tão jovem vivendo com um homem maduro, mas o poder de Brian, superou tudo, menos um ciúme patológico, as brigas eram frequentes.

Viveram alguns anos, aos trancos, até o poder da juventude falar mais alto, Corita estava apaixonada por um jovem ator de cinema, com quem havia contracenado, o amor uma torrente, a jovem abandona o rei e foge com o novo amor.

Brian sentiu o golpe profundo, mas levantou-se das cinzas, não se deu por vencido, iria lutar pela mulher que conquistou o coração do todo poderoso.
Ele não perdia de vista a amada Corita, acompanhando tudo que rolava na vida dela, tinha certeza de que aquela aventura não iria longe, com toda a influência que possuía, as portas se fecharam para o jovem casal.

Não há amor que resista à barriga vazia, o amor derreteu, as brigas tornaram-se frequentes, e Brian só na cola, Corita não resistiu, o jovem casal, rompeu, daí para o retorno dela aos braços de Brian foi um pulo, e o magnata teve de volta a amada, seguiu a vida feliz como um garoto que acabou de ganhar um doce maravilhoso.

UM AMOR IMPOSSÍVEL! - Dinah Ribeiro de Amorim



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UM AMOR IMPOSSÍVEL!
Dinah Ribeiro de Amorim



Estamos em 1820, na antiga São Paulo, com suas calçadas de pedra, ruas sem asfalto, cavaleiros apressados com chapéus de abas largas, carroças que carregam fardos por todos os lados.

Laura, ainda jovem, elegante em seu porte, demonstra a ascendência nobre dos barões do café. Família tradicional paulista. Caminha apressada pela tradicional rua XV de Novembro, procurando distrair pensamentos confusos em alguma chapelaria do momento.

Obediente à orientação dos pais, casou-se cedo, por conveniência, com o filho do médico de seu pai, político proeminente, Dr. Álvaro Alves Mathias, renomado advogado.

Após cinco anos de relacionamento respeitoso, mas sem amor, conhece, acidentalmente, outro homem, o encantador Mario Fernandes, famoso galanteador nas rodas sociais. Apaixona-se por ele, sente pela primeira vez o que é uma atração por amor, de verdade. Mário, ao vê-la, experimenta um sentimento diferente, desiste de suas conquistas e desperta para o amor sincero. Entra em depressão ao saber que é casada e, honesta, não admite ter um caso. Contenta-se em vê-la, trocar bilhetes apaixonados, encontros fortuitos, que trazem angústia e desprazer ao casal apaixonado.

Enquanto Laura caminha pela cidade, confusa, medita no último bilhete que recebeu de Mário e como responder. Propõe-lhe uma fuga a Paris, cidade da Belle Époque, paraíso dos amores eternos. O medo da reação do pai, a dor e a desonra que irá causar ao marido tão conceituado, e a tentação da felicidade junto ao homem que ama, a fazem apressar os passos, tenta, com movimentos, afastar pensamentos.

Distraída, dobra uma esquina e vê, do outro lado da rua, um letreiro chamativo: “Chapelaria Charmosa”.  Atravessa rápido e esquece-se de olhar, nessa calmaria da cidade em crescimento. É atropelada por uma carroça pesada que vem em direção ao centro. Socorrida pelos transeuntes, chamam uma Emergência, mas comentam: “Coitada, bateu forte a cabeça na pedra, parece que morreu!”

Após os dias de praxe, encontram-se no cemitério, para último adeus, a família de Laura, seus pais desconsolados, o marido Álvaro, triste, que amarga no bolso um bilhete encontrado. E, para espanto geral, o jovem conquistador da cidade, que, sem controle, derrama copiosas lágrimas.

A POBRE CECÍLIA - Do Carmo



Site ajuda mulheres atraentes a viajar de graça com ricos | Exame

A POBRE CECÍLIA
Do Carmo


Se há uma pessoa determinada, persistente e consciente de seus objetivos, essa pessoa é minha amiga Cecília, que desde nossa infância já sabia o que queria ser quando crescesse.

Sonhava com viagens pelo mundo todo, conhecer a história e cultura de todos os países, e falar diversas línguas. Seus pais eram de família pobre, que não tiveram chance de ter uma educação cultural elevada, pois desde muito cedo começaram a trabalhar. Com o decorrer da vida, seus pais conseguiram uma situação mais privilegiada o que proporcionou a filha, tudo o que não tiveram quanto a estudos, pois os sonhos de Cecília estavam voltados à Cultura, ou seja, conhecimentos históricos e turísticos.

Cecília vivia buscando no computador tudo o que se referia aos seus objetivos. Descobriu que havia uma Faculdade de Turismo e imediatamente inteirou-se do que se tratava. Foi sua maior felicidade, saber que tinha um árduo, mas promissor caminho a vencer até conseguir cursar essa faculdade.

Em uma manhã de sábado, foi visitar uma Agência de Turismo, no centro da cidade, que descobriu através de seu muito amado computador.

Ficou parada extasiada diante da vitrine que mostrava fachadas de museus, castelos e hotéis, praias repletas de guarda-sóis coloridos, com pessoas elegantes e alegremente bonitas. A loja estava sem nenhum cliente, o que deu coragem para Cecília, com seu doce e belo sorriso entrar e cordialmente cumprimentar o senhor, que se levantando de uma cadeira respondeu-lhe, também sorrindo e perguntando-lhe:

— Gentil e bela mocinha, como posso ser-lhe útil?

Aparentando tranquilidade, mas com o coração aos saltos, disse:

— Sou apaixonada por viagens, meu sonho é conhecer todos os países do mundo, não só seus encantos Turísticos, mas toda sua Cultura. Sei que para isso, deverei cursar uma Faculdade de Turismo, não é? Mas custa muito caro. Eu sou de família simples, com poucos recursos, Por esse motivo, quero trabalhar para poder pagar meus estudos. Meu pai disse que se eu conseguir ganhar, o que irei gastar com essa faculdade, ele continua tocando nossa vida como tem feito, com o auxílio de minha mãe, que trabalha como costureira em casas de famílias abastadas. 

O senhor Marco Antonio, com quem Cecília conversava, era o dono da Agência que comovido com a história da menina, de olhar brilhante e a certeza de seus objetivos, não se conteve e desabando na cadeira disse-lhe com voz comovida:

— Garota, você está empregada aqui na minha Agência. Traga-me na segunda feira, seus documentos e sua Carteira Profissional.

Cecília segurou-se no balcão para não cair, e chorando disse que tinha somente RG; Título de Eleitor, CPF, mas que Carteira Profissional não tinha, mas que iria providenciar com a maior urgência.   

Também comovido, o senhor Marco Antonio tentou acalmá-la dizendo que tudo bem, o lugar de ajudante de secretária ficaria à espera dela. Vendo e sentindo a emoção da menina, ofereceu-lhe café, que foi aceito automaticamente. Em silêncio, começaram a tomar o café servido em uma pequena copa anexa quando  o agora patrão, dá um grito dizendo:

Ah, Cecília! Eu estava esquecendo que tenho um sobrinho advogado, que trabalha com um despachante, ele poderá ajudá-la a obter seus documentos em dois ou três dias.

Cecília de olhos arregalados, perguntou:

 — Mas, quanto isso irá custar?

Sorrindo compassivo e calmamente, o senhor disse:

— Exigências da Empresa, quem paga é o patrão.

 Feliz, ao chegar em sua casa, Cecília conta aos pais o acontecido, que abismados a ouviam emocionados.  



Decorridos dois meses de trabalho, Cecília prestava atenção na secretária, Sonia, que a ensinava sobre a rotina do expediente: como conversar com os clientes pessoalmente ou por telefone, como e quando arquivar documento, em fim toda a tramitação do trabalho.

Cecília sentia-se nas nuvens, tudo era novidade para ela, a cada toque de telefone, olhava ansiosa para Sonia, secretária, já conhecia pelo olhar se deveria atender ou deixar que ela ou outro funcionário atendesse.

Cecília já estava frequentando aulas de línguas estrangeiras. Estava aprendendo inglês, francês e espanhol, com um professor que trabalhava para a agência e também era um cliente especial, pois habitualmente levava seus alunos em viagens curtas, para treinamento dos idiomas estudados.

Cecília não tinha coragem de perguntar ao Sr. Marco, como ele gostava que o chamassem, se ela iria também ter direito a essas viagens.

Em sua casa, ela não falava de outra coisa a não ser sobre a agência, o que incomodava em demasia sua mãe, dona Beatriz, que suspeitava de alguma má intenção por parte do Sr. Marco, uma vez que Cecília era jovem, bonita e muito ingênua.

Para sondar a mãe, sem saber se teria ou não possibilidade de viajar com o grupo dos alunos do Professor Luiz, ela arriscou um comentário sutil sobre o assunto.

Dona Beatriz arregalou os olhos e ferozmente gritou:  Nunca iria deixar sua filha viajar com estranhos. Mesmo que ela ficasse conhecendo o grupo e o professor.
Timidamente, Cecília sorri e diz:

        - Mamãe, porque esse desespero, eu sou funcionária e não aluna particular as quais os pais pagam pelos estudos.

- Mas prefiro que você já esteja prevenida.

- Mamãe, eu não tenho mesmo como ir, não tenho roupas adequadas para tal situação. Eu apenas comentei o que acontece, não quer dizer que eu estou pedindo autorização. 

Seu pai intervém com voz alterada dizendo:

- Beatriz, você tem esse péssimo costume de duvidar de tudo e de todos. Você julga as pessoas sempre vendo o mal, como esse professor pode ser leviano, se há anos ele trabalha em parceria com a agência? Provavelmente se houvesse algum deslize dele, já estaria fora há tempos.

O coração de Cecília estava aos pulos, como dissuadir sua mãe dessa obsessão, caso viesse a ser convidada?

Dona Beatriz continuava falando que quando a esmola é muita, o Santo desconfia e outras citações populares. 

Cecília sentia que desde o começo dessa relação com o Sr Marco, sua mão não o via com olhos puros, julgando que ele estava atraído por sua juventude e aproveitando da fragilidade da inexperiência profissional. 

Tentando não demonstrar sua tristeza e decepção, logo que terminou de secar as louças do jantar, disse que ia para o quarto fazer um exercício para a próxima aula.





quarta-feira, 24 de junho de 2020

O MUNDO FANTÁSTICO DE RONAR II - Henrique Schnaider





O MUNDO FANTÁSTICO DE RONAR II
Henrique Schnaider



À medida que os reptilianos foram se aproximando, o sonho se tornava realidade, derretiam-se todos, era um regalo, a terra prometida, em Ronar, explodia o peito de tanta emoção, finalmente a aspiração virou realidade, saíram do inferno para o paraíso, apressaram-se, queriam fazer parte daquela pintura em forma de terra.

Seguindo o rei, acharam uma região, onde iriam estabelecer-se, Ronar tomou a decisão, seria ali numa planície verde, a qual o rei denominou Romelândia, seus fiéis seguidores, os lêmures, logo arrumaram as tocas.

Tinham que construir os abrigos, primeiro do rei, depois, os deles, a felicidade transbordava nos corações dos reptilianos.  

Passaram vários anos de duzentos e cinquenta dias cada,  o tempo deixava a terra fascinante, mas não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe, certa ocasião, vindos de não sei onde, chegaram estranhos  armados, com evidente má intenção “um povo muito feio para os padrões dos súditos de Ronar, que os chamaram de cobróides” , uma mistura de cobras com humanoides.

Foram facilmente dominados pela rainha Amanba Negra e seus guerreiros, os reptilianos além de serem dóceis, não tinham armas para se defender, ficaram cativos e escravizados, tiveram que servir aos cobróides, a vida ficou triste e sofrida, aquele povo cruel, impiedoso, e sua rainha, a pior deles, ficava deliciada ao ver o sofrimento alheio.

Ronar, triste ao sentir na pele o que ele e os súditos passavam, o coração endureceu, pedra ficou, conheceu o ódio, a raiva, alimentava a vingança, com alguns aliados, começou a arquitetar um plano, para livrar os reptilianos daqueles que os massacravam.

Ronar não tinha noção do poder que possuía nas mãos, tomou conhecimento por acaso, quando ficou raivoso, expeliu raios terríveis, capazes de destruir aquilo que atingissem, atacou os cobróides que caiam às dezenas, aqueles que restaram, juntamente com Amanba Negra, fugiram pra bem longe de Romelândia.

A paz reinou para sempre, para Ronar e os súditos, quem quiser que acredite no que acabei de contar, mas é a mais pura verdade, eu estava lá, nasci há cinco milhões de anos.



terça-feira, 23 de junho de 2020

Os Anclópdes e a raça Lemúrica - Ana Catarina Sant’Anna Maués




Os Anclópdes e a raça Lemúrica
Ana Catarina Sant’Anna Maués



Uma pequena equipe de Anclópdes conseguiu partir antes da destruição do planeta onde habitavam. Foram cinco os tripulantes, que escaparam da tragédia e perceberam-se com o desafio de buscar uma nova terra para conservar a civilização ora extinta pelo choque de um meteoro, cuja chegada não pôde ser prevista e apenas, o fatídico choque identificado, momentos antes. Foi por um acaso que se salvaram, na verdade já estavam na plataforma de lançamento, para mais uma viagem de estudo do buraco de minhoca recém descoberto pela equipe de pesquisa avançada do cosmo Anclópde. Buraco de minhoca é um caminho de dimensão fantástica, que conecta locais distantes no universo, uma espécie de atalho através do espaço-tempo. O pequeno grupo, desolado, assiste do visor da pequena nave a gigantesca explosão que iluminou por segundos o universo de Anclo, lar desta civilização por milênios.     

   Na estreita nave que corria em altíssima velocidade sem rota definida, em direção a outro universo, absolutamente desconhecido, o pequeno grupo convivia improvisando. Não poderiam ficar por tempo indeterminado ali, devido insuficiência de recursos. O gás usado como alimento, armazenado em cilindros de alta pressão, logo acabaria. Precisavam encontrar um planeta para pousar, que tivesse atmosfera semelhante a Anclo, densa, como névoa ígnea, parecida ao período Éon Hadeano do planeta, vizinho deles, Terra. A crosta precisava estar iniciando a solidez, para habitarem essa parte mais firme, porém ainda com uma grande área em fusão, de forte ebulição, pois eram desses gases que se alimentavam e também o que faziam reproduzir-se. Os anclópdes não passavam pela fase infantil ou adolescente em seu desenvolvimento como era comum nos demais astros por eles já estudados. Eles tinham um sistema assexuado de reprodução. Viviam vinte anos e após este tempo inchavam-se de gases e expeliam como que clones de si próprios. Do anclópde originário, aquele que produziu o clone, restava uma grossa casca oca, como pele morta, semelhante ao processo de perda da pele nas cobras e serpentes do planeta, ao qual para estudo sempre se comparavam, Terra.

Grande conforto, sentiram, quando o radar detectou nas proximidades, um gás conhecido por eles. Os controles da nave foram então ajustados e com a precisão no cálculo, a nave saiu do caminho de minhoca e avançou em direção ao corpo celeste que exala o dito gás.

Após atravessarem a película protetora do planeta encontrado, aterrissaram, mas desconheciam a denominação do astro, pois ainda não estava catalogado no mapa galáctico que possuíam.

O solo com erupções ardentes era tudo o que eles precisavam. Saíram da nave sem proteção facial, sentiam-se em casa. Porém olhos curiosos os espreitavam. O atual planeta era habitado por seres translúcidos, sem massa corpórea. Estavam assustados com aquela aparição, eles não entendiam a matéria.

Já haviam se passado algumas horas, em contagem terrena, porém permaneciam os cinco tripulantes desconhecendo que o planeta era habitado.  Os donos da casa esse tempo todo, não se atreviam buscar uma aproximação. Esperavam a decisão do conselho a que eram submetidos. O conselho encontrava-se a quilômetros de distância do local do pouso da nave. Os cinco julgando-se sozinhos aproveitavam para realizar pesquisa e conhecer mais a terra recém descoberta. Até que certo momento um deles sugou para a cápsula de coleta um habitante e colocando no B13116, aparelho sofisticado de escaneamento e aí pode detectar que aquilo tinha vida. Os outros seres que presenciaram o aprisionamento do colega, ficaram revoltados, mas sob o comando de um outro, frearam a cólera e aguardaram as instruções, pois o conselho acabara de chegar. Neste mesmo momento um dos cinco completou o tempo de vida e foi repousar próximo a um lago fumegante de gases, ali próximo, para encher-se de argônio, hélio, neônio entre outros, para que desse vida ao seu clone, o que aconteceu numa questão de segundos. O clone surgiu, a casca que lhe deu origem ficou exposta, tudo isso sob o olhar perplexo dos membros do conselho e do líder. Este, sem entender, mas curioso do que acabara de ver, entrou na casca e tomou a forma do morto.
  
Dentro da nave o tripulante tenta contato com a vida que descobriu. Corre ao banco de dialetos intergalácticos buscando identificar as palavras pronunciadas pelo ser. O clima de descoberta reinava tanto dentro quanto fora da nave.

 O líder agora com a casca feita de corpo, tenta um contato.

Foi uma surpresa impactante tanto dos habitantes, quanto dos cinco tripulantes essa dupla descoberta. Depois de escutar sobre a destruição de Anclo e sobre o modo como se alimentavam e se reproduziam, eles pediram que pudessem usar a carcaça abandonada, quando fossem dar surgimento a um clone e assim os dois povos, resolveram conviver. Os Lemúricos finalmente teriam um corpo e em contrapartida eles permitiriam que os anclópdes se alimentassem dos gases do planeta.



Missão avassaladora - Hirtis Lazarin




Missão avassaladora
Hirtis Lazarin


Num ponto estratégico e inóspito do Oceano Pacífico, após uma tempestade que durou uma sequência ininterrupta de dias e um ajuste de placas tectônicas jamais imaginado, emergiu uma pequena ilha.  A atmosfera que a envolvia era tão densa e pesada que a impressão era que um enorme bolo de casamento flutuava.  Mas o calor abrasante do sol tão logo a dissipou e o que se viu foi um pequeno terreno coberto por  crosta dura e sólida.  Era notória a inexistência de qualquer ser vivo.  Uma fortaleza de rochas gigantes e robustas rodeavam a ilha protegendo-a dos ventos impetuosos que incentivaram o mar bravio a atacá-la.

A luz e o calor solares somados às chuvas contínuas foram transformando aquele pedacinho de mundo.  Brotinhos de relvas curiosas, escondidas entre blocos de pedras, espiavam o que havia aqui, no lado de fora.  Arbustos rasteiros espalhavam-se e o verde "dégradé" coloriu a paisagem cinzenta.  A vida brotava ali.

E foi numa noite chuvosa e escura que duas naves espaciais aterrissaram na ilha, trazendo um punhado de seres estranhos.  Seres alongados e de cor acinzentada; rostos finos e triangulares ressaltavam  olhos negros que nunca se desligavam, dois faróis que escondiam mistérios em sua profundeza intrigante.  A testa larga protegia cérebro inteligente de raciocínio rápido.

O pouso na ilha não aconteceu por acaso.  Era um plano bem elaborado e uma missão a cumprir sob o comando de Wolok, grande pesquisador geneticista que já desenvolveu, com êxito, muitos experimentos.

Wolok estudou o planeta TERRA e concluiu que enfrentaríamos problemas gravíssimos num futuro bastante próximo.  E não sobraria pedra sobre pedra.  Os que nos comandam escondem-se atrás de uma cegueira proposital.

O desmatamento descontrolado, a poluição dos rios e mares, o acúmulo de resíduos não degradáveis, o aquecimento global, a extinção de animais e espécies vegetais; tudo isso somado ao crescimento desenfreado da população, cidades superpopulosas, o idoso vivendo cada vez mais e produzindo cada vez menos e o cultivo e preparo de alimentos insuficientes para abastecer a população mundial.  Um planeta sem conserto.  Um delírio sem volta.

Sob orientações precisas de Wolok instalou-se na ilha um centro de pesquisa trans-humanista.  A missão era disseminar no planeta, por contágio aéreo, um vírus-vetor já criado em laboratório.   O objetivo era atingir dois alvos: o maior número possível de mulheres e torná-las estéreis; e levar a óbito os idosos com enfermidades pré-existentes.

O vírus sobreviveria dez anos, tempo suficiente pra que a Terra  solucionasse seus maiores problemas e oferecesse  vida digna aos  seus habitantes..

E, foi numa noite de lua cheia de beleza que um pequeno objeto voador, deixou o interior da nave espacial,  sobrevoou o planeta Terra e espalhou o vírus por todos os cantos. 

Horas depois, duas naves deixam a ilha.  Missão cumprida.


terça-feira, 16 de junho de 2020

Leméria - o planeta - Hirtis Lazarin




Leméria - o planeta
Hirtis Lazarin


Leméria é o menor planeta da galáxia Andrômeda, iluminada pela estrela Syrius, de um brilho azulado e exuberante.  É habitada por seres pequenos e de coloração verde.  Nos rostos magros e afilados, chama atenção a presença de dois faróis negros, olhos protuberantes e desconfiados.  A testa larga protege um cérebro inteligente e de raciocínio rápido.

Era um dia comum quando se percebeu que os ponteiros dos relógios dispararam fazendo o tempo correr.  Os dias somados às noites reduziram-se a apenas cinco horas.   A temperatura, sempre amena, aumentava gradativamente.  Telescópios gigantes e de máxima precisão mostravam que a estrela Syrius deslocava-se no espaço, aproximando-se cada vez mais do planeta.  O calor insuportável levantava ondas de vapor dos rios e mares, formando densa névoa acinzentada misturada a uma poeira agridoce sufocante.  Era um fenômeno que abrangia todos os cantos.  Não havia onde se esconder.  Animais definhavam e desistiam da fuga.  Esparramados pelo chão, inauguravam verdadeiros velórios negros atacados e consumidos por bando de urubus esfomeados.

Mares recuados das orlas ofertavam o lixo engolido.  Eram destroços de satélites, naves, peças de experimentos que fizeram parte de explorações espaciais.

O céu azul escondia a chuva e a crosta da terra, antes fértil e produtiva, tornava-se mais dura e sólida.  As plantas desmaiavam ressequidas.

No alto das montanhas, o interior do planeta abria-se, gritando por "LIBERDADE".  Vulcões já extintos ou adormecidos ejetavam, furiosamente, magna, gases, partículas ferventes.  Um tsunami em ebulição engolia e destruía tudo que aparecia à sua frente.  Corpos desfalecidos transformavam-se em bolas de fogo que se desfaziam em nuvens de cinzas...

A glamourização, o fascínio pela tecnologia, pelas conquistas espaciais levaram o povo " lemeriano" a uma cegueira crônica. 

Roubaram-lhes os sentimentos que brotam do coração.  

Tornaram-se obcecados por viagens pelo espaço, pelas descobertas, pelas conquistas e pela supremacia sobre novos povos.  Enquanto isso, milhões de problemas, tão perto e tão simples, padeciam sem solução.   A falta de consciência isentava-os da culpa. 

Mas não havia volta. Não cabia arrependimento... Restou destruição.

Uma raça foi extinta, e o planeta "Leméria" desfez-se na imensidão do cosmo.

A TERRA DOS SONHOS - Henrique Schnaider




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A TERRA DOS SONHOS
Henrique Schnaider



Lemúrica antigo Continente, cujo nome, vem dos animaizinhos, lêmures que proliferavam naquela época, cujos possuíam enorme capacidade de locomoção; e dos humanoides reptilianos, dotados de inteligência avançada, capacidade física avantajada, eram doces, e para eles o mal não existia. Juntos com os bichinhos, percorriam longas distâncias, numa caminhada infinita, mas nunca atravessavam os oceanos.

Nossa história, se passa nesta época do Continente em formação, explosões gigantescas, magma fervente, placas tectônicas em constante formação e movimento, sobrevivência nestas circunstâncias, seria, para poucos super-heróis.

No meio deste inferno de Dante, existia uma raça de reptilianos, meio répteis e meio humanos, possuíam quatro braços e três olhos, dois na frente e um na nuca e como todo ser anfíbio, eram bons, tanto na água como na terra, para se manterem vivos, estavam em constante marcha, pois em lugar nenhum, havia segurança, ora um mar de lavas, explosões e movimento das placas, bastava um deslize, seriam engolidos por um turbilhão em rodamoinho.

O rei dos reptilianos Ronar, conduzia seu povo com maestria, sempre os livrando, das tragédias constantes, seguiam em frente, acompanhando, confiando no seu líder, que os levaria para a terra prometida, nos sonhos de Ronar, lugar dourado um paraíso, um mar de calmaria.

Determinado dia o rei sentiu, o coração no meio de uma nebulosa névoa de maus pressentimentos, deu ordens de partirem imediatamente, o sonho virou realidade, rochas enormes, rolando como pequenas bolinhas, água fervente, temperatura insuportável, partiram com rapidez, mestres da velocidade, escaparam por um fio de cabelo.

Chegaram a um lugar que aparentava um pouco de tranquilidade, acamparam para descansar da pesada jornada. Ronar foi tomado por profundos pensamentos e temores, será que a terra prometida era apenas um sonho?

Não queria desistir, não aceitava a derrota, descansaram o suficiente, foram em frente, os reptilianos e seus amiguinhos lêmures, numa jornada que desta vez durou por dez dias ininterruptos, avistaram um lugar distante, suas esperanças renasceram, será que finalmente estariam chegando a terra dos sonhos?
  


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