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quarta-feira, 1 de julho de 2020

A POBRE CECÍLIA - Do Carmo



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A POBRE CECÍLIA
Do Carmo


Se há uma pessoa determinada, persistente e consciente de seus objetivos, essa pessoa é minha amiga Cecília, que desde nossa infância já sabia o que queria ser quando crescesse.

Sonhava com viagens pelo mundo todo, conhecer a história e cultura de todos os países, e falar diversas línguas. Seus pais eram de família pobre, que não tiveram chance de ter uma educação cultural elevada, pois desde muito cedo começaram a trabalhar. Com o decorrer da vida, seus pais conseguiram uma situação mais privilegiada o que proporcionou a filha, tudo o que não tiveram quanto a estudos, pois os sonhos de Cecília estavam voltados à Cultura, ou seja, conhecimentos históricos e turísticos.

Cecília vivia buscando no computador tudo o que se referia aos seus objetivos. Descobriu que havia uma Faculdade de Turismo e imediatamente inteirou-se do que se tratava. Foi sua maior felicidade, saber que tinha um árduo, mas promissor caminho a vencer até conseguir cursar essa faculdade.

Em uma manhã de sábado, foi visitar uma Agência de Turismo, no centro da cidade, que descobriu através de seu muito amado computador.

Ficou parada extasiada diante da vitrine que mostrava fachadas de museus, castelos e hotéis, praias repletas de guarda-sóis coloridos, com pessoas elegantes e alegremente bonitas. A loja estava sem nenhum cliente, o que deu coragem para Cecília, com seu doce e belo sorriso entrar e cordialmente cumprimentar o senhor, que se levantando de uma cadeira respondeu-lhe, também sorrindo e perguntando-lhe:

— Gentil e bela mocinha, como posso ser-lhe útil?

Aparentando tranquilidade, mas com o coração aos saltos, disse:

— Sou apaixonada por viagens, meu sonho é conhecer todos os países do mundo, não só seus encantos Turísticos, mas toda sua Cultura. Sei que para isso, deverei cursar uma Faculdade de Turismo, não é? Mas custa muito caro. Eu sou de família simples, com poucos recursos, Por esse motivo, quero trabalhar para poder pagar meus estudos. Meu pai disse que se eu conseguir ganhar, o que irei gastar com essa faculdade, ele continua tocando nossa vida como tem feito, com o auxílio de minha mãe, que trabalha como costureira em casas de famílias abastadas. 

O senhor Marco Antonio, com quem Cecília conversava, era o dono da Agência que comovido com a história da menina, de olhar brilhante e a certeza de seus objetivos, não se conteve e desabando na cadeira disse-lhe com voz comovida:

— Garota, você está empregada aqui na minha Agência. Traga-me na segunda feira, seus documentos e sua Carteira Profissional.

Cecília segurou-se no balcão para não cair, e chorando disse que tinha somente RG; Título de Eleitor, CPF, mas que Carteira Profissional não tinha, mas que iria providenciar com a maior urgência.   

Também comovido, o senhor Marco Antonio tentou acalmá-la dizendo que tudo bem, o lugar de ajudante de secretária ficaria à espera dela. Vendo e sentindo a emoção da menina, ofereceu-lhe café, que foi aceito automaticamente. Em silêncio, começaram a tomar o café servido em uma pequena copa anexa quando  o agora patrão, dá um grito dizendo:

Ah, Cecília! Eu estava esquecendo que tenho um sobrinho advogado, que trabalha com um despachante, ele poderá ajudá-la a obter seus documentos em dois ou três dias.

Cecília de olhos arregalados, perguntou:

 — Mas, quanto isso irá custar?

Sorrindo compassivo e calmamente, o senhor disse:

— Exigências da Empresa, quem paga é o patrão.

 Feliz, ao chegar em sua casa, Cecília conta aos pais o acontecido, que abismados a ouviam emocionados.  



Decorridos dois meses de trabalho, Cecília prestava atenção na secretária, Sonia, que a ensinava sobre a rotina do expediente: como conversar com os clientes pessoalmente ou por telefone, como e quando arquivar documento, em fim toda a tramitação do trabalho.

Cecília sentia-se nas nuvens, tudo era novidade para ela, a cada toque de telefone, olhava ansiosa para Sonia, secretária, já conhecia pelo olhar se deveria atender ou deixar que ela ou outro funcionário atendesse.

Cecília já estava frequentando aulas de línguas estrangeiras. Estava aprendendo inglês, francês e espanhol, com um professor que trabalhava para a agência e também era um cliente especial, pois habitualmente levava seus alunos em viagens curtas, para treinamento dos idiomas estudados.

Cecília não tinha coragem de perguntar ao Sr. Marco, como ele gostava que o chamassem, se ela iria também ter direito a essas viagens.

Em sua casa, ela não falava de outra coisa a não ser sobre a agência, o que incomodava em demasia sua mãe, dona Beatriz, que suspeitava de alguma má intenção por parte do Sr. Marco, uma vez que Cecília era jovem, bonita e muito ingênua.

Para sondar a mãe, sem saber se teria ou não possibilidade de viajar com o grupo dos alunos do Professor Luiz, ela arriscou um comentário sutil sobre o assunto.

Dona Beatriz arregalou os olhos e ferozmente gritou:  Nunca iria deixar sua filha viajar com estranhos. Mesmo que ela ficasse conhecendo o grupo e o professor.
Timidamente, Cecília sorri e diz:

        - Mamãe, porque esse desespero, eu sou funcionária e não aluna particular as quais os pais pagam pelos estudos.

- Mas prefiro que você já esteja prevenida.

- Mamãe, eu não tenho mesmo como ir, não tenho roupas adequadas para tal situação. Eu apenas comentei o que acontece, não quer dizer que eu estou pedindo autorização. 

Seu pai intervém com voz alterada dizendo:

- Beatriz, você tem esse péssimo costume de duvidar de tudo e de todos. Você julga as pessoas sempre vendo o mal, como esse professor pode ser leviano, se há anos ele trabalha em parceria com a agência? Provavelmente se houvesse algum deslize dele, já estaria fora há tempos.

O coração de Cecília estava aos pulos, como dissuadir sua mãe dessa obsessão, caso viesse a ser convidada?

Dona Beatriz continuava falando que quando a esmola é muita, o Santo desconfia e outras citações populares. 

Cecília sentia que desde o começo dessa relação com o Sr Marco, sua mão não o via com olhos puros, julgando que ele estava atraído por sua juventude e aproveitando da fragilidade da inexperiência profissional. 

Tentando não demonstrar sua tristeza e decepção, logo que terminou de secar as louças do jantar, disse que ia para o quarto fazer um exercício para a próxima aula.





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