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terça-feira, 16 de junho de 2020

Leméria - o planeta - Hirtis Lazarin




Leméria - o planeta
Hirtis Lazarin


Leméria é o menor planeta da galáxia Andrômeda, iluminada pela estrela Syrius, de um brilho azulado e exuberante.  É habitada por seres pequenos e de coloração verde.  Nos rostos magros e afilados, chama atenção a presença de dois faróis negros, olhos protuberantes e desconfiados.  A testa larga protege um cérebro inteligente e de raciocínio rápido.

Era um dia comum quando se percebeu que os ponteiros dos relógios dispararam fazendo o tempo correr.  Os dias somados às noites reduziram-se a apenas cinco horas.   A temperatura, sempre amena, aumentava gradativamente.  Telescópios gigantes e de máxima precisão mostravam que a estrela Syrius deslocava-se no espaço, aproximando-se cada vez mais do planeta.  O calor insuportável levantava ondas de vapor dos rios e mares, formando densa névoa acinzentada misturada a uma poeira agridoce sufocante.  Era um fenômeno que abrangia todos os cantos.  Não havia onde se esconder.  Animais definhavam e desistiam da fuga.  Esparramados pelo chão, inauguravam verdadeiros velórios negros atacados e consumidos por bando de urubus esfomeados.

Mares recuados das orlas ofertavam o lixo engolido.  Eram destroços de satélites, naves, peças de experimentos que fizeram parte de explorações espaciais.

O céu azul escondia a chuva e a crosta da terra, antes fértil e produtiva, tornava-se mais dura e sólida.  As plantas desmaiavam ressequidas.

No alto das montanhas, o interior do planeta abria-se, gritando por "LIBERDADE".  Vulcões já extintos ou adormecidos ejetavam, furiosamente, magna, gases, partículas ferventes.  Um tsunami em ebulição engolia e destruía tudo que aparecia à sua frente.  Corpos desfalecidos transformavam-se em bolas de fogo que se desfaziam em nuvens de cinzas...

A glamourização, o fascínio pela tecnologia, pelas conquistas espaciais levaram o povo " lemeriano" a uma cegueira crônica. 

Roubaram-lhes os sentimentos que brotam do coração.  

Tornaram-se obcecados por viagens pelo espaço, pelas descobertas, pelas conquistas e pela supremacia sobre novos povos.  Enquanto isso, milhões de problemas, tão perto e tão simples, padeciam sem solução.   A falta de consciência isentava-os da culpa. 

Mas não havia volta. Não cabia arrependimento... Restou destruição.

Uma raça foi extinta, e o planeta "Leméria" desfez-se na imensidão do cosmo.

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