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segunda-feira, 7 de março de 2016

Vivendo um Sonho - Rejane Martins




Vivendo um Sonho
Rejane Martins

Desde criança Jéssica sonhava ser protagonista de novela das oito na Rede Globo de televisão. Desejava contracenar com um galã tão bonito como Tiago Lacerda que nesse momento iniciava sua promissora carreira de ator.

Nesse mundo de devaneio todas as noites seu quarto se transformava em camarim principal com direito a nome da estrela na porta. Sempre que fitava o espelho da penteadeira emoldurado com pequenas lâmpadas acesas, vislumbrava o rosto desse que lhe escreve, com um sorriso de agradecimento sincero, relembrava de como eu explicara a importância de se escolher o nome artístico com treze letras, mais do que superstição esse cuidado assegurava pelo menos noventa por cento de chances de sucesso. Adotou o nome Marina Marques.

As roupas da mãe cedidas, sem a devida permissão, transfiguravam em criações exclusivas de Givenchi, Doce Gabana, ou outro aspirante a estilista que a usaria como escada para ter seu nome despontado no mundo das celebridades.

Sua pequena cama juvenil se enriquecia com um lindo dossel,  os lençóis de linho ou de seda, determinado no átimo, alvos e perfumados acolhiam a grande diva protegendo-a de terríveis pesadelos.

Nesse mundo de cores, luzes e reconhecimentos Marina Marques foi crescendo, e junto com ela seus sonhos e a certeza de que estava predestinada ao glamour.

A adolescência chegou, as preocupações intensificaram e a consumia diuturnamente. Vivia se questionando:

Como hidratar os cabelos para ficarem tão sedosos como o das modelos de propaganda de shampoo, sem dispensar pelo menos 12 horas por semana em um bom salão de beleza?

Como convencer meus pais sobre a injustiça que era obriga-la a cumprir os compromissos estudantis (escola, os cursos de inglês e piano)?

Como se tornar a primeira e única opção em qualquer papel, sem obedecer uma rotina espartana de exercícios de pelo menos 6 horas diárias em uma academia?

Quem cuidaria de sua dieta, afinal é imprescindível vender saúde para cumprir todos compromissos estabelecidos?
E o mais preocupante, quem financiaria tudo isso?

Seu pai um funcionário público da Prefeitura do Município de São Paulo, sua mãe uma competente e esforçada dona de casa, insistiam em querer atender os anseios dos três filhos.

Será que seus pais tão limitados não vislumbravam que somente ela, a primogênita, estava predestinada ao sucesso?

Sua irmã sonhava em ser dentista e seu irmão almejava fazer parte do Corpo de Bombeiros, pobres coitados.

Quem, em sã consciência, não classificaria esses como sonhos medíocres?

O tempo foi passando, as preocupações da grande Marina Marques agregadas às cobranças dos pais e amigos por uma definição na carreira que iria acompanha-la por toda a vida.

Ora bolas!! Como alguém ainda não sabia que o curso era Artes Cênicas?

Que tipo de alienação acometeu a todos, que ainda não avistavam a grande Marina Marques que habitava em suas entranhas?

Irritava-se em casa quando escutava:

Mas filha, olha pensa bem. A sua melhor amiga optou por Direito, porque almeja a promotoria pública.

̶  E o Renatinho, filho da comadre Joana, está estudando como um louco para ingressar no curso de medicina.

̶   Eles sim têm os pés no chão, enxergam longe, terão um futuro brilhante.

Na escola o discurso não era diferente:

̶  Já saiu o manual da Fuvest, você vai se inscrever para que curso?

̶  Artes Cênicas.

̶  O quê? Artes Cênicas?

̶   Para que? É só ficar sorrindo para as câmaras do Domingão do Faustão até que alguém a perceba e te convide para atuar em uma novela.

Tamanha insensibilidade não afetou somente a Jéssica (opa, Marina Marques), mas a mim também. Quanto desprezo pelo sonho de uma vida inteira. As pessoas não percebem que se retirarem isso, arrancam todo o sentido de vida dela.

Pouco a pouco, a depressão tomou conta de nossa heroína. Durante o ritual noturno que antecede o sono, ela era incapaz de acender a moldura de lâmpadas do espelho; os lençóis não mais a protegiam de sonos ruins, até sua textura agora era áspera. Também pudera foram comprados ha quinze dias na liquidação da Zêlo. A grande estrela e o seu nome em letras douradas que adornavam a porta, não tinham mais espaço, posto que ela agora ela divide o espaço com uma atriz coadjuvante, que lembrava em muito a sua irmã mais nova.

̶  O que fazer com todos os castelos construídos até então?

̶  Como voltar a ser acalentada toda noite, pelas fortes rotinas tão cuidadosamente criadas?

Uma noite, a demora da chegada do sono ajudou Marina Marques a decidir. Não cederei à pressão, e pensou em voz alta.

̶  Eu serei uma grande atriz, meu nome abrirá portas. E um dia alguém muito importante irá dizer ao mundo “The Oscar goes to Marina Marques”.

̶  Mostrarei ao mundo do que sou capaz.

Levantou-se, postou-se a frente do computador, e iniciou a preenchimento da ficha de inscrição do vestibular. Encarou como bom presságio o fato de escrever Marina Marques no campo nome do candidato. Corrigiu para o nome de registro, Jéssica Aparecida dos Santos.

Realizou as provas e aguardou ansiosamente o resultado. Evitava conversar com as pessoas sobre o assunto evitando ouvir recriminações quanto a sua escolha.

O grande dia chegou, ansiosa entrou no site da Fuvest, deu um F5 e digitou o nome Marina Marques para que o programa localizasse seu nome. Mais uma vez riu da situação. Corrigiu e, voilà! Seu nome apareceu no meio de tantos outros.

Passaram-se 4 anos e ela olhava a todos com nariz empinado e um sorriso de vitória nos lábios. E um dia, olhando despretensiosamente o quadro de anúncios da faculdade, leu: “Teste para atores – recrutamento do elenco da próxima novela das oito”. Pensou consigo, Marina Marques o seu grande dia chegou.

No dia marcado, lá foi ela toda confiante, foi uma das primeiras a chegar para o teste. Não estava  nem pouco nervosa, tudo aquilo era só pró-forma, esse momento estava destinado a ela. Fez o teste – recitou um trecho de Anna Karenina de Tolstói. Saiu do teste, planejando o uso da ponte aérea durante o período de gravação e quanto despenderia do valor do contrato para isso.

Contou para todos que ela chegara lá. Esfregava na cara de todos que ela sempre esteve certa, e que a recompensa pela sua coragem, chamada de teimosia por muitos, era de oferecer um destino grandioso.

Passou no teste e foi para o Rio de Janeiro iniciar as gravações. Todos aguardaram notícias de Jéssica ou Marina Marques, não sabiam mais como chama-la, queriam informações sobre seu personagem, quando apareceria na tela. Mas nada, Marina Marques não dava sinal de vida, ninguém conseguia achá-la, o celular estava sempre fora de área, o Facebook parou de ser atualizado. Marina Marques sumiu da face da terra.

Bem, o grande dia chegou. Estreia a novela e todos com os olhos grudados na televisão, leram ansiosamente o nome do elenco, mas não encontraram o nome dela.

Com certeza passou despercebido.

Assistiram ao primeiro capítulo e nada de Marina Marques.

̶ Ok. Amanhã assistiremos ao segundo capítulo e aí sim leremos o nome dela no letreiro e a veremos atuar.  
  
No dia seguinte a mesma decepção, onde estaria a grande Marina Marques?

Andavam todos ansiosos e muitíssimos preocupados com o “desaparecimento” de Jessica. Telefonemas para o Rio de Janeiro foram dados muitos, mas,  nenhuma notícia da jovem. Ainda assim a família acompanhava a tal novela na esperança de vê-la em alguma tomada.   

Até que um dia, em um escritório de diretoria todo envidraçado, tendo o Cristo Redentor como paisagem ao fundo, Marina Marques aparece atrás de uma mesa de reunião imensa contornada por confortáveis cadeiras pretas de couro.

Dirige-se até a cabeceira da mesa, posiciona-se ao lado do ator principal, que representa o presidente do conglomerado, e coloca um copo com água a sua frente. A sua imagem some da câmara.

Coitada da Jéssica.

Bem que nós avisamos. Imagine! Qual a probabilidade dela se tornar uma atriz de renome. A grande diva da televisão. Que ingênua.

E quanto a novela? Acompanharemos a estória? Parece boa?

Esse presidente parece uma boa pessoa, mas eu acho que ele é o vilão e vai destruir a vida daquela atriz argentina elegantíssima que contracena com ele.

Eu proponho que nos revezemos em acompanhar, e cada vez que houver uma cena com a Jéssica postamos no face. Até o final da novela contaremos quantas aparições nossa querida e grande diva aparecerá.

̶  Combinado!

̶  Combinado!

̶  Estou dentro!

̶  Certo!

̶  Gente, estava pensando aqui comigo. Acho que a Jéssica sumiu de vergonha.

E um coro uníssono, ecoou.

̶  Ahahahaha. É mesmo.

A novela surpreendentemente mostrou uma trama interessantíssima que prendeu a atenção de todos. Próximo ao fim, todos os amigos de Jéssica se reuniam e para assistir e acrescentar mais uma unidade na contagem no quadro de aparições de Marina Marques. Já foram contabilizadas 5 aparições, sem nenhuma fala, de no máximo, 2 segundos cada.

Enfim chegou o grande dia, será o que o ator principal se revelaria o vilão? A sua parceira iria ser prejudicada pelas maldades impostas a ela? E a Jéssica? Apareceria de novo?

A reunião foi no apartamento da promotora pública. Compraram pizza, o médico Renatinho trouxe vinho argentino com Destinação de Origem (afinal a ocasião pedia). Ninguém mais se lembrava de atualizar o quadro de aparições de Jéssica. Sentaram-se todos na sala, todos solidários à elegantíssima dama principal.

Iniciou o espetáculo, sim porque a essa altura dos acontecimentos essa novela já se tornara um espetáculo. Todos mudos, estáticos, respiração sôfrega. No desenrolar do capítulo mostrou o presidente do conglomerado como um homem íntegro, e a atriz principal, a verdadeira vilã, usurpou a empresa colocando-o para fora do prédio.
Foi chocante o final da trama, principalmente quando a atriz se despindo da peruca, da dentadura e outros apetrechos permitiu descortinar pouco a pouco um rosto muito conhecido de todos. Em total silêncio constataram que a contagem estava totalmente errônea, e que a amiga de escola cumprira sua promessa.


Aquele rosto emudeceu a pequena plateia, provocando a queda dos queixos simultaneamente. Inclusive o queixo desse narrador, que caiu ao constatar que Paula Martinez continha treze letras.

sexta-feira, 4 de março de 2016

A CASA - Dinah Ribeiro de Amorim (Amora)


A CASA  
Dinah Ribeiro de Amorim (Amora)

“Sinto-me velha e feia. Solitária e triste em rua barulhenta, cheia de carros zunindo o tempo todo, gente passando, entrando e comprando. A rua virou um centro comercial.

Outrora, alegre, cheia de vida, recém-construída por um jovem casal, eu vivia cercada de festas animadas, brincadeiras de crianças, admirada por pessoas que me achavam linda, em lugar especial, totalmente residencial, com famílias semelhantes à minha: Sr. Arnaldo, Dª Kiqui e filhos.”

“Ah! Bons tempos aqueles! Até um gracioso gatinho de porcelana enfeitava o telhado colonial, atraindo os olhares dos passantes. Minha senhora era mesmo genial, um encanto de patroa.

As janelas, pequenas, de cortinas coloridas, semelhantes às das bonecas, eram enfeitadas com vasinhos de flores, nos parapeitos, decorados por ela. Talvez eu fosse  considerada a mais bonita do bairro. A mais feliz, sim!

Aos poucos, foi tão rápido, os donos, envelheceram, filhos cresceram,  viajaram ou mudaram, não mais os vi. O entusiasmo diminuiu. Começou a decrescer o cuidado com paredes, jardins, telhados, culminando com chuva forte derrubando o gatinho de porcelana, minha atração.

A rua também se transformou, casas sendo demolidas, prédios altos surgindo, lotados de pessoas novas; lojas de bugigangas, tecidos, restaurantes modificaram antigos lares amigos, o sossego que existia, a natureza dominante que enfeitava a paisagem.

A melancolia que desconhecia, foi aparecendo. Aumentou muito com a morte dos meus donos, primeiramente, Sr. Arnaldo e, mais tarde, Dª Kiqui. Tentava animá-la, fazendo brotar uma rosa no jardim, ou abrir repentinamente uma janela, para entrar um pouco de ar. Que nada! Passava horas sentada, olhando para mim, pensando talvez no que  fui e no que me transformei. Tristezas da velhice! Chegou ao seu fim, quase levando-me junto!

Fui colocada à venda, para reforma, aluguel ou compra. Apavorei-me! Cada batida que sentia machucar meu coração já deprimido e só.

Muitos visitantes interessados, mas, desconheço o motivo, até agora, ninguém me comprou.

Esperançosa, outra família nova se interessando, aguço meus ouvidos e tento atraí-los, mostrando melhor os raios de sol que entram por algumas frestas existentes. Mas, nada. Não retornam.

Para meu desespero, escuto uma noite, vozes estranhas tentando invadir. Arrebentam as janelas de baixo, abrem as portas e entram. 

Pessoas esquisitas, falando alto, vasculham-me toda como se ainda houvesse algo de valor. Depois, procuram comida! Não encontram nenhuma sobra deixada pelos ratos da cozinha. Com palavrões, arrumam cobertas velhas e se instalam no meu chão, tomando antes uns goles de uma bebida forte porque dormem e roncam logo em seguida.

Pensei em fazer algum barulho, atrair algum guarda passante. Nem telefone, mais, possuíamos! Sabia fazer ligações, de tanto observar meus donos. Quem sabe, algum vizinho estranha o movimento e aparece. Ninguém escuta! Somente ruídos de carros buzinando, com pressa. À noite, ninguém passa, ninguém  dá atenção.

Fui invadida por malandros e vagabundos, que aumentam, cada dia mais. De vez em quando, um carro de polícia estaciona, dá uma espiada, faz perguntas, afugenta todos. Sinto-me aliviada e menos triste, mas assim que a poeira assenta, poeira do assunto, porque sujeira, há muita, eles retornam e inicia-se tudo.

De repente, uma briga séria, drogados e bêbados: Um crime! Um rapaz enraivecido ataca um velho com uma faca. Que susto, meu Deus! Acontecer tudo aquilo, dentro da sala, não aguentei...

Atordoada, sentindo também meu fim, percebo vagamente policiais chegando, pessoas entrando e saindo, corpo arrastado e levado. O outro, algemado. Um policial é colocado à porta. Seria guardada, afinal.

Tarde demais, fui sumindo antes de mim, dos meus tijolos que seriam finalmente destruídos. Perdi a vontade de viver. Que nova construção reviva, traga outras vidas, outras famílias, outras histórias!

Não consigo ver mais nada, parece que escorrego. Uma ventania, uma chuva forte, raios e trovões, atingem, de repente, a casa que eu fui. Janelas se abrem com força, portas arrombadas, telhas caem, paredes racham, pedaços tombam. Até os guardas, assustados, refugiam-se do temporal que ameaça aquela rua. Eu, ainda percebo, mas não me incomoda mais. Sinto o final de uma época, de um tempo.


A chuva passa tão rápida como veio. Silêncio total! No dia seguinte, alguns homens aparecem para examinar os estragos. Não entendem como, na cadeira de balanço do quarto, ainda vive uma senhora, desfalecida, semelhante ao quadro da sala, segurando nas mãos uma rosa vermelha, recém colhida do jardim.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Meu pijama vermelho - Jorge da Paixão


Meu pijama vermelho
Jorge da Paixão

Meu amor, pare de cochilar !
O céu está todo nublado, será que vai chover ?
O transito  está tão devagar e muito congestionado,
espero chegar em casa cedo, estou muito cansado,
vou tomar um belíssimo banho se tiver água, se não,
tenho que me conformar com a situação,...
Se a chuva chegar vou aparar um pouco d'água, lavar
o rosto e as canelas, vestir meu pijama vermelho, mesmo
com o corpo suado, comer qualquer coisa, assistir o jornal
na TV  e depois ir dormir desejando sonhar com o abastecimento
da Cantareira regularizado...
E que meu sonho seja realizado....




A reviravolta - Dinah Amorim



A REVIRAVOLTA!
Dinah R. Amorim

Dimitri vivia como pescador na ilha grega de Patmos, perto do mar Egeu. Era um homem forte, corajoso, dedicado à pesca, que amava e, à família, que, segundo os costumes da região, protegia e cuidava.

Casou-se cedo com Érida, mulher bonita que logo o atraiu, assim que a conheceu. Era ótimo dançarino, herdara do pai segundo ritmos hassápikos e rebétikos, antigos nomes gregos, precursores do famoso blue. Érida encantou-se com seus passos de dança. Na verdade, foi também uma paixão à primeira vista.

Habitavam um vilarejo alegre, colorido, lindas paisagens, sendo sua casa um centro de conversação, festas regionais e danças. Possuíam muitos amigos, além das crianças que vinham brincar com as suas: Ian e Élida.

Ganhava algum dinheiro com a pesca, garantindo sustento e conservação do que tinham. Não era ambicioso e iam vivendo como todos os pescadores, confiantes em Deus, nos amigos, na família e na saúde que possuía, madrugando e voltando ao anoitecer, todos os dias.

Porém, nova direção governamental em seu país modificou a vida tranquila dos pescadores. Começaram a cobrar impostos altos sobre cada quilo de peixe pescado, e eram obrigados, agora, a fornecer uma boa parte da pesca diária ao frigorífico da região.

Todos os pescadores, revoltados com a situação, resolveram formar um sindicato para discutirem suas situações. Acabaram-se a alegria e as festas, tão comuns em suas origens.

Dimitri foi encarregado de organizar e distribuir panfletos com exigências e reclamações. Érida, preocupada com segurança, aconselhou-o a desistir, mudar de profissão, de região, temendo alguma represália da polícia ou inimigos gananciosos que logo surgiram. Ulisses, dono do frigorífico, era um deles.

Dimitri pensou e chegou à conclusão que mudar para outra região não resolveria. Seu país estava passando por dificuldades e a falta de emprego era geral. As queixas do povo, os hábitos, tudo sofrera mudança. Achou melhor continuar a luta com os pescadores, quem sabe alterariam alguma coisa.

De personalidade forte, chamou a atenção, liderando algumas manifestações e caindo no desagrado de autoridades. Érida e seus filhos começaram a temer por sua vida.

Pessoas dominantes, no ramo da pesca, que estavam lucrando com a situação, passaram mesmo a persegui-lo, tendo escapado de ataques clandestinos, várias vezes. Passou a esconder-se e realizar reuniões secretas.

Sendo chamado às pressas por um colega, saiu numa noite escura,  sob ameaça de chuva forte, sorrateiramente, até a casa do amigo. Ficou ausente quase toda a noite.  Nesse ínterim, sua casa sofreu o ataque de um carro que passou rápido, atingindo-a com possante metralhadora. Buracos de tiros nas paredes, portas e estilhaços de vidros. Vizinhos apavorados, correram! O objetivo principal era amedrontá-lo, mas, sua mulher e filhos ficaram feridos, não dando tempo de socorrê-los. Morreram rapidamente. Quando Dimitri chegou já haviam sido levados pela ambulância ao hospital e, em seguida, ao necrotério. Mal conseguiu vê-los.

Entrou  em profunda depressão e culpa, passando longo tempo apático, sem nenhum interesse. Não queria mais ser pescador, lutar, trabalhar em outro lugar, não queria mais nada! Sua vida se fora também com eles.

Depois de algum tempo, resolveu sumir do país, e vir procurar algum serviço no Brasil. Ouvira que era um país muito grande e cheio de variedades quanto a trabalho. Aqui chegando, estabeleceu-se à beira da praia, como pescador, novamente. Alegria nunca mais sentiu! Saudade da Grécia que tanto amou, também não mais. Vivia fazendo  obrigações.

Ficou meses nessa vida, reacostumando-se a pescar, quando rompeu uma barragem perto e água tóxica de usina contamina o mar, oxidando e enchendo de barro suas águas. Peixes mortos, pescadores desorientados, sem poder pescar nem utilizar a água. Teriam que sair dali e reivindicar seus direitos ao governo. Outra vez a história se repete na vida de Dimitri, em outro país.

Cansado e envelhecido pelo sofrimento, entregou-se à bebida e à dança, batalhando por alguns trocados nos botecos e casas noturnas à beira mar.

Após alguns anos, a alegria, meio forçada, vai retornando nele, ao sabor da saudosa música sentimental e dos passos diferentes, agradáveis aos brasileiros,  aprendidos com seu velho pai.

Numa noite aprazível, nostálgico, pensando novamente em seu lindo país, a Grécia, na família que tivera e perdera, saiu a passeio pela praia.

Escuta, ao longe, uma música grega, sua preferida, sem localizar direito de onde vinha. Vai seguindo o som atraente e para numa casa noturna, também à beira mar, com uma dançarina semelhante à sua Érida. Não acredita e chega mais perto. Era ela! A única mulher que amou na vida. Ela, ao vê-lo, branca como um papel, ameaça fugir.

Dimitri, com pernas trêmulas, agarra-a e exige a verdade. Ela não morrera e, fugira com Ulisses, seu maior inimigo, para o Brasil, deixando os filhos entregues à doação. Na realidade, fora uma armação a morte de sua família, para tirá-lo do caminho, já que se transformara em amante do outro, mais rico e poderoso na cidade.

O pobre homem perdeu a cabeça e, atordoado, fez menção de enforcá-la, o que não conseguiu, separado pelos seguranças do lugar.

Cambaleante, sem direção, confuso, vai entrando no mar e, sem notar, vai ao fundo, afogando-se, tendo como testemunha uma lua decrescente e triste, pouco iluminando a noite que, de repente, escondera-se das estrelas.

A boca da noite - Jorge da Paixão



A boca da noite (polissemia)
Autor: Jorge da Paixão  

Chegou a boca da noite,
com o Sol se despedindo....
As cigarras cantando....
As estrelas sorrindo....
Os morcegos voando....
As corujas rugindo....
A lua cheia iluminando,
no horizonte surgindo....
Os vaga-lumes piscando

e o orvalho caindo....

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

CONCURSOS LITERÁRIOS 2016 - VAMOS NESSA?



Escolha um deles, e envie seus textos. Tente!!!



Um dia na fazenda - Ana Catarina SantAnna Maues - e outros contos


conto 1 - Um dia na fazenda
Ana Catarina SantAnna Maues
Binômio fantástico:  Grama/porta

  Havia já algum tempo que planejávamos um final de semana no campo. Tínhamos sido convidados por um casal amigo para visitarmos sua fazenda de produção de leite.

  O dia não podia estar mais lindo! Sol! Céu de brigadeiro. Mas, apesar de tudo o clima estava fresco.

  Chegamos  à fazenda após algumas horas de viagem. Estavam nos esperando- para o almoço. Hum! Delicia! Tudo perfeitamente saboroso!

  Mesmo com sono, resolvi aproveitar a tarde ao invés de tirar a sesta.

  Saí em busca de aventura. Caminhei entre árvores, pisando na grama bem cuidada. Aproximei-me do cercado onde estavam as vacas. Um empregado estava tirando leite de uma delas. Ofereceu-me. Experimentei. Estava quentinho! Quentinho! 

  Caminhando mais adiante avistei alguns cavalos usados no trabalho de tocar o rebanho. Não perdi a oportunidade de montar um pouco. Que sensação maravilhosa! Animal majestoso! Porte altivo! Cavalguei como uma amazona, nem parecia minha primeira vez.

  Voltei pra casa após colher algumas frutas no pomar.

 Todos estavam a minha espera. O aroma do café se esticava pela porta indo se esparramar lá de fora.

 Noite na fazenda! Já podemos imaginar a quantidade de estrelas no céu. O silêncio só era quebrado pela cantoria dos empregados ao longe.


  Hora de dormir! Ansiosa pelo domingo que logo chegaria, trazendo com certeza novas emoções, fechei a porta do quarto.



Conto 2 - Um barco só de Fabricia!
Barco/tesoura

— Fabrícia ! Fabrícia! Procurava a menina pela casa enquanto gritava seu nome. — Onde está?  Responde menina!

Não é possível, onde se meteu esta menina! Precisa tomar banho de sua mãe chegar.
— Daqui a pouco sua mãe vai chega!- ameaça.

A menina escondida,  debaixo da mesa na grande sala que servia de escritório, desenhava um barco no papel. Ali entretida não escutava a voz de sua bá. Desenhava, desenhava e caprichava sem esquecer nenhum detalhe. Quando terminou resolveu recortar e cadê a tesoura?

— Bá! Quero uma tesoura!

 — Ora, ora aqui está você! Vamos logo para o banho, já esquentei a água.

 —  Só depois que recortar meu barquinho. Dá uma tesoura!

 — Está aqui a tesoura! Mas não demora.

  Fabricia recortou o desenho com todo cuidado. Não largou o barquinho. Levou-o  para a banheira e lá brincou, brincou até que o papel desmanchou. 

Bá então disse:

 — Ora, ora tanto trabalho para acabar assim!

 — Não tem problema, amanhã faço outro.


O presente que não vinha
Cavalo/tiara

Adriela desde pequena pedia ao pai um cavalinho.

Queria muito aprender a cavalgar. Seu pai sempre respondia:

— Sim querida, vou providenciar!

O tempo passava, a menina crescia sem esquecer do presente que até então não havia chegado.

Passaram-se natais, aniversários e nada.

Mas, eis que no dia dos seus quinze anos qual a surpresa! O pai finalmente cumpriu a promessa. Chamou Adriela até o portão da casa grande, vendou seus olhos e disse:  

—  Depois do portão está seu presente filhinha! Mas tem que adivinhar o que é.

Mesmo falando o nome de vários objetos ela não conseguiu descobrir o que era.

Seu pai enfim tirou-lhe a venda. A menina não conteve o choro

— Um  cavalo! Entre lágrimas abraçou o pai e correu ao encontro de seu presente.

Foi amor a primeira vista entre ela e o animal.

Depois que beijou e acariciou bastante o presente disse:

— Vou buscar a tiara que preparei em segredo desde criança para este momento.

Foi uma surpresa geral quando apareceu segurando uma linda tiara com rosas em tecido colorido e várias fitas penduradas. Ela mesma havia confeccionado.

—  Estou guardando este presente para meu cavalo  há muito tempo.

Colocou a tiara colorida no animal e saiu cavalgando pelo campo como uma perfeita amazona. 


 Um amor muito forte
Lanterna/parafuso

  Dona Lanterna era bem vaidosa. Não passava um único dia sem recarregar as baterias, e lustrar seu visor. Tinha muitos planos para o futuro. Dizia que não se casaria...

Aliás, que só casaria com alguém bem importante, pois ela toda faceira não poderia se engraçar por alguém que falasse e fizesse besteiras. Dona lanterna sonhava com um parceiro de muito brilho, muito poderoso e forte. Tinha que possuir um visor enorme e uma luz tão forte que ofuscasse todas as outras.

Mas, nem tudo sai como esperamos. E seu coração lhe pregou uma peça, achou de se apaixonar pelo seu Parafuso, aquele de cabeça grande  e bem chata.

No começo ela evitava ser vista com ele. Tinha vergonha de ser ela tão elegante e exigente, e ter se apaixonado  por um parafuso que quase não tinha função.

Mas, ele era cavalheiro, romântico e a amava muito. Tudo a embalava de tal maneira que ela já não se importava mais pelo fato ser ele um pequeno parafuso. Pelo contrário! Ela pensava que se não fosse ele, nenhuma lanterna poderia ter luz. Então, ele era mais importante que qualquer  lanterna.

 Pois não é que deu certo a paixão!

Tiveram vários filhinhos:   os lanterninhos e as parafusinhas.

 Todos muito unidos e felizes viveram por longos e longos anos.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

29º CAMPEONATO DE ESCRITA CRIATIVA ON LINE: INSCRIÇÕES ABERTAS


29º CAMPEONATO DE ESCRITA CRIATIVA ON LINE:

INSCRIÇÕES ABERTAS

É A 3 DE DEZEMBRO que se inicia o 29º CAMPEONATO DE ESCRITA CRIATIVA, uma prova semanal, com dez jornadas e em regime 100% online, de produção de texto em prosa.
PREMIAÇÃO: O prêmio para o vencedor é a publicação, sem quaisquer custos, de uma obra da sua autoria - por parte da Chiado Editora (em Portugal).
O júri é composto por Sara Câmara Leme, tradutora, Rui Miguel Mendonça, jornalista e escritor, e Pedro Chagas Freitas, escritor.


INSCRIÇÕES: Para formalizar a inscrição, bastará enviar um e-mail com os dados pessoais para o endereço eletrônico
ao qual se responderá com brevidade para a inscrição ficar totalmente efetivada. E enviará mais informações.

CUSTO: O custo de inscrição é de 35 euros – para todo o Campeonato. Você receberá instrução de como formalizar esse pagamento.

REGULAMENTO
Com a criação deste Campeonato de Escrita Criativa, procura-se fomentar o gosto pela escrita e pelo evoluir linguístico e artístico de todos aqueles que assim o desejarem.
Ao ter uma periodicidade semanal, cria também hábitos e rotinas de escrita que podem ser enraizados e ainda mais desenvolvidos com o correr do tempo.

Regulamento
1. Norma:
1.1. Instalação e finalidade
1.1.1. Pedro Chagas Freitas, como mais um meio para estimular o gosto pela escrita, resolveu criar e lançar o Campeonato de Escrita Criativa.
1.1.2. O Campeonato de Escrita Criativa será disputado em dez (10) jornadas, ao longo de cerca de três (3) meses de prova.
1.1.3. Será disputada uma jornada por semana.
1.2. Modo de funcionamento
1.2.1. Todas as semanas (em dia a definir) será enviado, para todos os inscritos, o desafio escrito da jornada. Este desafio não pode ser partilhado publicamente sob qualquer forma.
1.2.2. Os inscritos terão sete dias para escreverem o texto que lhes é pedido e para o enviarem para o endereço de e-mail campeonato.escrita.criativa@gmail.com;
1.2.3. O júri pontuará cada um dos textos de zero (0) a vinte (20) valores, de acordo com critérios de qualidade (literária e linguística) e originalidade.
1.2.4. As pontuações serão, semanalmente, enviadas, via e-mail, para os concorrentes.
1.2.5. O vencedor do Campeonato de Escrita Criativa será aquele indivíduo (ou equipa) que somar, no final da décima jornada, mais pontos.
1.3. Inscrição 
1.3.1. Podem participar no Campeonato de Escrita Criativa todos aqueles que possuem a capacidade de escrever em língua portuguesa, independentemente da sua nacionalidade ou do país onde se encontrem.
1.3.2. As inscrições podem ser individuais ou por equipas.
1.3.3. O custo de inscrição é de 35 euros – para todo o Campeonato.
1.3.4. Para formalizar a inscrição, bastará enviar um e-mail com os dados pessoais para o endereço electrónico campeonato.escrita.criativa@gmail.com – ao qual se responderá com brevidade para a inscrição ficar totalmente efectivada.
1.4. Natureza dos prémios
1.4.1. O Prémio consiste na publicação, SEM QUAISQUER CUSTOS PARA O AUTOR, de uma obra da sua autoria por parte da Chiado Editora (Portugal).
1.5. Constituição do Júri
1.5.1. O júri será composto por Pedro Chagas Freitas, escritor, Sara Câmara Leme, tradutora, e Rui Miguel Mendonça, jornalista (Sport TV).
1.6. Casos omissos e dúvidas de interpretação
1.6.1. Os casos omissos e as dúvidas de interpretação serão resolvidos por maioria pelos elementos designados pela entidade competente.
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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O potro manco que virou rei - Dinah R. Amorim


O potro manco que virou rei
Dinah R. Amorim

Mamãe Estrela era rainha do curral,  com tiara e tudo! Respeitada até pelos mais selvagens, precisava deixar um cavalo herdeiro, o que era sua grande preocupação. Necessitava de um vencedor de corridas e saltos, para manter a linhagem, como fora com seu pai e avô.  

Após muitas tentativas, nasce-lhe um macho, de pelo preto e luzidio, mas manco de uma perna. Cresce forte e charmoso, com única dificuldade para  ser futuro rei: capenga.

  Se não puder ser coroado, Mamãe Estrela continuará sem ter para quem transmitir o título, e terá que passar a coroa para um estranho que vença os desafios.  

No entanto havia na região um sábio muito velho que diziam portar uma varinha mágica. Ele era um ancião respeitado, era calado e observador, e com seus poderes já tinha resolvido muitos problemas insolúveis naquela parte do país.

Eis que o ancião decide ajudar.

Quem sabe quando adulto poderá correr, saltar, pular. Iniciou-se então, a difícil tarefa de aprendizagem.

 Apesar de Estrela duvidar dos resultados, ela colaborava no necessário para ter um vencedor na família. Seu filhote talvez continuasse o reinado.  

  Os dias passavam rapidamente, e o pequeno cavalinho corria manquitolando pelas campinas, saltava com dificuldade pequenos obstáculos. E assim, auxiliado pela varinha que portava o velho homem,  tentava salvar o reinado.  Ganhar, finalmente,  a coroa no torneio do reino.

Dias árduos e incessantes de  muito treino se seguiram.

  Até que chegou o tão temido dia da competição. Alguns cavalos de fora, de outros distantes currais, desejavam também aqueles prados verdejantes. Todos alazões de grande porte e muito bem treinados. Seria muito fácil ganhar daquele potrinho manco, cor do Ébano, como o chamavam. Já era tempo de Estrela passar a coroa.

O mago ancião, persistente, acostumado a acreditar e ver acontecerem milagres, apostava em Ébano, e na tradição de Estrela.

  Alinhados na chiringa, Ébano analisava os outros competidores, e não os temia. Dada a largada, todos saíram em disparada. Galopavam e saltavam, até o a linha final.

 Surpreendentemente,  Ébano já acostumado a pular com a melhor perna, nos treinos sucessivos com o ancião, saltava com muita facilidade, o que não acontecia com os outros. Perdia um pouco no galope, mas ganhava na altitude e agilidade. Seu treino eficiente lhe valia pela deficiência. Atingiu logo o ponto de chegada, antes de todos os outros.


  Muito aplaudido, recebeu com honra a tiara da mãe emocionada. O mago, com leve sorriso, sorrateiramente, se retirou para sua caverna!

O COLAR DE ESMERALDAS E O SORVETE! - Dinah Ribeiro de Amorim


O COLAR DE ESMERALDAS E O SORVETE!
Dinah Ribeiro de Amorim

Era um atraente colar de esmeraldas! De um verde tão faiscante que ofuscava qualquer outra joia exposta na vitrine. Chamava atenção de todos os clientes.

  Tanta beleza despertava ciúme e cobiça nas outras peças de valor existentes. Era mesmo  grande atração.

  Sentia-se, no entanto, bastante infeliz. Gostaria de ser livre, voar pelos ares, sentir o vento e a chuva molhar suas valiosas pedras, frequentar outros lugares, abandonar aquela prisão entre vidros onde vivia apoiado sobre quente veludo  azul, sufocado de calor e olhares humanos desejosos.

  Às vezes, um menino curioso, chupando sorvete, com a alegria estampada no rosto, parou para observá-lo. “Ah! Como gostaria de trocar de lugar!”

Ele desejava muito isso, e pensou com tanta força, mas com tanta força que... Numa tarde, uma senhora elegante e rica, entrou na loja e fascinada pela joia que exuberava na vitrine,  tratou de comprá-la imediatamente antes que outro o fizesse. “Para mostrar às amigas”, exclama. “Morrerão de inveja”.

  O colar ficou tão contente que até vibrava! No pescoço dela sentia liberdade. Mudança de vida. Não poderia voar,  mas andaria através dele. Viajou muito, foi a muitos eventos, mas esperava mesmo por um sorvete onde pudesse mergulhar todas as suas pedras.

  Chegou o grande dia. A senhora em  renda  verde, ostentava o lindo colar de esmeraldas. Enquanto fazia a entrada triunfal, os presentes  admiravam seu pescoço. Nunca viram joia tão magnífica!

  Foi oferecido um especial sorvete de creme em taças de prata, após lauto jantar. A senhora inclinou-se para servir-se, mas o fecho do colar se abriu e as pedras rolaram, suavemente, num pequeno voo para dentro da sobremesa.


  Diante da confusão formada o colar foi sumindo, mergulhando prazerosamente naquela  doçura gelada.

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...