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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

O PADRE HILÁRIO E O PATO - Henrique Schnaider

 


O PADRE HILÁRIO E O PATO

Henrique Schnaider

 

Hilário sempre foi o tipo do sujeito vigarista. Desde pequeno o danadinho sempre que tinha chance, surrupiava os brinquedos de seus amiguinhos. No jogo de bolinha de gude, ganhava sempre porque usava de artimanhas, malandragens e por isso já possuía um estoque enorme das bolinhas.

Já garoto com sete anos ele era PHD na matéria de enganar as pessoas. Quando entrou na escola não perdia a oportunidade de roubar material escolar dos colegas e até os lanches, os quais ele tinha a pachorra de escolher o mais apetitoso e passava a mão na guloseima do amiguinho. Acabou sendo expulso da Escola.

Hilário tanto fez, já que dava até nó em pingo d’agua, ao entrar na adolescência foi parar numa Instituição para menores infratores onde se tornou um líder. Impressionou os garotos pela capacidade de passar para trás qualquer um que o enfrentasse. Ficou retido por mais de três anos e quando foi solto, foi morar nas ruas já que seus pais desistiram dele.

A vida desregrada e sem ninguém para lhe dar uma educação decente e nem valores para seguir, Hilário entrou ladeira abaixo e ficou muito mal. O vigarista tanto fez e tanto aprontou que acabou preso e condenado. Acabou puxando cinco anos de cadeia. Quando ficou no presídio ao lado de delinquentes perdidos na vida se perdeu de vez. Acabou se tornando” Dr. Honoris causa” em matéria de aplicar golpes na praça.

Finalmente solto, Hilário resolveu ir embora da Capital Goiânia e partiu de trem para o sertão de Goiás. Mas antes já pensando no próximo golpe que iria dar, comprou roupas de Padre, enquanto viajava. Foi lendo num livreto tipo Wikipédia, olhando qual cidade seria interessante para continuar aquela vida de estelionatário.

Na sua busca acabou achando a cidade de Abadiânia onde outro vigarista tarado contumaz “João de Deus”, tinha sua sede, e recebia os incautos. Hilário chegou naquela cidadezinha acanhada, mas cheia de pessoas crédulas, o local ideal para se estabelecer.

Apeou do trem com suas duas malas uma delas cheia de roupas e apetrechos que um Padre carrega. Ali no corredor da pequena estação parou para puxar um dedo de prosa com um matuto local e sondar a respeito da Igrejinha da cidade. Achou um caipira, um daqueles personagens que só existem nas piadas. Era o João de cima pois ele morava lá em cima do morro. E não é que existia o João de baixo, amigão do de Cima. Hilário tirou tudo o que precisava de informações, inclusive que o Padre Adelino, já avançado na idade havia morrido fazia um mês e a cidade aguardava a vinda de um novo Padre.

Hilário não perdeu tempo e disse ao João de Cima que era o novo Pároco que eles estavam esperando e pediu para ser levado até a Igreja. João ficou abismado com aquela surpresa e prontamente se ofereceu para levar o “falso” Padre Hilário até a Igreja dos necessitados.

A notícia se espalhou que nem rastilho de pólvora e todos os fiéis acorreram até a Igreja para saber das novidades e conhecer o novo Padre. Para celebrar a missa ele não se preocupou pois quando criança apesar de sapeca havia sido coroinha.

A vida seguiu seu caminho e Hilário passado um mês da chegada, e vida entrando na rotina, começou uma campanha de arrecadação de fundos para a reforma da Igreja e aí é que pretendia dar o golpe. Arrecadar o máximo possível e pegar a estrada e dar no pé, pois corria o risco da chegada do novo Padre.

Mas sempre tem um “mas” !!!, o vigarista não contava com o aparecimento do Tonho das Galinhas. Até que um dia a Maria das Galinhas mãe do Tonho pediu para ele ir vender um pato.

Enquanto isso Hilário malandro dos bons se engraçou com a Dona Chiquinha morena das boas, esposa não muito fiel do Coronel Bento. Ele não perdeu tempo e foi fazer uma visita paroquial à ela.

O Tonho com o pato nas mãos viu a porta entreaberta da casa do Coronel Bento. Sem cerimônia entrou, sem sequer bater. Foi olhando em todos os cômodos da casa até que chegou no quarto do casal. Para seu espanto estavam na cama Dona Chiquinha e o “Padre Hilário” fazendo coisas que o Tonho achava que só o Coronel Bento podia fazer.

Hilário sem saber o que fazer, perguntou ao Tonho o que ele estava fazendo ali. O matuto respondeu:

— Quero vender o pato.

Hilário perguntou:

— Quanto você quer pelo pato?

— Quero 100 reais pelo pato.

Hilário reagiu.

— Mas que ladrão!

Hilário não estava em condições de negociar preço e pagou os 100,00 reais pedidos.

Nisso Dona Chiquinha ouve o barulho de um carro chegando e falou desesperada.

— É o meu marido!

E foi um alvoroço. Lá se foram a esposa adúltera o “Padre”, o Tonho das Galinhas e o pato, todos para dentro do guarda-roupa. Um sufoco, todo mundo suando frio, menos o pato. E não é que depois de algum tempo esperando o Bento sair de novo, vira o Tonho e fala para o “Padre”:

— Agora “Padre”, eu quero comprar o pato. - Disse o Tonho falando baixo para o Bento não ouvir. Pensou o Hilário e disse:

— Ah seu ladrão, quanto quer pagar pelo pato?

O Tonho respondeu na maior cara de pau:

— Eu pago 10,00 reais.

Hilário espumou de raiva. Vendeu o pato.

Finalmente o Coronel Bento foi de novo para rua jogar tranca. Todos saíram do guarda-roupa. Hilário e Tonho e o pato saíram voando da casa e partiram em direção da Igreja. E não é que no caminho, lá vem o Tonho de novo.

— “Padre” agora eu quero vender o pato.

O coitado do Hilário saiu correndo e o Tonho atrás gritando.

— Eu quero vender o pato.

O falso “Padre” Hilário comprou e vendeu o pato para o Tonho umas 10 vezes e saiu no maior prejuízo. Perdendo tudo que havia arrecado dos fiéis. Resolveu fazer as malas e dar no pé, antes que o Tonho espalhasse para todo mundo o que havia visto na casa do Coronel Bento e os bons negócios que fez com o “Padre Hilário”. No fim das compras e vendas, o Tonho acabou ficando com o pato, para alegria da Maria das Galinhas.

 

 

 

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