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sábado, 3 de fevereiro de 2018

O MURO ENCANTADO! - Dinah Ribeiro de Amorim


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O MURO ENCANTADO!
Dinah Ribeiro de Amorim


Marizinha, de seis anos, amava brincar no quintal de sua vovó, com muitas plantas, árvores, bichinhos e um muro de tijolos cheio de buracos velhos, causados pelas chuvas. Assim passava suas tardes, imaginando histórias encantadas, no mundo feliz da infância. Escondia brinquedos usados, doces, pedaços de queijo, nas fendas do muro , para seu grande amiguinho, Riri..., uma mistura de corpo de boneco, cabeça de rato e rabo de gato. Acreditava ser o morador local.

Riri aparecia de vez em quando, sorria muito, acenava-lhe com sua mãozinha, pegava as prendas e saia correndo.

Numa tarde ensolarada, quando a menina ia lhe depositar um doce, Riri aparece e a convida para entrar. Marizinha, espantada, Pensa como entrar num buraco, dentro do muro? Riri, sorrindo, estende-lhe a mão e, puxando-a, o buraco aumenta, surgindo um corredor imenso, fazendo-a percorrer com grande curiosidade. Que teria no final!

Uma grande porta se abre e a menina e seu companheiro penetram num ambiente estranho, com móveis grandes e janelas enormes. Espiam lá fora e Marizinha vê uma cidade cheia de homens altos, vestidos de verde, parecendo outro mundo! Locomovem-se com passos pesados e largos e, para grandes distâncias, possuem asas. Seriam anjos, pensa ela.

Havia visto muitas gravuras com desenhos de anjos e sabia que tinham asas. Homens, vestidos de verde, era a primeira vez. Empurra Riri para abrirem a janela e pularem para conhecê-los. O amiguinho, amedrontado, recua. Segreda em seu ouvido que poderiam não ser muito amistosos.

“Por quê?” Pergunta a menina. Riri aponta-lhe um galpão enorme, de telhado vermelho, com janelas fechadas, de grande chaminé, pelo qual jogam, de vez em quando, alguma coisa.

Observam melhor e avistam serem jogados alguns seres pequenos, semelhantes a Riri, que talvez lhes sirvam de alimentação. Marizinha compreende o temor do amigo e o porque de tê-la chamado. Talvez fosse um pedido de ajuda.

Sentam-se debaixo da janela e começam a arquitetar um plano! O que fazer diante de inimigos tão altos, fortes e poderosos. Riri, tão pequeno e, ela, uma menina ainda! Se fosse adulta e grande como seu pai, talvez resolvesse alguma coisa. Pensando no pai, lembra de sua caixa de ferramentas. Possuía pregos, martelos e uma chave estranha, comprida, que abria e fechava todo tipo de fechadura. Bastava torcer ou distorcer os parafusos que as seguravam.

Pede a Riri que a leve de volta ao quintal. Corre até a casa da vovó e procura a caixa de ferramentas do avô. Esta, surpreendida, já pensando em alguma outra invenção da menina, recomenda-lhe Cuidado! O avô tinha apego às suas coisas.

Marizinha volta ao buraco, chama Riri que a introduz novamente no corredor, chegando até o ambiente estranho. Sentam-se no chão e observam a movimentação daqueles seres descomunais. Precisavam estudá-los para organizarem um modo de salvar os pequeninos, presos no galpão.

Percebem que voam em bandos, para algum lugar distante, demorando para voltar e, quando voltam, trazem com eles, pendurados, vários bichinhos, semelhantes a Riri, jogando-os pela chaminé. Talvez servissem de alimentação. Precisavam descobrir um jeito de impedi-los nessa tarefa e abrir janelas ou portas do galpão.

Marizinha abre a caixa de ferramentas e descobre uma grande tesoura, usada por vovô para cortar grama. Tem uma idéia! Esses homens verdes devem ter horas de sono. Vamos esperar que durmam e, silenciosamente, cortar suas asas. Estão usando-as para o mal! Não são anjos! Sem asas, não poderiam voar. Acabariam seus movimentos.

Esperam algum tempo e, quando eles voltam cansados, deitam no chão e adormecem profundamente. A menina e Riri, com grande esforço, levantam o vidro da janela e escapam para o mundo lá fora, fazendo escorregar primeiro, o tesourão. Ufa! Que esforço! Quase caem os dois, temendo fazer barulho.

Como todo grandão é pesado, teriam que fazer grande barulho para acordá-los, pois o sono também é pesado.

Vagarosamente, vão cortando as asas dobradas, uma por uma, delicadamente, impedindo-as de abrirem. Voltam correndo e escondem-se no corredor, quando um deles se mexe, tornando a adormecer.

Riri lembra Marizinha que precisariam abrir o galpão. Voltam, amedrontados, com a chave de fenda na mão, indo pé ante pé até a entrada do galpão. Não existe uma porta! Só janelas fechadas e a chaminé. E agora! Como fariam?

Marizinha suspende Riri com os braços, ajudando-o a abrir o vidro da janela, quebrando-o com um furo. O barulho acorda todo mundo! Os prisioneiros de dentro e os gigantes de fora. Começa uma correria infernal. Os Ririzinhos escapam e vêm em direção à janela do ambiente estranho, guiados por Riri. Os gigantes, atordoados, tentam se levantar para apanhá-los, mas não conseguem. Com as asas quebradas, mal conseguem se mover. São pesados demais!

Marizinha e Riri ajudam seus amiguinhos a fugirem pelo corredor, chegando até o buraco do muro que, de repente, diminui de tamanho, aparecendo novamente o quintal.

Felizes e salvos, o muro permanece com novos habitantes, para alegria da menina que fecha a grande porta antes de fugir, voltando, cansada e emocionada para conhecer seus futuros amiguinhos.

Preocupa-se, agora, em aumentar o número de prendas, docinhos e queijos, atraindo vovó para observar suas brincadeiras, que exclama rindo: “Marizinha, é tudo imaginação! Vovô precisa, um dia, tampar todos os buracos do muro!”

A menina, assustada, responde: “Não, vovó, vai matar meus amiguinhos! Espero que esse dia nunca chegue!”   




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