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quinta-feira, 25 de maio de 2017

A sogra - Ana Catarina SantAnna Maues


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A sogra
Ana Catarina SantAnna Maues

       Eles queriam casar, mas precisavam de uma ajudinha. A sogra de Laura dizia sempre que podiam contar com ela, mas a ajuda financeira não vinha nunca, e os preparativos não tinham início,  até que desistiram de esperar e com economia própria casaram.

      Na humilde casa alugada podia não ter nada, mas o clima de amor, companheirismo e união entre o casal era visível, o que despertava ódio mortal na mãe de Fábio, que arquitetou um plano para causar discórdia entre eles.  Passou a  ir todas as tardes, ter um dedinho de prosa com a nora. Nas visitas, as duas conversavam, tomavam chá, assistiam  tv, mas ela sempre  ia embora antes do filho chegar do trabalho.   Quando o marido chegava,  Laura dizia:

— Sua mãe esteve aqui!

E ele estranhava por não tê-lo esperado. Com o tempo, este  fato  o incomodou, e ele foi ter com a mãe, indagar sobre a conduta, que ela aproveitou e inventou diversas mentiras a respeito da nora,  dizendo que  visitava para demonstrar amizade, mas ela a deixava sozinha na sala; que as vezes chegava e  sabia que  estava em casa, mas não lhe abria a porta; noutras ela até entrava, mas a nora logo a enxotava dizendo estar ocupada. Ele acreditou na mãe e indignado, chegando em casa brigou com a esposa, que perplexa chorou muito, sofrendo sem entender porque que  havia inventado coisas tão terríveis. Laura foi criada em orfanato, por isto transferiu para a sogra o amor filial que guardava. Em profundo abatimento calou-se. Não abriu a boca em defesa própria. Em sua confusão mental  estaria agredindo a mãe biológica que não conheceu.

      No dia seguinte, a sogra foi à casa deles no horário de costume, e  mal a porta abriu, falou rispidamente:

— Você não vai roubar meu filho!

      Laura tímida, com autoimagem fragilizada, estava confusa diante daquela pessoa tão significativa, que de uma hora pra outra  mostrava-se  perversa, dissimulada,  e pior, com poder de fazê-la perder o único bem de toda sua vida, Fábio.

     — Se quer continuar casada, disse a sogra,  vai ter que fazer tudo o que eu mandar. Amanhã cedo você vai à minha casa, assim que meu filho sair pro trabalho,  limpa-la, depois cozinhar, lavar e passar minhas roupas, só depois vem cuidar da sua, se der tempo! E caiu na gargalhada.

          E assim passou a ser a rotina de Laura. À duras penas dava conta das duas casas, sem nada revelar ao marido. Essa situação a deixava exausta. Nos domingos não tinha  ânimo para nada, o marido reclamava de sua apatia, mas a amava tanto que logo arrependia-se de ter reclamado. Ela respondia com silêncio. E o domingo passava insípido e sem graça.


         Os dias  passavam e nada mudava. Laura cada vez mais fraca, muito pálida e abatida, começou a emagrecer e acabou doente. Até que um dia caiu na rua e foi hospitalizada. O  médico chamou os familiares e avisou  que ela estava no último estágio de leucemia. Fábio ficou louco com a notícia. Inconsolado abraçava a mãe no hospital e pedia que rezasse por Laura,  pois se morresse, ele também morreria. Infelizmente nada mais podia ser feito, Laura depois de alguns dias  morre e com a notícia, em ato desesperado, Fábio se suicida.

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