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sexta-feira, 22 de maio de 2015

O INVERNO NA FAZENDA! - Dinah Ribeiro de Amorim


O INVERNO NA FAZENDA!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Todo mês de julho, passávamos férias na fazenda dos meus avós. Julinho, meu irmão mais novo, Sofia, maiorzinha, já trocando os dentes da frente e, eu, o mais velho, encarregado de ajudar vovó Bela no cuidado com as crianças. Apesar da tristeza do inverno, divertimo-nos muito, pois Orestes, o capataz, fechava portas e janelas quando ventava forte, protegendo-nos da chuvarada e trovões que esbravejavam lá fora, afastando o medo do temporal com histórias de sua vida pelo sertão, enquanto aguardávamos o bolo de fubá com canela e o chazinho de capim cidreira, feito por vovó.

  Hoje, já crescidos, lembramos com saudade desse tempo. Julinho, semi-adormecido ao pé da lareira, não prestava muita atenção no que se dizia. Sofia, arteira e esperta, curiosa demais, perguntava sobre tudo. Se existia mesmo Mulas sem cabeça, Negrinho do pastoreio, Saci- Pererê e outras curiosidades que os meninos do mato contavam. Até sobre a Cobra grande, que aparecia no lago, queria saber.

  Orestes, caboclo falador e contador de  casos, adorava uma platéia e, não perdia  oportunidade. Punha-se a falar coisas estranhas e, quando não sabia, inventava. Era repreendido por vovó que dizia: ”Não amedronte as crianças com essas bobagens!  Depois nem dormem à  noite!”

  Eu ficava meio desconfiado, não acreditava muito, mas Sofia, aguçava os ouvidos e arregalava os olhos.

  Dava um trabalho danado, pois só dormia quando se enrolava na minha cama, implorando um cantinho, morrendo de medo.

  De dia, muito corajosa, querendo saber tudo. À noite, gritando por qualquer barulho. Fazenda é muito boa ao sol claro,  mas à noite, para quem não está acostumado, bem estranha. Estala tudo: madeira da porta, armário, janela, ventos  uivam, aves, e por aí vai. Isso quando vovô não surgia de repente, em pijamas, tentando matar algum pernilongo.

Sofia quis conhecer uma história diferente, das terras de Orestes. Ele, entusiasmado, explicou que havia coisas muito interessantes de onde viera, perto do Velho Chico, o rio São Francisco. Desta vez, sim prestei também mais atenção.

“As embarcações têm o calado, seu fundo, muito pequeno. O barqueiro empurra o barco com uma vara comprida, atingindo o leito do rio. É um trabalho duro, mas ele canta enquanto trabalha. Na parte da frente, recurvada, a carranca protetora.”

_”Carranca protetora! O que é isso?” Pergunta Sofia. “Nunca ouvi falar nesse nome!”

    “As carrancas dos barcos são esculturas em madeira, com desenhos de monstros, bichos desconhecidos, fantásticos, poderosos, para assustar o Bicho d´água, virador das embarcações.” Respondeu Orestes. “Eles acreditam que ela dá um aviso, três gemidos, quando vão afundar. Quem ouve, escapa do naufrágio.”

  _E você, Orestes, já ouviu? Perguntei aflito. Estava achando tudo bem curioso.

 _ “Eu, não, mas tive amigos canoeiros e pescadores que ouviram e escaparam sãos e salvos. Um milagre!” respondeu.


  Fomos interrompidos por vovó que mandou todo mundo pra cama, receando que Sofia desse, outra vez, trabalho à noite. Acho que sonhar com barcos afundando e Bichos d´água, eu também vou.

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