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quinta-feira, 12 de abril de 2018

A HERANÇA QUE OS PAIS NOS DEIXAM - Henrique Schnaider







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A HERANÇA QUE OS PAIS NOS DEIXAM
Henrique Schnaider

Antônio nasceu e cresceu em uma família, cujo sobrenome levava o brasão dos D’Elia, nos bons tempos de fartura, riqueza nos campos de Modena na Itália, depois que perderam tudo e a miséria os assolou, resolveram tentar vida nova no Brasil no início do século passado. Eram os pais, os avós paternos, mais dois irmãos Jose e Claudio, ansiosos para começar uma vida nova.

Antônio e seus irmãos ainda eram bem jovens quando, da chegada deles em um navio no porto de Santos.

Os estivadores chamavam a atenção da família, pois a maioria deles eram homens negros reluzentes, fortes como touros, numa agitação, carregando mercadorias que iriam embarcar nos navios para o exterior, ao mesmo tempo descarregando bagagens.

A família D’Elia, depois de reunir todas suas tralhas, embarcou no trem que os levou a São Paulo.

Desceram na Estação da Luz, assombrados com aquela cidade agitada, cheia de carros indo e vindo.

A família bem caipira da roça, foi parar numa pensão no Bairro do Bom Retiro, temporariamente, pois iriam se estabelecer numa fazenda de café no interior de São Paulo.

Dias depois, tudo arrumado, os D’Elia partiram para o interior, próximo à Araraquara.

O começo foi muito difícil, trabalharam duro para vencer as dificuldades, mas André o pai dos rapazes, compensava a situação financeira difícil, dando uma educação plena de princípios para que se tornassem bons cidadãos, os jovens corresponderam às expectativas dos pais.

Eram todos estudiosos, levando muito a sério os ensinamentos recebidos em casa, apesar das dificuldades enfrentadas, devido aos seus esforços, os três rapazes se formaram, Antônio médico, Jose Advogado e Claudio Engenheiro.
Devido a sua formação, para poder exercer suas profissões, os três foram morar em Araraquara, cidade com mais recursos, onde poderiam progredir na vida.

Lutaram com muitas dificuldades, mas sempre lembrando de toda educação, princípios recebidos de seus pais, não esmoreceram, por fim venceram, tornando-se cidadãos respeitados na cidade, inclusive acabaram se envolvendo na política local, Antônio acabou se elegendo Prefeito, Jose fez concurso, tornando-se Juiz de Direito, por fim Claudio foi eleito Deputado da Câmara da Cidade.

Os pais já bem velhinhos, sempre se orgulhavam da vida bem-sucedida de seus filhos e sabiam que haviam transmitido a eles, o bem mais precioso que um ser humano pode ter ou seja a educação, bons princípios, formação profissional. Sabiam que atingiram tudo o que almejavam nesta vida, despreocupados curtiam boa vida ao lado de uma dezena de netos.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

VENDA E COMPRA DE SENTIMENTOS - Hirtis Lazarin



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VENDA E COMPRA DE SENTIMENTOS
Hirtis Lazarin


A menina franzina nasceu de um parto doloroso.  Poucos acreditavam que vingaria.

Os pais fervorosos e devotos de Santa Terezinha do Menino Jesus, deram-lhe o nome da santa.

Milagre ou não, depois de um mês de internação, chegou em casa coradinha e esperta.

Acolhida num cestinho de vime, cresceu entre flores e cores.

Os pais tinham uma pequena floricultura, arranjada num dos cômodos da casa humilde e, no quintal espaçoso, cultivavam ervas, verduras e um canteiro só de flores.  Sobreviviam com a venda desses produtos.

Terezinha cresceu curiosa e criativa além da conta.  O vocábulo que mais usava era o pronome interrogativo por que (?).

Ajudava os pais com prazer.  Trabalhava cantando. Era o rouxinol da rua Plínio Rodrigues de Moraes.  E bem cedo, descobriu que trabalhar com flores era o que faria, provavelmente, pro resto da vida.

Preparou-se sempre.  A internet foi sua grande aliada.  Estudou pra se tornar a melhor vendedora, oferecer o melhor produto e, o mais importante, valorizar o cliente e estabelecer conexão emocional com ele. 

Só não podia pôr em prática tudo que sabia, porque os pais não entendiam esse jeito novo de trabalhar.

Mas a morte prematura do pai antecipou seus planos.

Modernizou a mobília da loja, trocou o toldo puído por outro colorido, aumentou o estoque de flores e se aprimorou na montagem dos arranjos.

Foi ousada.  Iniciou a cultura de abelhas porque aprendeu que elas exercem papel importante na polinização e garantem maior qualidade aos alimentos.  Seria ótimo pra as plantinhas do quintal

As abelhas atraíram borboletas que atraíram outros pássaros além daqueles que já moravam no jequitibá que sombreava o quintal.  Virou uma festa.

Terezinha sabia que a criatividade por si só não basta.  Era necessário inovar.  Inovação é criar coisas novas.

E a cabecinha inteligente pôs-se a funcionar.

Cultivou um pinheiro e abasteceu seus galhos com cartõezinhos.  A cada compra o cliente tinha o direito de escolher um deles.  Cada um era uma surpresa.  Podia ser um botão de rosa, um punhado de ervas fresquinhas colhidas no quintal, uma mensagem positiva, um ramalhete gratuito, ou até não pagar a conta.

Era nessa hora que a emoção do cliente se aflorava.  Era alegria, perplexidade, surpresa, satisfação, curiosidade ou risos.  Era possível ver o que cada um sentia. Através do seu jeito de fazer marketing, Terezinha vendia emoções.

A flor do Baobá - Ana Catarina Sant”Anna Maues




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A flor do Baobá
Ana Catarina Sant”Anna Maues

       Numa cidade distante, em certa época, ódio e vingança moviam os corações dos homens e mulheres.  A intransigência fazia marcas profundas naquele lugar. Viviam como se loucos fossem, sem juízo de valor ou acordos. A vontade, o desejo unilateral, o eu quero eu faço, podiam ser vistos corriqueiramente nas ações mais simples, culminando muitas vezes com o irracional sangue escorrendo nas sarjetas junto a corpos inertes que entupiam bueiros, sem qualquer comoção. Pais surravam filhos indefesos. Mães desfaziam-se de nascituros. Assaltos toda hora, estupros, furtos, agressões das mais variadas assolavam as relações.
       Um ancião não aguentando mais o viver daquelas pessoas, certa manhã dirigiu-se até o Baobá, único que sobrara do feroz desmatamento da área. Árvore, espetacularmente, gigantesca com altura que passava trinta metros. Os mais velhos contavam que aquele exemplar já existia por ali a mais de mil anos por isso considerado pai de todas as árvores. Seu formato estranho era explicado na conhecida lenda. Devido se julgar melhor que os outros, Deus o castigou, replantando-o de cabeça para baixo, com a copa enterrada e as raízes para cima, na intenção delas buscarem o céu pedindo o perdão. Nessa intenção este morador sentou-se próximo ao tronco.
— Oh! Baobá. Junte minha oração a sua. Há mil anos pedes a Deus perdão por teres sido vaidoso. Quantos anos devo pedir para os homens e mulheres da minha cidade transformarem as atitudes, passando a viver na união que traz a paz?
     Da árvore se escutou uma voz que disse:
   Venda pensamentos.
    O ancião, intrigado, deixou o lugar.
    Alguns anos depois, voltou cego, surdo, numa cadeira de rodas, pois os pensamentos vendidos que produziam boas mudanças, incomodava poderosos, resultando cruentos castigos, mas não o fizeram parar.  Retornou ao pé da milenar árvore em companhia de grande multidão. Todos imbuídos de nobres sentimentos, vieram prestar homenagem e fazer orações a Deus, agradecendo a transformação que tiveram. Hoje viviam tempos de grande felicidade. Aprenderam respeito, gentileza, cordialidade, solicitude, civilidade. Em meio ao ato ouviu-se um forte ruído. Um galho da árvore, começou a estufar, crescendo tanto, tanto, que rachou fazendo desabrochar flor deslumbrante que surpreendeu a todos. Foi um “OOOOhhhh”, geral. Falavam e gesticulam querendo contar ao mesmo tempo o acontecido ao ancião.  Este visivelmente emocionado entendeu o presente recebido.
         

A VENDEDORA DOS SENTIMENTOS MAIS PUROS - Henrique Schnaider



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A VENDEDORA DOS SENTIMENTOS MAIS PUROS
Henrique Schnaider

Antônia vivia em Bananeiras, cidade no interior da Paraíba. Lutava com os pais para enfrentar a miséria e a fome.

A jovem tinha que ajudá-los na pequena roça que possuíam. Todos os dias caminhava cinco quilômetros, sem esmorecer, até chegar a cidade mais próxima onde estudava.

Seus pais eram muito simples. Trabalhavam no campo, de sol a sol, e na pele já curtida parecia.

Eram analfabetos, mas adoravam quando Antônia lia livros que ganhava na escola. Eram contos fantasiosos que os deixavam deslumbrados.

Com o correr do tempo, a jovem Antônia adquiriu uma beleza natural. Vivia livre como um animalzinho solto no campo.

Com o conhecimento adquirido, começou a alfabetizar várias crianças que não iam a escola.

Como o número de alunos aumentava, os pais da jovem, construíram uma cabana que seria a primeira escola de Bananeiras.

A jovem começou a ser procurada por adultos e jovens da região na parte da noite. Ela ia para escola de manhã e reservava as tardes para alfabetizar crianças.

Antônia começou a receber em troca dos ensinamentos, galinhas, cabritos, coelhos e outros animais caseiros. Às vezes, até um dinheirinho.

Ela gostava de escrever cartas. Os adultos ditavam mensagens para serem enviadas aos familiares distantes. Orientava-os a expressar seus sentimentos. Ela gostava das palavras, saudade, amor e carinho.

Os pais dela estavam muito orgulhosos e não cabiam em si de tanta satisfação por ver a filha tão dedicada a ajudar aqueles que não tinham oportunidade de estudar.

Antônia ensinou àquelas pessoas a sentirem-se orgulhosas por serem cidadãos nascidos neste enorme país chamado Brasil.

Todo sábado, ao cair da tarde, reunia alunos e sitiantes para cantar o hino nacional. Era um momento de orgulho, emoção.

Antônia casou-se com um jovem da região, um dos alunos que aprendeu com ela as primeiras letras. O rapaz declarou todo seu amor numa carta recheada de devoção e carinho.

Hoje, já adiantada na idade, a professora Antônia, deixou um legado maravilhoso. Os cidadãos de Bananeiras homenagearam-na com uma estátua na pracinha. Nas mãos, um caderno e uma caneta, instrumentos do seu trabalho.

terça-feira, 3 de abril de 2018

FUGA - Hirtis Lazarin

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FUGA
Hirtis Lazarin

O estresse do dia-a-dia acabou comigo.  O corre-corre no escritório, clientes impacientes, horas extras a perder de vista, as horas perdidas no trânsito transformaram-me num trapo de gente.  Robotizada.

Não acredito em quem diz que as pessoas param de sonhar porque envelhecem.  Eu estou envelhecendo porque parei de produzir sonhos.

E, num momento de rara lucidez, joguei tudo pro alto.  Pedi demissão, arrumei as malas, não dei adeus a ninguém e voei.  Voei pra Firenze.  Um cantinho acolhedor que respira arte, comida boa e ótimos vinhos.

O mês era julho.  Dias longos, cheios de vida, cheios de poesia, cheios da alegria de milhões de turistas.

A lua ansiosa não encontra seu espaço e vê-se obrigada a expulsar o sol que ainda esbanja cores.  Teimoso, despede-se querendo ficar.

Em cada canto, flores, flores e mais flores.

Uma abundância colorida que amansa a alma, que nos inspira e nos faz sonhar.  E não é que nos sonhos há espaço até para o amor?

Andei o dia todo, sem pressa nem hora pra voltar.  Caí bem cedo na cama e adormeci como não  fazia há séculos.

Era madrugada.  Acordei bruscamente como se um meteorito tivesse caído sobre mim.

Gelei dos pés aos cabelos.  Seria mais que normal um grito assustado, um pedido de socorro.

Não sei explicar o porquê, mas permaneci imóvel, de olhos fechados.

Senti um corpo desnudo e quente roçar o meu debaixo dos lençóis.  Com esforço mantive a respiração controlada na espera atenta e angustiante do que viria depois.

Seria um louco?  Um assassino de mulheres?  Ou um estuprador?

Um perfume masculino amadeirado penetrou-me as narinas, caminhou até meu cérebro e o cérebro passou a emitir ondas de prazer.

Braços másculos enlaçaram-me com a força de Hércules e a delicadeza de Romeu.

Mãos grandes alisaram meus cabelos negros e fartos.

Eu já não me dominava mais.  Liberei os desejos, os mais sensuais, os mais pecaminosos.  Perdi o pudor.

Lábios ávidos úmidos encontraram os meus receptivos.  Bocas ardentes.

Ainda de olhos fechados, desfrutei a magia daquele momento único.

Entregamo-nos de corpo e alma.  Não sei por quanto tempo...  Até que gritos prazerosos explodiram barulhentos.

Pausadamente, a respiração ofegante voltou à calma, os braços se afrouxaram e a cabeça tombou no travesseiro abandonado.

O ar tinha gosto de felicidade.

Senti a paz de criança embalada no colo materno.

Caí num sono profundo.

UM PEDIDO DE PERDÃO! - Dinah Ribeiro de Amorim

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UM PEDIDO DE PERDÃO!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Orei, orei muito, perto da sua morte. Queria salvá-lo, pelos filhos, por ele que amava a vida, por mim... pela falta que faria depois...

  Sabia, no fundo, que ainda dependia dele. Num momento mais sério, algum infortúnio, na hora da dor, estávamos ainda juntos como um fio não interrompido, um elo não totalmente desfeito.

  Não sei explicar o que senti! Dor pela perda, compaixão pelo seu sofrimento, pela sua solidão num momento tão difícil, apesar dos filhos e irmãos. Raiva, também, por ainda me fazer sofrer...

  Tentei ser forte, animá-lo, orar por ele; fazer pedidos de prece a pastores, dar-lhe alguma esperança. Quando percebi que a doença implacável tomava conta, falava-lhe de Jesus, de paz, de uma outra vida, outro tipo de salvação! E ele creu!

  Juntos no seu final! Não era bem isso que eu queria, não era o que tinha imaginado. Queria-o vivo! Terminar com ele nossa vida na terra. Eu o tinha afastado. Gostaria de corrigir meu erro!

  Amor, compaixão, interesse, com certeza não, mas, respeito, compreensão da vida, amizade, num amadurecimento que só se adquire com a idade, com certeza sim!

  Chorei, chorei muito quando decidiu ser sedado, despedindo-se de tudo e de todos.

  Nunca imaginei que pudesse ser tão corajoso. Mais que todos nós à sua volta.
  Senti-me fraca, impotente, quebrada, como se nada mais importasse.

  Veio naquele exato momento, uma lembrança à minha memória: quando decidimos pela separação havia dito: “Você ainda vai chorar muito, lágrimas de sangue. ”

  Lágrimas de sangue não, mas lágrimas de uma mulher ferida, machucada, vencida, sim, principalmente quando ouvi um pedido de perdão, perdão pelos seus erros e agradecimento pelos filhos que tivemos juntos!

  Guardo em minha Bíblia o bilhete que me deixou e é um conforto saber que está livre, totalmente livre dos sacrifícios impostos por essa doença maligna...

  Sinto muita tristeza ainda! Lágrimas me vêm aos olhos quando lembro seus momentos finais. Pareço uma mulher viúva, apesar de anos de separação.

  Se o perdoei? Com certeza, perdoei-o sim!

quinta-feira, 22 de março de 2018

"SRA. SMITH" - Hirtis Lazarin



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"SRA. SMITH"
Hirtis Lazarin

Sra. Smith, mulher de excepcional formosura.

Sra. Smith, pintura irretocável.


Sra. Smith, esbelta, longilínea, uma escultura de Rodin.


Cabelos negros e sedosos que exaltam a pele fina, quase translúcida
Olhos penetrantes, inquietos, curiosos, um raio X capaz de dissecar, numa fração de segundos, cada detalhe, cada perigo escondido num canto qualquer.
A boca.  .A boca, uma rosa carnuda,
                               uma rosa oferecida,
                               uma rosa ardente,
                               uma rosa ansiosa pra ser desfolhada.
E oferecer o mel.
                      o mais doce,
                      o mais inebriante,
                      o mas enlouquecedor.

Sra. Smith,  dona de delicadeza,
                                                    que impressiona,
                                                    que hipnotiza,
                                                    que enlouquece, até mesmo os mais experientes homens.
Seria ela um anjo? 
Ou uma deusa? 
Ou uma bruxa disfarçada de princesa?
Essa mulher guarda um segredo: atração por armas de fogo.  Sabe manuseá-las com perfeição e rapidez, desde pistolas à metralhadoras.
Uma leoa ágil à procura da caça rara.
Um puma que ataca, que estraçalha no silêncio.
Essa paixão transforma-a numa mulher poderosa,
                                             numa mulher destemida,
                                             numa mulher cruel,
                                             numa matadora de aluguel.
Que exibe a presa que sofre,
                                que sangra,
                                que desfalece,
                                que exala o último suspiro.
Mulher que triunfa,
             que ri sarcasticamente,
             que se delicia diante da presa dominada e morta.
Missão cumprida.
                           


A sobremesa - Ana Catarina Sant’Anna Maues



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A sobremesa
Ana Catarina Sant’Anna Maues

   Mesa arrumada como de costume, almoço servido. Sentados em silêncio faziam a refeição bem ligeiros, absortos em si mesmos ignoravam-se mutuamente. Solteiros alguns, outros já foram e voltaram.
   Zilá, a mãe viúva recente, observava quieta, sentindo falta dos dias em que aquela era a hora mais feliz, pois um derrubava água, o outro manchava a toalha com molho, a menor gargalhava cutucando o mais velho por debaixo da cadeira, e ela atarantada, agilizava as coisas para que não chegassem atrasados no colégio. Mas aquela também era o momento das conversas e conselhos. Cada um tinha algo a contar ou indagar e ela sabiamente não desprezava nenhuma questão. Agora adultos com vida corrida, saem sem ao menos despedirem-se dela.
   Da cozinha escuta a porta da rua bater uma, duas, três, quatro vezes. Em frente a pia cheia de louça, sente o sal da lágrima nos lábios. Está desolada, é seu aniversário. Medita buscando repreender a si própria: Todo dia é isso, por que hoje seria diferente? Mas o ardor no centro do peito irrompe e alcança a alma. Está ferida. Dói muito. Nesta hora lembra que esqueceu de oferecer a sobremesa. Corre até a geladeira na esperança de terem visto e comido, mas não. Resolve tirar um naco e é quando acontece. Aquele sabor adocicado chega na boca e ela sente como que um bálsamo a aliviar tanta amargura. Sutilmente aquele gosto vai se revelando, esclarecendo e firmando convicção. Amar é gratuidade. O doce é doce porque é. Será para os filhos assim como aquela sobremesa foi para ela.

"É PRIMAVERA" - Hirtis Lazarin



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"É PRIMAVERA"
Hirtis Lazarin

Já era sem tempo quando o inverno se foi, expulso pela primavera que se cansou de esperar.
E o jardim acordou perfumado em todos os tons.  A abundância de cores e flores era tanta que confundiu pássaros e borboletas.
Deslumbrados e atordoados chocavam-se no ar.  Não podiam ignorar nenhuma das flores frescas, plenas, ansiosas por um beijo e portadoras do néctar, do mel que os permite viver,
A rosa vermelha, a mais atrevida, a mais aparecida, sentia-se a rainha poderosa do lugar.
Pra chamar a atenção do beija-flor, espichou-se tanto...tanto... que, antes do término do dia, morreu despetalada no chão.

QUE MUDANÇA! - Dinah Ribeiro de Amorim



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QUE MUDANÇA!
Dinah Ribeiro de Amorim

João Teodoro, quem diria! Cabra valente, macho, temido e respeitado.

Quando criança, tímido, inseguro, ninguém acreditava nele, nem ele mesmo. 
Não se deu bem na escola, nos serviços do sítio, com o pai, “não presta para nada”, segundo a própria mãe.

Coração bom! A única coisa que demonstra é o amor a Itaoca, cidade que nasceu.

Com a decadência dela, todos a abandonam. Os médicos, advogados, agricultores que a fariam progredir.

João Teodoro acompanha com tristeza o abandono da cidade. Entra em amargura, querendo deixá-la também.

Já homem feito, é nomeado delegado, por falta de gente. Muito espantado, exclama: “Terra em que até João Teodoro vira delegado, não merece nada mesmo. Vou-me embora! ”

Ao sair, é cercado por antigos moradores que o convencem a aceitar o cargo. Itaoca estava atraindo bandidos e malfeitores, todos os mau-caráter da região.
A dor pela cidade amada o faz ficar e lutar tornando-se delegado. Nem pegar em arma sabia!

Pobre João Teodoro! Aprende o ofício a duras penas. Briga, apanha, tem medo, foge, volta, persegue, arma-se até que consegue fazer sua primeira diligência com sucesso.

Aplaudido pelos habitantes que ficaram, entusiasma-se pela profissão, cria coragem e se transforma no delegado mais temido da região!
O amor por Itaoca vence o descrédito de quem não acreditava nem em si mesmo!

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...