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quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A MELHOR FESTA JUNINA! - Amora

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A MELHOR FESTA JUNINA!
Amora

Festas juninas são sempre divertidas! Muitos enfeites, comidas e bebidas típicas, músicas alegres, vários tipos de dança.

Geralmente, seus visitantes ficam descontraídos, coloridos, com suas botas, chapéus, bigodes e lenços ou saias bordadas, cheias de retalhos, nas mulheres, tentando imitar o nosso caipira da roça, figura tão querida dos brasileiros.

Impossível dizer em poucas palavras a que gostei mais. Todas foram muito boas! Mas, lembrando um pouco o passado, comecei a prestar maior atenção nelas com a participação dos meus netos, na escola.

Assisti-los vestidos de caipira, dançando quadrilha aos pares, foi emocionante e engraçado. São mestiços, minha filha é clara, casada com nissei e eles puxaram mais o lado oriental. Vê-los fantasiados, procurando dançar, acompanhados de alguma coleguinha loira, de trancinhas, ou, a neta, com belo vestidinho trabalhado de fitas, moreninha, de olhos puxados, ao lado de um par completamente diferente, deixou-me sempre contente.

Todo ano, enquanto cresceram, a festa junina da escola foi a mais atraente e divertida, com papais e vovós encantados, preparando flashes para lembrança dos seus filhos e netos. Acho que fiz parte deste grupo, com grande entusiasmo. Tenho fotos pela casa inteira.

Até hoje, lembro com saudade dessa época, pena que cresceram tão rápido, já cursando faculdade, esquecidos talvez desse tempo de criança e das felizes festas escolares.


ANGÚSTIA, JAMAIS. - Do Carmo

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ANGÚSTIA, JAMAIS.
Do Carmo


Desde muito criança, talvez no segundo ou terceiro ano primário, tenho um sonho que acalentei até completar sessenta anos, quando me aposentei e dei asas a essa ideia de tornar-me escritora.
A cada ideia sugestiva surgida no meu imaginário, repleta de repleta de imagens, vinha cercada de insegurança ao passá-la para o papel, eu sentia uma angústia imensa, impotência decorrente da minha situação de vida, pois era uma correria total. Apenas rabiscava o teor do que seria meu texto e guardava para um futuro infinito.
O tempo passou, meus filhos cresceram, formaram-se, casaram-se, e eu acostumei-me com a viuvez. Fiquei vovó, e depois de dez anos, aposentei-me.
Maravilha, renasci como SEMHORA, LIVRE, LEVE E SOLTA.
Desse momento em diante, ninguém mais me impediu de nada. Tornei-me frequentadora assídua de Bibliotecas, Casas de Cultura, Oficinas Literária, onde descobria um espaço cultural, lá estava eu.
Sentia-me realizada, pois a angústia, ansiedade e a impotência, não tinham mais lugar em minha vida. Escrevia tudo o que surgia na mente e, pouco modesta como sou, achava todos os textos uma obra de arte. Leda ilusão. Quando nas aulas eu ouvia a leitura dos textos dos colegas, eu sentia-me uma traça esquecida numa gaveta.
Mas, toda nuvem negra passa e o sol brilha novamente.
Hoje estou livre daquela angústia anterior, quando colecionava ideias e nunca as concretizava.
Agora faço meus textos sem temor ou dúvidas, tranquilamente me submeto às considerações dos professores, as quais acato e tento cumpri-las.
As ideias continuam surgindo, mas aquela sensação de insegurança de não saber como expressar-me, desapareceu, uma vez que aprendi a ler o texto em voz alta, deixá-lo descansar, voltar a ler e se necessário, fazer cortes, rever palavras repetidas, pontuação, tempo dos verbos, concordâncias, enfim, deixar o mais perfeito possível.   
 Feliz e orgulhosa pelo feito, digito com muito cuidado, encaminho às mestras, minha sempre, para mim, obra prima, e espero os comentários e correções.
Estou realizada.


quinta-feira, 20 de outubro de 2016

UM PRESENTE ESPECIAL PARA A MULHER DO CARROCEIRO - Do Carmo


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UM PRESENTE ESPECIAL PARA A  MULHER DO CARROCEIRO
Do Carmo

João e Maria formam um casal feliz há vinte e dois anos, mesmo não tendo filhos. Trabalhavam em conjunto na pequena chácara, atrás da casa que construíram antes do casamento.
Maria cuidava nos afazeres domésticos e ajudava o marido na colheita e armazenamento dos legumes, verduras e frutas , que cultivavam, os quais eram acomodados com cuidado, em cestos de vime, pois, segundo ela, ventilava os alimentos enquanto esperavam o momento das vendas.
A carroça de João, também muito bem conservada por Maria, estava sempre limpa a mula que a puxava bem alimentada, bem como o pequeno toldo que abrigava o condutor e a caçamba que transportava as mercadorias.
Diariamente, por volta das quinze horas, cansado, mas sorridente, João chegava em casa, gritando por Maria, que logo se acercava dele com uma sacolinha nas mãos. Era a “Sacolinha do Tesouro”, como diziam, pois toda renda das vendas era, religiosamente, guardada, depois de conferidas e separada uma parte, para as necessidades de sobrevivência.
Certo dia, João chegou mais alegre e gritando mais alto. Maria estranhou toda aquela euforia, porém, João saltou da carroça, abraçou com muito amor sua querida esposa e com voz embargada foi dizendo que ela não iria acreditar, pois restou um bonito repolho, que ninguém quis comprar. Então pensei em pedir para que o preparasse para o jantar.
Maria olhou os cestos e de repente parou. Em um deles, encontrou dormindo, um rosado e gorducho bebê, tal e qual idealizava em seus sonhos, para ser seu filho.
Ela começou a chorar e João abraçou-a, novamente, beijou-lhe o rosto molhado e muito emocionado, sussurrou-lhe ao ouvido, que do nada, naquele dia o sonho dela estava se tornando realidade e a felicidade , completa. Hoje, João e Maria, casados há quarenta e seis anos, preparam-se orgulhosos e entusiasmados para assistirem a solenidade da colação de grau do jovem Vitório, único e querido filho do casal.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

PARCERIA QUE DEU CERTO! - (Amora – 2016)


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PARCERIA QUE DEU CERTO!
(Amora – 2016)

Ademir passava todas as manhãs, pela minha rua, com sua carroça desgastada, mal equilibrada, fazendo barulho, pelo excesso de uso. Pedia jornais velhos, garrafas, roupas usadas, tudo que pudesse levar e rendesse algum dinheiro, nos mercados de troca ou reciclagem.

Sua aparência também não era das melhores. Meio sujo, suado, roupas rotas e desbotadas, revelavam o lugar que morava. A rua, talvez.

Acostumamo-nos com ele, com sua freqüência diária. Preparávamos sempre algo em bom estado que ele pudesse vender. Quando as crianças iam jogar fora brinquedos velhos, caixas, papéis de presentes, lembrava--os de Ademir e deixavam separado.

Aprenderam também a gostar dele. Vivia cantando e brincando, contando histórias engraçadas, fazendo-os rirem muito. Era esperado no bairro.

Um dia, conheceu Isaura, uma mulher também pobre, de aparência sofrida e rude, mas bastante esperta e mais inteligente que ele. Começaram a trabalhar juntos.

Isaura, bem mais moça, transformou a aparência de Ademir. Começou a usar roupas melhores, mais limpas, mudando também a visão da carroça velha. Surgiu pintada, enfeitada com flores de papel, rodas novas, rangendo menos e atraindo melhor freguesia. Acompanhava-o em seu trabalho diário, bem trajada, colorida, portando um radinho a tiracolo, com músicas alegres e altas, dançando muitas vezes à frente da carroça para chamar clientela.

Em pouco tempo, Ademir prosperou. Ao invés de pedir coisas velhas, passou a vender as que ainda estavam em bom estado ou, fazer trocas. Sua vida foi mudando, até que comprou uma carroça nova, guiada por um cavalo, fazendo parte das outras chiques, que trabalhavam no parque central da cidade. Levava crianças e turistas, a conhecerem os lugares mais bonitos da região. Virou trabalhador de turismo.

De morador de rua, logo mudou para pequeno barraco de dois cômodos, com boas perspectivas de melhorar ainda mais, convivendo com Isaura.


Sentimos um pouco sua falta, mas desejamos que todo carroceiro encontre uma Isaura na vida, levando-o à prosperidade.

Ajuste - Jany Patricio

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Ajuste
Jany Patricio

            Tudo começou quando certa rede de cinemas ligada a um grande banco fez uma reforma em duas de suas salas na Rua Augusta. As cadeiras ficaram maiores, não me permitindo apoiar as costas nem por os pés no chão. Felizmente, na reforma das outras três salas na mesma rua, os bancos ficaram como eram antes.

            Uma sala de outra rede de cinema também foi reformada, bem como o teatro, ambos no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista. Os bancos ficaram grandes. Tive que riscar os dois da minha lista.

            Eu adoro cinema e teatro e ter estas quatro salas cortadas das minhas possibilidades me deixou limitada.

            Num sábado, eu e algumas amigas marcamos de ir ao cinema depois sair para jantar. Fomos ao Reserva Cultural. As cadeiras eram grandes. Lembrei que em alguns cinemas têm uma banqueta e fui procurar. Que maravilha! Lá havia o apoio de pés e pude me divertir tranquila assistindo Maryl Streep em Florence, Quem é essa mulher? Ela está hilária neste papel. Passamos momentos agradáveis, saboreando comida árabe, bebendo chopes ou sucos, conversando e rindo.

            Outro dia eu e uma amiga compramos ingressos no cine Belas Artes para assistir Julieta, um filme de Almodóvar. Eu já estava com dor nas costas por esforços no final de semana e ao deparar com os assentos grandes do cinema não tive coragem de sair deixando minha amiga desapontada. Por sorte o filme era bom e me deixou envolvida por duas horas. No dia seguinte minha coluna estava travada. Tive que parar de ir a academia, de caminhar no parque, ia começar aulas de dança e não pude. Até hoje me trato com fisioterapia e acupuntura.

            Passando em frente a um dos cinemas resolvi verificar se haviam colocado à disposição do público os tais aparelhos. Não haviam. Falei com a pessoa da bilheteria que me deu o telefone da administração. Liguei. Fui atendida cordialmente. Expliquei o meu caso. De início ela me aconselhou a carregar um banquinho. Eu retruquei dizendo que o volume é grande e que às vezes a decisão de assistir a um filme é momentânea. Disse também que no Reserva Cultural tem o banquinho e me parece que lá não há filmes infantis na programação. Cheguei a falar que é uma questão de acessibilidade. Ela, gentil e atenciosa disse que levaria o meu caso para os administradores. Ainda não fui lá conferir nem liguei para o cine Belas Artes, mas vou ligar!

            Acredito que outras pessoas de baixa estatura devam passar pela mesma situação, porém, não reclamam. Aliás, foi assim que falou a moça da bilheteria. – Nunca ninguém falou nada.

            Como a altura da população vem aumentando, não acho incorreto que os assentos fiquem maiores. Porém pode-se ser feito o ajuste para as pessoas de menor estatura disponibilizando as banquetas em todos os cinemas.

            Acho que vou carregar esta bandeira...


domingo, 16 de outubro de 2016

AS MENTES CRIATIVAS DO ICAL - ALGUMAS DELAS



Dinah Choichit 



Rejane Martins




Dinah Choichit - Hirtis Lazarin

Maria do Carmo


Noemia Iasz - Ricardo Augusto - Rejane Martins e Maria do Carmo


Jorge da Paixão

Eliana Dau Pelloni


Ana Catarina SantAnna Maues

Hirtis Lazarin



Eliana - Ana Catarina - Dinah Amora

Dinah Amorim - Amora


Noemia Iasz

Ricardo Augusto

Criando histórias

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

AMIZADE VERDADEIRA. - Do Carmo


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AMIZADE VERDADEIRA.
Do Carmo


Conheço muito bem uma distinta senhora, que em determinadas ocasiões, perde toda a elegância e por vezes retruca com aspereza.

 Desde criança, diante de uma situação de descriminação ou preconceito, ela fica indignada e chega a ser rude em sua fala.

Por volta de mil novecentos e quarenta e seis, estava ela no terceiro ano do curso primário, hoje fundamental, quando uma das colegas de classe convidou-a para seu aniversário, entregando um envelope com o convite.

Como era de seu hábito, estava sempre com uma menina,muito estudiosa, que dizia ser sua melhor amiga da escola,  Para nossa protagonista, cor de pele, religião ou classe social, era indiferente, o que ela julgava importante era a índole  da pessoa.

Indignada, sem agradecer ao convite, tremula e com voz embargada, perguntou a dona da festa, por que só ela estava sendo convidada?

Com muita tranquilidade ela disse que na festa dela só entravam meninas brancas, negras eram diferentes.

Ah, com o coração a saltar pela boca, essa menina com raiva, quis saber se o amor que ela sentia pela mãe, era diferente do que uma menina negra, sentia pela mãe negra.

Sem saber o que responder, muito admirada, estendeu novamente o convite dizendo que era só para ela.

Mais controlada, agradeceu e com voz mais doce que encontrou, disse que não poderia aceitar um convite de quem tem preconceito de cor ou raça e que onde uma amiga é barrada, ela também sente-se barrada..

Essa menina cresceu, estudou, formou-se em pedagogia, casou-se, teve filhos e  continua se indignando com preconceitos estúpidos.


Hoje é comadre da melhor amiga da infância, pois amizade sincera, tem olhos para o coração e despreza a cor da pele. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

LEMBRANÇAS DA MINHA INFÂNCIA - Do Carmo


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LEMBRANÇAS DA MINHA INFÂNCIA
Do Carmo


Como é bom recordar um passado feliz!

Assisti a um filme infantil que me fez voltar ao longínquo passado de minha infância, que foi extremamente alegre, cercada de carinhos, portanto feliz.

Como nasci dezessete anos depois de minha única irmã, fui muito mimada por meus pais e minha irmã, que era verdadeira irmãe.

Tive todos os brinquedos que eram da época: jogo de cozinha com fogão e pia, mesinha com cadeiras e armário para guardar, conjunto de panela, de  café, de refresco, pratos e talheres e um dormitório de boneca, com roupinhas variadas e também jogos diversos para brincar com as amigas. Brincávamos todas as tardes, cada dia na casa de uma delas.

Ganhei de minha irmã, a primeira boneca de louça fabricada aqui na capital.

Um boneco bebê, com rosto, braços e pernas de louça e o corpinho recheado de palha coberto de tecido de algodão. Ele chorava ao virá-lo de bruços e mexia os olhos, abrindo e fechando.

 Aos seis anos ganhei uma bicicleta, coisa rara para meninas na época.

Meu paciente e amoroso pai, por vários dias, depois do trabalho, ensinava-me a andar “com duas rodas” como dizia referindo-se à bicicleta. Demorou mais tempo do que ele esperava, mas aprendi.

 Passeava na calçada com minha amiga Raquel, amiga até hoje, que ganhou sua bicicleta no mesmo Natal que eu.

Minha infância foi maravilhosa, cheia de atenções, carinho e exemplos de boa conduta, moral e religião. Tudo com muita suavidade, porém com respeito,  disciplina e limites. Aprendi a agradecer e pedir perdão.

Que família estupenda eu tive!


Como fui feliz!

A CURA! - Amora


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A CURA!
Amora

Antonio amava sua mulher, Anita, que sofria de histeria. Tentou vários tratamentos, sem solução.

Ela  ficava histérica, transtornada, quando ouvia a palavra “dinheiro” ou qualquer comentário a respeito.

Não sabia comprar, vender, verificar aumento dos preços em lojas, mercados, etc. Nem participava das crises atuais do país.

Conversas sobre contas a pagar, dívidas, faziam-na entrar em crise e, o marido, coitado, assumia todas as tarefas domésticas. Vivia cansado.

Televisão, só novelas. Nada de Jornal Nacional, corrupção de políticos, passeatas, pouca companhia fazia ao marido.

Um dia Antonio resolve entrar na loteria e comprar um bilhete. Torce para sair premiado. Não é que foi mesmo! Ganha, sozinho, um montão de dinheiro.

Quando chega em casa, diz à mulher:

_ Ganhei na loteria. Não vá desmaiar!

_ Quanto? Pergunta Anita, branca de susto, quase desfalecendo.

_ Dois milhões, responde ele, já pegando o remédio.

_ Maravilha, Antonio! Acabaram nossos problemas.

Antonio, surpreso, sorri satisfeito, pensando “acabou a histeria”.


UM EXEMPLO DE AMOR. - Do Carmo

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UM EXEMPLO DE AMOR.
Do Carmo



Há dias deparei-me com uma cena tocante. Emocionei-me às lagrimas.
Estava chegando ao restaurante habitual para meu almoço, quando vi, um menino de rua, saindo equilibrando nas mãos, uma embalagem de comida e dois copos.
Sujinho e descalço, com olhar de felicidade nostálgica, sentou-se na calçada, colocou as embalagens no chão e soltou um vibrante assobio.
 Para minha surpresa, apareceu um alegre saltitante cachorrinho, sujinho como seu dono, rabinho balançando, aninhou-se em seu colo, lambendo-lhe o rosto. Seu semblante iluminou-se e abraçando seu companheiro, disse-lhe com voz emocionada: teremos hoje um banquete como almoço.
Abriu as embalagens, colocou na tampa a metade da comida e sorrindo disse:  
 — Bom apetite, companheiro!

terça-feira, 12 de abril de 2016

A soma de todos os afetos - Içami Tiba


A soma de todos os afetos

"Se você abre uma porta, você pode ou não entrar em uma nova sala. Você pode não entrar e ficar observando a vida. Mas se você vence a dúvida, o temor, e entra, dá um grande passo: nesta sala vive-se!

Mas, também, tem um preço... São inúmeras outras portas que você descobre. Às vezes curtem-se mil e uma. O grande segredo é saber quando e qual porta deve ser aberta. A vida não é rigorosa, ela propicia erros e acertos. Os erros podem ser transformados em acertos quando com eles se aprende. Não existe a segurança do acerto eterno. A vida é generosa, a cada sala que se vive, descobrem-se tantas outras portas. E a vida enriquece quem se arrisca a abrir novas portas. Ela privilegia quem descobre seus segredos e generosamente oferece afortunadas portas. Mas a vida também pode ser dura e severa. Se você não ultrapassar a porta, terá sempre a mesma porta pela frente. É a repetição perante a criação, é a monotonia monocromática perante a multiplicidade das cores, é a estagnação da vida... Para a vida, as portas não são obstáculos, mas diferentes passagens!"
(Içami Tiba)

segunda-feira, 4 de abril de 2016

FOCO NARRATIVO - CAMPO VISUAL DO NARRADOR

Foco Narrativo


Foco Narrativo também conhecido como  Ponto de Vista do Narrador  é o ângulo visual do narrador. Ou a posição do narrador em relação ao fato narrado.

Sendo assim, a narrativa pode ser feita por alguém que participou do fato (e aí ela é narrada na 1ª pessoa), ou por alguém que apenas presenciou o fato (aí ela estaria na 3ª pessoa).

Os críticos norte-americanos, Cleanth Brooks e Robert Pen, estabeleceram um quadro sinótico formado por quatro focos narrativos:

1. A personagem principal conta sua história - foco narrativo na primeira pessoa ou interno.

2. Uma personagem secundária conta a história da personagem principal - foco narrativo na primeira pessoa ou interno.

3. O Narrador conta a história como observador - foco narrativo na terceira pessoa ou externo.

4. O escritor, analítico ou onisciente (sabedor de tudo), no papel de narrador, conta a história - foco narrativo na terceira pessoa.



O caminho para a escola - Ana Maria Maruggi



O caminho para a escola
Ana Maria Maruggi

Era quinta, ou quem sabe quarta-feira de um mês quente e desconfortável. O chão estava seco e poeirento. Lembro-me pouco do todo, mas o pouco que lembro tornou-se inesquecível.

A saia pregueada azul-marinho que chegava aos joelhos fazia conjunto com a blusa branca alvejada no anil, e nos pés as meias três-quartos protegidas pelo Conga branco. O cabelo longo estava preso no rabo de cavalo, alisado com a brilhantina do pai.

Na pequena maleta iam um caderno de caligrafia, a cartilha Caminho Suave, um lápis, apontador e borracha. Não usávamos caneta, às crianças restavam lápis coloridos além dos pretos. Todos bem apontados, sempre.

Cruzada ao peito ia a lancheira de plástico Trol com suco de limão e maçã. Era sempre o mesmo lanche.

Pelo caminho outras crianças seguiam para a única escola, e eram muitas. Todas vestiam o mesmo uniforme e as meninas, como se fosse modismo, quando o cabelo era comprido usavam rabo de cavalo ou maria-chiquinha e franja curta na testa. Não havia o hábito dos brincos e nem pulseiras. As unhas deviam estar limpas e mãos bem lavadas. As professoras examinavam nossos cabelos para combater a infestação de piolhos, examinavam também nossas orelhas, unhas e pescoço. Tudo tinha que estar bem limpo.

Eu caminhava devagar sem pressa, sabia que o tempo era largo. Pelo caminho apreciava as florezinhas que brotavam  a esmo pelos terrenos baldios que tinha que cruzar. Via os passarinhos bicando o chão em busca de comida e me detinha vendo-os alçar voo.  Mas, naquele dia o que me atraiu estava no córrego. Era um pequeno córrego, que ladeava os terrenos, com vasta vegetação nas beiradas, apesar de haver recomendação restrita de minha mãe para me manter longe dele eu ficava à examiná-lo. É interessante como me lembro do ruído da água correndo por entre as pedras. Era um discreto e contínuo chuá em sussurro, de modo que precisava atinar os ouvidos para entendê-lo. Parei para ouvir, e me deixei embalar pela imagem que o pequeno canal oferecia. De onde estava via os galhos se enroscando pelas bordas aqui e ali numa louca briga para continuarem  viagem.

Nesse dia permaneci parada por não sei quanto tempo. Interessou-me acompanhar a folha do abacateiro que se desprendeu do alto, plainou no ar balançando numa dança arisca,  até tocar a água. Ela parecia feliz por estar vivendo fora da árvore, era como se tivesse conseguido crescer e se tornado adulta podendo agora viver a própria vida. Assim como eu que já ia sozinha, sem a mão de minha mãe, para a escola. Testemunhei a dificuldade da folhinha em seguir adiante interceptada por uma pedra robusta e pontuda, e depois um galho seco que já havia bloqueado o caminho de muitas outras plantas. Devem ter combinado que a impediriam de seguir o destino que escolheu. Coitadinha! Mas, ela parecia tão valente e destemida! Acocorei-me. E lá estava ela. Rebolou, rebolou até se livrar. Já estava cansada quando se desenroscou. E quando conseguiu se desvencilhar dos obstáculos a ondulação da água a empurrou para a beirada e lá ficou lutando para se soltar. Estava exausta. Confesso que me passou pela cabeça ajudá-la, e para isso até já havia conseguido uma vara com a qual a empurraria. Mas lembrei do dedo em riste de minha mãe: “Não chegue nem perto do córrego!”. Torci imensamente para que ela conseguisse, pois seguiria junto com outras que passavam soltas, em velocidade, pelo meio do canal. Por que ela escolhera andar pelas beiradas? Eu mesmo iria pelo meio onde havia mais água que me levaria para mais longe. Pensei de novo em empurrá-la, mas logo a vi livrar-se e enveredar pelo meio do rio, como eu havia dito. Uma felicidade tomou conta de mim. Ela podia ir agora para onde quisesse. A água corria solta e a levava ligeiro. Corri para vê-la passar lá adiante numa clareira, e lá esperei. Esperei, e nada. Onde estaria a folhinha do abacateiro?

Nesse instante ouvi a voz de Elza me chamando:

Ana? Anaaa! O que você está olhando?

Era minha colega da escola, com quem sempre dividia a maçã.

Uma folha caiu do abacateiro – disse apontando a enorme árvore que subia além, muito além de nossas cabeças – E está com dificuldade de nadar. Vi quando ela se prendeu ali – apontei o lugar – e se soltou, mas agora perdi a folhinha de vista. Estou esperando ela passar aqui.

— Ah! E não passou ainda?

— Não. Será que está enroscada de novo?

— Ah, não, coitadinha! Ela é pequena? – resmungou chorosa minha colega.

— É ! – respondi tristemente.

—Ah, coitadinha! Precisamos ajudá-la! – disse eufórica.

Eu não saberia como ajudar. Mas, Elza sabia.

Ela parecia mesmo preocupada também com a pobre folhinha que ainda não sabia viver  longe da árvore. Elza largou a maleta e a lancheira aos meus pés, tirou o Conga e as meias, e de repente a vi afastando o mato para entrar no córrego.

— Não. Minha mãe disse que é perigoso, não entre aí! – gritei.

Mas ela não me ouvia e avançava escorregando pela beirada. Já tinha os pés no fio de água quando soltou a touceira de mato onde se segurava.

Olha, tô vendo ela. Ela está aqui na beirada. Tá presa no mato! – gritou de lá.

Senti alívio em saber disso.

E mais ainda em ver Elza derrapando para subir a borda lamacenta. Ofereci-lhe minha mão, que segurou com força, e ela deu um pulo para perto de mim. Trazia consigo a nossa folhinha. Ela estava salva.

Notei a saia suja de lama e ela olhou para a saia. De fato ela não se importou.

Digo pra professora que caí. – Disse e sorriu. Depois continuou num só fôlego - Vamos ajudá-la. Vamos colocar esta folhinha no córrego em frente da escola, lá não tem mato e ela não vai enroscar em nada.

Esperei minha amiga se recompor enquanto eu segurava a folha do abacateiro. Tinha finalmente oportunidade de examiná-la de perto, verdinha e firme. Estava limpa e parecia muito forte. Estava realmente salva. Meu coração parecia transbordar de alguma coisa quente. 


Seguimos felizes para a escola, nós três. 


segunda-feira, 7 de março de 2016

De médico e louco, todo mundo um tem um pouco - Rejane Martins


De médico e louco, todo mundo um tem um pouco
Rejane Martins

Alguns anos atrás, tive o prazer de conhecer um rapaz que acabara de ingressar no curso de medicina, em uma das mais conceituadas universidades brasileiras. Todos o consideravam a grande promessa.

Nascido numa família humilde sempre estudou em escolas públicas, mas isso nunca abalou a fé em sua vocação. Queria salvar vidas, atenuar dores, abastecer de esperança as pessoas que o procuraria.

Logo nos primeiros anos da faculdade, procurou meios para atuar como monitor nas mais diversas disciplinas, estágio em clínicas e laboratórios, conseguiu bolsa de incentivo à pesquisa, fazia de tudo para conhecer e se sentir cada vez mais preparado.
Destacou-se tanto  que na formatura foi homenageado como o aluno modelo da turma. Lembro-me de nesse dia, com a voz embasbacada só consegui balbuciar: “Esse garoto vai longe!”. 

Como prêmio pelo seu esforço, foi beneficiado com uma bolsa de trabalho por três anos no Boston Children’s Hospital, o mais conceituado hospital infantil na atualidade. Seguindo a mesma rotina, aplicada nos tempos de estudante universitário, o Dr. Humberto Silva também se destacou em terras estadunidenses. Publicou vários artigos com temas exclusivos e abriu portas para importantes pesquisas.

Palestras ao redor do mundo começaram a lotar sua agenda. Criou e deu seu nome a uma Fundação de ajuda e proteção a crianças africanas. Uma ONG que na luta contra a desnutrição, o abuso e negligência nos cuidados, atende crianças carentes.

Dia após dia Dr. Humberto aumentava a certeza de  que o lugar que ele queria estar era no seu país, realizando os sonhos da juventude. O distanciamento das metas estabelecidas no passado,  apressou a hora de voltar, e assim o fez.

Chegou no Brasil, dirigiu-se à Curitiba, e se ofereceu para trabalhar no Hospital Pediátrico Pequeno Príncipe. A elevada qualificação do médico terrificou a administração do hospital que presumiu um custo muito elevado ter esse profissional em seu quadro clínico, impossível de se arcar.

Requisitou uma reunião privada com o conselho do hospital, expôs suas razões em procurá-los e apresentou uma proposta irrecusável. Concordaria em receber uma remuneração ligeiramente superior a um profissional iniciante, mas gostaria de ser chefe de uma ala de pesquisas em doenças infantis raras, e uma equipe conceituada para auxiliá-lo. Solicitou também a implantação de um programa social que atendesse gratuitamente, em determinados dias estipulados pela administração, pacientes realmente carentes triados pelo hospital.

Após uma sucinta, porém minuciosa análise, a proposta foi recebida sem ressalvas pelo conselho, a rápida deliberação foi responsável pela mais rápida ainda assunção do Dr. Humberto e sua equipe.

Não demorou muito para Dr. Humberto sofrer o primeiro revés de seu novo emprego. Nos corredores do hospital reencontrou um fantasma do passado, possuidor de RG, CPF e nome, Dr. José Roberto Alcântara Gastão de Mello. Colegas de turma é só um modo de se referir, um era o oposto ao outro.

O último interesse do então estudante José Roberto era a medicina, estava sempre envolvido em falcatruas, em negócios escusos que abrangiam a conquista de notas não merecidas, corrupção no mais elevado grau, manipulando pessoas, recursos, cargos e influências.

Dr. José Roberto pertencia a alta cúpula administrativa que mantinha vínculos com o governo em diversas esferas. Estava  despendendo muito de sua energia para assumir todo complexo como único e absoluto gestor, além de cargo político ligado à saúde.

A ideia de trabalharem na mesma organização não agradava nenhum dos dois. Ambos se sentiam incomodados com a presença do outro. Mas tinham sorte pois rara eram as vezes que se cruzavam ou trocavam algumas palavras.

Durante um atendimento filantrópico a um garoto de 3 anos, aparentemente tratava-se de uma infecção do trato respiratório, o Dr. Humberto orientou que fosse ministrado amoxicilina no garoto. Logo que o remédio entrou no pequeno corpo, ocorreu uma reação anafilática levando-o a óbito.

Em investigação policial Dr. Humberto relatou todos os cuidados tomados nos procedimentos médicos. O padrasto, que era o acompanhante do menino, forneceu as informações solicitadas. Mas não mencionou a alergia. Talvez não tivesse conhecimento da deficiência do organismo dele. O médico não tinha porque suspeitar da fatalidade da droga.

Dr. José Roberto, representante oficial da instituição, também foi convocado a depor, sua declaração chocou todo o corpo policial. Revelou que garoto já era paciente do hospital há algum tempo, e que em seu histórico médico havia o registro do grave quadro que o acometeu há dois anos atrás quando ministraram a mesma droga. Se o Dr. Humberto tivesse puxado a ficha online do paciente que ele teria acesso a todas as informações.

O acusado não conseguiu provar que não havia arquivo para aquele garoto, que ele tentara visualizar os arquivos, mas o computador não carregou. O hospital e a polícia não conseguiram provar o dolo no erro médico. O processo continuaria em análise e qualquer fato novo e relevante os envolvidos seriam novamente convocados.
A ambição desenfreada do Dr. José Roberto, levou-o a solicitar a abertura de um processo ético junto ao Conselho Regional de Medicina. Já havia passado da hora para que aquele médico tão bonzinho, tivesse o que realmente merecesse.

Marcada a acareação, os dois profissionais apareceram no prédio do conselho para prestar declaração. O primeiro a chegar foi Dr. Humberto, sentado na sala de espera aguardava a vinda de seu delator.
Foi atingido por um soco no estômago, quando o as portas do elevador se abriram. Ao lado do Dr. José Roberto, elegantemente trajada estava Sylvia. Os cabelos apresentam outra tonalidade que combinava mais com o seu tom de pele, o corte clássico apresentava certa modernidade no penteado impecável. A roupa confeccionada exclusivamente para ela, valorizava as curvas do corpo esguio e alto. E ao fixar o olhar nos pés, se permitiu um instante de descontração: “Ah! Ela aprendeu a se equilibrar no salto alto”.

Sentiu-se abalado, como Sylvia tinha se aproximado do Recruta Zero Berto? Ela não suportava nem olhar para ele nos tempos da faculdade. O que aconteceu com eles? E o que aconteceu comigo? Como me afastei e anulei aquela imagem estonteante dentro de mim?

Perdido num turbilhão de pensamentos, não percebeu a aproximação do casal. Porém aquele aroma delicado e sutil do perfume o trouxe de volta à realidade. Mesmo visivelmente afetado pela situação, conseguiu proferir algumas palavras gentis e sinceras.

A audiência iniciou-se e o Dr. Humberto só tinha olhos e pensamentos para Sylvia. Seu advogado precisou lhe admoestar sob a gravidade da situação. O processo estava sendo movido por uma pessoa muito influente que estava acostumada a conseguir tudo que queria. Ele precisa se concentrar cento e dez por cento para conseguir provar sua inocência.

E assim o fez, mais uma vez blindou a imagem estonteante de Sylvia e a guardou bem no fundo de suas memórias. Não se permitia cruzar os olhares, nem procurar pelos sons emitidos por ela vez por outra deliberadamente.

Todo o processo caminhava para uma condenação magistral do Dr. Humberto. Tudo que ele tinha era, “eu entrei no sistema, mas a tela não carregou nenhuma ficha médica do paciente”, “o padrasto do garoto não relatou a alergia durante a consulta”.
No final da primeira sessão ninguém estava disposto a apostar na inocência do réu. Temia-se  pelo seu futuro, vislumbrava como negro e sombrio. Foi para casa, e não que fosse um hábito seu, mas naquele dia ele precisava, abriu uma garrafa de vinho esparramou-se no sofá, fechou os olhos e segurou para não chorar.

O som inconvenientemente alegre de seu celular o arrancou do transe, não acreditava na voz que ouvia de outro lado. Sylvia queria vê-lo, era urgente, seu marido participaria de um evento político, inauguração de alguma coisa que ela não registrou, e iria demorar. Eles teriam bastante tempo para conversar.

Ponderou se, a essa altura dos acontecimentos, seria uma boa ideia, mas Sylvia insistiu e aguçou a curiosidade, você gostará do encontro.

Marcaram em um bar afastado onde não fossem reconhecidos. Agora ela estava mais parecida com a Sylvia que ele se lembrava, cabelos presos, calça jeans, tênis, camisa casual sob um casaquinho meia estação, só para quebrar a atuação do sereno.  Por um instante almejou retornar a época onde aquela visão era todo o seu universo.
Humberto saiu renovado desse encontro, não conseguia dormir, contava os segundos para que o dia amanhecesse. Bem cedo efetuou a ligação mais importante e promissora da sua vida.

De volta ao conselho regional, em uma reunião solicitada pelo advogado do acusado, apresentou o relatório da rede de computador revelando o uso da senha pessoal do Dr. José Roberto, na omissão da ficha médica on line do garoto durante a consulta.
Apesar da veemente contestação do Dr. José Roberto, os membros do conselho de classe não consideraram a argumentação de um médico respeitável ser vítima de uma rede de intrigas.
O Ministério Público aceitou a denúncia do Conselho Federal de Medicina contra o médico da cidade. O processo na justiça correu de forma assustadoramente rápida culminando com a condenação máxima, todo o júri se surpreendeu com o grau de frieza apresentado pelo réu, até parecia que não tinha cometido crime algum.
O Dr. Humberto aliviado em provar sua inocência, se sentia impelido a agradecer a pessoa responsável por sua liberdade. Mais tarde, chegou ao lugar combinado  encontrou Sylvia usando um lingerie bem sensual, iluminada por velas e um espumante no gelo ao seu lado.

Recuperaram o tempo perdido, entregando-se as luxurias e aos prazeres a noite toda. Em meio à madrugada, Humberto indagou a Sylvia se ela acreditava que o marido tinha agido daquela maneira por desconfiar do caso existente entre eles.

Sylvia não encontrava respostas para essa parte de sua vida. Porque se uniu a um homem que tanto desprezara? Porque minimizou as ações ruins praticadas por ele? Ela preferia apagar o triste período que a consumia com remorso e culpa.

Todos se chocaram com a notícia da recente morte do Dr. José Roberto no presidio. Por mais que quisessem saber, a polícia não comentava a linha de investigação, ainda era um mistério foi suicídio, assassinato ou morte natural.

Em menos de uma semana Dr. Humberto foi acordado pela força policial à sua porta, recebendo voz de prisão pelo assassinato do Dr. José Roberto.

Na delegacia Dr. Humberto alegava inocência, mas não esclarecia seu paradeiro na hora presumível do crime. E a imagem captada pelas câmeras de vigilância, que apesar de não terem uma boa resolução, não geravam dúvidas sobre sua visita ao morto. E aquele documento falso, usado para no registro da visita e, achado escondido em seu apartamento.  

Usou seu direito a uma ligação, e rogou para que Sylvia comparecesse a delegacia urgente. Relatou o acontecido e pediu para que ela o liberasse do segredo e atestasse o álibi, posto que o ninho de amor deles situava-se em local ermo, não havia outra testemunha ocular que pudesse corroborar a presença dele lá.

Sylvia se levantou calmamente e iniciou seu discurso:

— Ora bebê, porque eu faria isso? Tive tanto trabalho para tirar você e Recruta Zero Berto do meu caminho, agora você me pede comiseração? Você acha que foi fácil acessar o programa do hospital com a senha dele e excluir momentaneamente a ficha médica do menino? E procurar um homem com suas características físicas que estivesse disposto a matar por dinheiro? Sabe como foi difícil me tornar invisível, e entrar no seu apartamento para esconder o documento falso?

Tudo foi muito oneroso, de tempo, dinheiro, paciência. Não sei se é uma boa ideia jogar tudo para o alto agora. Afinal acabei de ser nomeada gestora absoluta de todo o complexo hospitalar no lugar do meu finado marido, que Deus o tenha!!

— Mas Sylvia por quê? O que eu fiz a você? Você já tinha arquitetado essa vingança quando me procurou em Boston, e me convenceu a voltar para o Brasil?

— Esse plano, meu querido, se auto definiu no dia em que você foi viver a sua gloriosa vida e me abandonou. Você realmente é ingênuo em acreditar que reencontraria aquela garota apaixonada do passado, é bom você se conscientizar de que a sua soberba prejudicou muitas pessoas, mas não há interesse em reconhecer isso, não é mesmo!


O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...