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quarta-feira, 1 de junho de 2022

O Despertar - Adelaide Dittmers

 


O Despertar

Adelaide Dittmers

 

O rapazinho de treze anos apertou os olhos feridos pela claridade súbita.  Quando conseguiu abri-los maravilhou-se com o que viu.  Muitas descrições, tinha ouvido sobre o lado de fora, mas o que estava vendo a tudo superava.  Era como se acabasse de ter saído do útero materno.  Como se nascesse naquele momento.

Árvores floridas, um céu vestido de um azul intenso, onde nuvens brancas desenhavam diversas formas.  Abaixo, um rio esverdeado e vigoroso correndo pelo seu leito pedregoso.

O jovem sentiu-se aturdido e sentou-se para recuperar o fôlego e as forças.  Lágrimas cristalinas rolaram de seus olhos. Ele perdera tudo isso por tantos anos.  Vivera na obscuridade ouvindo as diversas histórias dos mais velhos.

Um homem estendeu-lhe uns óculos escuros.

— Coloque isso! Você precisa se acostumar com a claridade!

O menino o pegou e o colocou, mas o retirou.

Queria sorver toda aquela luz, queria sentir aquele mundo, que estava experimentando pela primeira vez.

O vento que lhe desmanchava o cabelo era uma dádiva inesperada e balançava a cabeça para senti-lo como se fosse uma carícia.

Saíra de uma caverna para outra realidade. E uma pergunta imperiosa surgiu em sua mente.  O que lhe reservaria esse novo mundo... Imenso demais. Misterioso demais. Inesperado demais.

Levantou-se e com passos incertos começou a descer a encosta da montanha.  O rio o atraía como um imã.  Abaixava de quando em vez para pegar uma flor e a cheirava como um animalzinho fareja algo delicioso.

Os outros, que com ele haviam saído do frio e triste bunker, pararam e o deixaram seguir.

A água fria do rio molhou os pés descalços e encharcou-lhe a roupa. Um arrepio de prazer percorreu-lhe o corpo.  O menino pisava com cuidado no solo de pedras lisas, apreciando cada contato com aquela natureza, que desconhecera até agora.

Uma voz feminina ecoou à distância:

— Venha, filho.  Temos que ir.

Ele voltou-se vagarosamente.

— Posso ficar mais um pouco?

— Seu avô está sendo esperado.  Precisamos partir já.

O jovem saiu devagar da água e dirigiu-se para o grupo de pessoas, que o esperavam mais acima.

Na sua cabecinha fervilhavam lembranças desencontradas.  Os dias em que homens traziam suprimentos para o bunker e reuniam-se com o avô sob as lâmpadas, que espalhavam uma luz tênue no ambiente. Momentos únicos, em que traziam notícias do mundo exterior.

A guerra, na qual o país mergulhara na tentativa de conter a invasão por outro povo.  A fuga desesperada do avô, que governava a nação, juntamente com a família e componentes do governo.  O esconderijo naquele lugar escuro.  A resistência daqueles, que queriam libertar a terra nativa dos opressores e a fidelidade ao avô, escondida no coração de cada combatente. Histórias que ouvira e tivera dificuldade de entender.

Mergulhado nesses pensamentos, chegou perto do grupo.  Olhos emocionados pousaram sobre ele.  Um senhor de cabelos prateados aproximou-se e acarinhou-lhe a cabeça.

— Pedro, você tem muito a descobrir.  Vamos até a estrada.  Carros nos esperam.

Umas trinta pessoas começaram a caminhar até a estrada.  Já tinham lhe contado que os rebeldes conseguiram expulsar os invasores após tantos anos de lutas e armadilhas ao inimigo e que o país fora libertado.  O que aconteceria, agora?

Ao alcançarem a estrada, vários carros os esperavam. Os olhos de Pedro arregalaram-se.  Pela primeira vez, via um carro.  Um ähhh¨ de surpresa escapou-lhe da boca e deu uma volta pelos veículos, admirando cada detalhe.  O menino estava admirado diante daquela realidade, que conhecera apenas pelas descrições e fotografias.  Tudo era muito maior, mais impactante.    As longas conversas com os adultos, as perguntas constantes, que fizera resultaram em uma pálida idéia do mundo exterior.

Sorrisos estamparam-se nos rostos das pessoas.  O jovem tinha sido o filho de todos durante os longos e tenebrosos anos, que viveram naquele lugar inóspito.  Ele fora a única alegria e um dos fortes motivos de manterem a esperança de lá sair.

De repente parou.  A alegria e o espanto diante das descobertas chocavam-se dentro dele.  Correu para  perto dos pais e abraçou-os como um bebê que pede colo para se sentir protegido.

O avô derramou um olhar carinhoso sobre o neto, compreendendo os sentimentos contraditórios que o deviam estar sacudindo.

— Vamos, Pedro! Entre no carro.  Precisamos ir para a cidade.  Estão nos esperando.

Todos tomaram seus lugares e seguiram pela estrada estreita de terra.

O menino tinha os olhos pregados na janela, observando a paisagem que desfilava rapidamente.  O sacolejar do veículo, as curvas do caminho o nausearam e a comitiva  parou para ele pôr para fora todo o espanto e emoção, que aquele mundo novo estava lhe causando.

Algumas horas passaram e pequenas habitações surgiram.

— Casas! Estamos chegando?

— Ainda não!  Veja, vamos pegar aquela estrada!

Uma estrada asfaltada estendia-se a perder de vista.  Os carros a acessaram, aumentando a velocidade.  O mau estado da pista fazia com que desviassem dos inúmeros buracos, mas mesmo assim tudo parecia voar ao lado de Pedro.  Ao longe, plantações de diversas cores passavam por eles simetricamente alinhadas.  Aqui ou ali, viam-se construções em ruínas.

Muitos quilômetros depois, surgiu mais abaixo de uma colina, uma grande cidade.

— Agora estamos chegando, não é?

— Sim, Pedro.  É a nossa cidade.  A capital do país. Respondeu o avô, com os olhos marejados de lágrimas.

 Nesse momento, seus pensamentos voaram para a companheira de muitos anos, que não resistiu ao longo tempo de confinamento e que não compartilharia com ele a emoção de retornar ao que tinham deixado.

A cidade os recebeu engalanada.  Bandeirinhas agitavam-se nas mãos do povo para receber o chefe da nação, que a maioria julgara que estava morto.

Espantado, o menino encolheu-se no banco do carro.  As surpresas estavam sendo demasiadas para um único dia de sua curta vida.  A angústia dele foi percebida pela mãe, que o enlaçou com um dos braços e acalmou-o com palavras ternas.

Edifícios destruídos eram avistados ao longo trajeto.  Eram os vestígios da guerra e essa triste realidade abalou o jovem mais uma vez

Mais adiante, chegaram a uma grande praça, onde uma bela construção se erguia.  O cortejo parou.  Uma multidão lotava o lugar e o nome do avô era ouvido em altos brados.  Saíram dos carros.  O avô subiu as escadas lentamente.  Soldados enfileirados prestavam-lhe continência.  Ao chegar a um patamar, no topo das escadas, um microfone o esperava.  Virou-se devagar para o povo e acenou.  Alto, rosto traçado por vincos profundos e olhar intenso.  Transpirava carisma e integridade por todos os poros.  A voz firme, mas emocionada soou pelo lugar e um grande silêncio apagou o burburinho que reinava.

Em um discurso breve, ele agradeceu a todos a luta pela liberdade e lealdade ao país e a seus princípios mais profundos.  Ao terminar, uma ovação explodiu.  Ele curvou a cabeça em sinal de agradecimento e respeito à coragem daquele povo sofrido. Acenou mais uma vez e virou-se, entrando no palácio. Os companheiros de exílio e aqueles que o ajudaram a reconquistar o país o seguiram.

Na grande sala, abraçaram-se emocionados.  Uma mesa posta, com várias iguarias os esperava.  O avô, porém, recusou a refeição. 

— Estou exausto.  Preciso descansar.  Vejo vocês amanhã para traçarmos os próximos passos para reerguer o país.  Há muito trabalho a fazer.

E levantando uma das mãos, cumprimentou a todos com um sorriso e saiu da sala.  Os presentes o acompanharam com olhares de respeito.  Admiravam a bravura daquele homem, que mantivera a nação unida, oculto e preso em um bunker no âmago de uma distante montanha, orientando seus homens a resistir e lutar pela expulsão dos invasores.

Quando toda a população soube que o seu líder estava vivo e mesmo escondido ajudou a alcançar a vitória, o orgulho despedaçado pelos anos de submissão acendeu-se em cada homem, em cada mulher, em cada velho, em cada criança.

A refeição transcorreu em um clima festivo, que disfarçava uma certa tensão em cada participante, afinal o desafio de ora em diante seria enorme e já pesava nos ombros dos que ajudariam a levantar o país.

Pedro não escondia a agitação que lhe sacudia o íntimo.  Para os seus verdes anos, tudo era muito desafiador. Olhava de um lado para o outro, sentindo a emoção contraditória de cada um, ao mesmo tempo que se surpreendia com o brilho dos talheres de prata, com a louça de filetes dourados e com a alvura da toalha.

Quando o jantar terminou, já os últimos raios de sol incendiavam a sala de tons avermelhados.  O jovem correu para a janela.

— O que está acontecendo no céu?

Os pais aproximaram-se:

— É o pôr-do-sol! Não é maravilhoso? Perguntou o pai e completou: Está anunciando o cair da noite. 

Pedro estremeceu;

— Não quero ver a noite! É muito escura!

Na sua memória, surgiu a imagem negra de uma tempestade que atingiu a montanha e do vendaval que abriu e quase derrubou a porta oculta do bunker.  Pessoas correndo para fechá-la.  O susto e o medo que se apoderou de todos. A confusão que lhe permitiu ir até a entrada e presenciar a escuridão, o forte aguaceiro e os raios que riscavam o céu. O pânico que o paralisou e o contato com uma mão que o levou para dentro, onde a avó o acolheu em seus braços.

O pai tirou-o dos seus pensamentos.

— Sei do que você está recordando.  Aquela escuridão foi consequência do temporal.  Hoje o dia foi claro e ensolarado. Você vai ficar surpreso ao apreciar a noite.

 — Vamos subir, exclamou a mãe. Você precisa tomar um banho e descansar. Foram muitas as emoções. Mas antes de ir para a cama, vamos admirar a noite do terraço para afastar a má impressão, que ficou daquela tempestade.

E pegando o filho pela mão, subiram a escada. Mas, Pedro virou-se:

— Pai, você sobe depois para vermos a noite juntos.

O medo ainda pairava sobre ele.

As luzes piscantes das estrelas e uma enorme e alaranjada lua cheia enfeitavam o céu quando saíram para o terraço.

— Meu Deus! Quantas estrelas!  A lua é linda!  Estou vendo o universo, não é?

— Sim, uma pequena parte dele.  Respondeu o pai.

Um profundo suspiro exalou das mais profundas entranhas do menino.  Um torvelinho de pensamentos tentava processar tudo o que estava vivendo e descobrindo em um único dia.  Sacudiu a cabeça, tentando ordenar o que lhe passava pela mente.

— Estou cansado!

— Vamos entrar! Você precisa de um bom sono!

Já deitado, recebeu os beijos dos pais.  A cama macia o abraçou e o aconchegou.

— Deixem a porta do terraço aberta!

O luar prateado, salpicado de estrelas iluminou e embalou os sonhos de Pedro.

O fantástico resgate do amor de uma mãe - Alberto Landi

 



O fantástico resgate do amor de uma mãe

Alberto Landi

 

Charlotte, nascida em 1920 em Castle Combe, interior da Inglaterra, pertencia a uma família de protestantes.

Ela tinha sonhos frequentes que a deixavam triste, deprimida, sonhava com seu próprio falecimento.

Estava desesperada, pois com quatro filhos não tinha o suporte e orientação necessária do marido, ex-combatente da primeira Guerra mundial, que após retornar da guerra se entregou à bebida, um pai infeliz e marido ausente.

O sonho, ao lado de certas lembranças que surgiam no estado de vigília, fazia parte de seu cotidiano, influenciando desta maneira o seu desenvolvimento psicológico, emocional e social.

Aconteceu que, prematuramente, o sonho tornou-se realidade, deixando os filhos pequenos.

 

Muitos anos se passaram...

 

Marta, americana natural e moradora de San Diego, tem dois filhos.

Sua profissão é de jornalista, fotógrafa e escritora.

Num determinado dia, viu um anúncio no jornal local: Vende-se casa no interior da Inglaterra, por um euro, no pequeno vilarejo de Castle Combe.

Como requisito seria necessária uma pequena reforma e fixar residência pelo menos por seis anos.

Como ela sempre quis conhecer esse país, entusiasmou-se pela publicação e começou a pesquisar.

Por ser uma escritora, achou que seria o local adequado para exercer a profissão.

Nesse lugar havia um pequeno castelo, que os moradores diziam ser rico em histórias e lendas imaginárias.

Castle Combe se assemelhava a um cenário visto em filme de suspense, Psicose, ficava no alto de uma colina, com características bem sinistras. Um vilarejo que nasceu com os celtas e que até hoje nenhuma construção foi alterada e ou complementada.

Aproveitou o programa de incentivo do governo e adquiriu a casa.

Ela, desde criança, tinha visões com Charlotte e vivia dividida entre uma vida atual e passada. Era como um quebra-cabeça com certas peças apagadas, outras fora de lugar e outras nítidas, mas fáceis de se encaixarem.

Geralmente, nas pessoas as lembranças de infância assomam de forma desordenada sem nenhuma cronologia.

Dentre suas lembranças, destacava-se um chalé onde morava com filhos e marido.

Lembrava com muita clareza o lugar em que vivia bem como suas ocupações diárias.

Esses sonhos passaram a dominar sua vida, pois eram imagens claras de uma família, num pequeno lugar da Inglaterra.

Ela procurou um terapeuta. O analista, após submetê-la à sessões de regressão, concluiu:

— Não são sonhos, são lembranças de vidas passadas!

Com o apoio da família, Marta viaja para averiguar a casa, em busca de pistas sobre seu passado.

Ela pressentia que os filhos de Charlotte que apareciam nos sonhos poderiam estar vivos e ela teria um papel relevante junto àquelas crianças de ontem. O sonho mostrava o local, justamente o mesmo do anúncio do jornal. 

O objeto central de suas preocupações eram os filhos deixados. Ela tinha lembranças de pessoas, lugares...

A dor da separação dos filhos devia ter sido tão intensa, aflitiva por deixá-los no mundo tão grande, o sentimento de culpa por não conseguir superar a morte e deixá-los desprotegidos.

Penso que o passado espiritual interfere diretamente sobre nossa existência atual.

Ela se recordava de que Charlotte gostava de ler e escrever pequenos contos infantis.

A jovem escritora, por sua vez sem muita aprendizagem, escrevia desde pequena e demonstrava com livros, habilidade que constituía herança da existência anterior.

Tinha necessidade de encontrar sua família da vida passada.

Aquelas crianças tinham sido privadas ainda na infância daquilo que seus filhos atuais estavam desfrutando agora, por isso, sentia que tinha que fazer algo a respeito.

A intensificação das lembranças ocorreu na mesma faixa etária, 32 anos quando Charlotte faleceu.

Com o material recolhido das regressões e das lembranças espontâneas, deu início a uma grande busca, os filhos de sua vida anterior.

O quebra-cabeça começava a mostrar contornos mais nítidos.

Escreveu várias cartas para os moradores locais, indagando sobre uma mulher chamada Charlotte, que teria vivido num chalé na década de 30, num determinado lugar do vilarejo.

Com o passar do tempo, apenas uma carta foi respondida e decisiva.

A mulher foi identificada como Charlotte e os filhos tinham sido enviados para orfanatos diferentes.

A sua busca mostrava algum resultado.

Conseguiu o nome e data de nascimento dos quatro filhos: George, Oliver, Elizabeth e Bridget.

Certo dia recebeu um telefonema inesperado, de um de seus filhos da sua existência anterior, George.

O encontro com ele foi de muita emoção. Ela com apenas 32 anos seria uma revelação um tanto quanto alucinatória para qualquer pessoa.

Apesar de certa confusão no início, este forneceu o endereço e número do fone de Oliver, mas o paradeiro das meninas naquela ocasião era desconhecido, pois foram para outro orfanato diferente dos irmãos.

George então com 71 anos, demonstrou grande reserva e ceticismo diante desses fatos.

Ela revelou coisas que somente ele, seus irmãos e a mãe sabiam, como que levava as crianças para passear num pequeno lago, contava histórias infantis, e que George, uma ocasião trouxera para casa uma pequena cabra, e ainda que uma das meninas havia se ferido na perna subindo a colina.

Ele ficou atônito com tudo que ela contava em detalhes. Não teve dúvidas.  "É minha mãe que voltou!"

As irmãs foram localizadas e já com idade acima de 60 anos.

O contato presencial com George foi na pequena igreja local. As pessoas mais chegadas e até o pároco, ficaram conhecendo a história e compareceram a esse encontro. Num longo abraço caíram num choro emocionado. Após algumas horas chegaram Oliver e as irmãs, e as emoções continuaram.

Conseguiu reunir em torno de si, os filhos de outra vida, reatando laços que nem o tempo nem a morte, foram capazes de extinguir.

É uma história de busca e amor de uma mãe pelos seus filhos!

ELA FAZ PARTE DE UMA SOCIEDADE SECRETA - Henrique Schnaider

 


ELA FAZ PARTE DE UMA SOCIEDADE SECRETA

Henrique Schnaider

 

Melissa faz parte de uma sociedade secreta, mas simplesmente ninguém sabe nada a respeito. Ela leva uma vida aparentemente normal. Trabalha como Gerente Administrativa numa Empresa de Importação e Exportação.

Ela é casada com Gilberto e tem três filhos. Eles formam uma família feliz. O marido trabalha como Gerente de um grande Banco na Central Administrativa de toda esta rede bancária internacional.

Os três filhos todos em idade escolar Luiz com sete anos, Roberto com 10 anos e Pedro com 14 anos. Melissa e Gilberto são pais excelentes. São católicos praticantes. Vão todos os domingos à missa e procuram praticar o bem de acordo com os mandamentos da sua fé.

Todo dia cinco de cada mês, Melissa chega do trabalho e depois de jantar com o marido e os filhos, vai ao seu quarto e veste com uma roupa muito fina, se pinta e chega a surpreender o marido com aparência bonita que fica. Ela alega que todo este dia do mês tem um encontro com as ex-colegas de Ginásio. Gilberto nunca perguntou detalhes destes encontros.

Melissa sai sempre as nove horas da noite com seu carro e se dirige para um local desconhecido. Retornando sempre as onze e meia para casa ainda encontrando Gilberto acordado assistindo futebol. Melissa sobe para o luxuoso quarto do casal. Em seguida o marido sobe também e o casal fica por um bom tempo conversando. Parece ser uma conversa que diz respeito apenas a vida familiar do casal.

O tempo foi passando e alguns anos depois, Gilberto muda de atitude e começa a ficar cismado com as saídas da esposa todo dia cinco. Começa a ficar incomodado com tanto segredo. Ele nunca perguntou nada a ela sobre estas saídas, mas esperava que Melissa com o passar do tempo comentasse mais a respeito dos encontros com as ex-colegas de Ginásio.

As desconfianças de Gilberto começam a prejudicar a vida do casal já que ela não comentava nada a respeito. Ele começou a questioná-la a respeito e queria maiores explicações a respeito. Onde era o local do encontro e quem eram as colegas que estavam presentes aos tais encontros. A situação foi se tornando num clima pesado e Melissa estava firme no silêncio sobre os encontros, deixando Gilberto cada vez mais irado e desconfiado.

Melissa resistia bravamente às pressões do marido, afinal era por uma boa causa. Gilberto acreditava que estava sendo traído há muitos anos, e não se conformava, afinal sempre foi um bom marido, fiel, amoroso, uma pessoa que gostava da vida familiar vivendo para a mulher e os filhos.

Um dia cinco de um determinado mês, o marido não aguentou mais aquela situação e assim que Melissa saiu com o carro, Gilberto pegou a Mercedes e passou a seguir Melissa que dirigiu o carro para um bairro distante e o marido seguindo atrás sem deixar que ela percebesse que estava sendo seguida.

Ela para numa casa enorme toda iluminada onde havia várias pessoas. Gilberto parou o carro a uma certa distância e caminhou, chegando próximo da casa sem deixar que percebessem sua presença.

Estava acontecendo uma espécie de ritual do qual Melissa passou a fazer parte também. Passava a sensação de que as pessoas entravam numa espécie de transe e aparentemente estavam comunicando-se com espíritos ou seres que não eram deste planeta.

Gilberto voltou para casa sem deixar que Melissa soubesse que ele presenciou tudo o que aconteceu. A esposa chegou e em seguida e antes que ela subisse para o quarto, Gilberto a chamou e confessou que a seguiu e testemunhou todo aquele ritual que ela participou.

Melissa constrangida acabou por contar todo aquele segredo guardado de tantos anos. Este ritual já vinha desde a época do seu falecido pai. Gilberto pensou:

 “Ela faz parte de uma sociedade secreta...”. Melissa explicou que eles se comunicavam com seres de outros planetas que aqui vinham e se comunicavam com os membros da Sociedade Secreta com o intuito de tentar ajudar resolver os graves problemas que seres humanos enfrentavam aqui na terra.

Melissa explicou que ela tinha que manter segredo, pois só participavam desta sociedade, pessoas escolhidas e ela não podia revelar o segredo para ninguém.

Gilberto deu um longo suspiro de alívio. Os dois trocaram um longo olhar amoroso e finalmente se beijaram apaixonadamente, encerrando todo aquele clima ruim que existia entre os dois.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quarta-feira, 25 de maio de 2022

A HISTÓRIA DA ESCRITORA SANDRA LEE - Henrique Schnaider

 



A HISTÓRIA DA ESCRITORA SANDRA LEE

Henrique Schnaider

 

Sandra Lee era uma garota típica inglesa. Nasceu numa família de classe média alta e teve uma infância bem assistida pelos pais, que a enchiam de mimos e carinhos. Desde pequena demonstrou interesse pelas histórias que abordavam casos e costumes fantasmagóricos próprios dos ingleses.

Já na adolescência devorava livros sobre castelos e suas histórias recheadas de crimes e suspense, e outros fatos que aconteciam dentro dos enormes aposentos e de seus misteriosos moradores. Sandra começou a ensaiar na carreira de escritora abordando mistérios envolvendo os moradores destes castelos.

Não satisfeita como escritora, desenvolveu-se também como fotógrafa profissionalmente, onde acabou por receber vários prêmios e se tornou, ainda jovem, renomada escritora e fotógrafa unindo de forma genial as duas coisas numa só, já que seus livros eram emoldurados pelas fotos que ela tirava.

Sandra Lee viajava muito dentro do seu País a procura de material para fotos dos castelos e procurando inspiração para escrever novas histórias. Já aos trinta anos era muito admirada e respeitada pelos seus leitores e admiradores dos seus álbuns fotográficos emoldurando seus livros.

Nesta altura da vida já consagrada, surgiu uma oportunidade que seria o sonho da vida da escritora. Uma Empresa fez uma oferta irrecusável para Sandra. Seria a compra do Castelo de Castle Combe localizado a 12 milhas da cidade de Bath, que levava a fama da Vila mais bonita da Inglaterra. É um dos destinos mais bizarros e incomuns do País. Tudo isso por apenas 1 euro.

Porém havia algumas exigências para tomar posse do Castelo, mas que para Sandra seriam fáceis de cumprir todas elas. Teria que morar no Castelo e cuidar da conservação do mesmo, e escrever sua próxima história baseada em Castle Combe e seus antigos personagens.

Realizados todos os trâmites legais, assinados os papéis a escritora que estava passando uma temporada nos EUA, chega ao Aeroporto de Heathrow em Londres. Sandra aluga um carro e se dirige ao Castle Combe.

Guiou o seu Rolls Royce vagarosamente pelas estradas inglesas em um dia ensolarado, tudo num verde luxúria como só os ingleses possuem.

Sandra estava excitadíssima com a nova vida que passaria a levar, vivendo no Castelo, como se estivesse dentro e ao vivo das próprias histórias que escrevia. Já se imaginava convivendo com os fantasmas moradores daquela enorme moradia.

Quando foi chegando já bem próxima do local, pensando no fundador de Castle Comb, Norman Bates, ela sentiu um frio que percorreu toda sua espinha. Recebendo toda a energia do local por todo seu corpo.

Parou em frente ao Castelo, desceu do veículo e ficou por um bom tempo apreciando a beleza do local, e a entrada daquela enorme moradia, que agora lhe pertencia. Teria que cuidar dela, como se cuida de um filho e imaginando quanta inspiração teria para escrever novas histórias.

Ela não podia acreditar que por apenas um euro, adquiriu aquela Edificação!

Abriu os enormes portões com uma chave adequada para o tamanho deles. Assim que teve as portas abertas sentiu algo diferente e o mistério que predominava no interior da casa.

Adentrou ao enorme salão principal, bem conservado e de uma sobriedade digna e cheia de beleza que só os Castelos ingleses possuem. Sandra Lee não conseguia controlar as ideias que pululavam em sua mente efervescente. Pronta para criação de histórias fantásticas, pois estava ali para conviver com os seres que já não eram deste mundo e que habitavam aquele lugar.

Seu novo livro já estava em elaboração mental. Ela sentiu-se emocionada e com lágrimas doces de alegria. A sua próxima história teria tudo a ver com Castle Comb e ela como personagem e protagonista, acompanhada logicamente dos moradores do mundo espiritual que habitavam aquela magnífica Edificação.

 

terça-feira, 17 de maio de 2022

INTERPRETAÇÕES - Helio Fernando Salema

 


INTERPRETAÇÕES 

Helio Fernando Salema

 

“NÃO HÁ FATOS, APENAS INTERPRETAÇÕES”

Nietzsche (1844-1900)

“A própria frase gera diferentes interpretações e posicionamentos”

 

Meu time precisava vencer para não ser rebaixado. Num lance duvidoso o juiz optou, com a ajuda do auxiliar, por uma decisão que prejudicaria o meu time.

Uma confusão logo se formou, envolvendo jogadores de ambas as equipes e pessoas próximas ao campo.

Os comentaristas se dividiram. Alguns afirmavam que valia a interpretação do árbitro. Outros alegavam que o mesmo estava equivocado. E também aqueles que justificavam, dizendo que a posição em que ele se encontrava, no momento em que ocorreu o episódio, não lhe era favorável.

Mas como árbitro não lhe cabia outra alternativa, tomou a decisão.

Em casa, enquanto aguardávamos com expectativa a informação do VAR, também houve divergências. Revendo o lance inúmeras vezes, também não foi possível afirmar com precisão o que aconteceu. Cada ângulo mostrado, nos dava uma visão ou interpretação diferente, e assim a dúvida persistiu.

Muito tempo depois o VAR alegou que por falta de iluminação adequada não foi possível definir com precisão o fato ocorrido.

No dia seguinte o assunto era bastante comentado, principalmente com a participação de pessoas que estiveram no estádio, aumentando ainda mais a polêmica.

Podemos concluir que divergem profundamente as conclusões sobre o fato…apesar de todos os recursos tecnológicos, das interpretações de quem esteve presente, acrescida dos que assistiram pela televisão.

Restando-nos a incerteza diante de tantas “certezas”.



quarta-feira, 11 de maio de 2022

Ilusão de óptica que mudou minha vida - Alberto Landi


Ilusão de óptica que mudou minha vida

Alberto Landi

 

Era um final de tarde, ainda havia um resto do pôr-do-sol.

Estava no terraço de meu apartamento olhando para uma janela um pouco distante da minha, e havia uma mulher que parecia estar dividida ao meio por uma vidraça.

Meus olhos não se enganam, não é ilusão de ótica ou vidro defeituoso.

Na primeira metade superior é uma mulher de cabelos super curtos, pretos, nariz afilado, olhos claros, pequenos e redondos e todo o seu rosto se afinava em direção à ponta do queixo. O seu olha, daqueles que parecem observar de tudo.

Na minha visão, a janela é relevante nesta história!

Ela é esverdeada escura, multicolorida, sabe, aquelas em que as mãos e o pano de uma faxineira deixam marcas, desenhos e contornos, faz até um arco-íris no vidro?

Não tem divisão, é uma peça única.

Ela está lá, em pé, me olhando. Difícil imaginar que há uma pessoa dividida ao meio pelo vidro.

Sua segunda metade se mostra forte, vigorosa e ardente.

A dupla metade que faz um inteiro.

Continua me fitando, seu olhar penetrante vem em minha direção através do vidro que recebe os últimos raios solares, fazendo um bom reflexo. Nossos olhares se encontram como se fosse uma representação estática de uma película de cinema.

Cortada ao meio continua naquele lugar. Nem quebrando o vidro, ou estilhaçando não vai deixar de estar lá, estará ainda, nos mil pedaços, todos divididos ao meio pela vidraça.

É impressionante a interpretação do que vemos no mundo exterior.

Já se descobriram mais de 30 áreas diferentes no cérebro usadas para o processamento da visão.

Umas parecem corresponder ao movimento, outras a cor, outras a profundidade.

E o nosso sistema visual e o nosso cérebro tornam as coisas mais simples do que aquilo que elas são na realidade.

E é essa simplificação, que nos permite uma apreensão mais rápida da realidade exterior, que dá origem às ilusões de óptica.

Enfim, essa ilusão me aproximou da mulher que hoje é minha esposa, minha vida, mãe dos meus filhos, meu amor eterno porque nos encontramos no café da esquina e imediatamente nos reconhecemos e daí nunca mais nos sentimos separados por uma janela porque estamos juntos na riqueza e na pobreza...

A dupla metade que faz um inteiro.



 Dica:




VERDADE OU DELÍRIO? - Cida Micossi

 


VERDADE OU DELÍRIO?

Cida Micossi


Lá no alto da serra, onde o ar é fresco e a terra foi fértil, ali, tudo se plantava e tudo se colhia. Eram tempos de crescimento do país, tempos do ouro verde. Hoje, infelizmente, a cana de açúcar tomou conta. O solo, explorado ao extremo, quase nada produz. Resultado do progresso, que utiliza o combustível tão caro nos dias de hoje e que proporciona lucros exorbitantes aos investidores.

A cada vez que visito aquela cidade, sou impelida a ir até a estrada de terra, a estrada velha, como dizem. Circundadas por essa estrada de chão batido, rochas enormes: o extremo da Serra de Borborema. No alto, uma fazenda em pleno progresso, à época. Abaixo, a mata virgem abraça ainda hoje o sopé da serra.

Ali viveram os escravos, tão sofridos, tão injustiçados. Explorados ao extremo, apenas com direito a alimentação e moradia rústica. Quantos acontecimentos esta terra presenciou: com os olhos, com os ouvidos ou com o coração, este o que mais sofria. Escravos eram castigados, torturados e seus gritos ecoavam na imensidão...

Abolida a escravidão, vieram os imigrantes, seus descendentes e outras gerações. Ali viveram experiências diversas, algumas reais, outras talvez imaginadas. Em noites de lua cheia, quando o luar clareava a mata toda, uma dessas imigrantes, mocinha toda cheia de bondade e amor, ouvia gemidos, gritos de horror, o estalar do chicote e o barulho das correntes. Quanta judiação! Quanto sofrimento!

Hoje, quem passa ao redor da montanha, alçando o olhar bem acurado, consegue identificar, entre as ranhuras das rochas, os rostos tatuados pelos gritos de alguns desses seres escravizados, mostrando que o tempo pode passar, mas as marcas ali ficarão para sempre, testemunhas dos horrores a que foram submetidos.

A mocinha de outrora ouvia, e a sonhadora de hoje vê entre as pedras. Será verdade? Será ilusão?

SONHO OU REALIDADE - Henrique Schnaider

 


SONHO OU REALIDADE

Henrique Schnaider

 

Quando eu tinha por volta de 7 ou 8 anos, à noite eu dava muito trabalho aos meus pais. Era medroso ao extremo, chorava muito, tinha pesadelos, tinha que dormir com as empregadas. Na verdade, eu tinha horror quando chegava a hora de dormir.

De dia, aí eu era uma figura oposta. Estava sempre na rua na molecagem, jogo de bola, bolinha de gude jogo de taco com bola ou com graveto. Saiamos dando volta no quarteirão, apertando campainhas e pernas para que te quero.

Dávamos muito trabalho para nossas mães. Para parar de brincar e ir almoçar, mas logo em seguida lá estávamos de novo brincando e aprontando. No jantar outra briga com as mães, mas logo em seguida lá estávamos de novo nas brincadeiras.

Depois de tanta estrepolia eu e meu amigo Carlos Azolini, entrávamos na minha casa e íamos para perto da empregada de minha mãe, a Maria, faladeira que ela só. Ela não perdia tempo e já começava a contar histórias, as mais loucas ou assombrosas, de arrepiar os cabelos.

Certa vez disse que estava no quarto acordada, quando viu uma sombra na parede que tinha a figura de um homem. Morrendo de medo levantou-se vagarosamente tremendo de medo e foi mais perto da parede e aí não viu nada e acabou ficando na dúvida se tinha ou não visto aquela sombra, mas por via das dúvidas deitou-se e cobriu a cabeça para dormir.

Eu e meu amigo ficávamos com os olhos arregalados, tremendo de medo, mas a curiosidade era mais forte doque o medo e queríamos continuar ouvindo as histórias da Maria, éramos todo ouvidos, pois ela sabia como ninguém contar histórias que ela jurava que eram verdadeiras.

Terminada a jornada o Carlinhos ia embora e eu apavorado, pois era hora de ir dormir, começava a ver coisas, ouvir barulhos, não conseguia pegar no sono. Achava que tinha alguém no quarto. Começava a chorar e enquanto minha mãe não me deixasse ir dormir no meio dela e do meu pai, eu não sossegava.

Certa noite, já de madrugada e eu me lembro como se fosse hoje, de repente eu acordei e com os olhos arregalados de verdadeiro pavor, vi um casal de noivos girando numa dança misteriosa próximo ao teto do quarto. Ela estava com um buquê de flores e ele todo vestido de terno com fraque e cartola e o perfume da flor dama da noite envolvia todo o quarto. A visão era muito real, tanto que me lembro até hoje dos detalhes da visão fantasmagórica.

Fico analisando o porquê só lembro deste pesadelo, já que eu tive tantos e não me lembro de nada. Só sei que ei dei um tremendo grito apavorado que os meus pais acordaram muito assustados.

Acenderam logo a luz e para minha alegria e tranquilidade não havia mais nada do que eu havia presenciado. Meus pais me deram a maior bronca e não me deixaram mais dormir com eles.

A vida continuou, a molecagem também. A Maria continuou contando as suas histórias e eu continuei enfrentando meus pesadelos. Mas eu posso jurar que eu tive uma visão do mundo fantasma e eu me lembro como ainda fosse hoje.

Igreja de Santo Ignácio de Loyola - Alberto Landi

 


Igreja de Santo Ignácio de Loyola

Alberto Landi

 

Em Roma existem mais de 900 igrejas, uma mais impressionante que a outra, mas essa em especial tem um efeito ótico interessante, se levarmos em conta que foi feito há tanto tempo, em 1626.

Esconde uma ilusão incrível, a chamada cúpula falsa, que funciona da seguinte forma: Perto do altar, procure um círculo no piso de mármore, fique parado bem em cima do círculo e olhe para o alto, para o teto da igreja.

Vai ver uma belíssima cúpula, agora, dê um passo em qualquer direção e veja que a cúpula se deforma diante de seus olhos.

Na verdade, a cúpula não existe! É uma obra de arte, uma pintura em 3 D incrivelmente realística feita pelo pintor, arquiteto jesuíta Andrea Pozzo, um dos principais artistas da arte barroca católica.

Precisa estar exatamente no ponto marcado,  o círculo no piso, de qualquer outro local, nada acontece.

Incrível essa ilusão de ótica!

O MARAVILHOSO PALAZZO SPADA - Alberto Landi

 



O MARAVILHOSO PALAZZO SPADA

Alberto Landi

 

O Palazzo Spada localizado em Roma, tem um local secreto que é mais um efeito ótico que passa despercebido pelas pessoas que visitam.

É chamado de “A falsa perspectiva de Borromini”.

Ele foi um dos grandes arquitetos do barroco romano, além de Bernini e Pietro da Cortona.

Tudo teve inicio no ano de 1632, quando o cardeal Spada adquiriu um palácio, e sentiu falta de algo grandioso e espetacular capaz de deixar qualquer um boquiaberto. Fez a reforma do palácio, ficando com características do estilo barroco.

O arquiteto fez sua mágica, transformando o corredor de 8 metros que dá acesso ao jardim, em um corredor de 37 metros, ou pelo menos aparenta ter, já que é pura ilusão de ótica.

Ele construiu uma sequência de colunas que diminuem de tamanho ao avançarem pelo corredor adentro. O piso também vai se elevando gradativamente e tudo isso cria uma perspectiva falsa que faz com que um corredor de 8 metros pareça ter 37 metros. Utilizou a convergência das paredes laterais, do chão e do teto, criando um efeito similar de um binóculos.

O arquiteto se especializou e se destacou pelo dinamismo e originalidade ao idealizar fachadas e criar novas formas arquitetônicas com deliberada alteração das proporções.

Na parte inferior da galeria, em um jardim iluminado pelo sol, há uma escultura do deus Marte que parece ser de tamanho natural, mas na realidade tem 60 cm.

Ele contou com ajuda de um matemático, Giovanni Maria, para essa perspectiva incrível!

Esse local abriga um museu e há obras do século 16 e 17.

Em 1927 o Estado italiano comprou o palácio com todos os móveis e galeria, atualmente é sede do Conselho de Estado e Galeria Spada.

Em 1990 foi emitida moeda comemorativa de 200 liras representando o palácio. Em 2011 um selo postal de 0,60 euros, homenageia a galeria e as colunas com esse efeito ótico!  

PEDRO, O ESCRITOR POLICIAL - Alberto Landi

 

PEDRO, O ESCRITOR POLICIAL

Alberto Landi

 

Pedro Rosenthal escritor de profissão, sentado em um banco de uma praça próximo a sua casa, foi abordado por três indivíduos, pertencentes a uma quadrilha.

Um deles, pelo celular informa ao mentor do sequestro.

— Nós o pegamos, estava fumando cigarro no jardim da praça. Paramos com um carro roubado, vidros escuros, baixamos só o do motorista e pedimos informações. Ele se aproximou e o capturamos, apontamos uma arma, ele não sabe, mas é de brinquedo.

Pedro escreve romance e conto policial, menciona nomes e detalhes de pistolas e revólveres, é conhecido pelos seus livros de detetives e criminosos, foi ironicamente rendido por uma arma de brinquedo!

Colocado em cativeiro numa sala, ele está sendo forçado a fazer um conto policial e não vai ser libertado até que a família pague o resgate, e que sejam produzidos pelo menos dois contos policiais.

Enquanto isso, uma testemunha liga para família e informa:

Eu vi tudo, sei de tudo! Não paguem nenhum resgate!

O esconderijo onde ele se encontra, fica na periferia, ao lado de um deposito de ferro velho.

Esse grupo, na realidade, é de fãs dele, que tiveram a idéia de praticar esse ato, obrigá-lo a escrever algo bom, porque há muito tempo não escrevia nada, sendo que a última coisa que fez foi uma poesia, nada a ver com o seu perfil.

Os “sequestradores” querem um conto policial com tensão, crimes, submundo. Pensaram que ele tivesse perdido a inspiração ao vender as obras policiais anteriores a produtores de filmes.

O tempo está escasso, o grupo está muito tenso e preocupado pela ação criminosa cometida.

Nos noticiários matutinos em TV e radio, a policia informou que há um retrato falado dos criminosos, mas estes pensam que se trata de uma grande jogada policial para amedrontá-los.

Mal sabe a polícia que são meros leitores de livros policiais e de jornais, conhecem a lógica dos detetives.

A família informa aos criminosos, que não tem dinheiro para o resgate. Além dos romances, contos e poesia, ele é um escritor eclético, não é rico, os livros não dão tanta grana como pensam.

— É impossível que ele tenha torrado todo o dinheiro, pois ele vendeu toda a obra policial, comentava um deles.

Pedro, mal conversava, escrevia um livro a pedido da quadrilha. Ele só permitia ler os contos depois de terminado.

A tensão aumentou, com o decorrer dos dias. O carro usado na captura foi identificado bem como o seu proprietário, para investigações.

Mas o fato é que uma testemunha viu e sabia de todo o plano, pois rejeitou a oferta dos criminosos para participar.

O local foi descoberto, cercada por várias viaturas, sendo todos eles presos, e Pedro libertado.

O autor intelectual do delito confessou, alegando que só queriam ter em sua posse no mínimo um conto policial, produzido em cativeiro e sob estresse, para dar mais emoção.

Tudo isso reaproximou Pedro da ficção policial.

No local do cativeiro foram encontradas anotações, arma de brinquedos, notebook e celulares.

Isso foi uma grande jogada de marketing para o escritor, porem o sequestro realmente ocorreu e os criminosos punidos de acordo com a lei!

Pedro tornou-se famoso e inspirado após o ocorrido, pois sentiu na pele toda tensão e medo de um “real”  sequestro!

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...