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quarta-feira, 22 de novembro de 2017

PASSEIO INESQUECÍVEL - Henrique Schnaider


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PASSEIO INESQUECÍVEL
Henrique Schnaider

Era o ano de 1976, me lembro como se fosse hoje. Aquela viagem para nós, foi fantástica, um sonho dos deuses, viemos para baixada santista, emocionados, pois era a primeira vez que estávamos juntos. Uma aventura como aquela, eu desde jovem sonhava fazer juntamente com meus amigos,  e finalmente chegou o dia daquela empreitada.

Rodrigo meu amigo mais chegado, brincava comigo, dizendo que iriamos arrumar umas gatas e depois sair com elas para dar umas voltas, tomar um sorvete, ir ao circo e passear na praça em frente. Eu todo feliz imaginando as coisas que meu amigo me dizia.

A praia do tombo, era o objeto dos nossos desejos, finalmente naquele dia tornaríamos realidade, com certeza, iriamos nos divertir muito.

Todos éramos praticantes de surf, cada um tratou de trazer  sua prancha, o mar estava fantástico, estávamos deliciados, Rodrigo não largava de brincar comigo, a praia do tombo era famosa pelas ondas altíssimas, poderíamos surfar, fazer a rasgada, batida, floater, aéreo, cut back e tubo, eu olhava deliciado o mar, estava com uma fome de gente grande.

Na realidade estava, com um tremendo medo, nunca surfara em ondas tão grandes,  não revelava aos colegas a minha fragilidade. Teria que enfrentar meus monstros, conseguir supera-los.

Ed era o mais velho do grupo, com uma experiência maior, inclusive já havia participado de várias competições, o cara era o cobra da turma, enfrentava as ondas feito um peixe grande, era um verdadeiro golfinho.

Passamos horas surfando com sol a pino até ficarmos mortos de cansado, mas ninguém queria parar, realmente estávamos a fim de ficar até a boca da noite, o som das ondas arrebentando, soava para nós como uma música doce e suave.

Disse aos meus amigos, que confessaria a eles algo que não sabiam, sobre os medos que me assombravam ao pegar ondas tão fortes, feito monstros marinhos, mas agora diria que superara meus traumas.

No começo da noite, finalmente paramos para preparar, apesar da hora avançada, um almoço rustico, o cansaço tomava conta de nós.

Pedi ao Ed que usasse a câmera para nos filmar, todos estirados sem conseguir se mover, ninguém tomava  iniciativa de fazer o fogo, o mar estava simplesmente lindo como um quadro de Van Gog, nós grandes amigos olhando extasiados aquela beleza sem fim.

Hoje passados tantos anos, fico pensando como éramos audaciosos.

Nunca mais, haveria em nossas vidas, uma aventura tão linda, inesquecível, ficando para sempre em nossa memoria. 

A Aldeia de Matamata - Christianne Vieira

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A Aldeia de Matamata
Christianne Vieira

Frederico abriu os olhos assustado. Um homem baixo de expressivos olhos azuis, largo bigode grisalho. A gravata borboleta vermelha e a cartola preta lhe conferiam sua função, de guardião das terras baixas.

Matamata ficava no vale, onde a vegetação rasteira se encobria pelas tantas flores.  Há pouco tempo haviam descoberto uma grande jazida de pedras preciosas, e desde então  a população, antes pacata, se transformara em pessoas ruins, ambiciosas. As desavenças cresceram,  a todo instante a temperatura aumentava os ânimos.

Ele tinha que correr, ate a aldeia vizinha, e pedir ajuda a Dee, o mago, Senhor do conhecimento, da cultura antiga dos anciãos. O único homem capaz de reverter  a situação e restaurar a paz. Corria contra si mesmo, contra o tempo, senhor inexorável da vida, que controlava o passado, o presente e o futuro. Tinha alguma esperança em seu coração.
Frederico chegou afobado, como de costume,  derrubou a mesa do mago, jogando ao chão todas as oferendas dos Deuses.
Dee, com sua serenidade costumeira, pareceu perder  a calma, algumas labaredas subiram-lhe pelos olhos. Em instantes, a recuperou e já intuíra a razão  da visita.

O pequeno guardião relatou suas aflições, suplicou  ajuda do Livro Sagrado. Quem sabe os Deuses ainda poderiam perdoar os erros daquele povo.

Dee levou  a chaleira ao fogo, enquanto a fumaça subia ao céu azul, e as nuvens se formavam, parecia ler uma mensagem. Após alguns minutos de silêncio, o mago explicou o ocorrido.

O fim de uma Era se aproximava. Um antigo feiticeiro havia realizado uma magia negra, e profetizara essa tormenta.

Para desfazer esse feitiço, Frederico devia trazer até o mago Clarice, a bruxa . E, juntos os três, uniriam suas forcas em uma aliança. A tríplice aliança teria força suficiente para desfazer as ações do mal. Uma batalha das sombras e da luz seria travada. Deveriam manter a esperança e o coração puro. Acreditar no bem.

Tinham pouco tempo, até a próxima lua cheia encher de luz o céu.


Frederico se arrumou, tomou folego e partiu, seria uma longa jornada, mas ele deveria ser corajoso e valente, estava com o futuro de seu povo nas mãos.


Gente que a gente jamais esquece - Hirtis Lazarin

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Gente  que  a  gente jamais  esquece
Hirtis Lazarin


          Nasci  no primeiro dia de janeiro.  O que deveria ser um presente aos meus pais, tornou-se um pesadelo.

          Jovens demais.  Não fui planejada nem desejada.  Eles não queriam criar raízes.  Queriam o mundo.

          De posse da cidadania italiana, abandonaram-me como se abandona  uma rua ao virar a esquina.  E eu só tinha dois anos de idade.

          Atravessaram o Atlântico e, de mochila nas costas, nunca mais retornaram.  No início, chegaram alguns postais que registravam o paradeiro dos dois.  Foram rareando até que há três anos não mais recebemos notícias.

          Meus "nonos" Virgínia e Antônio acolheram-me de alma e braços abertos.  E foi debaixo dessa árvore verdejante e frondosa que eu cresci.

            Suas flores encantaram-me a vida.  Os frutos deram-me força e robustez. A sombra acolheu-me no calor e na chuva.  No tronco grosso desenhei um coração e dentro dele escrevi o nome da minha primeira paixão.

          "Nona" Virgínia não nasceu no Brasil.  Junto de mais quatro jovens fugiram da Itália escondidos no porão de um navio cargueiro.  Foi ali, misturados ao mau cheiro, ao calor sufocante e à multidão de baratas, que ela conheceu meu "nono" Antônio.   E nunca mais se  separaram.

          Foram aproveitados numa fazenda cafeeira, no interior  de São Paulo.  Do trabalho pesado na roça,  de seis, sete e até oito horas por dia, "nona" herdou um desajuste na coluna e mãos calejadas.  Mãos abençoadas que nunca deixaram de se estender a quem delas precisasse.

          Ao mesmo tempo em que ela tinha voz enérgica, segura e atitudes determinadas, era fofa e doce feito pão-de-ló saído quentinho do forno.

          Seu coração...Ah!  Seu coração foi feito de tecido "stretch".  Estica de cá pra lá...Pra direita...Pra esquerda...E  sempre cabia mais um.

          Eles tiveram cinco filhos.  Os dois mais velhos morreram ainda crianças.  Ficaram minha tia Anita, meu tio Guilherme  e mamãe, a mais nova e a mais desmiolada da família.

          Aos domingos, todos reuniam-se lá em casa.  "Nona" Virgínia era dona absoluta da cozinha.  Não permitia a entrada de ninguém.  O cardápio só era conhecido servido à mesa.  Sem pressa alguma mexia os caldeirões de ferro fundido e, lá de dentro, um cheirinho perfumado, convidativo corria a casa e tomava o rumo do mundo.

          Nós, seis netos, sentíamos prazer em espiá-la pela fresta da janela de madeira desbotada pelo sol.  Se nossa risada nos denunciava, ela saía do sério.  Abria a janela, falava  rápido, esquecendo o português e, da língua toda enrolada, saíam palavrões italianíssimos.  Gesticulava tanto e com tanta rapidez  que parecia ter não só dois,  mas três... quatro ...cinco braços.  E nós sentíamos enorme orgulho por sermos os únicos a ter uma "nona-polvo".

          Os meus "nonos",  simples e verdadeiros criaram-me para a vida, para o mundo.

          Aprendi que nunca teremos tudo que almejamos.  Nem por isso deixaremos de sonhar.  Sem sonho, a vida torna-se vazia, monótona, sem cor.

          O sonho exige-nos esforço.  O esforço conduz-nos ao prêmio.  O prêmio será do tamanho da nossa persistência.

          Na caminhada, haverá momentos em que o sentimento é de esfarrapo.  Haverá outros em que sentiremos ovacionados por súditos imaginários.

          Equilíbrio é saber lidar com a alternância da dor e do  prazer.  Valorizar demais a dor pode provocar inércia e nos abater.  Valorizar demais o prazer pode gerar orgulho e opressão aos que nos cercam.

          Autocontrole, maturidade sabedoria são os ingredientes que não podem faltar à nossa culinária diária.

          Aprendi também que a felicidade não mora em Paris, nem numa Ferrari vermelha do ano, nem numa casa de frente pro mar em Saint Tropez.

          Faz sete meses que a "nona" Virgínia mudou-se pro outro lado do mundo.  A dor do luto...Não sei descrever.  Só sei que começa no coração, sobe ao cérebro, invade a corrente sanguínea e chega à alma.  É isso...  A ausência faz-nos doer a alma.

          O arco-íris que pintava meu céu depois das tempestades se foi...É difícil?  É muito difícil...

          Hoje acordei e passei o dia todo só pensando nela.  Não consegui comer nada.    Tô trancada no meu quarto.  Tremendo de frio,  enrolada no cobertorzinho de berço bordado por ela.  Sinto o seu perfume de dama-da- noite. 

           Vou tentar dormir abraçada ao ursinho de pano que ela costurou.  Surrado,  velho, debotado pela persistência e sem um dos olhos de vidro.

          Sei que vou sonhar com algodão doce e maçã do amor.

Histórias que a gente inventa! - Amora


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Histórias que a gente inventa!
Amora

Carlinhos, um menino muito esperto, tinha grande imaginação. Gostava de inventar histórias, prendendo a atenção dos amigos, que o cercavam constantemente.

Seus temas preferidos eram aventuras com seres desconhecidos em terra, ar ou mar. Criava-os com tanto detalhe e perfeição que até se convencia, confundindo com a realidade.

Filho de pescador à beira da praia, levava broncas de seu pai, que o recriminava por contar tanta mentira, atribuindo isso à fama dos pescadores em sempre inventar fatos maiores do que os acontecidos. Sentia-se  atingido.

Numa tarde de sol quente, mar convidativo, Carlinhos, sozinho na praia, resolve atirar-se n’água para se refrescar.

Distraído em meio às ondas fortes, vai ao fundo, esbarrando em enorme garrafa, contendo alguma coisa estranha dentro.

Curioso, levado talvez por seu espírito de aventura, aproxima-se dela, levando-a para a praia, com grande esforço.

Examina-a atentamente, percebendo, dentro dela, uma espécie de castelo, rodeado por casinhas menores. Havia árvores, flores e pequenos animais. O que seria isso e quem o teria feito, pergunta-se o jovem admirado.

De repente, dá um pulo e cai de costas na areia! Havia pessoas dentro da garrafa, saindo das casas. Pequeninas, caminham apressadamente, parecendo anõezinhos.

Cada vez mais espantado, o menino os observa. Vão todos para o maior castelo, aonde supunha ser a residência de um rei.

Fechadas porta e janelas,  não consegue ver direito o que se passa lá dentro. Só percebe que saem de tempo em tempo, colocando embrulhos enfeitados sobre uma carroça comprida, com umas oito renas, branquinhas, presas à frente.

Encantado, Carlinhos esfrega os olhos, belisca-se, não acreditando! Seria verdade mesmo o que estava vendo? Poderia ser sua imaginação fértil, incentivada pelo sol quente. E ele que gostava de inventar histórias!

Terminado o trabalho, com a carroça cheia de embrulhos, a porta do castelo se abre e surge um velhinho de barbas brancas, vestido como Papai Noel. Gordo e risonho, toma assento na carroça e guia suas renas. A garrafa explode de repente, diante de Carlinhos, fazendo-o dar um grito de susto.

Papai Noel sobe pelos ares com sua carroça, enquanto o menino acompanha-o, até que desaparece entre as nuvens.

Inacreditável! Pensa ele. Que história para contar aos amigos! E verdadeira!

Cansado pela emoção, adormece na praia.

É acordado pelo pai que, bravo, que repreende-o novamente. Dormir, quando havia tanto trabalho a fazer!

O menino, sonolento, tenta contar ao pai o que vira, mas ele nem o ouve, achando que era mais uma de suas invenções. Que contasse para os seus amigos!

Carlinhos, chateado, pensa, “ninguém acreditará mesmo!  Devo ter sonhado!”

Olha para a areia da praia e percebe estilhaços de vidro quebrado, sendo levados pelas águas do mar...


É o Natal que se aproxima, mexendo com a cabeça da gente!

Se eu fosse o mar - Henrique Schnaider


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Se eu fosse o mar 
Henrique Schnaide


Se eu fosse o mar,  seria calmo e profundo

Se eu fosse calmo e profundo, seria a estrada da vida e não da morte.

Se eu fosse à estrada da vida e não da morte, seria o vento amigo e generoso

Se eu fosse o vento amigo e generoso,  seria o mar que todos gostam

Se eu fosse o mar que todos gostam, seria a estrada da vida

Se eu fosse à estrada da vida, seria o vento que sopra para todos

Se eu fosse o vento que sopra para todos, seria tal qual um oceano dadivoso.

Se eu fosse um oceano dadivoso, seria uma estrada que todos querem percorrer

Se eu fosse uma estrada que todos querem percorrer, seria amado por todas as pessoas soprando e amenizando o calor

Se eu fosse amado por todas as pessoas soprando e amenizando o calor, seria calmo e profundo

Se eu fosse calmo e profundo, seria a estrada da vida e não da morte


Se eu fosse à estrada da vida e não da morte, seria o vento amigo e generoso

O EMPURRÃOZINHO! - Amora


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O EMPURRÃOZINHO!
Amora

Mariza é uma moça simples, meiga e bonita. Além da boa aparência, possui uma qualidade notável, a bondade. Habituou-se aos afazeres do campo, veste-se com modéstia, sem vaidade, diferente das moças de sua idade,  que gostam de ostentação. Vive afastada da cidade, num sítio herdado dos pais, com Dona Ana, uma senhora que serve à família há muitos anos, sua única companhia.

Quase não participa das festas da região. Espanta-se muito quando recebe um convite de casamento de uma moça da vizinhança conhecida por sua riqueza e elegância.

Suas famílias haviam sido muito amigas e não havia jeito de recusar sem causar constrangimento.

Preocupa-se, então, com o vestido que iria usar. Examina seu guarda roupa e percebe que nenhum seria muito adequado. Talvez, um antigo, de sua mãe, de tecido mais caro, com pequenos bordados. Depois de pequenos ajustes, poderia lhe servir.

Tira-o do cabide e nota, com tristeza, o cheiro de bolor e pequenos buracos roídos por traças! Também, tanto tempo guardado! Esquecera-se de colocá-lo ao sol.

Sentada na varanda, tenta arrumá-lo, fechando com delicadeza os furos e pedindo a Dª Ana para ir de carroça comprar algum enfeite que servisse como bordado, disfarçando o remendo.

Entristece-se um pouco, pois perdera o hábito de sair e acompanhar a moda das moças do lugar. Arrepende-se de não ter frequentado muito os acontecimentos  sociais. Afinal, era ainda jovem e, formosa. Estava deixando a mocidade passar sem aproveitá-la.

Com algumas fitas e rendas trazidas por Dª Ana, tenta suavizar um pouco a antiguidade da roupa, percebendo ao terminar que não ficou tão bom como queria.

Resolve não ir mais ao casamento, o que contraria muito Dª Ana,  torcendo para vê-la aproveitar um pouco a vida e arranjar, quem sabe, um pretendente.
Com o trabalho no sítio, as despesas eram grandes e, comprar roupa nova, seria impossível no momento.

Mariza abandona o vestido numa cadeira da varanda e entra em casa, desgostosa. Sonhou em ir à festa, mas acabou por desistir.

Nuvens grossas escurecem o céu de repente. O azul brilhante e claro, iluminado pelos últimos raios solares, transforma-se em tons de cinza. Um vento bravo e uivante anuncia forte tempestade. A moça se lembra do vestido jogado e corre para buscá-lo. Um pouco tarde! O vento o está levando para o alto, fazendo com que uma fita se solte, ficando semelhante a uma pipa que, empinada, penetra e some dentro da nuvem.

Mariza tenta puxá-lo com força, antes que se desfaça todo. Fora de sua mãe, pretendia guardá-lo com carinho.

A tempestade é rápida, cessa o vento e vem uma calmaria. A jovem ainda segura firme na fita, tentando puxá-lo.

O vestido volta, caindo aos seus pés, levemente, como uma pétala de rosa. Ela olha-o assustada! Não é mais o mesmo vestido. De antigo, molhado e feio, transformara-se num lindo vestido azul, cintilante, com delicado bordado de pérolas. Um vestido de sonho de contos de fadas.  Mariza seria uma nova Cinderela?

Sem questionar muito, vai ao casamento, atraindo logo o jovem que se tornaria seu esposo.


O destino, às vezes, necessita de um empurrãozinho!

terça-feira, 14 de novembro de 2017

CURIOSIDADE: ETIMOLOGIA DE ALGUMAS PALAVRAS


ETIMOLOGIA DE ALGUMAS PALAVRAS

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Bastardo:  Vem do Francês arcaico BASTARD, modernamente BÂTARD, “filho de nobre com mulher que não seja sua esposa”. Vem da expressão FILS DE BAST, “filho de cobertor de sela”, pois estes, além de revestir a parte inferior dela, serviam como cobertas numa viagem. Essa condição, na Idade Média, não era vista como agora. Muitos filhos de nobres alcançaram altas posições. E essa é a origem da expressão “ter o rei na barriga”: muitas amantes de personagens reais desfrutavam do prestígio a elas conferido de portar um herdeiro real no ventre.
PRIMOGÊNITO – do grego, de primus, “primeiro, o que veio antes de todos”, mais genitus, “nascido, gerado”.  Existe gente, contudo, que anuncia o nascimento de “seu segundo primogênito”, “seu terceiro primogênito”, etc.
Toalha. Esta vem do Francês toaille, que vem do Latim tela, “tecido, pano”. Daí derivou toilette, no início “pequena toalha, toalha de mesa” e depois “arrumação, higiene corporal”
Dentifrício:  Essa palavra vem do Latim dens, “dente”, mais fricare, “esfregar”, já que é uma pasta para fazer exatamente isso.
Nariz: Latim nasus, “nariz”.

Olho:  vem do Latim oculus, “olho”

Debate: Do Francês antigo DEBATRE, originalmente “lutar”, formado por DE-, completamente”, mais BATRE, “bater, golpear

Decadência: Do Latim DECADENTIA, “o que está estragado”, de DECADERE, formado por DE, “fora”, mais CADERE, “cair.
Vadio: vem do Latim VAGATIVUS, “o que anda sem destino”, de VAGARE, “andar sem propósito, sem destino. O emprego pejorativo tem origem óbvia: uma pessoa que gastava seu tempo andando ao léu não podia se dedicar a atividades necessárias a alguém que pertencesse a um grupo e cooperasse para as suas finalidades. Outras conotações pejorativas daí se desenvolveram.
Obrigado: obrigado” vem do Latim OBLIGARE, formado por OB, “a”, mais LIGARE, “unir, atar”. Quando dizemos “obrigado” estamos dizendo que nos sentimos ligados pelos laços do agradecimento a quem nos fez um favor 

Fêmea:  que veio do latim FEMELLA, “jovem do sexo feminino”, de FEMINA, “mulher”. “Feminino” e “feminismo” são outros derivados

Fiado: Do latim FIDARE, “confiar, crer, acreditar”, de FIDES, “fé, confiança”.

Filhos: filius em Latim / Primos: Esta palavra vem do Latim consobrinus primus, “primeiro consobrinho”. / Tios: Esses vêm do Grego thios.  Mas, no Latim, prevaleceu por um tempo uma situação que nos parece estranha. Havia um nome para cada tipo de tios. O irmão da mãe era chamado avunculus. A irmã dela era a matertera. O irmão do pai era o patrius e a irmã do pai se dizia amita / Netos: Esses vêm do Latim nepos , inicialmente “filho da irmã, neto, descendente”. Mais tarde essa palavra adquiriu o sentido de “sobrinho”. Veio do Indo-Europeu nepot- , “neto, descendente outro que não o filho. / Foi aí que originou nepotismo . Esta palavra passou a se usar em 1662, na época em que nem todos os Papas se distinguiam pela santidade. Alguns tinham filhos naturais, que chamavam de nipoti , “sobrinhos”, e que eram beneficiados com cargos e outras vantagens.

Navio:  os gregos chamavam de naus os seus navios; em Latim isso se transformou emnavis, de onde passou para nós como navio ou nave.

Ônibus: omnibus em Latim, quer dizer “para todos” e se aplicou a uma espécie de transporte por carruagem que servia a todas as classes sociais, na Inglaterra, em 1832. Mais tarde ela foi aplicada aos veículos de transporte de pessoas movidos a motor e abreviada para bus por lá.

Abrigo: Vem do Latim apricare, “proteger-se do frio aquecendo-se ao sol”, de apricus, “exposto ao sol”.

Cachecol  -  do Francês cache-col, literalmente “esconde o pescoço”, já que essa
é a parte do corpo defendida pela peça.

Caipira: Do Tupi CAA, “mato”, e PIR, “que corta”.

Flagrante:  Ser apanhado assim pode ser a maior de todas as provas. Vem do Latimflagrans, “o que queima, ardente”, do verbo flagrare, “queimar”, da raiz Indo-Européiabhleg-, “queimar”.

Detetive: vem do Latim detectare, “descobrir, destapar”, formado por de-, “fora”, mais tegere, “cobrir com algo”. Ele é a pessoa que “destapa, descobre” o que estava oculto pela conduta do criminoso.

Adivinhar: vem do Latim divinare, “predizer o futuro”, de divinus, “divino, relativo a um deus”, que veio de divus, “deus”.


Edifício:  vem do Latim aedes, “casa, mansão”. O nome acabou se fixando nos edifícios que existiam em Roma e que tinham até cinco andares, usados como morada para as pessoas de baixa renda. 

Primeira aventura de Alexandre - Graciliano Ramos

Primeira aventura de Alexandre
Graciliano Ramos

Naquela noite de lua cheia estavam acocorados os vizinhos na sala pequena de Alexandre: seu Libório, cantador de emboladas, o cego preto Firmino e Mestre Gaudêncio curandeiro, que rezava contra mordedura de cobras. Das Dores benzedeira de quebranto e afilhada do casal, agachava-se na esteira cochichando com Cesária.

— Vou contar aos senhores... principiou Alexandre amarrando o cigarro de palha.

Os amigos abriram os ouvidos e Das Dores interrompeu o cochicho:
— Conte, meu padrinho.

Alexandre acendeu o cigarro ao candeeiro de folha, escanchou-se .na rede e perguntou:

— Os senhores já sabem porque é que eu tenho um olho torto?

Mestre Gaudêncio respondeu que não sabia e acomodou-se num cepo que servia de cadeira.

— Pois eu digo, continuou Alexandre. Mas talvez nem possa escorrer tudo hoje, porque essa história nasce de outra, e é preciso encaixar as coisas direito. 
Querem ouvir? Se não querem, sejam francos: não gosto de cacetear ninguém.

Seu Libório cantador e o cego preto Firmino juraram que estavam atentos. E Alexandre abriu a torneira:

— Meu pai, homem de boa família, possuía fortuna grossa, como não ignoram. A nossa fazenda ia de ribeira a ribeira, o gado não tinha conta e dinheiro lá em casa era cama de gato. Não era, Cesária?

— Era, Alexandre, concordou Cesária. Quando os escravos se forraram, foi um desmantelo, mas ainda sobraram alguns baús com moedas de ouro. Sumiu-se tudo.

Suspirou e apontou desgostosa a mala de couro cru onde seu Libório se sentava:

— Hoje é isto. Você se lembra do nosso casamento, Alexandre?

— Sem dúvida, gritou o marido. Uma festa que durou sete dias. Agora não se faz festa como aquela. Mas o casamento foi depois. É bom não atrapalhar.

— Está certo, resmungou mestre Gaudêncio curandeiro. É bom não atrapalhar.

— Então escutem, prosseguiu Alexandre. Um domingo eu estava no copiar, esgaravatando unhas com a faca de ponta, quando meu pai chegou e disse:

— "Xandu, você nos seus passeios não achou roteiro da égua pampa?" E eu respondi: — "Não achei, nhor não." — "Pois dê umas voltas por aí, tornou meu pai Veja se encontra a égua." — "Nhor sim." Peguei um cabresto e saí de casa antes do almoço, andei, virei, mexi, procurando rastos nos caminhos e nas veredas. A égua pampa era um animal que não tinha agüentado ferro no quarto nem sela no lombo. Devia estar braba, metida nas brenhas, com medo de gente. Difícil topar na catinga um bicho assim". Entretido, esqueci o almoço e à tardinha descansei no bebedouro, vendo o gado enterrar os pés na lama. Apareceram bois, cavalos e miunça, mas da égua pampa nem sinal. Anoiteceu, um pedaço de lua branqueou os xiquexiques e os mandacarus, e eu. me estirei na ribanceira do rio, de papo para. o ar, olhando o céu, fui-me amadornando devagarinho, peguei no sono, com o pensamento em Cesária. Não sei quanto tempo dormi, sonhando com Cesária. Acordei numa escuridão medonha. Nem pedaço de lua nem estrelas, só se via o carreiro de Sant'lago. E tudo calado, tão calado que se ouvia perfeitamente uma formiga mexer nos garranchos e uma folha cair. Bacuraus doidos faziam às vezes um barulho grande, e os olhos deles brilhavam como brasas. Vinha de novo a escuridão, os talos secos buliam,as folhinhas das catingueiras voavam. Tive desejo de. voltar para casa, mas o corpo morrinhento não me ajudou. Continuei deitado, de barriga para cima, espiando o carreiro de Sant'lago. e prestando atenção ao trabalho das formigas. De repente. conheci que bebiam água ali perto. Virei-me, estirei o pescoço e avistei lá embaixo dois vultos malhados, um grande e um pequeno, junto da cerca do bebedouro. A princípio não pude vê-los direito, mas firmando a vista consegui distingui-las por causa das malhas brancas. — "Vão ver que é a égua pampa, foi o que eu disse. Não é senão ela. Deu cria no mato e só vem ao bebedouro de noite." Muito ruim o animal aparecer .àquela hora. Se fosse de dia e eu tivesse uma corda, podia laçá-lo num instante. Mas desprevenido, no escuro, levantei-me azuretado, com o cabresto na mão, procurando meio de sair daquela dificuldade. A égua ia escapar, na certa. Foi aí que a idéia me chegou.

— Que foi que o senhor fez? perguntou Das Dores curiosa.

Alexandre chupou o cigarro, o olho torto arregalado, fixo na parede. Voltou para Das Dores o olho bom e explicou-se:

— Fiz tenção de saltar no lombo do bicho e largar-me com ele na catinga. Era o jeito. Se não saltasse, adeus égua pampa. E que história ia contar a meu pai? Hem? Que história ia contar a meu pai, Das Dores?

A benzedeira de quebranto não deu palpite, e Alexandre mentalmente pulou nas costas do animal:

— Foi o que eu fiz. Ainda bem não me tinha resolvido, já estava escanchado. Um desespero, seu Libório, carreira como aquela só se vendo. Nunca houve outra igual. O vento zumbia nas minhas orelhas, zumbia como corda de viola. E eu então... Eu então pensava, na tropelia desembestada: — "A cria, miúda, naturalmente ficou atrás e se perde, que não pode acompanhar a mãe, mas esta amanhã está ferrada e arreada." Passei o cabresto no focinho da bicha e, os calcanhares presos nos vazios, deitei-me, grudei-me com ela, mas antes levei muita pancada de galho e muito arranhão de espinho rasga-beiço. Fui cair numa touceira cheia de espetos, um deles esfolou-me a cara, e nem senti a ferida: num aperto tão grande não ia ocupar-me com semelhante ninharia. Botei-me para fora dali, a custo, bem maltratado. Não sabia a natureza do estrago, mas pareceu-me que devia estar com a roupa em tiras e o rosto lanhado. Foi o que me pareceu. Escapulindo-se do espinheiro, a diaba ganhou de novo a catinga, saltando bancos de macambira e derrubando paus, como se tivesse azougue nas veias. Fazia um barulhão com as ventas, eu estava espantado, porque nunca tinha ouvido égua soprar daquele jeito. Afinal subjuguei-a, quebrei-lhe as forças e, com puxavantes de cabresto, murros na cabeça e pancadas nos queixos, levei-a. para a estrada. Ai ela compreendeu que não valia a pena teimar e entregou os pontos. Acreditam vossemecês que era um vivente de bom coração? Pois era. Com tão pouco ensino, deu para esquipar. E eu, notando que a infeliz estava disposta a aprender, puxei por ela, que acabou na pisada baixa e num galopezinho macio em cima da mão. Saibam os amigos que .nunca me desoriento. Depois de termos comido um bando de léguas naquele pretume de meter o dedo no olho, andando para aqui e para acolá, num rolo do inferno, percebi que estávamos perto do bebedouro. Sim senhores. Zoada tão grande, um despotismo de quem quer derrubar o mundo — e agora a pobre se arrastava quase no lugar da saída, num chouto cansado. Tomei o caminho de casa. O céu se desenferrujou, o sol estava com vontade de aparecer. Um galo cantou, houve nos ramos um rebuliço de penas. Quando entrei no pátio .da fazenda, meu pai e os negros iam começando o ofício de Nossa Senhora. Apeei-me, fui ao curral, amarrei o animal no mourão, cheguei-me à casa, sentei-me no copiar. A reza acabou lá dentro, e ouvi a fala de meu pai: — "Vocês não viram por aí o Xandu?" — "Estou aqui, nhor sim, respondi cá de fora" — "Homem, você me dá cabelos brancos, disse meu pai abrindo a porta. Desde ontem sumido!" — "Vossemecê não me mandou procurar a égua pampa?" —"Mandei, tornou o velho. Mas não mandei que você dormisse no mato, criatura dos meus pecados. E achou roteiro dela?" — "Roteiro não achei, mas vim montado num bicho. Talvez seja a égua pampa., porque tem malhas. Não sei, nhor não, só se vendo. O que sei é que é bom de verdade: com umas voltas que deu ficou pisando baixo, meio a galope. E parece que deu cria: estava com outro pequeno." Aí a barra apareceu, o dia clareou. Meu pai, minha mãe, os escravos e meu irmão mais novo, que depois vestiu farda e chegou a tenente de polícia, foram ver a égua pampa. Foram, mas não entraram no curral: ficaram na porteira, olhando uns para os outros, lesos, de boca aberta. E eu também me admirei, pois não.

Alexandre levantou-se, deu uns passos e esfregou as mãos, parou em frente de mestre Gaudêncio, falando alto, gesticulando:

— Tive medo, vi que tinha feito uma doidice. Vossemecês adivinham o que estava amarrado no mourão? Uma onça-pintada, enorme, da altura de um cavalo. Foi por causa das pintas brancas que eu, no escuro, tomei aquela desgraçada pela égua pampa.

Texto extraído do livro “Alexandre e outros heróis”, Editora Record – Rio de Janeiro, 1981, pág. 11.
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A última noite de Natal - Graciliano Ramos

A última noite de Natal
Graciliano Ramos

Os grandes olhos claros e aguados boiavam na sombra nevoenta, cheios de espanto. Esfregou-os, arrastou-se pesado e entanguido, mal seguro à bengala, sentou-se num banco do jardim, fatigado, suspirando, examinou a custo os arredores. Gastou uns minutos passeando as mãos desajeitadas na gola do casaco. 0 exercício penoso enfureceu-o. Resmungou palavras enérgicas e incompreensíveis, esforçou-se por dominar a tremura. Com certeza era por causa do frio que os dedos caprichosos divagavam no pano esgarçado e os queixos banguelos se moviam continuamente. Era por causa do frio, sem dúvida. Se conseguisse abotoar o casaco e levantar a gola, os movimentos incômodos cessariam.

Em que estava pensando ao chegar ali? Ia jurar que pensava em coisas agradáveis. Ou seriam desagradáveis? Pedaços de recordações incoerentes dançavam-lhe no espírito, acendiam-se, apagavam-se, como vaga-lumes, confundiam-se com os letreiros verdes, vermelhos, que se acendiam e apagavam também quase invisíveis na poeira nebulosa. Tentou reunir as letras, fixar a atenção nas mais próximas, brilhantes, enormes.

A igreja toda aberta resplandecia. O incenso formava uma neblina perturbadora. E, através dela, os altares refugiam como sóis, a luz das velas numerosas chispava nas auréolas dos santos.

Que doidice! Não é que estava imaginando ver ali, nas transitórias claridades, a igreja vista sessenta anos antes? Tresvariava. Sacudiu a cabeça, afastou a lembrança importuna. De que servia desenterrar casos antigos, alegrias e sofrimentos incompletos?

O que devia fazer... Pôs-se a mexer os beiços, procurando nas trevas úmidas e leitosas que o envolviam o resto da frase. O que devia fazer... Repetiu isto muitas vezes, numa cantilena, distraiu-se olhando a chuva amarela, verde, vermelha, dos repuxos. Impossível distinguir as cores. Ultimamente a cidade ia escurecendo. As pessoas que transitavam junto aos canteiros sem flores eram vultos indecisos; .os prédios se diluíam nas ramagens das árvores, manchas negras; os letreiros vacilantes não tinham sentido.

O que devia fazer... De repente a idéia rebelde surgiu. Bem. Devia meter os botões nas casas e agasalhar o pescoço. Depois cruzaria os braços, aqueceria as mãos debaixo dos sovacos, ficaria imóvel e tranqüilo. Mas os dedos finos e engelhados avançavam, recuavam, não havia meio de governá-los. Se pudesse riscar um fósforo, chegá-lo a um cigarro, esqueceria os inconvenientes que o aperreavam: o frio, a dureza das juntas, o tremor, a zoeira constante, sussurro de maribondos assanhados. Dores errantes andavam-lhe no corpo, entravam nos ossos e vinham à pele, arrepiavam os cabelos, fixavam-se nas pernas, esmoreciam.

Agora não estava no banco do jardim, perto das estátuas, das árvores, do coreto, dos esguichos coloridos. Estava longe, a sessenta anos de distância, ajoelhado na grama, diante da igreja da vila. Os rostos embotados, que se dissociavam, juntaram-se no largo onde um padre velho dizia a missa da meia-noite. Fervilhavam matutos em redor das barracas, num barulho de feira, e uma sineta badalava impondo em vão respeito e silêncio. Os cavalinhos rodavam. Esgueiravam-se casais pelos cantos. O padre velho dirigia olhares fulminantes àquela cambada de hereges. Uma figura pequenina cantava os hinos ingênuos, de versos curtos, fáceis. Tudo parecera de chofre muito sério, eterno. Os hinos capengas elevavam-se, estiravam-se. A mulher tinha um rosto de santa e exigia adoração. Sessenta anos. As fachadas enfeitavam-se com lanternas de papel, janelas escancaradas exibiam presépios, listas de foguetes cortavam o céu negro. A sineta badalava, zangada. E o burburinho da multidão não diminuía.

Sessenta anos. Da cinza que ocultava os olhos frios saltou uma faísca; os alfinetes pregados na carne trêmula embotaram-se; o espinhaço curvo endireitou-se; um débil sorriso franziu os beiços murchos; os braços ergueram-se lentos, buscando a imagem de sonho.

Imagem de sonho, que doidice! Era apenas uma bonita criatura de bom coração. Ligara-se a ela. E dezenas de vezes tinham-se os dois ajoelhado ali na grama, olhando as lanternas, os presépios, os foguetes, o padre que dizia a missa da meia-noite. Algumas esperanças, muitos desgostos. Os meninos cresciam, engordavam. E no jardim da casa miúda um jasmineiro recendia.

Depois tudo fora decaindo, minguando, morrendo. Achara-se novamente só. Os filhos e os netos se haviam espalhado pelo mundo. Agora... Que extensa caminhada, que enormes ladeiras, pai do céu ! Já nem se lembrava dos lugares percorridos.

Conseguiu abotoar o casaco e levantar a gola.

Andar tanto e afinal chegar ali, arriar num banco, não perceber as letras que se acendiam . e apagavam.

Certamente àquela hora, diante duma igreja aberta, outro homem novo admirava outra pessoinha ajoelhada, sentia desejos imensos, formava planos absurdos. Os desejos e os planos iam desfazer-se como a. fumaça luminosa dos repuxos.

(20 de dezembro de 1941).


Texto extraído do livro “Linhas Tortas”, Editora Record – Rio de Janeiro, 1983, pág. 222.

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...