A lenda de Leucasia: Amor e Tragédia em
Leuca
Alberto Landi
Na ponta mais ao sul da Puglia, onde o mar Jônico
encontra o Adriático, existe um lugar banhado por luzes e lendas: Santa Maria
de Leuca. Ali, as falésias brancas e as águas profundas guardam histórias
antigas que ainda sussurram aos viajantes mais atentos.
O promontório de Leuca não é apenas rocha avançando
sobre o mar.
Para os antigos, era o lugar onde a terra se ergue
como um altar e conversa com os deuses do vento e das águas.
No encontro dos dois mares, as ondas não apenas se
chocam, mas se abraçam em contrastes de cor e salinidade.
Foi nesse limiar que nasceu a lenda.
Entre elas, a mais lembrada é a de Leucasia, uma
sereia de beleza incomum, com cabelos dourados, olhos azuis e pele tão branca
como o leite. Encantadora e melodiosa, ela atrai marinheiros e pescadores para
as águas do Salento.
Um dia, Leucasia avistou Melisso, um jovem pastor
que conhecia o ritmo do vento e o murmúrio das ondas, apaixonado por Aristula,
uma camponesa da região, de tranças escuras que cultivava trigo e esperança sob
o sol dourado da Puglia.
Movido por desejo e inveja, a sereia tentou seduzir
Melisso com o seu canto e beleza, mas o jovem permaneceu fiel à camponesa.
Enfurecida e com o coração partido, Leucasia provocou uma tempestade que afogou
os dois amantes.
Comovida pela tragédia, Minerva, a deusa romana da
sabedoria, da justiça e das artes, sempre atenta aos destinos humanos,
transformou os corpos de Melisso e Aristula em pedras, dando origem aos
promontórios de Punta Meliso e Punta Ristola, que hoje delimitam a baía de
Leuca.
Cada pedra tornou-se um guardião silencioso do amor
que resistiu à morte.
Consumida pelo arrependimento e tristeza, Leucasia
desapareceu nas profundezas do mar.
Seus últimos suspiros se transformaram em brisas
suaves que ainda percorrem a costa de Leuca.
Os paredões rochosos de calcário branco recebem os
primeiros raios do sol nascente e diante deles os dois mares se transformam em
eternos abraços líquidos. O Adriático e o Jônico, distintos em cor e sal,
desenham na superfície uma linha visível, quase mágica. Mas a ciência nos
revela que essa fronteira não é separação: são correntes que se tocam, massas
de água que dançam até se misturarem, lembrando-nos que, assim como o amor
verdadeiro, a união não apaga as diferenças, mas as transforma em harmonia.
E assim a lenda permanece viva, sussurrada pelo
vento, narrada pelo mar e iluminada pelo sol, fazendo Santa Maria de Leuca um
lugar onde mito e realidade se entrelaçam para sempre.
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