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quinta-feira, 9 de setembro de 2021

MÃE DINAH - Henrique Schnaider

 



MÃE DINAH

Henrique Schnaider

 

Lucia, nome de guerra Mãe Dinah, era especialista na arte das cartas enigmáticas usadas para encher os olhos dos incautos, o Tarô. No qual Lucia era useira e vezeira ao enganar as pessoas, jogando um futuro maravilhoso no coração dos iludidos.

Sua fama foi longe, alcançando até os crédulos no exterior. Ela lia cartas e enganava também ao decifrar as linhas das mãos dos trouxas. Usava uma técnica de ser uma parede que rebate a bola. E assim levava os otários, sem perceber a soltar aquilo que eles queriam ouvir.

Ela começou na arte de ludibriar bem cedo quem a procurasse, aprendendo com a avó cigana, uma vigarista profissional que limpava os bolsos dos desesperados para pôr um pingo de esperança em suas vidas, que naquele momento, estavam procurando um alento de um futuro melhor. Desta maneira as pessoas deixavam os tubos na consulta. Muitas vezes um dinheiro que nem sequer possuíam.

Lucia em pouco tempo aprendeu tudo da arte da malandragem e se tornou uma raposa dentro do galinheiro. Logo colocou sua avó no bolso ao ponto de a velha senhora resolver se aposentar e deixar o negócio lucrativo nas mãos da neta.

Assim Lucia saiu da miséria aos 25 anos e se tornou uma profissional PHD no uso do tarô, uma narrativa por acaso. Já era procurada por pessoas tanto pobres como ricas e para cada uma tinha o preço certo. Fama feita ao ponto de ser muito respeitada por todos que ouviam suas balelas.

Esta centelha da sorte que pousou nos ombros de Lucia, foi muito bem aproveitada no personagem assumido de Mãe Dinah. Especializou-se nas artes divinatórias como o jogo de búzios. Dizia aos que acreditavam nela, que recebia o espírito da mãe Dinah. Ela vinha do além incorporada na Lucia para fazer as consultas.

Nem uma vírgula do que falava, cobrando uma grana preta, era verdade. Ela tinha a qualidade de se fazer acreditar. Era um ser iluminado que estava ali, naquela sala mal iluminada apenas para criar um clima. Praticando o bem e Mãe Dinah só cobrava a consulta, para a Lucia que recebia seu espírito e precisava sobreviver.

Desta maneira todos que procuravam Lucia, achavam que estavam diante de duas pessoas, a Lucia e o espírito recebido de Mãe Dinah.

A vida ia rolando solta e a sacripanta enchendo as burras de dinheiro. Até que um dia ela conheceu o malandro dos malandros. O safado do José que a encheu de amor e carinho. A pobre da Lucia se entregou de corpo e alma ao Don Juan de araque, cheia de paixão

José ganhou tanto a confiança da Lucia, que ela lhe deu os cartões de banco com senha e tudo. Um dia o José se escafedeu, sumiu no mundo, sem lhe dar a mínima satisfação. E a Lucia que embrulhava a todos, caiu na real, se deu conta de que o malandro levou tudo o que ela tinha.

Pobre, Mãe Dinah, que previa um futuro brilhante a todos que a procuravam, não foi capaz de prever o seu próprio futuro, levou um tombo muito grande e agora seu futuro incerto iria demorar muito tempo para se recuperar e voltar à vida cheia de dinheiro e de tudo do bom e do melhor.

 

 

2 comentários:

  1. Muito interessante a descrição de como funciona, creio, a maioria das videntes. O triste fim, para quem iludiu tantas gentes. Parabéns Henrique

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  2. Muito boa a história, bem fluente e convincente. A utilização de expressões populares em todo o texto contribuiu muito para torná-lo agradável à leitura, pela linguagem familiar que proporcionou. Gostei, muito bom.

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