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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

A LINGUAGEM DO AMOR - Isabel Lopes



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Eu te amo


A LINGUAGEM DO AMOR
Isabel Lopes


A boca fala do que o coração está cheio”, dizia aquele versículo da Bíblia Sagrada.
Amanda terminava a ministração daquela palestra cristã em libras, com essa citação e, entre aplausos e felicitações, sentia-se grata pela oportunidade que havia recebido da Associação dos Deficientes Auditivos de sua cidade.

Amava esse versículo de uma maneira muito particular! Para ela não só a boca, mas também as mãos, falavam daquilo que está cheio o coração.

Desde que fora diagnosticada com Otosclerose, uma doença do ouvido médio que causa surdez progressiva, ganhara preciosas aliadas: suas ágeis mãos, encarregadas de facilitar sua comunicação.

Ela orgulhava-se de seus dedos longilíneos e das unhas bem cuidadas e, por saber que suas mãos eram sua ferramenta de contato com o mundo externo, tratava-as bem.

Em meio a tantos desafios que a vida lhe impusera, Amanda havia descoberto o encanto que esse mundo silencioso oferecia.

A perda gradual da audição proporcionou-lhe uma percepção diferenciada do mundo ao seu redor e era com suas mãos que ela o explorava.

Com elas, assim como faziam as outras pessoas: acenava, tocava, acariciava...mas o que fazia suas mãos serem diferentes das mãos dos das pessoas ouvintes é que  suas “falavam e ouviam”!

Num bailado frenético e ritmado, suas mãos iam projetando palavras e frases que expressavam suas emoções, opiniões, alegrias e tristezas em uma tela imaginária.
Como era fascinante se fazer entender! E que bom poder compreender o que os outros diziam.


Amanda tinha descoberto que as mãos das pessoas diziam muito a respeito delas e se pusera a observá-las, secretamente.

Mãos pequeninas, em particular, a fascinavam! Suas donas normalmente eram crianças ruidosas, que mergulhavam dedos apressados em baldes de pipoca.

E tinham as mãos com veias saltadas e manchas senis no dorso: essas eram as de sua mãe e, quando acariciava seu rosto, tinham um perfume que lembrava as manhãs de outono.

Como seria a mão de Deus? Pensava. Só sabia que eram mãos grandes, pois sentia-se sustentada e amparada por elas!

Lembrava-se agora de como havia conhecido Juliano naquele ponto de encontro da comunidade surda, no shopping...lá se iam dois bons anos!

Mãos fortes, ora amparando a cabeça displicente que pendia para um dos lados do corpo; ora mergulhadas no espaço, dizendo coisas enquanto sorria.

A amizade era profunda, o carinho mútuo. Tinha vontade de se declarar, mas até ali tinha lhe faltado coragem...

Mas não naquele dia! – decidiu, batendo a porta atrás de si.

O shopping era próximo, ela estava ofegante.

Chegou quase correndo e cumprimentou o grupo, disfarçando a ansiedade.

Juliano estava na mesa ao fundo, como se a esperasse.

Quando percebeu, estava diante dele. Seus lábios silenciosos se moveram, seus olhos brilhavam e suas mãos, enfim, falaram daquilo que estava cheio seu coração!
Com um doce sorriso, fechou o punho delicadamente e levantando os dedos mínimos, indicador e polegar ela se declarou na linguagem dos sinais.

Juliano entendeu a mensagem em libras:“eu te amo!” e sorriu retribuindo.
Deram- se as mãos e um beijo os uniu.

Não houve mais dias infelizes depois daquele dia.


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