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quarta-feira, 15 de março de 2017

Crime sem solução - Dinah Ribeiro de Amorim

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Crime sem solução
Dinah Ribeiro de Amorim

O velho conde Howard, solteirão inveterado, envelhece sozinho em pleno casarão da família, na pequena cidade de Yorkshire.

Auxiliado pelo  fiel mordomo Joseph, recebe cuidados especiais desde que  virou cadeirante, após um terrível tombo nas escadas do jardim. Mesmo assim, não desiste! Todas as manhãs, é levado a passear pelas alamedas e trilhas, recebendo os primeiros raios de sol, nos dias quentes ou, a brisa leve do inverno, quando se anuncia.

Sua vida simples e reduzida de alegrias, transforma-se quando o médico da família lhe encaminha Dolly, boa fisioterapeuta, de gênio extrovertido, brincalhona e provocante.

Howard fora um rapaz bonito e atraente, dono de grande fortuna e excelente cultura, conhecedor de vários lugares, em longas viagens.

Dolly se encanta com seu novo paciente. Além das boas possibilidades de uma melhora, admira sua conversa, conhecedor de tantos assuntos.

Substitui logo as tarefas do mordomo, levando-o ela mesma a passear fora do jardim, causando em Joseph ligeiro ciúme do patrão. Servia a família há muito tempo, acostumado a tomar iniciativas e decisões importantes, não admitiria que uma moça estranha, embora trouxesse melhoras, assumisse  seu lugar.

Howard e Dolly se apaixonam e, apesar da deficiência, resolvem se casar. A vida simples e pobre da moça se transforma em dona de uma mansão e herdeira de grande fortuna, com a chegada de um tabelião para o registro, sendo testemunhas Joseph, o mordomo e Vivaldo, o jardineiro da casa.

Vivem felizes durante certo tempo, transformando-se Howard em nova pessoa. Mais alegre, comunicativo, abrindo a mansão para conhecidos da pequena cidade e realizando notáveis festas e bate-papos, incluindo também os amigos de sua mulher. O fato de ser cadeirante não o importa, aceita melhor sua situação, graças a Dolly.

Ela continua tratando-o com o mesmo amor e carinho do início, preocupada com sua saúde e situação.

E assim  levam a vida, felizes um com o outro, até que num domingo, após voltar da missa, Dolly encontra Howard caído no jardim, com a cadeira por cima. Dá um grito desesperado, atraindo Joseph e moradores da região.

Tenta socorrê-lo, mas percebe que já é tarde. O corpo gelado e marcas de sangue pelo chão. Que teria havido, perguntam todos. Não há indícios de roubo, queda por alguma pedra ou entrave que pudesse virar a cadeira e tombá-lo. Será que tivera algum mal súbito, caindo e batendo sua cabeça no chão. Perguntas e mais perguntas que não sabiam como responder.

Joseph, assustado, chama a ambulância e, consultando Dolly, chama também a polícia.

O corpo de Howard é levado ao hospital, sendo a causa da morte uma batida forte na cabeça, causada por queda ou algum objeto de raspão, fazendo-o tombar, perdendo o controle de sua cadeira.

A situação se torna estarrecedora, com Dolly chorando pelos cantos, Joseph, murcho, calado, sem ação após a morte de seu patrão, a quem servira por tantos anos, obedecendo mecanicamente ordens da patroa que quase não saia do quarto.

Por ordem do inspetor de polícia, John Vincent, ninguém deveria deixar a casa até a solução do caso. Dolly o amava e já era dona de tudo. Joseph não trairia seu patrão, única incumbência de sua vida. Vivaldo, o jardineiro, não ganharia nada com isso. Perderia somente o emprego e o sustento da família.

Alguns amigos são chamados, mas a maioria, num domingo de manhã, possuía álibi, provando estar em casa.

Passa o tempo, muitos aparecem dando condolências durante o funeral, desaparecendo aos poucos, retomando suas vidas.

Somente Dolly e Joseph permanecem na mansão, pouco vistos, fazendo exclusivamente tarefas necessárias. A aparência de Dolly  se transforma. Toda a sua exuberância festiva agora é de uma tristeza profunda e angústia infinita. Envelhece um pouco a cada dia.

O inspetor Vincent, não achando solução para o caso, resolve arquivar o processo como morte natural, libertando os prováveis causadores daquela privacidade. Nem era preciso, pois não se via nem ouvia mais nada naquela casa.

Só Vivaldo, o jardineiro, é chamado para limpar o lixo e aparar a grama do jardim, que há muito não era feito. Acabou-se a beleza dos passeios pelos bosques floridos e trilhas iluminadas de  raios solares.

Subitamente, abaixando-se para aparar um arbusto, Vivaldo percebe um objeto estranho, e se assusta. escondido num canto, havia um pequeno revólver, bem perto de onde o patrão morrera.

Chama depressa sua patroa que, branca como cera, que chama a polícia. Encontrada uma arma na casa. Bem no jardim que Howard tanto gostava.

Novamente o inspetor Vincent vai ao local da morte, aconselhando-os a não tocarem no objeto. Embrulha-o com cuidado para não apagar digitais. Quem sabe poderia desvendar o mistério!

Providências de praxe são tomadas e após muitos dias, descobrem-se na arma as digitais de Howard. Ele tentara se matar, num momento de depressão que ninguém percebera. O único que sabia de seu estado era o médico, que não comentara nada por sigilo profissional. Era essa a causa do raspão na cabeça, seguido de queda. O tiro não acertara o alvo e ele cai batendo a cabeça. A queda causara a morte, mas a causa fora suicídio.

Como não percebera seu estado, pergunta-se Dolly, agora sim, sentindo-se culpada. Afinal, seu marido, continuava sendo seu paciente.


Joseph, mordomo de tantos anos, resolve voltar para sua casa, rever parentes, abandonando a profissão que lhe trouxera alegrias iniciais e tanta tristeza no final.

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