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terça-feira, 21 de setembro de 2021

A CARTOMANTE - Alberto Landi

 


A CARTOMANTE

Alberto Landi

 

Caterina, recém-casada e ainda desfrutando da lua de mel, foi surpreendida com uma notícia bem triste.

O casal foi separado quando irrompeu a Segunda Guerra, e ele é enviado para o fronte de batalha na Sicília. Não havia alternativa   para dizer não diante da convocação.

Ele se foi entre prantos e soluços.

Caterina, desesperada saiu à procura de uma cartomante, que por sinal, era muito famosa, que atende com hora marcada, com pagamento adiantado e de um valor bem considerável.

Ela foi cordialmente recepcionada pela mesma numa sala em um ambiente à meia luz.

— O que deseja saber minha jovem?

— O meu esposo foi convocado para a guerra no fronte, e eu gostaria de saber se ele vai retornar! Por favor, veja nas cartas e na quiromancia o que dizem.

A cartomante começou a fazer seus ensaios, como de praxe fazia com outros clientes. Jogou as cartas, olhou... analisou...pensou... repensou...

Caterina continuava apreensiva e desesperada.

— Por favor, fale logo, pelo amor de Deus!

— Minha jovem, não é meu hábito falar aos meus clientes o que as cartas e a quiromancia me dizem. É isso que me difere das outras cartomantes que existem por aí.

— Você pode aguardar na sala ao lado, que a minha secretária te levará por escrito o resultado da consulta.

 Caterina foi para outra sala, um tanto angustiada. Recebeu o envelope pela secretária e não se contendo de tanta curiosidade e desespero leu o conteúdo.

— Graças ao bom Deus, pelas boas notícias!

 A mensagem dizia:  Irás Voltarás Nunca Morrerás

Passou muito tempo, um ano se foi e a guerra se findou. Passaram-se mais dias e nada do soldado retornar.

Caterina voltou à casa da cartomante, furiosa, esbravejando, disposta a tudo.

— Calma minha jovem, calma.

— Como calma? Você disse que meu marido voltaria, onde está ele? Paguei um valor considerável e tudo que foi dito era mentira.

— Calma, deixe-me ver o papel.

— Olhe aqui!

Irá  Voltará   Nunca Morrerá

A sábia e matreira  cartomante leu e explicou:

— Minha jovem, não te enganei.

— Como não?

— A minha secretária esqueceu de colocar a pontuação no pequeno texto. Veja;

Irá Voltará Nunca Morrerá

O correto é:

Irá. Voltará? Nunca. Morrerá!

MADAME SORAYA - Leon Vagliengo

 



MADAME SORAYA

Leon Vagliengo

 

        Mario conheceu Maria em Fátima, Portugal, num dia treze de maio, na festa de comemoração do dia da aparição de Nossa Senhora. Ambos muito devotos à Santa e ambos com vinte e cinco anos, comemorados também naquele dia. Não foram atributos de beleza que os atraíram; não eram feios nem bonitos, mas a simpatia e a bondade de Maria logo cativaram Mario, assim como a gentileza e o carinho de Mario logo cativaram Maria.

        Aquela amizade resultou em casamento um ano depois, realizado exatamente no dia treze de maio, data escolhida simbolicamente por ambos. Não tiveram filhos, mas viveram felizes, muito felizes, por treze anos, quando Maria, desgraçadamente, veio a falecer, ainda jovem, aos trinta e oito anos, acometida por um enfarte fulminante.

        A perda de sua esposa, companheira e amiga de todos os momentos, deixou Mario completamente perdido, não sabia mais como viver sem ela. Sentia-se muito só, frequentemente sonhava com Maria; mas sempre a via morta, sua imagem imóvel, sua tez muito pálida, seus lábios arroxeados. Eram pesadelos terríveis, acordava molhado de suor, chorando, em desespero.

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        Ao longo de quase treze anos esses pesadelos foram rareando por artes protetoras de sua mente. Mario foi se conformando, a vida encontrou seus trilhos; mas continuava infeliz, sempre com muitas saudades da companheira maravilhosa com quem compartilhara uma vida tão tranquila, com quem vivera tantos bons momentos. Algumas vezes até pensou em procurar um médium, tentar um contato espiritual com Maria, mas logo descartava isso, pois não se coadunava com a sua crença.

        Pouco faltando para que se completassem treze anos da morte de Maria, uma noite sonhou com ela novamente; porém, desta vez ela lhe sorriu e disse que estava bem, embora em outro plano, mas sentia a sua falta e não queria que ele estivesse tão triste. “Procura uma cartomante para conhecer a tua sorte” ela o aconselhou no sonho; e esse sonho se repetiu exatamente igual ainda duas vezes naquela mesma noite, o que não era nada comum.

        Mario acordou e lembrou-se inteiramente do sonho com ela, como sempre acontecia. Achou muito, muito perturbador aquele sonho repetido. Embora fosse uma pessoa realista, não conseguia deixar de pensar que poderia tratar-se de uma recomendação vinda de Maria, vinda do Além. E imediatamente reagiu, não aceitando a ideia estranha de procurar uma cartomante em razão de um sonho. E nos dias que se seguiram, tudo acontecia novamente:  admitia tal hipótese, reagia, negava; admitia, reagia, negava.

        Após uma semana incomodado com aquela cisma que não cessava, Mario voltou a sonhar novamente o mesmo sonho: Maria dizendo que estava bem e que ele procurasse uma cartomante para conhecer a sua sorte.

Levantou-se da cama, ainda aturdido com mais uma repetição daquele sonho. Como fazia em todas as manhãs, recolheu a correspondência que o zelador do prédio deixou na porta da entrada de serviço de seu apartamento. Entre elas um folheto, onde leu: “As cartas não mentem jamais – venha conhecer a sua sorte com Madame Soraya”, seguido do endereço da cartomante.

        Assim já é demais! – Exclamou em voz alta, apesar de estar só.

        Mario, então, decidiu-se. Resolveria alguns assuntos pela manhã e iria à cartomante após o almoço. Teria que deslindar esse assunto que o estava atormentando. Afinal, pensou, “estou com cinquenta e dois anos, não devo nada a ninguém, o que me impediria de consultar uma cartomante? Que mal haveria? Seria como atender a uma recomendação póstuma de minha amada e saudosa Maria”.

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        O endereço era no bairro da Bela Vista, rua Treze de Maio. Mario logo percebeu a coincidência do endereço com aquela data tão importante para ele. Naquele contexto, parecia até mais do que uma simples coincidência, mas não quis acreditar nisso. “Estou imaginando coisas demais”, pensou.

O sobrado era simples, mas bem conservado. Mario tocou a campainha. Uma senhora de boa aparência, nem feia e nem bonita, veio abrir a porta, e ele perguntou por Madame Soraya.

        Sou eu mesma – disse ela sorrindo, revelando dentes brancos e perfeitos.

        Vim para consultá-la sobre minha sorte – respondeu Mario.

        Soraya pediu que ele entrasse e o encaminhou para uma saleta simples, com apenas uma mesa e duas cadeiras confortáveis. Convidou-o a sentar-se numa das cadeiras, pegou o baralho e sentou-se na outra.

        Eu já o esperava. Hoje eu tive um forte pressentimento, li a minha própria sorte e ela revelou que um senhor viria me consultar e mais algumas coisas...– deixou a frase no ar, sem concluir.

        Enquanto ela falava, Mario ia se encantando com aquela mulher muito bem conservada, de voz doce e suave, vestida com simplicidade e bom gosto, aparentando uns cinquenta anos. Bem diferente da imagem que tinha das cartomantes, que imaginava muito velhas, mal-educadas, gordas e desleixadas.

        Ela continuou a lhe falar, fez várias perguntas enquanto embaralhava e dispunha cartas sobre a mesa, e tornava a embaralhar e perguntar. Lendo nas cartas, aos poucos foi confirmando para Mario coisas que ele já sabia e conquistando a confiança dele nos seus vaticínios. Descobriu o sentimento de tristeza que o dominava e lhe assegurou: “a partir de hoje, treze de maio, o senhor será feliz novamente, pois assim dizem as cartas, e as cartas não mentem jamais”.

E sorriu para ele.

Mario teve a nítida impressão de que ela sabia mais alguma coisa que não contou.

Hoje é treze de maio? – Perguntou, surpreso, ao ouvi-la dizer, mas já lembrando que sim, e que era a data do seu aniversário e do de Maria.

A simples menção daquela data, tão significativa para ele, fez desencadear uma sequência de fatos em sua mente: os sonhos com os conselhos de Maria, os treze anos passados de sua morte e completados naquele dia, o endereço da cartomante, o pressentimento de Soraya...

Instantaneamente, tudo ficou muito claro! Mario sentiu, afinal, que havia compreendido os seus sonhos repetitivos, que havia compreendido as mensagens de Maria, que havia compreendido o presente póstumo de amor e carinho que ela lhe dera. O coração passou a bater muito forte e os olhos encheram-se de lágrimas, enquanto em seu pensamento dirigiu um profundo agradecimento a Maria.

Sim, para Mario ficou claro que Soraya, a cartomante, fora destinada para mudar o seu destino. E como ela disse que havia lido nas cartas a própria sorte, a sua atenção tão carinhosa deixava evidente que já sabia que seria a sua nova companheira, presente da sua amada e inesquecível Maria.

Naquele momento, de tão emocionado, Mario nem pensou na hipótese da reencarnação...

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O Visionário - Adelaide Dittmers

 


O Visionário

Adelaide Dittmers

 

A lua banhava as pedras da praça com sua luz prateada.  O silêncio espalhava-se pela pequena cidade adormecida.  Ao longe, ouvia-se o latido de um cão.

Atrás de grossa grade de ferro, um homem olhava a lua, extasiado.  Os grandes e doces olhos castanhos refletiam a inquietação, que lhe pesavam na alma.

Estava preso há um ano por ter se defendido de um soldado, que o agredira por ele expor ideias inaceitáveis na época.  Seu crime: acreditar que um dia o homem chegaria à lua.

Era considerado louco.  O clero naqueles tempos obscuros o considerava herege, mas ele não tinha medo de dizer o que pensava.  O universo o atraia como um imã.  Havia muitos mistérios a descobrir no mundo, refletia.

Naquela noite iluminada pela lua cheia, o homem não conseguia tirar os olhos do pequeno satélite.

Dentro da cela, três homens conversavam e um deles dirigiu-se ao

— O que você está olhando, Tomé?

— A lua! É maravilhosa!

— Olhe para coisas mais perto, como sair desta infernal prisão.

— Gosto de pensar que um dia o homem chegará à lua!  Disse com firmeza.

Os homens caíram na gargalhada e um deles exclamou:

— Homem, por isso está preso e o chamam de louco.  Pare de dizer asneiras.

Tomé ignorou as risadas. Estava acostumado com as chacotas de que era alvo por suas crenças.  Não se importava de ser considerado maluco.  Achava que as pessoas não enxergavam além da ponta do nariz.

Voltou-se para a janela e os pensamentos voaram para sua difícil vida.  Desde menino perguntava-se sobre tudo o que o rodeava, querendo compreender como as coisas funcionavam.  Os pais não sabiam como lidar com aquele filho esquisito e curioso, que os enchiam de perguntas.  Eram modestos lavradores, analfabetos e supersticiosos.  Tinham um pequeno pedaço de terra, onde plantavam mandioca e a curiosidade do filho os deixava muito preocupados: por que o tempo influenciava na colheita?  Por que as frutas só apareciam em determinadas épocas?  Ao ver os bois puxarem o arado, dizia que deveria ter outra maneira de se fazer isso sem usar os pobres animais.

Cresceu admirando o céu estrelado.  Sentava-se observando o firmamento infinito, que se perdia de vista.  Sentia-se minúsculo diante daquela vastidão.  Será que havia outros mundos iguais ao que vivia? Haveria pessoas naqueles mundos? Haveria rios e animais?

Foi expulso da catequese por expor suas dúvidas.  O pai então o proibiu de fazer perguntas, que considerava estúpidas.  Tomé tornou-se calado e taciturno.

Muito jovem, perdeu os pais.  Continuou a cuidar do pedaço de terra, que lhe dava o sustento, mas não conseguia estancar da alma a necessidade de expressar a torrente de suposições, que tinha dentro de si.

Imerso em suas recordações viu a aurora surgir com os tons rosados e alaranjados, que anunciam o nascer do sol.  O sono apoderou-se dele.  Como um sonâmbulo, foi trôpego até o catre e adormeceu.

Acordou sobressaltado sacudido por um guarda, que o chamava:

— Acorda Tomé!  Acorda!

— O que aconteceu? Perguntou ainda atordoado e confuso.

— Venha: o juiz autorizou sua liberdade!

Sacudindo a cabeça para ligar os fios apagados pelo sono, olhou para os companheiros de cela.  Um deles gritou:

— Vai rapaz e vê se tem juízo e não anda por aí dizendo bobagens.

Tomé derramou um olhar triste neles.  Como queriam estar em seu lugar. Podiam ser ladrões ou assassinos, mas eram humanos como ele.  Aproximou-se e despediu-se com um forte aperto de mãos.

Virou-se e seguiu o guarda.  Quando saiu, o sol já aquecia o lugar com raios dourados.  Uma carroça puxada por um burro passou, fazendo barulho ao se chocar com as pedras irregulares da praça.  Uma negra com uma cesta na cabeça também passou por ele requebrando as fartas ancas.

¨Pobre mulher¨ pensou observando-a.  Uma mercadoria nas mãos de homens ignorantes e brutos.

Estava voltando à vida, mas a mordaça, que abafava sua voz não o deixava ser completamente livre.  Era refém daquilo que enxergava ao longe, tanto quanto aquela escrava negra era por não se pertencer.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Teus lindos olhos - Alberto Landi

 






Teus lindos olhos

Alberto Landi

 

Como são lindos os olhos teus

São castanhos como os meus

Falam somente de amor

Os teus são de encantar

De uma beleza invulgar

Ao amar, mudam de cor

Quando trocamos olhares

E falamos de amor

Ficam mais brilhantes

São como da cor daquelas conchinhas do mar

Mais parecem lapidados diamantes

Esses teus olhos castanhos, meu Deus

São de um verdadeiro encanto para mim

Um encanto sem fim

Eles querem se juntar com os meus

E sempre falar de amor!

METSOVO, UM ENCANTO DE LUGAR - Alberto Landi

 




METSOVO, UM ENCANTO DE LUGAR

Alberto Landi

 

Metsovo, é uma pequena cidade turística, situada nas montanhas, ao norte da Grécia.

Era um dia ensolarado e outonal. O frio aumentava perceptivelmente. A neve amarelava sob os raios do meio dia, e no amarelidão, com uma precipitação suave e doce, a densidade alaranjada da noite, chegava mais cedo, nesse belo e romântico lugar.

O vento farfalhava a folhagem sedosa e úmida misturada à chuva morna que caía, no fim de tarde.

As casinhas de madeira com telhados bruscamente quebrados, hortas gradeadas, portões com desenhos e alizares entalhados nas janelas.

Uma casa curiosa e baixa, em antigo estilo russo. Era revestida com azulejos esmaltados, pirâmides com facetas para fora, parecido com os antigos palácios moscovitas.

Ela com aparência sempre linda, o vento esvoaçando seus lindos cabelos, com as mangas arregaçadas e a barra suspensa e presa na cintura, ela sempre me surpreendia com seu semblante majestoso e cativante, mais ainda, em cima dos sapatos altos, num vestido branco aberto com um corte, bem amplo. Ali seu encanto era maior e mais nobre ainda.

À noite, no quarto a lenha ardia dentro da imensa lareira. Havia um tapete estampado, pesadas cortinas de brocado e cores reluzentes e acima da lareira um quadro grande retratando uma voluptuosa deusa.

O fogaréu ardia na lareira, ela vestida e envolta em um vistoso casaco de lã escarlate, todinha forrada com pele, era de tirar o fôlego.

Dizia à ela:  O amor é lindo, e bela são as pessoas que o tem em mãos e sabem cultivá-lo.

A luminosidade da lua, entrava pela janela do quarto, fazendo um ambiente confortável e mais   romântico ainda.

O bem vem com o tempo, o melhor com a alma, disse.

Pela Tv assistíamos canções, era como a água de uma represa. Parece que parou, que não se move, mas, lá no fundo, ela flui continuamente e a calmaria de sua superfície é aparente.

Nas montanhas navegavam nuvens baixas de algodão com pontas dependuradas, através das quais em saltos, precipitavam-se as chuvas cálidas com cheiro de terra e suor que lavavam da terra os últimos pedaços da blindagem do gelo quebrado.

Foram essas algumas observações que fiz desse encanto de lugar!

Antonio Moura - Adelaide Dittmers

 

 


Antonio Moura

Adelaide Dittmers

 

Antonio Moura desde jovem mostrava habilidade em negociar e vender.  Na faculdade, revendia artigos esportivos para os colegas, amealhando consideráveis quantias de dinheiro, parte das quais entregava aos pais, que tinham parcos rendimentos e parte usava, frequentando bons restaurantes, em encontros com belas mulheres, roupas caras: conseguiu até comprar um carro usado.  Muito ambicioso, seu grande objetivo era vencer na vida e deixar para trás tudo aquilo que lhe faltara na infância e adolescência.

Após se formar em administração de empresas, empregou-se em uma grande empresa varejista, com lojas espalhadas por todo o país. Esperto, eficiente e trabalhador, foi galgando vários degraus na carreira e depois de alguns anos chegou à posição de diretor comercial.

Uma verdadeira raposa nos negócios, conseguia fechar vendas e compras, que deixavam os que o rodeavam boquiabertos.  Muito respeitado pelos donos da empresa, gozava de livre acesso a todos os departamentos.

A alta remuneração que recebia proporcionava-lhe um alto padrão de vida.  Usufruía com sofreguidão o sucesso, que conquistara.  Casara-se cinco anos depois de formado e tinha dois filhos. Dizia a todos que fora amor à primeira vista, mas os amigos mais próximos, que o conheciam bem, duvidavam dessa afirmação, porque a esposa era de família muito rica e de projeção na sociedade. Vaidoso, exibia sua linda mulher, como um troféu nos inúmeros eventos e festas, que frequentavam.

Na vida profissional, era muito exigente com os subordinados, que precisavam cumprir suas metas e até superá-las.  Não tolerava erros ou displicência no trabalho.  Entretanto, quando percebia que algo não estava correndo bem com algum deles, mostrava-se compassivo e interessado em ajudar com palavras de incentivo e de estímulo.  Por isso, era muito admirado e mesmo querido por eles.

Amoroso com os pais, dava-lhes uma polpuda mesada para que tivessem uma vida farta e sem preocupações.  Nunca negava esmolas e se apiedava dos menos favorecidos.  Em casa, os empregados domésticos eram respeitados e alguns deles tinham a escola dos filhos paga por ele.  As pessoas à sua volta, consideravam-no um homem correto e generoso.

Numa manhã, Antonio estava em reunião com fornecedores. Lá fora, o vento e a chuva fustigavam as enormes janelas de vidro, abafando uma discussão acalorada, que exaltava os ânimos dos participantes. Com uma voz fria e olhos faiscantes e resolutos Antonio despejava argumentos firmes em cima dos homens, cujos rostos crispavam-se de irritação.

- Meus caros, não compro nenhuma peça de seus produtos, que estão acima dos preços de mercado, se não me entregarem dez por cento da compra.

— É muito dinheiro.  Vamos ter prejuízo.

— Volto a dizer, o preço que vocês estão cobrando é o mais alto e com certeza não conseguirão vender a mercadoria a ninguém.

— Você está exagerando, Antonio, está abocanhando nosso lucro.

— Não chore, Alberto, você sabe muito bem que sua margem de lucro é alta.

— Podemos dedurar você à diretoria.

— Sairiam perdendo, respondeu Antonio, com um sorriso irônico. Com os preços que vocês têm, nunca mais venderiam nada para esta empresa, o que seria um mau negócio.

O outro balançou a cabeça desanimado.  A raiva o consumia, mas manteve o controle.  Aquela venda era muito importante para eles. Engolindo com dificuldade o desfavorável desdobramento da negociação, exclamou contrariado:

— Fechado! Damos a você os dez por cento.  Ao dizer isso, desapertou a gravata, como se esta o estivesse sufocando.

Os outros dois homens, que acompanhavam Alberto, entreolharam-se aturdidos.

Antonio disfarçou um sorriso de vitória.  Mais uma vez conseguira.

Nesse momento, seu celular tocou.  A voz que atendeu era completamente diferente, doce e suave.

— Te ligo depois. Estou em reunião.

Após os acertos da transação, os fornecedores despediram-se.  A tensão ainda flutuava pela sala.  Antonio, com um sorriso simpático, despediu-se deles com um forte aperto de mãos e uma batidinha nas costas.

— Não se zanguem.  Estão fazendo um ótimo negócio e vocês sabem disso.

Quando ficou só, olhou para a chuva, que continuava a tamborilar na janela. Pegou o celular e ligou de volta para a pessoa que lhe chamara.

— Olá querida!  Tudo bem?  Sua voz era meiga e os olhos pareciam derramar mel por toda a sala.  Era outro homem.  Rendido e apaixonado.

— Vamos ter que cancelar nosso encontro hoje. Lúcia marcou um jantar e não posso desagradá-la.  Anda muito estranha.  Parece desconfiada.

A voz do outro lado alterou-se, ao que ele respondeu:

— Nunca te prometi que iria me separar de minha mulher.  Nunca te enganei, mas você é a mulher mais importante da minha vida.

Depois de um longo diálogo, em que procurou ser o mais amoroso possível, desligou o celular.  Sua expressão era séria. Como sempre tinha sido convincente, mas nunca poderia explicar à sua amante que o dinheiro e a posição social eram mais importantes que o amor.

Pegou o paletó e saiu para o almoço.  No caminho, enviou uma mensagem para a esposa:

— Oi amor! Pode confirmar o jantar hoje à noite.  Amo muito você.

Mais adiante, encontrou o presidente da empresa. Abraçados foram almoçar, conversando e rindo animadamente.

Ela chegou - Alberto Landi

 



Ela chegou

Alberto Landi

 

 

Ela mora no Olimpo

Lá no azul do céu limpo

Toda ela é só para mim

Uma deusa tão linda assim

Que ela seja sempre bem-vinda

Aqui em meu jardim

Será sempre bela assim

Ela me inspira

E do seu bojo retira

Lindos versos de amor

Em qual templo devo reverenciá-la

A deusa com que sempre sonhei

E acabei por descobrir

Que está bem ao meu lado

Num abraço bem apertado

Na manhã que está por vir

Antes do romper da aurora

A deusa chegou de onde mora

Toda de branca e grinalda

Bordada de Ouro e esmeralda

Para o seu amado que a adora!

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

A HISTÓRIA DENTRO DA HISTÓRIA - Suzana da Cunha Lima

 



A HISTÓRIA DENTRO DA HISTÓRIA

Suzana da Cunha Lima

 

Cenário  magnífico naquele belo dia de verão em Copacabana. Porém Elias só tinha olhos para a bela moça ruiva que o seduzia com o olhar e com seu balanceio indo para o mar. “Se esta ruivinha me quiser, pensava, caso com ela.” Divagava como todo rapaz novo diante de uma bela mulher. E embora seus pensamentos voassem em direção a ela, com todas suas saborosas implicações, sentia-se inquieto com a situação do país e principalmente com a do mundo, onde a Segunda Guerra já entrava no seu terceiro ano na Europa. Agora havia um ator novo e de peso naquele cenário: Os Estados Unidos haviam entrado em cena, furiosos pelo ataque dos japoneses a Pearl Harbour, em dezembro do ano anterior.

Ele pressentia que, cedo ou tarde o Brasil ia ser forçado a tomar uma posição neste conflito, e sair de sua confortável neutralidade, pois um país do continente americano havia sido atacado por uma nação extracontinental, o que obrigava o Brasil a cumprir os compromissos assinados na Carta do Atlântico, alinhando-se ao mesmo.

Já desde fevereiro daquele ano, muitas embarcações brasileiras estavam sendo torpedeadas por supostos submarinos alemães e italianos e o presidente Roosevelt iniciara sua política de boa vizinhança, que se resumia a promessas de incentivos econômicos, temperada com ameaças veladas.    Diante das pressões diplomáticas que o deixariam isolado no continente americano, o Brasil afinal, cedeu e declarou guerra à Alemanha nazista e à Itália fascista, em agosto de 1942, permitindo a instalação de bases aeronavais ao longo de sua costa norte-nordeste e ganhando o financiamento para construção da Cia Siderúrgica Nacional.

Esta era a situação naquele ano de 1942, onde tantos e importantes eventos ocorreram. Mas naquele momento, e naquela bela tarde, onde o sol se punha, tão linda e lentamente, os pensamentos de Elias se balançavam como um pêndulo, entre os cabelos chamejantes de Solange e a possibilidade real de ser chamado a combater. Era radiotelegrafista de profissão, e dos bons.

Optou para viver aquele momento da conquista e, apesar da timidez, resolveu abordar a moça, enquanto ainda era dono de seu destino.  Depois, quem sabe, perguntava a si mesmo, guerra era o imponderável, tanto se podia sair vivo como morto.  Portanto, não ia perder a menina sem antes tentar conquistá-la.

Não foi tão difícil como lhe parecera à primeira vista. Solange já estava interessada nele e juntos iniciaram um romance fora dos padrões da época. Ela morava com tios bem idosos e a família dele havia se dispersado no interior de Mato Grosso, para onde ele nunca mais voltou.

Foi um amor tórrido e inconsequente, sem os freios da família para mostrar as consequências deste procedimento, principalmente diante da ameaça real de uma guerra. Como era fácil de prever, Solange engravidou em poucos meses.  Ela lhe deu a notícia no dia mesmo em que ele foi convocado.  Olharam-se atônitos nessa hora e lastimaram aquela guerra distante que haveria de separá-los. Foi uma despedida difícil e dolorosa para ambos. Talvez apenas naquele instante eles tomaram consciência do tamanho do sentimento que os unia e quão pesada ia ser a separação.

Enquanto muitos convocados faziam seu treinamento no Brasil, Elias foi enviado imediatamente para a Inglaterra, para treinamento especial em criptografia.  Tornou-se um dos melhores nesta área e, portanto, muito valioso. Enquanto era promovido e muito prestigiado, era ao mesmo tempo um prisioneiro, pois não podia sair daquele feio prédio cinzento às margens do Tâmisa. Parece que seu trabalho era não apenas sigiloso, mas muito importante para o desfecho do conflito. E os ingleses não queriam se arriscar a que descobrissem onde ele estava.

Enquanto isso Solange teve sua criança, uma menina ruivinha como ela.  Seus tios morreram num acidente de ônibus, e ela ficou só, naquela casa grande sem calor e amor e, distante do homem que amava.

Elias enviava muitas cartas para ela, porém passavam por uma severa censura tanto na quantidade quanto no teor e ainda tinham a trabalheira de enviá-las com carimbo da Espanha ou Portugal, países neutros.  Da mesma maneira acontecia o que vinha do Brasil. Só após muitos crivos de segurança é que ele as recebia.

 Isso o deixava muito nervoso e estava a pique de fugir dali.  Mas sabia que o dinheiro que ganhava ia ser importante para criação de sua filha e possivelmente não chegaria com vida nem na primeira esquina. Seus conhecimentos eram valiosos demais para caírem em outras mãos.

No entanto, ele não desistia da ideia de voltar para o Brasil e usou de muitos estratagemas, nem todos razoáveis. Sabia que os combatentes feridos voltavam às pátrias de origem e imaginou um meio de entrar na linha de frente e se ferir de modo que o recambiassem para sua pátria. Que doce ilusão!  Foi falando com um e outro oficial mais graduado até que conseguiu autorização para ir para a França, ajudar a Resistência francesa na decodificação das mensagens nazistas, desesperadas diante da iminência da perda da França com severas perdas em todas as frentes. Quem sabe lá, conseguiria quebrar uma perna ou braço, algo que o invalidasse para a guerra? E assim viu-se saltando de paraquedas na Normandia, no dia D, seis de junho de 1944.

Não foi nem simples nem fácil, na verdade foi uma péssima decisão.  Na descida quebrou um braço e foi, aos trancos e barrancos, buscar socorro com alguma patrulha que por ali estivesse.  Procurou primeiro seu grupo, mas ele tinha sido disperso pelos ventos e não estava interessado num brasileiro que não sabia sequer empunhar um fuzil.  Foi engatinhando pelos matos, se escondendo como podia, gemendo de dor e de frio, lamentando a enorme tolice que fizera.

Nunca tinha visto uma guerra de perto e ficou horrorizado com tanto sangue, gritos, mutilações e pelo barulho infernal das bombas e canhões. 

Bateu o medo. O medo horrível de acabar morrendo em terra estrangeira, sem nem saber bem por que estava lutando.  Pior, morrer sem ver sua filhinha e conseguir voltar para sua pátria e seu amor.  

Os jornais noticiaram aquele desembarque como uma incursão ao inferno.  Milhares de homens se esgueirando pelas praias, as casamatas alemãs cuspindo fogo e morte, o céu pontilhado das luzes mortíferas das bombas.

Porém Solange, em sua casinha abrigada no Brasil, só tomou conhecimento do horror daquele dia, ao receber uma carta do Comando Militar, aquela temida carta que as mulheres dos combatentes se aterrorizavam só em pensar e que começava sempre com “Lamentamos...

Sua contribuição para o esforço de guerra, como se dizia, foi ter que criar sua filha e enfrentar a vida sozinha. 

 

O Massa - Suzana da Cunha Lima

 


O Massa

Suzana da Cunha Lima

 

Massa era o apelido de um inglês grandão, mais de 1,90, corpulento, habilidoso e com grande senso de humor. Bem jovem ainda, havia lutado na Primeira Guerra Mundial e se destacado bastante. Vinha de família camponesa, mas já estava saturado daquela vidinha sem graça no campo, entre ovelhas e feno, respirando monotonia. Como gostara da experiência em campo de batalha, resolveu fazer carreira nas Forças Armadas e conhecer outros lugares e outras experiências.

Em 1939 a Europa viu-se mergulhada outra vez no turbilhão de uma guerra global e após a ocupação de grande parte da Europa pelas tropas alemãs, ficou claro que somente uma invasão em grandes proporções conseguiria devolver as terras europeias aos seus legítimos donos.  Nestas alturas, os alemães sabiam que ia haveria a invasão, mas não sabiam onde nem quando. Era um dos segredos mais bem guardados da época.  O comando aliado achou por bem espalhar inúmeras pistas falsas. Uma delas era fazer crer que a invasão seria dar pela Sicília. Treinariam um soldado carregando documentos secretos e aí é que entraria o Massa, que se apresentou como voluntário.  Era uma missão quase suicida, muito perigosa.   Fizeram um rápido treinamento. Entre os preparativos estava a colocação em seus dentes um chip com a localização da invasão: Sicília. E em outro dente, uma cápsula de veneno, caso não aguentasse a tortura.  Ele ia saltar de paraquedas na Itália e fazer chegar à resistência os novos planos de desembarque.  Mal chegou ao chão foi capturado.  Levado para o acampamento dos nazistas, foi torturado e recebeu tanto soco que acabou sem dentes.  E aí observaram dois dentes diferentes, ocos. Um continha veneno e outro a palavra Sicília. E com isso nas mãos, já iam matá-lo quando o médico chefe não permitiu.  

- Mandem avisar que há um novo plano de desembarque em curso e deve ser pela Sicília.  Só pode ser verdade, pelo tanto que ele aguentou e nem tomou o veneno. Olhe o tamanho do homem, gente. Deve ser coronel, pelo menos. Eu vou colocar dentes novos nele, cuidar dos ferimentos e depois extrair mais informações úteis para nossa guerra. 

Assim foi feito e o Massa reagiu bem, ficou quase bom.  Aí, quando deu uma chance ele tratou de fugir. Quase perto do acampamento dos aliados, foi capturado por uns seis jovens e assustados soldados.  Custou a se livrar deles e se identificar como inglês, ou seja aliado.  Assim mesmo foi levado ao acampamento e teve que se explicar ao comandante local.  Custaram a acreditar que sua dentadura não fosse natural e que sua história fosse real.   

Não ficou sabendo se o falso desembarque na Sicília ajudou no esforço de guerra, mas soube das tremendas dificuldades enfrentadas pelos aliados na praia Omaha.  Ainda quis ir para o palco dos combates, mas nunca se recuperou totalmente de seus ferimentos e foi levado de volta para a Inglaterra.  Até morrer contava a história da Sicília sempre acrescentando coisas novas, e morreu contente, convencido de que tinha contribuído muito para despistar o verdadeiro local para o desembarque dos aliados, na famosa operação Overlord.

A BALANÇA DA FELICIDADE - Suzana da Cunha Lima

 


A BALANÇA DA FELICIDADE

Suzana da Cunha Lima

 

Estava extremamente desgostosa consigo mesma. Segunda-feira é dia de se começar algo, pensou. Foi para a aula de Pilates a pé, descendo a ladeirinha animada, para queimar os excessos do final de semana.

Quando retornou, esbaforida do duplo esforço, deu o almoço para o filho e a cunhada que tinha ido visitá-la. Muita risada, comida boa e sobremesa feita em casa: cidra com coco.  Resistiu ao doce. Depois que eles se foram, resolveu arrumar o armário. Metade da roupa já não usava mais. Engordara alguns bons quilos nos últimos meses, tinha pouca coisa agora que lhe servisse.  Olhou desolada a montanha de roupas imprestáveis em cima da cama, terríveis juízes da derrocada de sua silhueta.

- Como deixei isso acontecer, pensou, ficando com raiva dela própria pelo relaxamento.

Nem quis subir na balança. Vou ficar com vontade de bater em mim mesma.  Mas, tinha que viver sua vida com aquela outra pessoa que se apossara de si, antes tão esbelta e faceira.

Não teve mais ânimo de remexer as gavetas.  Fica para o outro dia, pensou.  Subir a ladeira duas vezes já lhe tinha levado o fôlego e amor-próprio.

Será que não há nenhuma pílula milagrosa que derreta para sempre o pneu que arranjei em volta de minha linda cinturinha?   Sabia que não havia.  Pensou no procedimento da bolsa no estômago.  Já estava pensando seriamente nisso há algum tempo.  Vou comer pouco, quer queira ou não.  Aí o estômago diminui e a vontade de comer também.

Não houve médico que quisesse fazer a tal cirurgia.  Era muito nova e nem tantos quilos a mais possuía. É questão de força de vontade – diziam – coma mais vezes e pouco. E faça exercício, tome um pouco de sol.  Preencha seu tempo para não pensar em comer, e tudo ficará bem.

Mas não ficou.  Ao estacionar o carro, baqueou, ainda sentada. Um AVC!  Felizmente, o vizinho de vaga notou algo errado com ela, com a cabeça caída ao volante.

Foi um corre-corre!  Quem veio primeiro foi o filho que morava próximo, Providenciou a ambulância e só de lá informou aos irmãos e ao marido;

Quinze dias de coma, não sabiam se ela voltaria e, se voltasse, quais seriam as sequelas.  Mas ela voltou.  Abriu os olhos, e viu o marido ao lado da cama, cochilando. O relógio marcava três da tarde. O que tinha havido? Desconfiou que estivesse num hospital, mas o que fazia ali?

Mexeu mãos, braços e pernas. Será que me acidentei, pensou?  Tudo em ordem.  Estava com um braço no soro, nada mais.  Passou a mão no rosto, não tinha bandagens, não doía. 

Seja lá o que for, pensou – estou inteira, que bom! O marido acordou com o barulho dela se remexendo e deu um largo sorriso ao vê-la de olhos abertos, olhando para ele interrogativamente.

- Ah, meu bem, que bom que acordou!  Belo susto nos deu.  Como está se sentindo agora?

- Beleza, amor.  O que aconteceu? O que faço aqui?

- Você teve um AVC no carro, na garagem. Ainda bem que o vizinho de vaga notou algo errado e alertou a portaria que pediu uma ambulância. Foi isso. Mas agora você já acordou e parece muito bem.  Vou chamar o médico para lhe dar alta. Vamos para casa!

A enfermeira ajudou-a a se vestir enquanto o médico assinava a alta com um monte de recomendações.

Quando se olhou no espelho, assustou-se com a cara abatida, meio chupada.

- Meu Deus, o que é isso? Pareço uma velha.

- Que velha que nada – animou-a o marido.  - O que está é bem enxuta.  Veja que o vestido está solto, você emagreceu muito nestes quinze dias.

- Nossa, é mesmo! Quase gritou de contentamento. Valeu mesmo! Vamos para casa meu bem, quero ver quantos vestidos agora me servem.

Ele riu, contente e aliviado, observou ela colocar um batom e escovar a cabeleira. Parecia uma mocinha.

Ela não cabia de tanta felicidade.  O médico deu-lhe alta com um monte de recomendações e remédios, mas ela não se importou nem um pouco.

Chegaram em casa felizes. O marido tinha providenciado comida chinesa, que ela adorava e um bom vinho, para festejar sua volta.

Mas, inacreditavelmente, ela estava completamente sem apetite.

E assim os dias se seguiram, ela totalmente inapetente, e se sentindo cada vez mais fraca. Teve que ir algumas vezes tomar soro e, se submeteu a alimentação endovenosa.

Estava magrinha sim, até bonita, mas fraca e sem vontade de fazer nada.

E agora? O que será que vale mais na vida?

O que vai pesar mais na balança da felicidade?

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...