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quarta-feira, 21 de setembro de 2022

RUA QUINTINO BOCAIÚVA - Henrique Schnaider

 

RUA QUINTINO BOCAIÚVA

Henrique Schnaider

 

Houve um tempo em que as ruas de São Paulo eram conhecidas pelo nome dos seus moradores e a Rua Quintino Bocaiúva que inicialmente era conhecida pelo nome de rua do Padre Tomé, pois o Cônego Tomé Pinto Guedes residiu nela por volta de 1765, e que só se tornou com o nome de Quintino Bocaiúva em 1916.

Com o tempo também ficou conhecida como rua da Cruz Preta, pois na esquina com a antiga Rua da Freira, agora conhecida como Senador Feijó, ergueu-se uma grande cruz de madeira pintada de preto.

As famílias tinham o costume de fazerem verdadeiros terços em frente a Cruz Preta e dezenas de famílias faziam suas orações e veneravam e acreditavam que ela tinha poderes e até realizava milagres.

— Eu sou uma casa que foi construída aqui nesta Rua há muito tempo. O meu pai construtor foi Dom Agnelo. Ele me construiu com muito capricho, confortável, grande, tanto que eu acomodava uma família de umas vinte pessoas. E com o passar do tempo, presenciei muitas histórias nesta Rua Quintino Bocaiuva.

Lá pelos anos de 1.900 a rua era de terra batida e só eu sei que quando aconteciam aqueles temporais ou chuvas prolongadas, o lamaçal que virava a minha querida Rua, era de chorar de ver. Os cavalos vinham puxando suas carroças com um esforço enorme, arrastando e atolando uma pata depois da outra, mas apesar da irritação, não deixavam de me cumprimentar com um bom dia ou boa tarde.

Certa ocasião, um grupo de estudantes que gostavam de fazer traquinagens, pegaram a Cruz Preta de madrugada levaram e a jogaram no Rio Anhangabaú, e só por milagre a mesma não foi arrastada pela correnteza, mas ficou ali fincada enfrentando aqueles moleques travessos. Don Agnelo montou uma equipe de busca e acabou achando a Cruz Preta no rio e a levaram de volta ao seu devido lugar.

— Na minha rua havia de tudo. A casa pensão onde as pessoas iam comer era gorda uma verdadeira bola.

A casa do comércio onde havia de tudo e se achava a tal de tão metida que era, a dona da rua. A casa onde vendiam as roupas de mulheres chiques. Esta casa era fina e tinha até nome francês e eu diria que ela era até meio esnobe.

Tinha a casa boteco onde os moradores depois da lida do dia paravam antes de se recolher ao lar e tomavam sua cachaça de boa precedência. Esta era uma casa que vivia devido à quantidade de bebida, meio de cabeça cheia.

— Tinha a casa das mulheres de vida fácil, cheia de dondocas, esperando seus clientes, os quais vinham as dezenas. Esta casa de nome Renata, tinha uma reputação muito baixa e eu como uma casa decente não trocava uma palavra com ela.

A Cruz Preta voltou ao seu devido lugar, aumentou a fama devido ao fato acontecido e vivia cheia de devotos fazendo suas orações.

O meu pai construtor me cuidou muito bem e até o seu falecimento, e a cada 10 anos me reformava por completo. Seus netos continuaram com esta missão, de sempre me deixar em perfeita ordem, muito bonita.

— Bom eu já contei muita coisa envolvendo a Rua Quintino Bocaiúva e agora vou aproveitar antes que escureça e o silêncio aconteça, vou puxar uma prosa com as minhas vizinhas que me aguardam ansiosas.

— Até logo e até qualquer outro dia, sempre estarei aqui à disposição.

 

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

A CRUZ E OS DESEJOS - Helio Fernando Salema

 

A CRUZ E OS DESEJOS

Helio Fernando Salema

Esta história é baseada em um dos muitos fatos registrados sobre uma rua que durante cerca de 200 anos passou por vários nomes, hoje Rua Quintino Bocaiúva.

 

Imaculada era uma jovem belíssima, a pele clara e suave como um lírio, emoldurada pelos cabelos louros ondulados e olhos azuis brilhantes, lembrando o sol de primavera ao raiar anunciando o amanhecer. Morava próxima a CASA DA CRUZ PRETA. Seus pais, severíssimos em todos os sentidos não deixaram que ela continuasse os estudos, pois como era muito bonita, era, logicamente, muito cobiçada por jovens estudantes que não trabalhavam. Para eles nenhum estudante tinha um bom futuro para sua filha.

 A CASA DA CRUZ PRETA era uma residência sobradada que possuía uma grande cruz pintada de preto fixada na parte da frente. Ninguém sabia a origem nem a razão daquele símbolo. Ali residia uma outra jovem, também muito bonita e admirada pelos seus dotes sensuais. Principalmente quando debruçava na janela exibindo seu farto e belo colo para os estudantes que ali passavam e, não se extenuavam em admirar aquela morena de olhos castanhos, longos cabelos pretos e vermelhos lábios jorrando desejos.

Todos os dias no início da noite, Imaculada olhava para a CRUZ PRETA e rezava implorando por um namorado. Certa noite, demorou para fazer os pedidos e, ao olhar para a CASA DA CRUZ PRETA viu um rapaz que a escalava e, em poucos segundos, conseguiu penetrar pela janela com auxílio da cruz. Ela sabia que era o quarto daquela jovem morena que ficava na janela todas as noites, chamando a atenção dos que por ali transitavam, alguns por necessidade e outros para maravilhar-se com aquela imagem de prazeres.

Imaculada percebeu que o rapaz escalava aquela casa algumas noites toda semana, mexendo com os seus pensamentos e sonhos reprimidos de desejos. Olhando atentamente para aquela janela, solicitava a todos os anjos que colocassem uma cruz perto de sua janela. Talvez assim, pudesse realizar o que ela imaginava, que naquele outro quarto estaria acontecendo. Fecha a janela e, deita sentindo como seria se fosse com ela.

Sem nenhuma explicação comprovada, porém muito comentada, surge a notícia de que a CRUZ PRETA sumiu…. Ou foi levada? Este babado” provocou muitas conversas.  Na rua e dentro das casas.  Vários problemas do cotidiano deixaram de existir naqueles fervidos dias, por conta do tal desaparecimento.

Temendo por outros extravios, várias pessoas sugeriram contratar um vigia. Um senhor conhecido como Sebastião Mulato, aceitou a incumbência. A partir de então, a jovem da CASA DA CRUZ PRETA ficava toda noite à espera do seu amor, mas com a presença do vigia… A exemplo da CRUZ PRETA…. Desapareceu.

Imaculada continuava a olhar para o local onde ficava a cruz que se foi e, insistia, fervorosamente, nas orações para todos os santos inclusive Santo Antônio. Sua devoção não se abalou com a ausência da cruz.

Sebastião Mulato, numa noite muito fria, pediu ao seu filho Ricardo para fazer a vigília em seu lugar. O rapaz muito moreno, alto, forte, bem aparentado e obediente não recusou o pedido do pai.

No início da noite, Ricardo ao aproximar-se da casa da Imaculada, logo percebeu a presença da jovem ardente, que de sua janela o seguia com um olhar fixo. Sentiu um arrepio, mas não era de frio e, vindo daquela direção. Passou olhando atentamente e, cumprimentou… Parou… E continuou emitindo seu olhar em busca daquela exaltada vibração que vinha daquela bela jovem.

Ricardo caminhou até o final da rua muito pensativo, voltou pisando suavemente sobre os cascalhos que cobriam o chão de terra, para não fazer nenhum barulho que pudesse acordar e aborrecer qualquer morador, especialmente, daquela casa da moça loira cativante.

Próximo da casa, percebeu que ela o acompanhava com um belo olhar, ao aproximar-se sentiu que era ainda mais sedutor. Em frente à casa parou… E com a mão direita aberta sobre o peito:

— Meu coração lhe ofereço!

Com um sorriso sedento de desejos:

— Obrigada. Eu aceito.

Ele pede para que ela desça… Mas ela explica que não pode sair, pois a porta está trancada. Passados alguns segundos ela explica que seu pai dorme. Ricardo pensa… Medita… E diz que vai subir até a janela. Ela se espanta… E com um sorriso longo demonstra ser favorável à ideia. Ele percebe que não vai conseguir. Avisa que vai buscar uma corda e pergunta se ela tem onde amarrar. Ela olha para dentro do quarto e, ao virar-se, confirmar que sim.

Poucos minutos depois Ricardo chega com a corda e encontra a janela fechada. Sem saber o que fazer, suspira fundo… olha para os lados... Ouve um barulho… Assustado percebe a janela se abrindo e, para sua surpresa… Imaculada aparece vestida com uma linda e branca camisola.

Ele arremessa a corda, ela não consegue pegar… Insiste algumas vezes… Finalmente cai nas mãos dela, que segura firme, abaixa-se e consegue amarrar no pé da cama, que ela encostou na parede para dar mais firmeza. Devolve para ele a ponta da corda. Percebendo que parecia estar bem firme, começa a escalar com todo o cuidado para não fazer barulho.

A janela é fechada. O silêncio domina aquela rua. Naquele quarto finalmente, dois corpos comungam-se. Desejos libertados e consumados.

Antes do dia clarear, Ricardo chega a sua casa. Os pais ainda dormem e, satisfeito pelo dever cumprido, deixa-se jogar na cama, acompanhado pelas lembranças da outra cama, que acalentam seu sono e lhe proporcionam agradáveis sonhos.

Mais tarde, ao acordar, seu pai lhe pergunta como foi o trabalho durante a noite. Um pouco sem jeito e pensativo, diz que correu tudo bem. Porém, o velho percebeu que alguma coisa, certamente, muito estranha aconteceu. Olha bem nos olhos do filho e insiste na pergunta. Ricardo, gaguejando, começa a relatar a tranquilidade da rua durante toda a noite, mas diante do olhar do pai, que demostrava esperar por alguma surpresa, então resolve falar da moça que ficava na janela. Aos poucos e com muita emoção conta-lhe tudo.

Após o término do relato, seu Sebastião pede para que o filho arrume suas coisas enquanto ele prepara o cavalo… E complementa:

— Ela é filha do Capitão Pedro. Ele ao saber não vai perdoar você. É bom que você esteja bem longe para viver sua vida.

No início da noite, seu Sebastião saiu para fazer a vigília. Não nota diferença alguma das outras em que ele trabalhou. As moças continuam nas suas janelas no início da noite, ele as cumprimenta, elas respondem. Mais tarde todas as janelas se fecham.

Depois de algumas semanas, seu Sebastião notou que à noite todas as janelas estavam fechadas e assim permaneceram. Tudo parecia transcorrer normalmente naquelas redondezas, como se o relógio do tempo estivesse parado ou nunca houvesse existido.

Na casa do Capitão Pedro, no entanto, algo muito estranho agitava aquela família. A filha única, Imaculada, queixava-se de incômodos na barriga, tonturas e um pouco de enjoo. Sua mãe logo desconfiou, mas não acreditou. Sua filha nunca saiu sozinha e nem ficava a sós em casa. Nenhum homem frequentou a casa nos últimos meses, nem mesmo os parentes que moravam distante.

Aproveitando que o marido saiu para uma viagem e tinha avisado que só chegaria tarde da noite, falou para a criada que iria comprar algumas coisas. Pediu para que esta trancasse a porta, não abrisse para ninguém e não acordasse a Imaculada.

Andando um pouco apressada, chegou rapidamente à casa de D. Odete, parteira da região. Ao ser recebida pediu para conversarem à sós. Foram para um cômodo onde puderam conversar tranquilamente. Explicou o que se passava com a filha e que gostaria que ela fosse até lá para ver o que se passava com a Imaculada. Pediu que fosse somente ao final da tarde quando só ela e a filha estariam na casa.

Depois de examinar a moça, D. Odete com a sua costumeira espontaneidade, afirmou que em breve nasceria uma criança. Não houve espanto, como se mãe e filha só precisassem de uma confirmação.  Quando Capitão Pedro chegou, todos já dormiam.

Na manhã seguinte levantou bem cedo e avisou que tomaria café rapidamente, pois teria que sair. Assim que se sentou à mesa, sua esposa o surpreendeu ao sentar-se à sua frente e olhar atentamente em seus olhos. Percebendo que aquela atitude era novidade, logo pensou em notícias ruins e foi dizendo:

— Fala logo, que tenho pressa.

— Tenha calma…. Você precisa de muita calma, pois é uma notícia desagradável.

— Então diz logo! Respondeu, como sempre, rispidamente.

— Imaculada vai ter um filho!

Punhos fechados, rosto vermelho e olhos esbugalhados:

— Como aconteceu? Quem foi o desgramado?

Calmamente a esposa explica que não adianta nada ele fazer o que já fez inúmeras vezes. Mandou muitos para o cemitério, mas as almas ficaram para atormentar a vida e o sono dele. Lembrou-lhe que Imaculada é a única filha e, quem vai nascer, talvez seja o único neto ou neta e, certamente, não irá perdoá-lo pelo que ele vier a fazer com o pai. O Capitão pensa…. Suspira…. Levanta pensativo e silenciosamente sai.

Alguns meses depois, seu Sebastião saiu de casa para fazer a vigília e, ao passar perto do rio vê várias pessoas aglomeradas à margem. Ao aproximar-se fica sabendo que a CRUZ PRETA foi encontrada. Um pescador viu parte da cruz na lama resultante da seca que assolava a região há muitos meses. Alguns queriam levar a cruz em procissão até a Igreja, acreditando que assim poderiam ser abençoados com boas chuvas.

A noite foi escurecendo, seu Sebastião fazendo seu trabalho e, na casa do Capitão a D. Odete atenta às reações da Imaculada. Quando uma multidão, cantando hinos de louvor passavam em frente à casa, carregando a CRUZ PRETA, D. Odete ergue nos braços uma linda menina, muito moreninha e chorosa… Olha para Imaculada:

— Que nome você dará a esta encantadora menina?

— MARIA DA CRUZ!

 

terça-feira, 13 de setembro de 2022

ERA DUAS VEZES O BARÃO LAMBERTO - GIANNI RODARI

 ERA DUAS VEZES O BARÃO LAMBERTO

GIANNI RODARI



 No meio das montanhas fica o Lago Orta. No meio do lago, mas não bem no centro, fica a Ilha São Júlio, e dentro da Ilha de São Júlio fica mansão do Barão Lamberto, um senhor muito velho (ele tem 93 anos), ele é muito rico (ele tem 24 bancos na Itália, na Suíça e em Hong-kong etc), e que vive doente. Ele tem 24 doenças e só mordomo Anselmo se lembra de todas elas. Elas estão anotadas no caderninho em ordem alfabética: arteriosclerose, asma, atrofia deformante, bronquite, cistite e assim por diante. Até o z de zonzeira.  Ao lado de cada doença, O mordomo anotou os remédios para tratá-la, as horas do dia ou da noite em que devem ser tomados, os alimentos permitidos e os proibidos, as recomendações médicas: "Regular o açúcar que ataca diabetes", "Evitar emoções, as escadas, as correntes de ar, a chuva, o sol, a lua"... De A a Z, Lamberto padece de tudo um pouco.

Quando chega o Inverno, os velhos ossos do Barão têm por hábito ir apanhar o sol do Egito. É lá que se dá o encontro com o curandeiro árabe que lhes fornece a cura para todos os males do velho. “O homem cujo nome é pronunciado permanece vivo”.

Então, um belo dia, chegaram a sua mansão mais seis empregados, contratados por um alto salário para ficar dia e noite repetindo o nome do barão. O trabalho era simples, mas muito, muito estranho! O segredo guarda-se no sótão, onde passam a viver umas quantas criaturas contratadas exclusivamente para invocar, dia e noite, o santo nome: - Lambeeeerto, Lam-ber-to, Lambertooooo...

Pelo meio, há um desfile de personagens: É o caso de Otávio, o sobrinho protótipo do escroque que anseia a morte do tio para herdar a grande fortuna,  ou dos 24 bandidos, todos de nome Lamberto, que exigem 24 milhões da fortuna do velho barão.

Pois bem, este livro conta a história do barão Lamberto que era um homem muito velho, muito rico e muito doente, graças a um remédio egípcio muito antigo, vê a sua saúde melhorar consideravelmente, entre outros efeitos surpreendentes.

 

O jornalista e escritor Gianni Rodari (1920-1980), ganhador do prêmio Hans Christian Andersen, foi considerado um dos melhores escritores de literatura infantil, Neste livro aprendemos que as palavras são, afinal, brinquedos. É com estes brinquedos que podemos exercitar o maravilhoso poder de inventar.


 LEIA ESTE LIVRO NA ÍNTEGRA - CLIQUE AQUI

 

Vamos fazer uma releitura do tema abordado pelo Professor Gianni Rodari?

Escolha uma das duas alternativas abaixo:

 

1.  Escrever um conto do Barão Lamberto. Ele tem uma doença bem estranha, que será umas das 24 listadas pelo mordomo. Que o seu texto tenha um teor cômico.

 

2.  Escrever um conto sobre um possível interesseiro na fortuna do Barão, um dos 24 já interessados. Que a história tenha um teor de suspense.

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

O julgamento - Adelaide Dittmers

 


O julgamento

Adelaide Dittmers

 

Sentado em um banco de madeira, olhos castanhos e tristes, que vagavam pelo ambiente sem nada enxergar, cabelos grisalhos bem tratados e impecavelmente penteados, o homem tamborilava com dedos nervosos uma pasta em seu colo, tentando descarregar com esse gesto a agitação que lhe movia a alma.  De vez em quando, contraía as pálpebras e balançava a cabeça de um lado para outro, como se quisesse negar o que lhe estava acontecendo.

Tudo parecia um pesadelo do qual não conseguia despertar.  A acusação de lavagem de dinheiro de que era alvo e que o enredara totalmente e a espera por seu julgamento, que aconteceria daqui a uns instantes tomava os seus sentidos.

 Tentava entender como tudo tinha chegado a esse ponto. Fora sempre um empresário honesto, cumpridor das leis.  Tinham descoberto uma loja em seu nome, que servia para tornar lícito dinheiro vindo de negócios ilícitos. Nunca possuíra tal loja nem sabia de sua existência.  Nos documentos constava sua assinatura como proprietário, mas ele não tinha assinado aqueles papéis. Quem o teria metido nesse imbróglio? Tinha um grande amigo, que era deputado federal, mas o considerava uma pessoa idônea e ele fora o primeiro a apoiá-lo, quando veio a intimação para ele depor.

Um homem alto e elegante aproximou-se dele.  Era Ricardo, seu advogado e amigo de muitos anos.  Bateu em suas costas para lhe transmitir coragem e apenas com um meneio de cabeça, avisou-o de que o  julgamento ia começar.

Entraram no tribunal.  Estava lotado.  Flashes espocaram pela sala.  Procurando desviar o olhar das luzes, tentava encontrar a família no meio das pessoas.  Finalmente os achou: dois filhos, um rapaz e uma moça, o irmão e a esposa estavam sentados um ao lado do outro. Percebeu no rosto de sua mulher ansiedade e angústia.  Aquela companheira de tantos anos estava sofrendo tanto ou mais do que ele.  Lançou-lhe um olhar terno para consolá-la e transmitir que estavam juntos.

O julgamento começou.  O promotor em seu discurso inflamado trouxe várias provas e a assinatura que o comprometiam como proprietário da loja.

Pedro olhou para o advogado desesperançado, que levantou a mão, pedindo-lhe calma. Tudo estava contra ele.

Como para se proteger, de repente, ele se desligou do que estava à sua volta e mergulhou em seus pensamentos: a luta pelo progresso financeiro, que lhe custou anos de intenso trabalho e dedicação.  A conquista alcançada com o suor de seu rosto.  A compreensão e apoio de sua mulher, que muitas e muitas vezes ficara sozinha na direção da casa e educação dos filhos, para que ele pudesse alcançar seus objetivos. Será que foi certo deixá-la só, quando envolvido em reuniões até tarde da noite ou quando em viagens freqüentes pelo mundo afora. Marta sempre foi uma mãe dedicada e amorosa.  Muitas vezes substitui-o em seu papel de pai.

A voz forte do advogado o acordou de suas divagações.  Com perspicácia ele refutava todas as acusações que lhe eram atribuídas.  Porém, Pedro não acreditava na sua absolvição. Tudo apontava para ele.

O advogado chamou uma testemunha.  Ele se espantou.  Era o jardineiro de sua casa.  O que ele poderia saber? 

O homem simples sentou-se no banco das testemunhas.  Visivelmente nervoso olhou para o patrão e para a audiência.  Ricardo pediu-lhe para descrever o que acontecera em uma manhã, em que trabalhava no jardim.  Com voz trêmula, ele disse que João Oliveira, deputado e amigo do patrão esteve na casa, ficando lá por longo tempo e que, em certo momento, vozes alteradas foram ouvidas. Uma empregada veio juntar-se a ele, assustada com a discussão que se passava na sala. Não conseguiram ouvir o que diziam, mas perceberam que acusações estavam sendo trocadas.

— O senhor se lembra de quando foi isso?  Inquiriu o advogado.

— Acho que mais ou menos uma semana antes da gente saber que o doutor estava sendo acusado.

Pedro olhou espantado para o advogado.  Não sabia do que se tratava.

Mas quem estava discutindo? Indagou o advogado.

O jardineiro baixou a cabeça constrangido.

— Dona Marta e o deputado.

O acusado encarou a mulher.  Nunca soube dessa discussão e o porquê.

Marta desviou o olhar.  Uma careta de surpresa deformou os bonitos traços do seu rosto.

Ricardo então continuou.    A voz acalorada e firme ecoava pelo tribunal.  Investigara o deputado e descobrira que era conhecido no meio político pelo seu envolvimento em muitas falcatruas e que nos últimos tempos se encontrara muitas vezes com Marta.

Um vozerio sacudiu a sala do tribunal.  O juiz pediu silêncio.

Marta foi então chamada para depor. A palidez do rosto e um leve tremor nas mãos denunciavam medo e ansiedade, que procurava disfarçar, mantendo a cabeça ereta. 

— A senhora confirma que teve uma discussão com o Sr. João Oliveira, conforme o testemunho do Sr. Severino da Silva?

A mulher ficou em silêncio por uns segundos e dirigindo um olhar angustiado para o marido, respondeu:

— Sim, João e eu discutimos. Ele queria envolver Pedro nos seus negócios escusos, por meu intermédio, mas eu não queria isso de maneira alguma e tentei dissuadí-lo, com todas as minhas forças...

 Interrompendo o depoimento da mulher, a voz de Pedro ressoou na sala como um trovão, que explode em uma tempestade.

— Marta não tem nada a ver com isso.  João me pediu para assinar documentos para livrá-lo de uma enrascada em que tinha se metido.  Não sabia ao certo do que se tratava.  Ele me afirmou que não era nada que poderia me comprometer.  Acreditei nele. Conhecia-o desde criança e nunca me passaria pela cabeça que iria me envolver em um negócio sujo.

O caos se instalou no lugar. Todos falavam ao mesmo tempo. O olhar de espanto do advogado caiu sobre ele.

— Chega! Estou pronto para pagar por meu erro.  Disparou, olhando para seu defensor e fiel amigo.

Antes de sair do tribunal, lançou um olhar para os filhos, que se abraçavam chorando. Abaixou a cabeça para esconder uma lágrima que teimosa descia pelo seu rosto.

Dias depois, na cela, Pedro lia um livro e de vez em quando, levantava os olhos, que  perdidos vagavam pelas paredes amareladas do pequeno cubículo.  Uma batida nas grades o acordou de seus devaneios.  Um guarda estava abrindo a cela e o avisou que uma pessoa o esperava na sala, onde podiam receber visitas.

A surpresa estampou-se em seu rosto quando viu sua esposa.  Sentou-se à sua frente.  O olhar firme encarando Marta.  Ela baixou os olhos e com uma voz fraca, perguntou-lhe como estava.

— Como um homem que perdeu a liberdade! Respondeu secamente.

— Mas por que você admitiu sua culpa? 

— Pelos meus filhos!  E com voz pausada, desafogou tudo o que tinha no íntimo.

De repente, quando ela fez o seu testemunho, uma luz atingiu sua compreensão.  A freqüência de João em sua casa.  Os jantares enquanto ele viajava.  A proximidade dele com ela.  Tudo foi se encaixando e foi fácil de deduzir que os dois estavam juntos e que ela estava envolvida no esquema. 

— Me perdoa, por favor!  Eu estava sempre sozinha.  Ele me apoiou muitas vezes e devagar fomos nos aproximando cada vez mais.

— Me poupe dos detalhes. Já disse que me acusei pelos meus filhos, porque, apesar de tudo você sempre foi uma boa mãe e sei que eles a amam e a admiram muito.  Mas perdoar você, não! Falsificaram minha assinatura, usando-me para lavagem de dinheiro.

— Mas eu não queria envolvê-lo, lutei contra isso.

— Mas, envolveu!

Marta encolheu-se na cadeira.  Era como se a culpa que carregava tivesse diminuído seu corpo e dilacerado sua alma,

Pedro a fitou com um misto de pena e raiva.  Também se sentia culpado por tê-la deixado de lado e colocado o trabalho e ambição em primeiro lugar.

Levantou-se lentamente. Ela segurou o braço dele, tentando detê-lo.

— Por favor, me deixe agora.  Ricardo vai me tirar dessa embrulhada.  Poupei você, mas o João vai pagar pelo que me fez. Trovejou ele. 

— E não me procure mais!

Voltou-se, acenando para o policial, para transmitir-lhe que podia levá-lo de volta à cela.

 

                                                            

                                                            

 

          

 

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Não foi um dia qualquer - Hirtis Lazarin

 



Não foi um dia qualquer

Hirtis Lazarin

A noite foi longa e o sono não vinha. A ansiedade tinha razão. No dia seguinte, minha primeira entrevista de emprego.

Um terninho clássico, cabelos presos e um brinco de pérolas miúdas era o meu “look”. “Discrição”! - Conselho de mãe.

O ônibus estava quase vazio e meu pensamento cheio de incertezas. Treinei uma série de respostas, nada de improvisação na hora da entrevista. Era assim que eu pensava.

Desci do coletivo e só, então, percebi que nuvens cinzentas e pesadas se juntavam. Era chuva pesada que cairia. E logo.

Mal percorri alguns metros e a tempestade desabou.

Abri a bolsa, mas cadê a sombrinha?

Corri em busca de um abrigo. Não deu tempo. Um vento forte e indiscreto despiu-me quase por inteiro. A água escorria pela rua e pelo meu corpo.

Senti dó de mim...

Não sei se por vergonha, desespero ou irritação, sentei-me na calçada. Tomei consciência: perdi minha primeira chance de trabalho. E eu tinha certeza de que tudo daria certo.

Na rua, o fluxo de carros aumentou. Buzinas funcionando a todo vapor. Um caos e todos querendo chegar e, eu ali, sozinha e abandonada, querendo ficar.

Lembrei-me, então do meu “Nono” e orei.

Orei todos os palavrões que ele esbravejava quando uma pedra chutava o seu dedão.

 

 

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

O ENVELOPE LACRADO Henrique Schnaider

 

 


O ENVELOPE LACRADO

Henrique Schnaider

 

Lá pelos idos de 2016, fui para Israel e pela primeira vez nesta vida, reuniu-se toda minha família, de cerca de 40 pessoas. Estavam presentes meus dois irmãos, Salomão e Paulo, ambos falecidos. Também suas esposas Ilana e Judith, e muitos sobrinhos e sobrinhos netos.

Estava presente eu e minha finada esposa Lourdes. Nesta ocasião a reunião foi no Kibutz onde morava meu filho Ariel que preparou um churrasco maravilhoso com tudo do bom e do melhor e a confraternização foi grande e onde revi muitos sobrinhos que não via desde crianças e conheci outros que ainda não tinha conhecido.

Foi então que fiquei sabendo que meus irmãos haviam preparado um documento que estava num envelope lacrado e nós três assinamos no envelope. Este envelope que não sei o que estava escrito, iria ser enterrado dentro duma caixa para ser aberto daqui a 40 anos, isto é, em 2056, provavelmente pelos nossos descendentes.

Assim se passou, a caixa foi enterrada num cerimonial com forte emoção em que todos os presentes foram às lágrimas. Deve ser de ter a sensação de que é efêmero e a nossa vida é curta. O churrasco continuou e todos nós gostamos muito daquele encontro onde ainda ficamos por várias e várias horas.

Os anos se passaram e simplesmente me esqueci deste fato e do segredo contido e enterrado naquela caixa. E como a professora Ana pediu para escrevermos sobre um fato que causou muita emoção na minha vida e foi aí que me lembrei do que se passou naquele encontro emocionante por todos os aspectos da reunião da família e a caixa com o envelope que passou a ser um segredo a ser desvendado no futuro.

Como não sei quem da família ficou encarregado de passar às novas gerações o local onde foi enterrada a caixa e na época marcada alguém irá se encarregar de tirar a caixa e ver revelado finalmente o que foi escrito naquele envelope lacrado.

Como me lembrei deste fato ocorrido na minha vida, entrarei em contato com minhas cunhadas Ilana e Judith, para em primeiro lugar saber delas se ainda se lembram do fato ocorrido nas nossas vidas. E do que foi feito, e quem se encarregou de passar aos nossos descendentes o que ficou combinado naquele encontro da família que nos levou a muita emoção e curiosidade.

Não sei, e provavelmente nunca vou saber, qual foi a intenção dos meus irmãos ao deixar para as futuras gerações da família Schnaider e nem porque decidiram fazer isto e o que deixaram escrito naquele envelope.

 

O GATO QUE NÃO MIAVA - Helio Fernando Salema

 


O GATO QUE NÃO MIAVA

Helio Fernando Salema


Era uma vez uma aldeia rural, onde cada lavrador tinha seu pedaço de terra para cultivar as mais variadas espécies de alimentos. Uma vez por semana, eles se reuniam e transportavam para a cidade mais próxima a produção colhida. Não era muita, mas o suficiente para se manterem. Sempre que havia algum problema com qualquer morador, os demais corriam para socorrê-lo. Tudo transcorria em plena harmonia.

 

Entretanto, nos últimos meses, estava ocorrendo uma redução na colheita, pois eles faziam questão de só levar o que fosse de boa qualidade e assim conseguir um bom preço. O resultado financeiro a cada semana diminuía. Este problema estava incomodando muito a ponto de realizarem reuniões para encontrar uma solução. Todos concordaram que a terra talvez estivesse cansada pelos anos que já teria produzido. Porém, o aumento na quantidade de adubação natural não foi suficiente, também, o rodízio das plantações não produziu o efeito esperado.

 

Um dia quando caminhava pelo campo, uma menina viu um gato muito bonito. Ficou encantada pelo animal, que até então ela nunca tinha visto, pois não havia nenhum naquela região. Aproximou-se dele com todo cuidado e, como ele parecia manso, logo começou a acariciá-lo. O animal, também encantado com ela, aceitava com muita satisfação. Ela fala mansinho com ele que parecia entender o que era.

Acostumada com outros animais e aves, resolveu levá-lo para sua casa, depois de ter brincado com ele por alguns minutos.

 

Quando seu pai retornou da lavoura no final do dia, ficou surpreso, e ele que conhecia esta espécie, mas não tinha a menor simpatia por gatos, disse que aquele animal não poderia ficar na casa. Imediatamente o colocou para fora aos berros. A menina começou a chorar e como era obediente foi para o seu quarto.

 

Na manhã seguinte, assim que o pai saiu para trabalhar, ela pode então ir à procura do bichinho, que na véspera lhe deu muita alegria e tristeza. Não sabendo como atraí-lo seguia caminhando pelo campo, emitindo os mesmos sons que usava para chamar as galinhas, os patos e outros animais. Embora não obtendo êxito, também não desistiu e, ao lembrar-se do lugar onde o havia visto pela primeira vez, foi correndo, e ao chegar teve uma surpresa… O gato olhava para ela com um olhar de espanto e alegria. Ela lentamente foi em direção a ele, que também se movia para junto dela.

 

Depois de ficarem juntos por alguns minutos se acariciando, a menina teve um lampejo de tristeza. Como evitar que o pai ao ver o animal, que ele tanto detestava, não pensasse em “dar um sumiço com ele”. Olhando atentamente para o gato, ficou imaginando como mantê-lo próximo dela e longe dos olhos e dos pensamentos do pai. Surpresa ao ver que o animal olhava nos olhos dela e parecia que entendia seus pensamentos e também tudo que ela dizia, pois a obedecia imediatamente.

 

Lembrou-se de que no rancho em que o pai guardava as ferramentas e os produtos da lavoura, havia uma porta de tábuas pela qual o seu animal queridinho poderia entrar e sair. Foi andando naquela direção e à medida que caminhava ele a acompanhava.

 

Ao chegarem ao galpão, ela mostrou para o gato um local bem escondido, onde ela colocou alguns panos velhos para que ele ali pudesse ficar. Explicando para ele que ia buscar água e comida e que ele deveria ficar ali escondido e, mais uma vez, ela se surpreendeu com o olhar atento do animal. Assim o manteve escondido, perto dela e fora do alcance dos olhares do pai.

 

Como por um milagre, as plantações começaram a demonstrar melhora não só na qualidade como também na quantidade. Aos poucos os lavradores perceberam a mudança e por mais que tentassem, não obtiveram uma resposta. A satisfação de todos era maior a cada semana, aumentada e comentada. Planos não faltaram para a aquisição de bens, que até pouco tempo não imaginavam.

 

 Até que um dia, quando o pai saiu para levar as mercadorias para a cidade, a menina aproveitou e foi até o galpão e lá ficou brincando com o gato, despreocupadamente, inclusive deixando a porta do galpão aberta.

 

O pai, quando percebeu que havia esquecido de levar uma ferramenta para devolver a um amigo, volta correndo e, terrivelmente assustado fica ao ver o galpão aberto. Logo pensa em coisas ruins. Entra correndo… Ao ver a filha sentada no chão… Se espanta. Ao olhar para o outro lado vê o gato, volta em direção à filha e, aos berros:

— O que este animal está fazendo aqui?

Uma voz estranha e suave ecoa:

ESTOU AQUI PARA COMER OS RATOS QUE ESTRAGAVAM AS PLANTAÇÕES.

 

BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES DE ITAQUERA - Henrique Schnaider

 


BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES DE ITAQUERA

Henrique Schnaider


Os sete anões de moravam num casebre muito simples dentro da mata, no bairro de Itaquera na periferia de São Paulo e lutavam com muita dificuldade pela sobrevivência, numa cidade que é cruel com os moradores pobres e onde milhares deles passam fome, sem nenhuma assistência, vivendo das chamadas quentinhas, isso quando conseguem se alimentar pelo menos uma vez por dia.

Justamente pelo fato de serem anões, enfrentam também o preconceito, para encontrarem trabalho. A única vantagem que tinham, é que como anões, acabavam vivendo de pequenas apresentações em circos mambembes, estes em verdadeira extinção. Lá muito longe, na periferia da grande cidade.

À noite, cansados, porém dispostos, iam os sete em fila indiana cantando músicas Rap e Fank numa caminhada longa de duas horas até chegarem na Escola Estadual Mirela Silveira. Ficavam todos na mesma classe para fazer o curso de Alfabetização de jovens e adultos, pois eram completamente analfabetos.

Não sabiam sequer escrever seus nomes que mais pareciam apelidos que receberam quando nasceram.  Eram conhecidos como Atchim, Dengoso, Dunga, Feliz, Mestre, Soneca e Zangado, mas pareciam felizes com seus nomes.

Os sete não se comportavam direito nas aulas, já que eram brincalhões, dando muito trabalho para a professora que ralhava com eles a todo momento. Mas o que tinham de pequenos, sobrava em inteligência e acabavam indo bem nas provas, se destacando dos demais alunos.

Um dia ao voltar para casa, depois da aula. Voltavam cantando na mesma algazarra de quando vinham. Porém no meio do caminho se depararam com uma cena inesperada de uma menina caída desfalecida na calçada. Tentaram reanimá-la, mas ela não melhorou.

Foi então que, condoídos, pela situação da pobre menina, resolveram levá-la para casa. Todos juntos, lá se foram em direção ao  casebre  carregando a menina..

Depois de acomodarem a menina numa caminha que eles mesmos fizeram. Finalmente ela acordou e deram à ela uma sopinha quente. Eles fizeram mil perguntas, mas a pobrezinha parecia meio confusa e mal conseguia responder.

Conversaram entre eles numa pequena conferência e decidiram dar o nome a ela de Branca de Itaquera. E assim começaram a cuidar dela e a Branca teve uma grande evolução. Tornou-se falante, alegre e chamava a todos de papai:

— Papai, Zangado, dá um sorriso para mim.

E ele não resistia e abria seu melhor sorriso para ela.

Tudo ia bem na casa dos anões que de dia saiam para fazer alguns bicos e à noite iam para a Escola. Enquanto isso, a Branca cuidava da casa mantendo a mesma um brinco.

Certo dia ao voltarem para casa, tomaram um grande susto, pois havia invadido a casa um homem muito mal-encarado, um verdadeiro lobo mal, dizendo-se pai da Branca e que a levaria embora, pois ela o ajudava a pedir esmolas nos faróis das ruas.

Os anões encararam o homem pois eram muito bons na luta de ringue nos circos. E deram uma tremenda surra no sujeito que saiu em desabalada carreira e nunca mais ousou voltar lá.

Hoje Branca de Itaquera é uma linda mulher. Estudou e se formou professora. Vive ainda com seus papais anões já velhinhos, dos quais cuida com muito amor e carinho e nem pensa em se casar, preferindo viver com eles.

 

 

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

A BELA ADORMECIDA - Alberto Landi

 


A BELA ADORMECIDA

Alberto Landi

 

Havia uma linda menina chamada Cloe. Ela morava num apartamento próximo ao grande e agradável parque da Aclimação, onde suas amigas costumavam praticar caminhadas e brincadeiras.

Porém, ela quase não ia se reunir com elas, porque vivia conectada ao celular e tablet.

Na escola gostava de se sentar ao fundo da sala de aula, para cochilar, em casa dormia demasiadamente, e assim ela ganhou o apelido de “a bela adormecida”.

Todos os familiares se preocupavam com isso, e insistiam para que ela se reunisse com as demais amigas no parque.

Cloe finalmente aceitou a sugestão, mas fazia tudo vagarosamente com as amigas de sua idade, muito a contragosto, mais para contentar seus familiares.

Numa das caminhadas, esbarrou em Lucas, um garoto mais velho, praticante de esportes e muito ativo.

Cloe ficou impressionada com a sua desenvoltura, e combinou com esse novo amigo manter contato.

Com o passar do tempo os dois se aproximaram, e Lucas mostrou a ela a importância de viver uma vida com energia e disposição, e o apelido foi esquecido, uma vez que ela mudou totalmente..

Muitos anos se passaram, e ambos já adultos se aproximaram ainda mais, se apaixonaram, casaram, e se tornaram donos de uma academia de ginástica. Formaram um casal unido pela energia, que contagiava a quem frequentasse a academia.

A alegria voltou à sua alma, como volta para a arvore, a verde rama!

 

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...