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sábado, 16 de janeiro de 2021

AS VOLTAS QUE A VIDA DÁ - Henrique Schnaider

 






AS VOLTAS QUE A VIDA DÁ

Henrique Schnaider

 

Maciel levava uma vida cheia de espinhos, mas dava duro para sobreviver.  Nasceu numa família de pais pobres trabalhadores rurais e quando tinha polenta na única refeição que faziam, era uma festa.

Ele era magrinho, corpo arqueado, e por causa disso ganhou o apelido de Taquara na escola onde estudava.  Os amiguinhos não lhe davam folga, era sempre escolhido para ser alvo das brincadeiras, algumas de muito mau gosto e outras até perversas.

Quando chegava em casa ia para seu quarto, não querendo que a mãe percebesse o drama porque passava. Chorava escondido pelo destino pobre que a vida lhe reservara, e as lágrimas com gosto amargo molhavam seus olhos.

Porém,  Maciel era resiliente,  sonhava com um futuro brilhante,  tinha um coração doce não guardava rancor e nem pensava em vingança.

O rapaz sofreu ainda por alguns anos sendo vítima de troças dos colegas, mas tinha um objetivo e sabia que alcançaria. Sua vontade era determinante e foi em frente nos estudos. Venceu, e por mérito acabou se formando médico cientista especialista nas pesquisas de remédios para cura do câncer.

Conheceu Alice colega nas pesquisas e casou-se com ela. Formou uma boa família tiveram filhos e vivia só no ambiente familiar ou nos laboratórios de pesquisas. Quase não sobrava muito tempo para o lazer.

Nas voltas que a vida dá Maciel e sua equipe estavam próximos de encontrar um remédio revolucionário que poderia curar alguns tipos de câncer, mas precisavam de mais verbas para continuar e indicaram para ele um empresário rico que poderia ajudar com doação.

Maciel agendou uma reunião com o empresário e no dia marcado para o encontro em um prédio de alto luxo, foi conduzido pela secretária até a sala de reuniões.

Entrou cumprimentando o diretor que estava de cabeça baixa e quando se olharam sentiram um choque. Era nem mais nem menos do que Fernando o antigo colega de escola que tantas vezes fez Maciel sofrer.

Maciel se recompôs da decepção de encontrar alguém que ele preferia nunca mais ver na vida e em seguida disse:

— Olá como vai Fernando? Veja você depois de tantos anos nos reencontramos, assim é a vida que nos prega tantas peças.

— Pois é Taquara, verdade. Mas, diga o que você quer de mim?

Maciel explicou sobre as pesquisas de um medicamente que revolucionária a medicina de oncologia, que precisaria de mais verbas para terminar com sucesso e seria uma revolução na Medicina na cura do câncer...

Fernando respondeu com desdém e disse que procurasse outra pessoa porque ele não ajudaria com nenhuma verba, e ainda voltou a chamá-lo de Taquara.

Maciel saiu completamente frustrado e constrangido por ver que seu antigo colega continuava um mal caráter e com o mesmo espírito de quando fazia de sua vida um inferno na escola.

Ele voltou às pesquisas, mas realmente continuou com problemas financeiros. Apesar disso, não desistiu.

Fernando, depois de ter sido inoportuno com Maciel continuou a vida de Empresário do mal até que um dia sua esposa lhe dá uma péssima notícia... de que a filha deles depois de muitos exames feitos constatou-se no laudo um câncer muito agressivo e ela tinha poucas chances de sobreviver.

Fernando desesperado e sem opções, lembrou do encontro com Maciel e tratou de agendar uma reunião urgente com ele. Depois de chamá-lo pela primeira vez na vida de Maciel, explicou o drama da filha e ele estava disposto a financiar o fim das pesquisas e assim o fez.

Maciel depois desta injeção de verbas acelerou o programa para chegar com sucesso aos resultados, e num dia glorioso, o medicamento foi fabricado,

Maciel que já torcia pela reabilitação da filha Fernando, imediatamente ligou para o amigo para iniciar o tratamento da menina, quando o colega lhe informou que no dia anterior a filha havia falecido.

Maciel ficou muito triste com a notícia, mas ao mesmo tempo feliz pois sabia que com o remédio pronto salvaria milhares de vidas.

"NATURALMENTE" - Hirtis Lazarin

 



"NATURALMENTE"

Hirtis Lazarin

 

 

A abelhinha Belita

                       esvoaça

                       perambula

                      à procura da mais apetitosa flor.

 

 

                                                          A abelhinha Belita

                                                          em espaços curtos

                                                          e tempos breves

                                                         satisfaz seu sabor.

 

A abelhinha Belita

poderosa, atrevida

pica forte a borboleta-cor

 

                                                          A borboleta-cor

                                                         meiga, delicada, 

                                                         chora, cheia de pavor.

 

O beija-flor irritado

meia-volta, apressado

justiça vai impor.

 

                                                       O beija-flor conselheiro

                                                       papo-cabeça consciente

                                                      restaura a harmonia.

 

O jardim florido

abre-se colorido.

Uma chuvinha amiga

encerra o dia feito cantiga.

 


Peraltices - Adelaide Dittmers

 



Peraltices

Adelaide Dittmers

 

Era época de Natal.  As ruas já cintilavam, e o riso das pessoas parecia que vinha mais facilmente. Minha mãe conversava com uma grande amiga, que tinha uma loja na rua principal de Bebedouro, cidade do interior de São Paulo. A conversa fluía animada e já entrava no clima da festa tratando de compras e arrumações.

Estava sentada à porta ouvindo-as distraídas com seus planos, enquanto eu e minha amiga Maria Luisa apreciávamos o ¨footing” tradicional movimento de vaivém dos jovens pela rua naquela época.

Tinha nos brações um boneco do qual não me separava.  Devia ter três anos e meio de idade, não tenho certeza.  O ócio logo desmotivou minha amiga que resolveu ir para casa.  Era comum andarmos sozinhas pela cidade que não oferecia perigos, e grande parte dos habitantes nos conhecia.

Havia ainda muito que conversarmos, muitas curiosidades para se ver, então fui com ela até a esquina. Nossos passos curtinhos regados a brincadeiras fez desse trajeto uma alegria. E, quando passamos pelo cinema, eu quis entrar, tinha vontade de ver o que se passava lá dentro, tinha vontade de ver as imagens que traziam os sons até a rua. Mas, logicamente, o porteiro não permitiu. Vai pra casa, garota!

Aquilo não me saiu da cabeça. Involuntariamente me aguçavam pensamentos e a vontade de conhecer o cinema, aumentava em mim. Na volta, percebi que o porteiro não estava no seu lugar. É fácil entrar agora, pensei. Então entrei, empurrei uma porta e adentrei no escuro da sala. A luz que permiti entrar ao abrir a porta, fez com que alguns me olhassem. O som alto me atraía mais do que a escuridão que amedrontava. Sentei-me o mais perto possível da entrada.  Os olhos vidrados na telona na tentativa de adivinhar o que se passava ali. Lembro-me de mais olhares na minha direção. Não havia cor na tela, apenas imagens em movimento.  

Depois de algum tempo sem identificar o que faziam na tela, cansei, e decidi ir embora. Lembrei de pronto do porteiro que agora devia estar de volta ao seu posto, então, com muito cuidado, sai carregando meu boneco.

Voltei para a loja, e encontrei minha mãe já aflita me procurando. Tinha pouco mais de três anos, e levei uma tremenda bronca, daquelas que não se esquecem jamais.

A HISTÓRIA DA VIDA DE UM PROFISSIONAL - Henrique Schnaider

 


A HISTÓRIA DA VIDA DE UM PROFISSIONAL

Henrique Schnaider

Cecilia  batalhou muito na vida e venceu. Só que as custas do suor dos outros, menos do seu.

Era empresária, tinha uma indústria de embalagens plásticas que abastecia sua própria loja montada no bairro central da capital.

Cecilia era muito dura nos negócios, não possuía a suavidade própria das mulheres. Era terrivelmente centralizadora e chegava a ser cruel com  funcionários. Ela dirigia a loja, e seu filho a fábrica.

 O departamento de telemarketing  era composto por uma equipe de dez vendedoras, dirigida pela proprietária de maneira precária e desumana.   Controlada por Cecilia, as pobres coitadas eram exigidas ao máximo, mal tinham tempo para a refeição.

Na parte de baixo do prédio ficava o caixa e o estoque de material e havia um balcão atendido por vários funcionários para suprir as peruas das Empresas que vinham buscar os pedidos feitos no telemarketing.

Na parte de cima junto com as vendas ficava o departamento pessoal e sala de Cecilia. Ela possuía duas TVs de circuito fechado de onde ficava o tempo todo fiscalizando os seus funcionários, e qualquer coisa, a mínima que fosse, lá vinha ela descendo as escadas para chamar a atenção pelos mais variados motivos, constrangendo a todos pois fazia questão de falar para todos ouvirem.

Ela fazia essa fiscalização durante toda a jornada de trabalho, criando um ambiente de terror na Empresa. Ainda tinha o Merval, que gerenciava da parte de baixo. Ele era puxa-saco de primeira da Cecilia, pessoa amarga que não dava um único sorriso nem por favor. Levava a ferro e fogo os coitados sob seu comando, num verdadeiro campo de concentração em plena cidade.

Arnaldo nem imaginava no ninho de cobras que estava prestes a entrar, era formado em Administração, mas nunca exerceu a profissão foi comerciante, chegou a ter quatro lojas do ramo de moveis e eletrodomésticos por muitos anos, mas os novos tempos não facilitaram nada para ele. O surgimento dos grandes magazines não deixou outra opção a ele senão fechar as lojas.

Trabalhou no Consulado da Áustria por doze anos, arrumou muitos inimigos e teve que ir embora. Desta feita foi trabalhar com amigos Advogados por mais doze anos. Mas sempre tem um dia, e Arnaldo ficou desempregado.

Foi parar na sala de Cecilia para uma entrevista, mal sabia ele na fria que estava entrando. Num primeiro momento a patroa,  toda solícita agradando ao máximo, escondeu as garras e Arnaldo foi contratado achando que tinha entrado na casa de amigos.

Com o tempo as desavenças começaram. O pobre do Arnaldo ficou no caixa e mal ele se mexia lá vinha a víbora chamar a sua atenção. Era vigiado o tempo todo e a convivência com o Merval era a pior possível. O ambiente era desagradável.  

Arnaldo tolerou toda essa situação por três anos apenas trabalhando e baixando a cabeça, fez de tudo para que as coisas melhorassem, tentou dialogar com a naja, mas tudo em vão e ela cada vez pior. Até que um dia ele se encheu e pediu demissão.

Depois de ficar seis meses em casa. A patroa maléfica chamou o Arnaldo de volta, prometendo mudar algumas coisas e inclusive nomear ele para Gerente da parte de baixo.

Tudo balela, pois, na verdade o lobo perde pelo, mas não perde o vício, e Cecilia estava pior do que antes, Arnaldo era um Gerente de araque pois Cecilia desceu outra funcionária para a parte de baixo que disse que a patroa falou para ela, que seria a nova Gerente e isso com o capitão do mato o Merval lutando para não perder o poder, o inferno de Dante.

Arnaldo ficou ainda mais dois anos sofrendo calado até que um dia deu o seu grito de liberdade, foi à sala da Cecilia e soltou os cachorros e disse que estava indo embora desta vez para sempre.

Cecilia nunca mudou sua maneira de ser, até que um dia morreu corroída por um câncer. Quanto a Arnaldo vive uma vida tranquila, aposentado e nunca mais quis saber da vida de Cecilia.      

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

UMA GRANDE LIÇÃO DE VIDA - Alberto Landi

 

 



UMA GRANDE LIÇÃO DE VIDA

Alberto Landi

 

 

Michel era um marciano que vivia num planeta bem distante. Era um pequeno ser de cabeça cônica e grandes olhos de cor violeta. Seus braços eram longos se alargavam ainda mais quando tinha que alcançar algo.

Um dia, entrou  na nave espacial e saiu numa longa viagem, queria explorar um pouco o Universo e passar por dezenas de Planetas em inúmeras aventuras até chegar  á lua.

Em poucas horas algo imprevisto acontece, teve um acidente de percurso e teve que aterrissar  em um planeta desconhecido. Não podia sair dali sem ajuda de outra nave.  Pensou como poderia fazê-lo, até que teve uma ideia:

Conectou-se com alguns animaizinhos amistosos desse planeta, eram de várias espécies, pediu para que o ajudassem. Os pequenos amigos se reuniram e decidiram fazer uma grande montanha, subindo uns em cima dos outros até chegar à Michel.

Foi muito difícil a escalada, mas finalmente conseguiram chegar e resgatar o amigo marciano. Quando já estavam descendo a escada, um desastre acontece, e um dos animaizinhos não pode evitar o espirro e toda a escada veio abaixo.

Michel pensou que os seus amigos haviam se chateado com ele, com o desabamento da escada e por ele ter pedido a ajuda deles.  Mas foi justamente o contrário. Quando os animais se recuperaram do desabamento, todos começaram a saltitar e dar palmas por ter conseguido salvar o amigo marciano.

Os animais estavam super orgulhosos pelo grande feito. O marciano Michel despediu-se afetuosamente deles e partiu de volta ao seu planeta ansioso para contar aos seus amigos e familiares o ocorrido no início de sua viagem.

Como aqueles persistentes amigos desprendidos se empenharam em ajudá-lo sem pedir nada em troca? Os marcianos depois de ouvirem  todo o relato de Michel entenderam a importância de um trabalho em equipe, e da boa vontade e a solidariedade dos pequenos animais.

Desde então, nenhum marciano quis viajar só em suas naves e continuaram a explorar o Universo indo sempre em dois, indo aos mais longínquos rincões do Universo.

Aprenderam uma grande lição de vida: 

A importância do que é a solidariedade e a ajuda nem que seja com sacrifício para protegerem uns aos outros, quando necessário!   

 

O COMPUTADOR TEIMOSO E VINGATIVO - Leon Vagliengo

 

 



O COMPUTADOR TEIMOSO E VINGATIVO

Leon Vagliengo

Todas as tardes das quintas-feiras, pouco antes das quinze horas, Leon transfere o seu Computador para um local com melhor recepção da internet, porque se iniciará, de forma virtual, a aula de escrita que muito aprecia. Os instantes da transferência são a única situação em que o velho Computador, que já não dispõe de bateria, fica totalmente desligado, pois outras razões, que não vêm ao caso, exigem que permaneça permanentemente ligado. Naturalmente, após a transferência de local, precisa ser novamente ligado para a aula.

E foi aí que tudo se complicou.

O Computador, sem compreender as razões de seu dono, não estava gostando nada do tratamento recebido. Foi acumulando a sua raiva, semana a semana, e finalmente, naquela quinta-feira, perdeu completamente a paciência:

QUEM ELE PENSA QUE É?” – ruminou, referindo-se a seu dono já com intenções vingativas. E continuou, a cada momento mais descontrolado, justificando para si mesmo as razões de sua revolta: “Me deixa ligado durante o dia todo e a noite toda, nem posso descansar, não respeita a minha idade. E de repente me liga e desliga sem mais nem menos e quer que eu funcione como e quando bem entende. HOJE ELE VAI SE ARREPENDER!”.

Se bem pensou, melhor o fez.

Leon foi ficando aflito. Sua aula virtual de escrita começara às quinze horas e ele já vinha tentando ativar o Google Chrome desde bem antes disso, e nada. E sem o Chrome não haveria o acesso ao aplicativo da reunião, o Zoom. Sem contar o deboche que o Computador lhe impunha! Funcionavam os outros programas, mas aquele de que ele precisava, nada. Aquele Computador ingrato, que ele mantinha em uso por razões que poderiam ser consideradas apenas afetivas, sabia bem como irritá-lo.

Quanto mais o Leon tentava, mais exultava o seu Computador, aquele ser inanimado que agora, todo animado, comemorava aquelas suas pequenas e mesquinhas vitórias: “Ele já me reiniciou duas vezes, me fiz de morto. Só porque é meu dono, pensa que pode tudo? POIS SIM! Vou lhe dar uma bela canseira”.

Vinte e cinco minutos se passaram desde que se iniciara a aula, Leon tentando de tudo, sem sucesso. Pobre aluno frustrado! E o Computador continuava a comemorar, agora mais calmo, mas em tom maquiavélico:

Veja só o desespero dele. Está perdendo a aula, bem feito! Novamente me desligou e teve que esperar, porque eu sou lento mesmo, até para desligar. Vai ligar outra vez, com certeza, esse cara é insistente. Azar dele, eu também me demoro em religar. E tão cedo não vou funcionar naqueles programas que ele quer”.

Meia hora de aula perdida. Nova tentativa, novo desligamento, nova espera, novo ligamento, nova espera. Leon já não estava apenas aflito. Estava bravo, no limite! Subitamente deu um grunhido nervoso, seguido de um tapa na mesa, e exclamou, quase gritando:

FUNCIONA, COMPUTADOR MISERÁVEL! OS TEUS DIAS ESTÃO CONTADOS!

Foi então que o Computador se deu conta de que havia exagerado e a coisa tinha ficado feia. Embora já bem desatualizado em razão de sua idade e mesmo sem contar com modernos recursos de inteligência emocional, fez valer a alta tecnologia de seu gênero, conseguindo captar e processar os novos dados emanados por Leon, que traziam sinais inequívocos da tragédia que se delineava para o Dispositivo, traduzidos pela forma nervosa como estavam sendo teclados, repetidamente, os mesmos comandos. Sua raiva dos primeiros momentos já passara, e resolveu, então, arrazoar que o castigo que proporcionara a seu dono já tinha sido o bastante. Estava satisfeito, seria melhor mudar de atitude:

Pensando bem, o Leon, nervoso, pode se tornar um perigo. Estamos no décimo sexto andar, e eu estou perto da janela, que está aberta! Acho que já foi o suficiente, me vinguei. Mas, quem sabe? Se ele não me cuidar melhor, talvez eu repita a dose na próxima quinta feira”.

A partir desse momento Leon sentiu o sabor do triunfo. Aquela rodelinha girando de forma irritante, que indicava que o comando estava num processamento interminável, finalmente parou, e eis que, enfim, o Chrome assumiu completamente a tela. Acionado o Zoom, a seguir tudo aconteceu muito rápido, surgindo na tela do seu Computador as vozes e as telinhas com as imagens dos seus amigos e da professora, que logo saudaram a sua chegada.

Leon ficou tão feliz e aliviado ao ouvi-los e revê-los, que até se esqueceu das dificuldades por que passara. Mergulhou nos assuntos da aula e já nem pensava mais em trocar o seu querido companheiro e velho amigo Computador.

Querido companheiro e velho amigo...?

Provavelmente Leon voltaria a pensar nisso na quinta-feira da semana seguinte, por volta das quinze horas...

 


domingo, 3 de janeiro de 2021

ARTHUR O CRUEL - Alberto Landi

 



ARTHUR O CRUEL

Alberto Landi

 

Era uma vez um pirata muito ruim que todos chamavam de "Arthur o cruel". Tinha uma aparência aterrorizadora. Segurava sempre um archote aceso na mão. Portava dois cintos de armas e cada cinto com 3 coldres de pistola.

Usava chapéu tricórnio de feltro com uma pluma, casaco de veludo fino debruado normalmente roubado de mercadores, camisa vermelha berrante e calças fortes até os joelhos com ligas de cor vermelha, amarela e verde, sapatos de fivelas com franjas para esconder as facas usadas para defesa.

Fazia jus à fama, matava sem dó nem piedade. A tripulação o temia, causava tanto medo nos inimigos que todos desistiam de atacá-lo, assim que o viam, reconheciam a bandeira tremulando na caravela, que já era temida em todos os mares.

Certo dia, singrando suavemente pelo mar, foram abordados por uma caravela inimiga e no final de uma curta batalha, porém sangrenta onde houve mortes de ambos os lados, toda a tripulação foi capturada. A corveta de origem Jamaicana tinha uma bandeira hasteada com uma caveira humana e as tíbias cruzadas em fundo negro.

Foram todos levados para uma ilha deserta e a tripulação presa juntos em uma enorme jaula. Arthur o Cruel, como era o mais feroz de todos, ficou preso sozinho em outro local amarrado em correntes recebendo açoites diários, não se comunicava com os demais. Nem sequer podia ouvi-los.

Após alguns dias, toda a tripulação foi solta e se esqueceram do Arthur, enjaulado e só. Os demais tripulantes da caravela tampouco se lembraram dele pois era tão cruel e desagradável que ninguém o queria por perto, trataram de ir embora se livrando do pirata.

Por sorte um morador da ilha se deu conta de que o pirata seguia enjaulado e finalmente o soltou. Tarde demais, a sua caravela havia zarpado sem ele.

Os moradores da ilha se reuniram e deliberaram decidindo convidar Arthur a ficar, mesmo porque raramente passava uma caravela por ali, não havia alternativa para ele, disseram:

— Você tem que mudar de atitude e a maneira de ser. Se você nos causar problemas, vamos deixá-lo em qualquer parte. Imediatamente o pirata concordou com a proposta!

— A propósito, como te chamas perguntaram?

—Todos me chamam de Arthur o Cruel, respondeu o pirata:

— Mas você tem nome, não? Ou vai me dizer que gostas que te chamem de Cruel:

—Sou Arthur Malcom, nascido em Glasgow, Escócia:

— Então meu caro, daqui para frente você será Arthur Malcom. Arthur o Cruel morre hoje e há muito trabalho aqui nesta ilha, venha trabalhar conosco.

Com o passar do tempo Arthur foi mudando e cada vez mais se aproximando dos novos companheiros. Nas horas de folga ficava pensando arrependido de todas as maldades que fez e nas vidas que ceifou. Daí acabou se tornando amigo inseparável daqueles que o acolheram e mudaram sua vida.

O pirata, se converteu, era outro homem, não lembrava mais aquele Capitão osso duro de roer, agora estava integrado e se destacando no trabalho da comunidade.

Despertou a beleza interior do agora Arthur Malcom!  

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

O COPO TEIMOSO - Dinah Ribeiro de Amorim





O COPO TEIMOSO

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Dona Marina, funcionária aposentada, reúne uma vez por semana as amigas,  para um joguinho de cartas. Fazem desse entretenimento um compromisso inadiável. Além do jogo, é servido um lanche de intervalo, que sempre consiste num refresco em copos de cristal e um bolo feito por Maria, ajudante de anos, preparado para a ocasião.

Na semana em que a filha de Dona Marina chega de uma viagem à Inglaterra e é presenteada com lindo aparelho de chá, em louça pintada, orgulho de toda dona de casa, resolve oferecer às amigas, um delicioso chá de menta, junto ao bolo de Maria, deixando de lado os copos de cristal.

Não é que os copos, enciumados, acostumados a serem usados, quando o armário é aberto e as xícaras retiradas, um deles, o mais teimoso, se atira ao chão, com raiva, mal dando tempo de Maria apanhá-lo. Virou cacos, o coitado.

Era também bonito e valioso, mas muito ciumento e teimoso.

 

A HISTÓRIA DO JACARÉ ACACIO - Claudionor Dias da Costa

 

 

A HISTÓRIA DO JACARÉ ACÁCIO

Claudionor Dias da Costa

 

                Eu sou o Zezinho e vou contar a vocês uma história emocionante.

                Sempre depois do almoço eu e meus amigos   brincávamos   na rua e mamãe recomendava:

                − Brinquem bastante, mas não fiquem muito perto do lago!

                Como somos travessos, dava mais vontade de ir até lá.

                Meu amigo Dentinho era terrível, queria porque queria, ir ao lago e se deixasse até nadaria.       

                Apressados entramos na vendinha do Senhor Antônio para ver as novidades de balas e doces, e davam água na boca.                  

                  De repente ouvimos o vozeirão dele:

             — Meninos vocês souberam da história do jacaré?

                Ficamos com os olhos esbugalhados com a cara assustada do Senhor Antônio, o que aumentou nosso pavor. Ele continuou falando:

                  — O Oscar, aquele jardineiro da Prefeitura quem me contou. Disse que estava fazendo limpeza do mato perto do lago. Deu uma paradinha para descansar e se assustou olhando para a frente em direção a água.

Nesse instante o vendeiro tinha os olhos de pavor:

                −Sabem o que ele viu?

Arriscou uns segundos esperando respostas, mas a gente estava mudo:

                — Nada mais nada menos do que um “baita” jacaré na margem.

                Nesse momento encostado no balcão quase caímos de costas.  Olhei pro Dentinho, ele já não parecia tão afim de cair no lago.

                Saímos para a calçada e ficamos comentando a tarde inteira duvidando do tal aparecimento do jacaré. Achamos que o Senhor Oscar teve uma ilusão ou coisa parecida.

                Mais tarde, chegando em casa, mamãe perguntou se estava tudo bem. Achou que eu estava meio amarelo e preocupado.

                 No jantar fiquei quieto, conversei muito pouco com papai e mamãe.

                 Naquela noite, revirei muito na cama e tive um pesadelo com o jacaré, e o que poderia fazer conosco se nos pegasse.

                    Após dois dias com provas na escola, ficamos novamente livres para brincadeiras e saímos pela rua despreocupados.

                    Nos cansamos de empinar pipas e, mais ainda do futebol no campinho de terra.

                    Procurando novidades, Dentinho teve a ideia de amedrontar as meninas da turma. Fomos até perto delas que brincavam de pular corda e ele foi logo gritando:

                — Vamos rápido para o lago que tem uma surpresa!

                   Corremos rindo com a certeza de pregar um susto nas meninas.

                   Olhamos e não vimos nada. Sentamos um pouquinho longe da margem e ficamos “batendo papo” observando o surgimento de algum movimento na água. Estávamos ansiosos para “aprontar” com as meninas, muito embora, confesso que eu também tinha medo.

                   Até que lá pelas tantas, o Dentinho começou o suspense:

                  A água está se mexendo lá embaixo. Estão vendo?

                   Todos ficaram apreensivos e logo ele foi gritando:

                — É um jacaré!

                  As meninas agitadas, se esconderam atrás de uma árvore e ficaram observando atentas para confirmar se era verdade.

                  Aquele vulto escuro veio se aproximando mais para perto.

                  Surgiu no meio do lago e deu para ver claramente um jacaré. O Senhor Oscar tinha razão.

                   Fomos embora num atropelo só, ainda olhando para trás não acreditando naquilo. As meninas, nem se fala.

                  No dia seguinte, muito mais curiosos e querendo ver de novo a figura daquele bicho, Dentinho nos empurrava para ir até lá. Foi o que aconteceu.

                   Sentamo-nos próximo da margem. Não demorou muito e o jacaré veio em nossa direção.

                   Com toda a nossa pouca coragem, ficamos surpresos quando um pouco mais perto, ele tirou a cabeça da água e disse:

                   − Não fiquem com medo meninos. Eu sou meio feio, até reconheço, mas sou manso e posso até ser amigo de vocês.

                    Aquilo nos deixou perplexos, não acreditamos que estávamos ouvindo um jacaré.

                    E começamos a conversar com ele, que contou a sua história dizendo que seu nome era Acácio. Começamos a gostar dele e ficamos amigos.      

                   Depois de um tempo, ele olhou para nós meio tristonho e pediu:

                   — Tenho que confessar que quando vocês ficam na margem conversando e tomando sorvete, fico ao longe com tremenda vontade de estar junto. E mais ainda, quero experimentar aquele de morango bonito com três bolas.

                    Nessa hora pedi que esperassem que já voltava.

                    Fui até a praça e arrastei o   Senhor João sorveteiro até o lago. No caminho contei a história do jacaré Acácio para ele e disse que pagaríamos o sorvete.

                    Sorrindo se aproximou e disse ao Acácio:

                     — Soube que você quer tomar sorvete, né?

                    E preparou um bem grande com três bolas de morango conforme o pedido do nosso mais novo amigo jacaré. Ele saiu do lago ficou em duas patas em pé. Agarrando o sorvete deu um grande sorriso com seu bocão e um montão de dentes. Agradeceu muito olhando para nós. Fiz até   uma foto com o celular.

                    Contamos tudo à mamãe e papai que vibraram com a história.

                    A partir daquele dia, sempre íamos ao lago e brincávamos muito com o Acácio. Até nadávamos juntos,  e muitas vezes nos sentávamos em suas costas imitando um barco.

                     Ele ficava muito feliz e nós também.

                     Essa foi a história do jacaré Acácio que gostava de sorvetes.         

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...