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quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Um cinturão – Conto de Graciliano Ramos







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Um cinturão 
Conto de Graciliano Ramos

As minhas primeiras relações com a justiça foram dolorosas e deixaram-me funda impressão. Eu devia ter quatro ou cinco anos, por aí, e figurei na qualidade de réu. Certamente já me haviam feito representar esse papel, mas ninguém me dera a entender que se tratava de julgamento. Batiam-me porque podiam bater-me, e isto era natural.

Os golpes que recebi antes do caso do cinturão, puramente físicos, desapareciam quando findava a dor. Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que me pintou as costas de manchas sangrentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu distinguia nas costelas grandes lanhos vermelhos. Deitaram-me, enrolaram-me em panos molhados com água de sal – e houve uma discussão na família. Minha avó, que nos visitava, condenou o procedimento da filha e esta afligiu-se. Irritada, ferira-me à toa, sem querer. Não guardei ódio a minha mãe: o culpado era o nó. Se não fosse ele, a flagelação me haveria causado menor estrago. E estaria esquecida. A história do cinturão, que veio pouco depois, avivou-a.

Meu pai dormia na rede, armada na sala enorme. Tudo é nebuloso. Paredes extraordinariamente afastadas, rede infinita, os armadores longe, e meu pai acordando, levantando-se de mau humor, batendo com os chinelos no chão, a cara enferrujada. Naturalmente não me lembro da ferrugem, das rugas, da voz áspera, do tempo que ele consumiu rosnando uma exigência. Sei que estava bastante zangado, e isto me trouxe a covardia habitual. Desejei vê-lo dirigir-se a minha mãe e a José Baía, pessoas grandes, que não levavam pancada. Tentei ansiosamente fixar-me nessa esperança frágil. A força de meu pai encontraria resistência e gastar-se-ia em palavras.

Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa, fui encolher-me num canto, para lá dos caixões verdes. Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me: pela porta da frente chegaria ao açude, pela do corredor acharia o pé do turco. Devo ter pensado nisso, imóvel, atrás dos caixões. Só queria que minha mãe, sinhá Leopoldina, Amaro e José Baía surgissem de repente, me livrassem daquele perigo.

Ninguém veio, meu pai me descobriu acocorado e sem fôlego, colado ao muro, e arrancou-me dali violentamente, reclamando um cinturão. Onde estava o cinturão? Eu não sabia, mas era difícil explicar-me: atrapalhava-me, gaguejava, embrutecido, sem atinar com o motivo da raiva. Os modos brutais, coléricos, atavam-me; os sons duros morriam, desprovidos de significação.

Não consigo reproduzir toda a cena. Juntando vagas lembranças dela a fatos que se deram depois, imagino os berros de meu pai, a zanga terrível, a minha tremura infeliz. Provavelmente fui sacudido. O assombro gelava-me o sangue, escancarava-me os olhos.

Onde estava o cinturão? Impossível responder. Ainda que tivesse escondido o infame objeto, emudeceria, tão apavorado me achava. Situações deste gênero constituíram as maiores torturas da minha infância, e as conseqüências delas me acompanharam.

O homem não me perguntava se eu tinha guardado a miserável correia: ordenava que a entregasse imediatamente. Os seus gritos me entravam na cabeça, nunca ninguém se esgoelou de semelhante maneira.

Onde estava o cinturão? Hoje não posso ouvir uma pessoa falar alto. O coração bate-me forte, desanima, como se fosse parar, a voz emperra, a vista escurece, uma cólera doida agita coisas adormecidas cá dentro. A horrível sensação de que me furam os tímpanos com pontas de ferro.

Onde estava o cinturão? A pergunta repisada ficou-me na lembrança: parece que foi pregada a martelo.

A fúria louca ia aumentar, causar-me sério desgosto. Conservar-me-ia ali desmaiado, encolhido, movendo os dedos frios, os beiços trêmulos e silenciosos. Se o moleque José ou um cachorro entrasse na sala, talvez as pancadas se transferissem. O moleque e os cachorros eram inocentes, mas não se tratava disto. Responsabilizando qualquer deles, meu pai me esqueceria, deixar-me-ia fugir, esconder-me na beira do açude ou no quintal. Minha mãe, José Baía, Amaro, sinhá Leopoldina, o moleque e os cachorros da fazenda abandonaram-me. Aperto na garganta, a casa a girar, o meu corpo a cair lento, voando, abelhas de todos os cortiços enchendo-me os ouvidos – e, nesse zunzum, a pergunta medonha. Náusea, sono. Onde estava o cinturão? Dormir muito, atrás de caixões, livre do martírio.

Havia uma neblina, e não percebi direito os movimentos de meu pai. Não o vi aproximar-se do torno e pegar o chicote. A mão cabeluda prendeu-me, arrastou-me para o meio da sala, a folha de couro fustigou-me as costas. Uivos, alarido inútil, estertor. Já então eu devia saber que gogos e adulações exasperavam o algoz. Nenhum socorro. José Baía, meu amigo, era um pobre-diabo.

Achava-me num deserto. A casa escura, triste; as pessoas tristes. Penso com horror nesse ermo, recordo-me de cemitérios e de ruínas mal-assombradas. Cerravam-se as portas e as janelas, do teto negro pendiam teias de aranha. Nos quartos lúgubres minha irmãzinha engatinhava, começava a aprendizagem dolorosa.

Junto de mim, um homem furioso, segurando-me um braço, açoitando-me. Talvez as vergastadas não fossem muito fortes: comparadas ao que senti depois, quando me ensinaram a carta de A B C, valiam pouco. Certamente o meu choro, os saltos, as tentativas para rodopiar na sala como carrapeta eram menos um sinal de dor que a explosão do medo reprimido. Estivera sem bulir, quase sem respirar. Agora esvaziava os pulmões, movia-me num desespero.

O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido, não igualava a mortificação da fase preparatória: o olho duro a magnetizar-me, os gestos ameaçadores, a voz rouca a mastigar uma interrogação incompreensível.
Solto, fui enroscar-me perto dos caixões, coçar as pisaduras, engolir soluços, gemer baixinho e embalar-me com os gemidos. Antes de adormecer, cansado, vi meu pai dirigir-se à rede, afastar as varandas, sentar-se e logo se levantar, agarrando uma tira de sola, o maldito cinturão, a que desprendera a fivela quando se deitara. Resmungou e entrou a passear agitado. Tive a impressão de que ia falar-me: baixou a cabeça, a cara enrugada serenou, os olhos esmoreceram, procuraram o refúgio onde me abatia, aniquilado.

Pareceu-me que a figura imponente minguava – e a minha desgraça diminuiu. Se meu pai se tivesse chegado a mim, eu o teria recebido sem o arrepio que a presença dele sempre me deu. Não se aproximou: conservou-se longe, rondando, inquieto. Depois se afastou.

Sozinho, vi-o de novo cruel e forte, soprando, espumando. E ali permaneci, miúdo, insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que trabalhavam na telha negra.

Foi esse o primeiro contato que tive com a justiça.


sábado, 7 de setembro de 2019

O BOM RAPAZ... - Do Carmo




 

O BOM RAPAZ...
Do Carmo



Parte I -  Sínico e Malandro.

É incrível a criatividade de meu vizinho de apartamento, Eduardo! Mais conhecido por Dudu, sempre tem uma justificativa sentimental para suas malandragens.

Choraminga mais que uma carpideira para safar-se das mentiras e safadezas, culpando as crueldades dos invejosos. Ele é mestre na invenção de falsas justificativas dolorosas, com requinte de sofrimento, propiciando a falta que contra sua vontade, viu-se obrigado a cometer. 

Uma das desculpas mais estapafúrdia que aplicou, para fugir da cotização entre os condôminos para presentear os funcionários do condomínio, pelo Natal, foi homérica.

Descaradamente, fingindo conter lágrimas nervosas para rolar, pede aos amigos presentes isenção de pagamento, uma vez que foi assaltado há alguns dias e ficou sem tostão sequer, para uma refeição. Os colegas de trabalho é que o têm ajudado, até o próximo pagamento. Ainda com expressão de desespero, pede para que concedam a ele fazer parte do Cartão de Natal coletivo aos funcionários.

Por unanimidade, seu pedido foi aceito.  Diante desse comovente depoimento, a pauta continuou.

Poucos minutos para o encerramento, toca o celular de Dudu, que se desculpando, levanta-se e atende ao chamado. Com voz melancólica, pede para sair, uma vez que um amigo está enfartando e precisa de ajuda.

Sai apressadamente e ao chegar à garagem, enquanto pega seu carro, retorna a ligação e pergunta em qual boteco eles estão reunidos, seria mais umas noite de orgia.



Parte II - Mas o que é isso?

Passados alguns dias, da reunião de condomínio onde o Dudu e eu residimos, da qual saiu para socorrer um amigo enfartando, acontece uma convocação, em caráter de urgência, para nova reunião, cujo teor da pauta é de interesse geral e gravíssimo. 

Estando todos presentes, o Presidente da Assembleia dá início a sessão e diz que muito decepcionado, fez essa nova convocação para exibir um filme, que sabiamente um condômino realizou para mostrar o abuso de sensibilidade que sofremos.

Displicentemente sentado e tranqüilo, Dudu, de caderneta e caneta nas mãos, pronto para anotações sobre o tão importante assunto a ser tratado, espera a gravíssima revelação.

As luzes foram apagadas e o filme começa.

Uma exclamação de horror foi geral. Cenas de orgia depravada, danças eróticas e bebidas descontroladas. Um bacanal indecente.

O Presidente então diz:

- Dentre os participantes vê-se ridiculamente seminu, o nosso atencioso participante desta reunião, o digníssimo amigo leal e socorrista: Senhor Eduardo, carinhosamente por todos chamado de Dudu. 

- Mas o que é isso?    Grita Dudu.

Tranquilamente o Presidente da sessão continua:

- Senhor Eduardo, estas são as cenas de seu atendimento ao amigo enfartando, na noite de nossa reunião passada, há dois dias, quando nos contou sobre o assalto sofrido e que sequer tem recursos para alimentar-se.

Sem comentários senhores. Sessão encerrada.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

A curiosidade de Lorena - Maria do Carmo Giordano





A curiosidade de Lorena
Maria do Carmo Giordano


Eu gostava muito do período de férias escolares, pois meus netos, ainda na pré-escola, vinham passar vários dias comigo.  

Os três transformavam minha pacata vida em um turbilhão de aventuras, principalmente durante o dia, porque queriam tomar sorvete em alguma confeitaria, brincar no parquinho do prédio ou simplesmente, passear pela rua para verem vitrines.

As noites eram mais tranquilas, ficávamos em casa e depois do jantar havia cantoria, como diziam, eram músicas de carnaval da minha época de adolescente, com encenação das letras.

Já me sentia saturada das danças e músicas então, em certa noite sugeri que eu contasse uma história, da qual nunca tinham ouvido falar.

O alvoroço foi generalizado. Gritando viva a vovó, acomodaram-se no tapete da saleta e de olhinhos muito abertos e estranhamente quietos, olhavam-me pasmados.
Bem, comecei; -

Na cidade de Cacha Prego, morava uma família formada de pai, mãe e quatro irmãos, três meninos e uma menina, sendo o caçula, ainda bebê.  

A mamãe ficava maluca com a desordem que faziam com os brinquedos. Deixavam tudo jogado pelo chão e por mais que ela pedisse para guardar, não obedeciam.

Irada, prometia sempre que da próxima vez que deixassem um brinquedo, fora do lugar, ele iria para as Cucuias! E não vai adiantar pedir para ir buscar, porque de lá ele vai para A Casa do Chapéu que fica depois de onde o Judas Perdeu as Botas, que faz divisa com Beleléu, ou para Além de Deus me livre, que fica a direita do Cafundó do Judas.

Sorrateiramente, Lorena correu para o quarto onde dormia e escondeu tudo embaixo da cama.  

Fingindo não haver percebido a traquinagem, eu continuei contando a história.

Como a mamãe já havia contado onde ficavam esses lugares, e nunca atenderam aos pedidos de ordem, ela pegou todos os brinquedos do chão e mandou para Os Raios que os Partam no Norte, que fica a beira do Mato Sem Cachorro, e aonde todas as Vacas Vão Para o Brejo.

Assustadíssimos mal conseguindo falar, Martin perguntou:

— Mas, vovó, onde ficam esses lugares esquisitos? Nunca o papai ou a mamãe falaram nesses nomes.

Lorena, curiosíssima e amedrontada, perguntou:

— Vovó, você já esteve em algum desses lugares?

— Não, nunca, e também não penso ir, pois não se sabe exatamente onde fica. E, como irei voltar se não sei ir?

Lorena com um muxoxo e voz bem sumida disse:

— Ah! Agora si porque nunca achei a minha chupeta, a mamãe deve ter mandado para o Beleleu ou para as Cucuias.  Ai! Ai!
 

ACRÓSTICO E HAICAI PARA O ICAL - DU CARMO





HAICAI COMEMORATIVO  (OCIDENTAL)

Com dez anos de vida
Criativa e inteligente
Palmas para o Ical



ACRÓSTICO  COMEMORATIVO
DEZ ANOS DO ICAL

Iluminada, entusiasmada e feliz ideia surgiu, 
Criando com estímulos literários o despertar da imaginação.
Agora com dez anos e realizando com vitórias seus objetivos,
Lança mais um troféu de seus participantes.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

TRAIÇÃO – CRIME OU PECADO? - Du Carmo



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TRAIÇÃO – CRIME OU PECADO?
Du Carmo


Ontem à noite, assistindo a um telejornal, desses que gotejam sangue, ouvi uma história interessante.

A protagonista da trama, Isabela, conhecida como Belinha, moça interiorana com vinte e oito anos de idade, totalmente ingênua e muito tímida, veio para a capital morar com uma senhora amiga da família, pois acabara de perder a mãe, ficando só no mundo.

A mudança de vida foi radical. Aqui ela começa a trabalhar em um escritório de advocacia, conclui seu curso de Direito e não fez nenhuma amizade.

Muito calada e tristonha, seu semblante ficou como se de uma boneca de porcelana, bonita, mas sem vida.

Um dos advogados solicitava sempre os seus serviços. Certo dia, pediu que ficasse um tempo além do horário, pois precisava digitar uma petição, mas não se acertava com teclados. Solícita, concordou, avisando dona Amélia que chegaria mais tarde.

Confiante instalou-se na sala do Dr. Eduardo.

Esperou por ele que estava em outra sala, falando ao telefone. A sala estava vazia.  Belinha não deu maior importância por esse fato.
Tão logo Dr. Eduardo entrou na sala, sorrindo disse:

- Belinha, não precisa tratar-me por doutor, diga somente Edu, como os amigos fazem. Bem, agora vamos ao que interessa.

Ingenuamente, Belinha posiciona-se para começar a digitar, quando Edu aproxima dela, e com voz aveludada lhe diz que está desvairado de mor por ela e quer que ela o conheça melhor para que possa pedir, à dona Amélia, permissão para namorá-la.

Belinha que sofria com o amor calado, rompeu em prantos.

Aproveitando a chance de acarinhá-la, abraçá-a e a beija alucinadamente.

Belinha está a ponto de desfalecer de emoção.

Ele continua falando, falando, mas ela não consegue ouvi-lo, pois, o seu coração batia mais alto.  

Acalmaram-se, conversaram muito, e chegaram ao acordo de que no dia seguinte iriam juntos para sua casa e Edu pediria permissão para namorar Belinha.

Nessa noite, Belinha não conseguiu dormir. A felicidade e ansiedade para chegar rápido o final do expediente seguinte, secaram seus olhos, não fechavam. Agradecia a Deus tamanha felicidade.

Finalmente dezoito horas. Todos saíram, o escritório ficou vazio. Belinha demorou em fechar seu expediente, pois esperava Edu, que na sua sala, falava ao telefone. Parecia nervoso. Explicou que era um cliente novo que iria no dia seguinte visitá-lo.

Tudo correu como combinado.

Dias e meses passaram-se e Edu mostrava-se o melhor namorado do mundo. Galanteador, romântico, gentil, sempre com mimos para que ela se enfeitasse para ele, enfim, o namorado que toda moça sonha.

Sem bater à porta da sala de Edu, ia abrir a porta, mas ouve a voz de Edu gritando dizendo:

- Você é minha mulher, mãe dos meus filhos, tem tudo o que quer, então me deixe em paz. Contente-se em eu dormir com você, todas as noites. Chega. Vou desligar.

Tomada por uma coragem sobrenatural, Belinha abre a porta e sorrindo diz:

- Querido, vá hoje consolar sua esposa, eu entendo, amanhã conversaremos. Ela o amo, sente sua falta. Eu sou compreensiva. Boa noite e até amanhã.

Virou-se e saiu.

Edu estupefato não pronunciou palavra alguma.

No dia seguinte, Belinha foi ao setor competente e pediu seu desligamento da empresa, alegando problemas de saúde na família. Despediu-se somente do Diretor e de seu Chefe.

Em casa, contou a dona Amélia o ocorrido e disse que esse pecado ou crime, não queria que pesasse em sua consciência. Edu que pagasse sozinho pela dupla traição.
Vou seguir minha vida com mais sabedoria.

O EXEMPLO NÃO VEM DE CIMA - Henrique Schnaider



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O EXEMPLO NÃO VEM DE CIMA
Henrique Schnaider



Luiza era uma mulher folgada ao extremo, só não era mais, por falta de espaço. Vivia explorando seus pais, estava com quarenta e cinco anos, foi uma péssima aluna, estudou aos trancos e barrancos, cresceu, demonstrando falha de carácter, inerente a sua personalidade, não havia explicações para sua forma de ser, já que seus pais eram trabalhadores, admirados, pela forma que lutavam na vida, para que nada faltasse em casa.

A mulher era um quiabo, escorregava demais, sempre tirava o corpo fora jogando qualquer obrigação para os pais ou ao seu irmão Ramiro, homem trabalhador, solteiro inveterado, que ainda não alçara voo para ter vida própria, mas pelo menos não era explorador como a irmã. Luiza vivia mordendo Ramiro, pedia empréstimos a toda hora, não parava de explorá-lo, ele que era uma pessoa dócil, fácil de convencer, ajudava a sanguessuga.

Aqueles dias eram de festa para a família Oliveira, morrera um tio distante, muito rico, que só tinha o pai de Luiza como sobrinho, não havia mais ninguém para reclamar aqueles bens, o pai herdou tudo.   A folgada logo convenceu a família, que apesar de tudo, eram de boa-fé, que iria tomar conta de tudo, já que não tinham tempo, nem capacidade para administrar aquela dádiva herdada, e o dinheiro que veio farto.

Os olhos de Luiza faiscavam só de pensar, dançavam de alegria, na expectativa de por a mão naquela fortuna, mas faltava para ela, o tino comercial, a verdadeira esperteza, para administrar todo aquele tesouro, mentia o tempo todo para os familiares, começou a meter os pés pelas mãos, entrando em negócios fracassados, o dinheiro começou a ir embora pelo ralo.

Luiza era espertinha, mas acabou vítima de um oportunista, sempre procurando pessoas incautas como ela, que era ambiciosa a procura de dinheiro fácil, na sua ganância, insistia nos maus negócios, era levada facilmente na conversa do Ricardo, com quem se envolvera, o cara malandro típico, dava golpes às pencas, usando seu charme e conversinha fácil, a inocente útil, entrava com tudo, torrando o dinheiro que não era seu, enquanto isso sua família não tinha noção, das trapalhadas que ela andava fazendo.

Ricardo sugou ao máximo, quando viu que deste mato não sairia mais coelho, deu no pé, sumiu, escafedeu, deixando Luiza no prejuízo, a fortuna do velho tio, se fora toda, deixando a família na mesma situação de quando recebeu a herança.

Luiza que só tirava vantagem com seus familiares, para mentir e convencer, para mostrar que tinha feito bons negócios, mas por circunstâncias pouco esclarecidas, tinha se dado mal, e o pior é que aceitaram de bom grado suas desculpas, perdoando-a, e por incrível que pareça, continuou a viver as custas deles, voltando aquela vidinha medíocre de sempre.

Alimentos Benéficos e Rejuvenescedor - Michel Milhão



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Alimentos Benéficos e Rejuvenescedor
Michel Milhão

   Começando pelo abacate que entre outras propriedades, rejuvenesce, impedindo o envelhecimento precoce, bom para pele e favorece a memória.

Salmão fortalece o cérebro, espinafre, facilita o fluxo sanguíneo, ovo repara as células cerebrais, o chá-verde, estimula a memória, a batata-doce conta com substâncias que afastam o Alzheimer, o chocolate nutre o sistema nervoso.

   O café é bom, mas no Máximo 3x dia, já o limão acaba com as toxinas, a couve reduz o colesterol, o suco verde combate doenças do coração.

Um alimento que eu não dava a menor importância é a berinjela, propago, pois ela é rica nas vitaminas, A, B1, B2, B5 E C.


  A vitamina tem poder antioxidante, isso significa que combate os radicais livres, a berinjela e outros alimentos, nas cores, vermelha, azul e roxa, diminuem os riscos de câncer, a vitamina B, melhora o humor, a B1 e a B5

Ajudam a combater o estresse e no metabolismo a B2 aumenta a absorção de nutrientes.

  A vitamina C traz benefícios para o sistema imunológico, rico em fibras solúveis, a pectina ajuda bastante o transito intestinal, alem de proporcionar maior sensação de saciedade, após as refeições aumenta o tempo de exposição dos nutrientes no estomago, melhorando a digestão em particular dos açucares e gorduras.

 Esse aspecto contribui na regularização do metabolismo energético, melhorando o desempenho de todas as atividades físicas.

  Os minerais contribuem para o bom funcionamento da memória, fortalecem os ossos, desintoxica e o corpo, o cálcio e o fósforo A e E no esqueleto, prevenindo a osteoporose, regulariza a pressão arterial.

  O fósforo preserva a memória, ativa no controle muscular, evitando câimbras, e tem mais é contra anemia, bom para pele, cabelos e sensibilidade de gustativa, e também as capsulas e farinha de berinjela, até a água da berinjela é diurético, desincha e limpa o sangue.

Outro alimento que impede o envelhecimento precoce é a beterraba.

Essas e outras coisas comunico em alguns programas de rádio que participo.

Finalizando, desejo a todos, boa saúde em todos os sentidos, em todos os aspectos sob todos os pontos de vista já inseridos no contexto.


REVIRAVOLTA - Hirtis Lazarin



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REVIRAVOLTA
Hirtis Lazarin



     Alice, como quase todas as mulheres de sua época, já nasciam com a vida programada: casar; ter filhos, de preferência, vários; administrar a casa e educar as crianças.

     A morte prematura do marido deixou-a transtornada com dois filhos adolescentes para criar.  O dinheiro da pensão era insuficiente.  Viu-se forçada a dobrar a jornada de trabalho.  Durante o dia, era recepcionista num consultório dentário.  A noite, era arrumar, limpar, cozinhar, lavar, dormir.  Uma rotina pesada e angustiante.  Os filhos.... Ah! Esses filhos... Só aborrecimentos e incompreensão.  Com o tempo vieram o estresse, a depressão e os distúrbios do sono passaram a ser constantes.

     Alice esqueceu de si mesma.  Fugia do espelho, pois ele revelava um rosto envelhecido e tristonho.  Os olhos morteiros, parados, olhos de quem sempre vê o que não quer ver, sempre o mesmo do nada.

     Noites e noites, na insônia da madrugada, sentava-se na soleira da porta da cozinha.  O coração cheio de solidão, o rosto molhado de lágrimas doloridas.  Não rezava mais, até a fé já se fora.  Uma Nossa Senhora, que ficava numa pequena gruta de pedras no quintal, foi retirada e esquecida.  Ali sozinha resmungava desabafos, confessava mágoas, falta de esperança.  Os filhos rebeldes e egoístas, o tempo fluindo, a vida em pedaços.  O fardo pesava demais.  E lá no céu, a lua cheia, cheia de alegria, ouvia tudo caladinha, comovida e sem graça.  E o silêncio era tal que até se ouviam as folhas roçando o ar.    

     Mas, a vida continua... As sementes germinam, os filhos crescem, os ponteiros do relógio não param e até os sentimentos se modificam.  Alice não era mais a mulher que chorava pelos cantos a ausência do esposo, não era mais a mãe dedicada, sensível e tolerante. Deu um basta a tudo.  As agruras fortaleceram-na, a tristeza virou raiva, a dedicação virou desleixo, a paciência, desprezo.  No silêncio elaborava planos de superação e libertação.
     No banco havia uma quantia razoável em dinheiro.  Uma herança aos filhos deixada pelos avós maternos.  Fria e determinada, pôs em prática um plano que seria a sua libertação.  Aos poucos, foi transferindo quantias a sua conta até resgatar o valor total.  Remorso?  Nem pensar.  Os filhos já independentes e prontos para serem inseridos no mercado de trabalho e a vida inteira pra conquistar espaço e sonhos.

     Alice deu uma reviravolta naquela vida medíocre: entrou numa dieta rigorosa, cortou e pintou os cabelos cacheados, renovou o guarda-roupa e um kit de maquiagem não se separava mais de sua bolsa.  Rejuvenesceu uns dez anos.  Os filhos não paravam em casa e quase tudo lhes passou despercebido.

     No banho ou na cozinha, Alice flagrava-se cantarolando.  No espelho, os olhos brilhavam e sorriam saborosamente.  Para o trabalho vestia-se com elegância e bom gosto.  Voltava para casa sem horário, frequentava "happy hours", fez amizades e conheceu homens interessantes.  Ressuscitou, enfim, a fêmea que jazia dentro dela.  Pedro Henrique foi uma aparição colorida.  Olhos daquele verde rajado indefinido.  Olhos nos olhos encantados como duas serpentes medindo forças.  Simbiose...

     Era sexta-feira.  Cedinho, o sol mostrou a sua cara pela fresta da janela e fugiu pelo corredor.  Alice, ansiosa, irrequieta e buliçosa, organizava roupas, escolhia as mais novas, abria e fechava malas.  Acendeu um cigarro e esperou.  Esperou o táxi e saiu apressada.  Não apareceu no trabalho e nunca mais voltou para casa.

     Alice desceu e conheceu o inferno. Reenergizada subiu aos céus.
   

O AMOR DA JUVENTUDE - Henrique Schnaider


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O AMOR DA JUVENTUDE
Henrique Schnaider



André conheceu Anita na época do colégio, desde que a viu, ficou apaixonado, amor de juventude, tudo azul, explosões de sentimentos, o coração não cabe dentro do corpo, quer sair aos pulos na direção da pessoa amada.

Anita parecia corresponder aos anseios de André, aos poucos se aproximaram, ambos tímidos, o rapaz chegou perto, puxou uma conversa envergonhada, ficou corado, um tomate maduro, não sabia o que falar, sem ser gago, gaguejou muito, as palavras não saiam direito, não conseguiu expressar o amor que sentia pela garota, que por sua vez, sentia um frio na barriga, queria ser invisível, sair correndo dali, pedir socorro a mãe.

Aos poucos o constrangimento foi superado, o amor na sua inocência, é mais forte do que qualquer outro sentimento, ambos adoravam se ver, o mundo é lindo, faziam planos, ficar juntos para sempre, os estudos foram por água abaixo.

As famílias, sentindo que o futuro dos dois, estava sendo comprometido, tratou de afastá-los, Anita foi transferida de Colégio e os jovens pressionados pelos familiares, deixaram o amor para trás. Afinal, cada qual seguiu seu caminho.

André formou-se Engenheiro, conseguiu um emprego numa multinacional, se deu muito bem na escala social, mulheres as pencas, sonhavam em tê-lo como marido, mas o rapaz não esquecera de Anita, não fazia a menor ideia de que sua amada fez na vida.

Anita fez-se mulher, bela, um violão, se formou, médica clínica geral, deu-se bem na vida, ganhava o suficiente para realizar todos os seus sonhos materiais. Ela também não esquecera aquele amor da juventude, seu coração balançava, quando lembrava dos beijos fogosos do André, nessa hora a saudade doía, o coração apertava, dava um nó.

Os anos passaram, nada como o tempo para acomodar as coisas, André conheceu Paula, colega de Faculdade, inteligente, boa aparência, se entendiam muito bem, namoro, noivado, casamento. Casal vinte, tiveram três filhos, crianças lindas, dois meninos e uma menina, viviam felizes.

Com Anita não foi diferente, conheceu Rui, também colega de Faculdade, a vida seguiu o mesmo ritmo, formaram uma bela família, tinham dois filhos, dois meninos, nada atrapalhava aquela felicidade.

Até que um dia, sempre tem um dia, André estava no trabalho, sentiu um mal-estar, resolveu ir ao Hospital,  quando entrou no consultório, , seu coração, sentiu o golpe, era Anita, que linda, uma formosura, ficou parado, uma estátua, Anita levantou-se, lágrimas escorreram, a emoção rolou solta, não pensaram duas vezes, se abraçaram, não resistiram, trocaram beijos quentes. De repente cai a fixa, retrocederam envergonhados, eram casados, aquilo não era certo, amavam seus parceiros, a família. André não resistiu, pediu, Anita cedeu àquele amor impossível, encontraram-se mais tarde, volúpia, sexo irresistível, soltou todo aquele sentimento guardado durante anos.

A fofoca, o disse que me disse, correu, fogo de gasolina, afetando ambas as famílias, mas eles não pensavam em traição, só queriam estar próximos, mergulhar naquele amor. Famílias destruídas, um escândalo, ameaças de divórcio, não havia solução razoável para aquela tragédia grega.

No fim não resistiram, aos olhos punitivos da sociedade, dos princípios éticos e religiosos de família, aquele amor puro que veio da juventude, resistiu ao tempo, mas sucumbiu diante de tantos interesses em jogo, resolveram não se ver mais, voltaram para suas famílias, reunir os cacos, tentar consertar o que estragaram.

  


Um amor infinito - Du Carmo



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Um amor infinito
Du Carmo

Desde criança sonhei em dar e receber a chama de alegria de um amor eterno.

Hoje, adulta, sei que a filosofia da vida moderna e bem diferente, uma vez que a correria para a sobrevivência a faz fria e insensível.

Reza um antigo ditado que, toda regra tem sua exceção, pois é, eu tenho um rio de palavras para contar a história de um eterno e verdadeiro amor que sobreviveu à indiferença da atualidade.

Uma querida e antiga amiga, hoje com oitenta anos, vive sua acalentada ventura de amor, que ficou aninhada em seu coração por mais de trinta anos.

Em um curso de inglês que fazíamos, na saudosa década de cinqüenta, Silvia amiga desde bebê, por conta de nossas mães serem amigas, conheceu José Luiz, o oásis de amor de sua vida.

A atração entre eles foi tal qual a de uma abelha por uma bela flor, intensa e a cumplicidade saltava aos olhos.

Mas, sempre existe um, “MAS”! José Luiz era de família tradicional paulista, herdeiro de fazendeiro de café e já estava destinado a casar-se com filha de família amiga da mesma classe social. 

Silvia era de classe média, família bem constituída, mas não tinha título nenhum. Quando o romance ficou sendo conhecido pela família do rapaz, imediatamente ele foi transferido para uma universidade fora do pai.

Os melancólicos anos arrastaram-se lentamente e nunca mais Silvia teve notícias dele.

Em uma carrancuda tarde de final de outono, Silvia, em um supermercado, tentava pegar um frasco de mostarda que estava em prateleira mais alta da seção de condimentos, ouve o som de uma voz masculina e sente seu coração disparar.

­- Jose Luiz! Exclama sem olhar sequer para o lado de onde vinha a voz.

-Sim! Meu amor sou eu! Finalmente a encontro.

Sentindo-se desfalecer, Silvia vira-se e num raio de alucinação, joga-se nos braços abertos que vagamente via, pois um rio de lágrimas banhavam seu rosto que era beijado amorosamente. Assim ficaram por alguns minutos, sem se darem conta de onde estavam.

José Luiz foi o primeiro a falar:

- Meu inesquecível amor, mesmo depois de tão longa separação, eu sentia que o nosso amor vivia e que eu a encontraria para então realizaríamos o nosso sonho da juventude. 

Hoje estão casados e o amor com o mesmo fervor dos anos cinquenta.

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

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