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quarta-feira, 1 de junho de 2022

PROVOCANDO RISOS E FELICIDADE - Helio Fernando Salema

 



PROVOCANDO RISOS E FELICIDADE

Helio Fernando Salema

 

Senhor Helio, que não gosta de ser chamado de senhor, às vezes respondia que o Senhor é quem está lá em cima olhando por nós.

Há alguns anos comemorou a entrada na casa dos sessenta, não nega e não tem como negar, sua aparência revela de maneira clara e sólida. Cabelos brancos e barba grisalha, não deixam dúvidas. Mas como gosta muito de brincar e provocar risos, costuma dizer sempre com uma postura de muita seriedade, que tem 28. Em seguida explica:

— Isso provoca risos sutis de uns e gargalhadas, por vezes escandalosas, de muitos outros.

E complementa:

— É muito bom e saudável estimular risos nas pessoas. Elas mudam de fisionomia incrivelmente, e na rapidez de um raio em tempestade. Muitas vezes ficam mais bonitas e demonstram estarem saudáveis mesmo quando, pouco antes, reclamavam de doenças ou ainda pior, da vida.

Algumas vezes provoca risadas quando alguém, querendo participar da brincadeira, diz que ele parece ter vinte e cinco ou vinte e seis, no máximo. Rapidamente responde:

— Não, não! Tenho vinte e oito e não admito que reduzam minha corretíssima idade.

Pronto. Era mais uma enxurrada de risos.

 

No início do ano era a viagem à Guarapari que enchia seu peito de esperança e perspectivas.

Tudo começava por volta de outubro ou novembro. Quando em contato com os amigos, principalmente Carlos e Luiz.  Alguém lembrava que o verão já dava os primeiros sinais, e logo vinha a lembrança de estarem juntos naquela bela e tranquila Praia do Morro.

Eram dias de reuniões na praia desfrutando tudo de bom que havia. Sol, mar, paisagens aprazíveis, cerveja, boa comida…e aquelas conversas longas que sempre eram interrompidas por brincadeiras ou deboches, terminando em hilaridade.

Outro momento importante era o contato com algum mineiro e ouvir histórias das Minas Gerais. A boa prosa lhe era bastante agradável, talvez por ser meio mineiro, também aprecia os “causos” narrados nos contos do amigo Milton.

Foi num desses dias, que o senhor Helio passeando pelas ruas do centro de Guarapari, avistou numa das vitrines uma camiseta regatas, por coincidência azul, sua cor preferida. Parou e ficou admirando. Lembrou que dos dez dias programados ainda restavam oito e uma camiseta a mais poderia lhe ser útil. Ao perceber o preço não teve dúvidas. Sem tardar, entrou e foi logo perguntando ao rapaz que estava no balcão:

— Posso ver aquela camiseta azul?

— Sim. Vou pegar para o senhor.

O rapaz colocou no balcão a camiseta junto de outras duas, uma branca e outra amarela clara. O sr. Helio pegou as três e se dirigiu ao provador.

Minutos depois voltou ao balcão e disse ao funcionário que levaria a branca e a amarela. O funcionário assustado:

— O senhor não vai levar a azul que escolheu?

— Não. Quando a vesti me vi como um velho de cinquenta anos.

O funcionário espantado ficou tentando disfarçar um riso, abaixou a cabeça. Mas não adiantou nada, senhor Helio percebeu e também, sem nenhuma intenção de disfarçar, soltou uma risada.

O rapaz colocou as duas camisetas numa sacola e recebeu o pagamento.

Ao sair, o senhor Helio próximo da porta, virou-se rapidamente e ainda pode ver os três funcionários em comunhão de risadas, uma secava os olhos de tanto que ria. Aquele que lhe atendeu, com as duas mãos segurava a barriga, que certamente doía de tanto rir.

Na calçada o senhor Helio rindo, disse em voz alta, como se quisesse comunicar a todos os passantes:

— Como é bom atiçar risos. As pessoas ficam mais bonitas, os problemas desaparecem, a vida agradece e Deus abençoa.

 

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