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quinta-feira, 22 de outubro de 2020

RUBENS: CULPADO OU INOCENTE? - Henrique Schnaider

 





RUBENS: CULPADO OU INOCENTE?

Henrique Schnaider

 

Rubens era uma pessoa que teve uma infância difícil, lado escuro da vida, nunca comeu a cereja vermelhinha do bolo, quando muito um pão velho duro, verde de tão embolorado. O pai, sujeito bruto, um cavalo, só faltava relinchar, alcoólatra inveterado, vivia alterado, trabalhava em serviço duro.

Quando chegava em casa, o cenário se transformava no inferno de chamas azuis de Dante, a esposa já aguardava pelas agressões, depois, várias salmouras, para curar os vergões roxos por motivos não faltavam para o marido, a comida que não estava do seu gosto, o fato dela ter engravidado, que não a perdoaria, se o nenê chorasse, total falta de paciência. E, as agressões aconteciam.

A mãe, um doce de pessoa, aguentava tudo calada, não reagia, apanhava e chorava, era dependente do marido, que nunca admitiu que ela trabalhasse. Ela não queria relatar à família, o drama de cores trágicas, desesperado que vivia. A alegria que aquecia sua alma gélida de tanto sofrimento, era o pequenino Rubens.

Assim o menino cresceu, apanhando calado por qualquer motivo, recebendo do pai, desprezo e violência, o único prêmio, era a fada mãe, que tinha a varinha de condão, que lhe dava amor profundo e carinho.

O tempo passou, Rubens se tornou um adulto, com uma mistura de sentimentos, de amor e de ódio, se encheu de revolta, com o coração aos pedaços, pelos recalques que dominaram o rapaz. Era difícil para ele trabalhar com seus sentimentos.

Nos estudos, era bom aluno, não teve dificuldade de chegar à Faculdade, resolveu que seguiria a carreira de Advogado, assim, formou-se numa instituição famosa, onde todos almejavam estudar. Começou como estagiário, numa banca de Advogados.

Na época da Faculdade conheceu Aurea, por quem se apaixonou, finalmente conheceu a felicidade. O sofrido coração se aqueceu com o fogo da paixão, e foi correspondido. Formaram-se juntos, faziam planos para casar-se, juntaram forças, Aurea não notava nada de errado, na conduta de Rubens, conseguiram dar entrada, na compra de um pequeno apto.

Mobiliaram o lar com muita cor, combinando com as paredes em tom bege claro, um ninho do amor. No começo eram tudo flores, mas os espinhos não demoraram a chegar.

Depois de dois anos de completa harmonia e felicidade, Aurea começou a notar uma mudança de atitude da parte de Rubens, já não era mais aquele homem amoroso, do qual recebia tanto carinho e mimo, sua casa vivia, cheia de rosas, vermelhas, amarelas etc. um caleidoscópio de cores.

Começou a chegar bem depois dela, já que ambos trabalhavam, não dava nem um mísero oi, entrava mudo, mal a tocava, o amor se esvaeceu, escorreu como a chuva, no fim da primavera. Ela começou a notar, que Rubens chegava com hálito de bebida, se tornando cada vez mais agressivo.

Parecia que o espírito brutal do pai tomou conta do pobre rapaz. Aurea tentou dialogar com ele, chamá-lo à razão, tudo em vão. Daí para as agressões foi um pulo. Só que a esposa, não era como a mãe de Rubens, deu queixa na delegacia da mulher, a Delegada determinou que ele não poderia chegar a cem metros dela.

Rubens entrou em desespero, mil promessas de mudança e pedidos de reconciliação, Aurea irredutível, não aceitava a volta do marido, vivia com medo, de que, em algum momento, Rubens pudesse invadir o apto e praticar uma desgraça. O lar já não tinha mais alegria, as cores perderam a graça, se desmancharam.

Um dia quando Aurea menos esperava, sem dar chance a ela de avisar a polícia, Rubens invadiu o apto. Tinha o rosto desfigurado, a pele seca e amarelada, um tremor visível nos membros inferiores, e um revólver empunhado na mão: “se você não quer mais ser minha, não será de mais ninguém! ”. Os disparos puderam ser ouvidos de longe, mas ele não se incomodou com o que viria.  Foram cinco tiros no peito da indigitada mulher. Uma tragédia anunciada e cumprida à sangue frio. Rubens entregou-se a polícia, sem ter mais nenhum motivo para viver, condenado de forma justa a vinte anos de reclusão.

A pergunta que fica no ar é esta: Rubens foi vítima de seu pai? Inocente que era, de tantos maus-tratos, se tornou um assassino, e culpado por tirar a vida da pessoa que mais amava.

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