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quarta-feira, 4 de setembro de 2024

DETETIVE FONSECA JR - Helio Fernando Salema

 



 

DETETIVE FONSECA JR.

Helio Fernando Salema

 

Cristiano Fonseca Jr, desde adolescente, se empolgava com a profissão do seu pai, Tenente da Polícia Militar. Nas conversas entre eles aprendeu a respeitar todo ser humano, ser discreto e evitar conclusões precipitadas.

Lendo histórias de detetives, gradativamente, foi se empolgando na arte de desvendar crimes. Após concluir o segundo grau, num concurso para detetive, obteve o primeiro lugar. Foi designado para servir na capital do Estado, longe da família.

Rapidamente, mostrou suas qualidades. Discreto, até mesmo nas roupas para não ser notado. Lugares em que frequentava, geralmente, estava sozinho. Falava pouco, pois gostava mais de ouvir. Excelente memória. Sempre fazia perguntas abertas:

— O senhor ou a senhora viu o quê?

— Como foi que ficou sabendo?

— O que mais ouviu?

Quando a resposta não lhe agradava; usava o silêncio e o olhar fixo como forma de fazer a pessoa falar mais alguma coisa. Não costumava criticar ou duvidar das respostas, apenas solicitava diferenças. Nem fazia anotações. Somente, quando estava em casa é que escrevia tudo que ouvira e acrescentava suas observações.

 


Dois gênios - Alberto Landi

 

                            Henry Ford

Tomas Edison

Dois gênios

Alberto Landi

 

Em um condado do Estado de Michigan nos primeiros anos do século XX, dois dos maiores inventores da história eram amigos e vizinhos.

Henry Ford o visionário por trás da produção em massa de automóveis e Thomas Edison, o mestre da eletricidade.

Juntos eles compartilhavam ideias e sonhos de um futuro mais próspero.

Certa manhã enquanto saborearam o café da manhã na varanda da casa de Ford uma conversa acalorada começou.

Edison estava entusiasmado com sua nova invenção: uma lâmpada que prometia iluminar cidades inteiras.

Ele acreditava que a eletricidade era o futuro, e tudo deveria ser alimentado por ela.

Ford, por outro lado, defendia que o futuro estava nos veículos e na mobilidade das pessoas.

“Tom, disse Ford com um brilho nos olhos imagina um mundo onde todos possam viajar livremente!

A verdadeira liberdade está nas estradas e não apenas nas luzes”.

Edison sorriu, mas sua expressão logo se tornou séria.   “Henry, sem eletricidade as pessoas não terão luz para ver onde estão indo. O progresso está na inovação elétrica”.

A discussão esquentou. Ambos, eram teimosos e defendiam suas visões com paixão. Ford decidiu que precisava provar seu ponto. Anunciou que faria uma demonstração de um modelo de carro em uma feira local—um veículo movido a gasolina que poderia levar pessoas a lugares distantes em questão de horas.

Edison viu isso como um desafio.

Determinado a provar que sua invenção era superior, anunciou que mostraria sua lâmpada em uma grande apresentação à noite, iluminando o evento com a beleza e o poder da eletricidade.

O dia da feira chegou. Durante o dia Ford apresentou seu carro ao público mostrando como ele poderia revolucionar o transporte. As pessoas ficaram extasiadas com a velocidade e a eficiência do veículo.

À noite, enquanto as estrelas brilhavam, Edison fez sua apresentação. A lâmpada iluminou todo o espaço com uma luz brilhante e suave, encantando a multidão presente.

O conflito entre os dois amigos parecia ter chegado ao auge. Mas quando as pessoas começaram a se dispersar após as apresentações, algo inesperado aconteceu: uma tempestade se aproximou rapidamente.

Nuvens escuras cobriram o céu e a chuva começou a cair forte.

O público correu para se abrigar. Ford percebeu que muitos estavam presos na feira sem saber como retornar para casa.

Então teve uma ideia brilhante. Com seu carro funcionando e equipado para enfrentar qualquer clima, convidou algumas pessoas e conduziu-as em segurança para suas casas.

Edison observou enquanto Ford dirigia sob a chuva torrencial conduzindo as pessoas para seus lares aquecidos e seguros que a visão dele não era apenas sobre carros; era sobre conectar vidas e proporcionar liberdade.

Quando tudo acalmou os dois amigos se encontraram novamente sob um céu estrelado.

Edison sorriu e disse: “acho que ambos temos nossos papéis no futuro do mundo”.

Ford respondeu: “sim, Tom! A luz pode iluminar nossos caminhos, mas é o movimento que realmente transforma nossas vidas”.

A rivalidade deu lugar à compreensão mútua.

Perceberam que suas invenções poderiam coexistir e até mesmo complementar-se em um mundo onde tanto os carros quanto a eletricidade eram essenciais.

Assim nasceu não apenas uma amizade renovada, mas também uma colaboração entre dois gênios que mudariam para sempre o curso da história.

 

 

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Maria e Severino - Hirtis Lazarin


 

Maria e Severino

Hirtis Lazarin

 

O boteco da esquina era onde Severino tomava duas cachacinhas todos os dias, assim que deixava a obra. Seu coração estava preso ali, pois foi ele quem ajudou o amigo a levantar as paredes e a escolher as cores de tinta. A casa ficou bem charmosa.   O moço vivia longe da família, era trabalhador e nem gostava de encrencas, fugia de complicações, não era covarde, só queria viver em paz. Se o outro quer brigar, problema dele, ele não queria. Gostava de ajudar as pessoas.

 

Maria apareceu no boteco pra comprar água. O abastecimento na cidade estava cortado, não era novidade, a falta de chuva esvaziou os reservatórios e todo mundo tinha que contribuir, duas a três horas por dia a água não chegava às torneiras. E quando Maria chegou em casa, depois de um dia de trabalho cansativo, o pote estava quase vazio, não enchia nem um copo. Ninguém é santo e merece ficar com garganta e boca secas. Brigou com a irmã pela displicência, jogou irritada o avental no chão da cozinha, o avental branco que ela cuidava com muito zelo e saiu batendo os pés queria resolver o problema. 

 

O boteco estava vazio, o único cliente no momento era Severino sentado sozinho na menor mesa degustando um pratinho de petiscos junto da cachaça… Ah! Ela não podia faltar, jamais. Não sei se naquele dia, o moço tinha exagerado nas doses ou se a cabeça tinha perdido o juízo porque assim que viu a moça entrar de vestido curto e formas bem arredondadas, deu um pulo macio, aproximou-se e puxou conversa com Maria. Ela levou um susto, nem havia visto o moço e achava que o boteco estava vazio.

 

É difícil acreditar, mas dois meses depois, Severino e Maria se casaram. Bem, ele veio de outro Estado em busca de trabalho; ela perdeu a mãe há meses e andava triste, deprimida. Depois de alguns encontros e algumas conversas em bom-tom resolveram o que fariam juntos. Afinal os dois eram jovens, ele, só dois anos a mais, católicos, frequentavam a igreja de vez em quando, sabiam ler e escrever, não deviam dinheiro a ninguém e queriam ser pais. A única discordância era quanto ao número de filhos.

 

A festa foi feita no salão da “igreja do padre Antonio” e todos pensavam que ele era o dono mesmo. Muita ingenuidade e muita simplicidade, não sabiam a importância do dízimo na vida do pároco. Ele veio da Itália há quase vinte anos e já se considerava um cidadão de Venturosa. Era muito querido, gastava um tempão dando conselhos e sempre deixava o povo usar o salão de festas. E foi por isso que o casal reuniu ali os convidados do casamento, era de graça. E a festa foi boa, não faltou refrigerante, nem doce, nem salgadinho, nem música, tinha muita gente feliz da vida e todos foram abençoados com a graça de Deus.

 

Gente pobre não tem lua de mel, só tiraram uma semaninha por conta própria pra arrumar a nova casa. Nova não, mas era o que podiam ter no momento. E a vida continuou como tinha que ser ou parecia ser.  Maria trabalhava mais que o marido, chegava em casa, tinha comida pra fazer e roupa pra lavar. Não podemos esquecer que Severino trabalhava em obras…  Maria estava apaixonada, Severino não era tão carinhoso quanto ela gostava, mas estava tudo bem, tinha um companheiro e a tristeza pela falta da mãe tinha ido embora.  

 

Todo mundo sabe que a rotina cansa, que fazer todo dia tudo igual, enfastia. Era chegada a hora do casal engravidar. Houve concordância, estavam na flor da idade e uma criança correndo pela casa passou a ser um sonho. E mãos à obra.  Infelizmente não estava dando certo, entra mês, sai mês e nada… Ele acha que o problema era ela e ela acha que o problema era ele. Surgem discussões e brigas, o casal fica dias sem conversar e até dormem em camas separadas. E dormindo brigados e em camas separadas sabiam que não fariam filhos. Engoliam o orgulho e voltavam às pazes, mas a gravidez não acontecia. Passaram por muitos exames médicos, tudo nos trilhos em perfeita saúde. Já estavam desacorçoados.

 

Severino saía do trabalho, parava no boteco, exagerava nas doses de cachaça e chegava bem tarde em casa trançando as pernas. Maria exagerava na comida e ainda mais nos doces para combater a ansiedade. O homem olhava a comida nas panelas, fazia cara de nojo, caía na cama bêbado, barbudo e sujo. Ela ia engordando e ele ia emagrecendo. 

 

A vida do casal estava insuportável. Ela lembrava do marido assobiando feliz da vida e improvisando letras de músicas que não conseguia decorar. Ele lembrava da esposa cheirosa, cabelos cacheados e formas bem redondinhas. E na certeza da impossibilidade da recuperação do que já foi, ele bebia e ela comia.

 

Maria não aguenta mais essa vida. Lembra-se de uma garrafa de conhaque bem escondida debaixo da pia da cozinha atrás de uma lata vazia. Retira-a do esconderijo e as ideias pululam em sua mente, ideias ruins e ideias péssimas. Mistura um pozinho preto na bebida, chacoalha bem muito bem e ele se enrosca na cor caramelo do líquido. Perfeito! Sem querer, já querendo, esquece a garrafa sobre a mesa. Severino chega em casa bêbado por volta das vinte e duas horas. As luzes estão apagadas e mesmo no escuro vai até a cozinha fazer nada. A vista está turva, mas isso não o impede de ver aquela garrafa bonita e brilhante dando sopa.  Agarra-a de qualquer jeito, as mãos trêmulas nem mais o obedecem e deixam a rolha cair, ele cheira demoradamente porque o cheiro é bom. Vira-a na boca e se delicia naquele líquido adocicado. Num segundo, cai na cama e desmaia feito um tronco jogado no rio.

 

Maria dorme, será que dorme?  

 

No meio da madrugada, Severino acorda cheio de náusea com a boca seca muito seca. Apoia as mãos na cama uma, duas, três vezes e se põe em pé. O quarto gira, gira muito e rápido igual a um pião. O moço cai morto no chão frio. O baque é forte, o barulho é estrondoso e a esposa observa o corpo inerte. Chama a polícia e conta a história do seu jeito.  Uma semana depois é presa.

 

Já faz um ano que tudo isso aconteceu.  Maria até já se acostumou com a prisão, a cela não é das piores e a comida é farta e boa. Já engordou quase dez quilos.

 

 

 

O boteco da esquina era onde Severino tomava duas cachacinhas todos os dias, assim que deixava a obra. Seu coração estava preso ali, pois foi ele quem ajudou o amigo a levantar as paredes e a escolher as cores de tinta. A casa ficou bem charmosa.   O moço vivia longe da família, era trabalhador e nem gostava de encrencas, fugia de complicações, não era covarde, só queria viver em paz. Se o outro quer brigar, problema dele, ele não queria. Gostava de ajudar as pessoas.

 

Maria apareceu no boteco pra comprar água. O abastecimento na cidade estava cortado, não era novidade, a falta de chuva esvaziou os reservatórios e todo mundo tinha que contribuir, duas a três horas por dia a água não chegava às torneiras. E quando Maria chegou em casa, depois de um dia de trabalho cansativo, o pote estava quase vazio, não enchia nem um copo. Ninguém é santo e merece ficar com garganta e boca secas. Brigou com a irmã pela displicência, jogou irritada o avental no chão da cozinha, o avental branco que ela cuidava com muito zelo e saiu batendo os pés queria resolver o problema. 

 

O boteco estava vazio, o único cliente no momento era Severino sentado sozinho na menor mesa degustando um pratinho de petiscos junto da cachaça… Ah! Ela não podia faltar, jamais. Não sei se naquele dia, o moço tinha exagerado nas doses ou se a cabeça tinha perdido o juízo porque assim que viu a moça entrar de vestido curto e formas bem arredondadas, deu um pulo macio, aproximou-se e puxou conversa com Maria. Ela levou um susto, nem havia visto o moço e achava que o boteco estava vazio.

 

É difícil acreditar, mas dois meses depois, Severino e Maria se casaram. Bem, ele veio de outro Estado em busca de trabalho; ela perdeu a mãe há meses e andava triste, deprimida. Depois de alguns encontros e algumas conversas em bom-tom resolveram o que fariam juntos. Afinal os dois eram jovens, ele, só dois anos a mais, católicos, frequentavam a igreja de vez em quando, sabiam ler e escrever, não deviam dinheiro a ninguém e queriam ser pais. A única discordância era quanto ao número de filhos.

 

A festa foi feita no salão da “igreja do padre Antonio” e todos pensavam que ele era o dono mesmo. Muita ingenuidade e muita simplicidade, não sabiam a importância do dízimo na vida do pároco. Ele veio da Itália há quase vinte anos e já se considerava um cidadão de Venturosa. Era muito querido, gastava um tempão dando conselhos e sempre deixava o povo usar o salão de festas. E foi por isso que o casal reuniu ali os convidados do casamento, era de graça. E a festa foi boa, não faltou refrigerante, nem doce, nem salgadinho, nem música, tinha muita gente feliz da vida e todos foram abençoados com a graça de Deus.

 

Gente pobre não tem lua de mel, só tiraram uma semaninha por conta própria pra arrumar a nova casa. Nova não, mas era o que podiam ter no momento. E a vida continuou como tinha que ser ou parecia ser. 

Maria trabalhava mais que o marido, chegava em casa, tinha comida pra fazer e roupa pra lavar. Não podemos esquecer que Severino trabalhava em obras…  Maria estava apaixonada, Severino não era tão carinhoso quanto ela gostava, mas estava tudo bem, tinha um companheiro e a tristeza pela falta da mãe tinha ido embora.  

 

Todo mundo sabe que a rotina cansa, que fazer todo dia tudo igual, enfastia. Era chegada a hora do casal engravidar. Houve concordância, estavam na flor da idade e uma criança correndo pela casa passou a ser um sonho. E mãos à obra.  Infelizmente não estava dando certo, entra mês, sai mês e nada… Ele acha que o problema era ela e ela acha que o problema era ele. Surgem discussões e brigas, o casal fica dias sem conversar e até dormem em camas separadas. E dormindo brigados e em camas separadas sabiam que não fariam filhos. Engoliam o orgulho e voltavam às pazes, mas a gravidez não acontecia. Passaram por muitos exames médicos, tudo nos trilhos em perfeita saúde. Já estavam desacorçoados.

 

Severino saía do trabalho, parava no boteco, exagerava nas doses de cachaça e chegava bem tarde em casa trançando as pernas. Maria exagerava na comida e ainda mais nos doces para combater a ansiedade. O homem olhava a comida nas panelas, fazia cara de nojo, caía na cama bêbado, barbudo e sujo. Ela ia engordando e ele ia emagrecendo. 

 

A vida do casal estava insuportável. Ela lembrava do marido assobiando feliz da vida e improvisando letras de músicas que não conseguia decorar. Ele lembrava da esposa cheirosa, cabelos cacheados e formas bem redondinhas. E na certeza da impossibilidade da recuperação do que já foi, ele bebia e ela comia.

 

Maria não aguenta mais essa vida. Lembra-se de uma garrafa de conhaque bem escondida debaixo da pia da cozinha atrás de uma lata vazia. Retira-a do esconderijo e as ideias pululam em sua mente, ideias ruins e ideias péssimas. Mistura um pozinho preto na bebida, chacoalha bem muito bem e ele se enrosca na cor caramelo do líquido. Perfeito! Sem querer, já querendo, esquece a garrafa sobre a mesa. Severino chega em casa bêbado por volta das vinte e duas horas. As luzes estão apagadas e mesmo no escuro vai até a cozinha fazer nada. A vista está turva, mas isso não o impede de ver aquela garrafa bonita e brilhante dando sopa.  Agarra-a de qualquer jeito, as mãos trêmulas nem mais o obedecem e deixam a rolha cair, ele cheira demoradamente porque o cheiro é bom. Vira-a na boca e se delicia naquele líquido adocicado. Num segundo, cai na cama e desmaia feito um tronco jogado no rio.

 

Maria dorme, será que dorme?  

 

No meio da madrugada, Severino acorda cheio de náusea com a boca seca muito seca. Apoia as mãos na cama uma, duas, três vezes e se põe em pé. O quarto gira, gira muito e rápido igual a um pião. O moço cai morto no chão frio. O baque é forte, o barulho é estrondoso e a esposa observa o corpo inerte. Chama a polícia e conta a história do seu jeito.  Uma semana depois é presa.

 

Já faz um ano que tudo isso aconteceu.  Maria até já se acostumou com a prisão, a cela não é das piores e a comida é farta e boa. Já engordou quase dez quilos.

 

 


domingo, 25 de agosto de 2024

PANTANAL - Adelaide Dittmers

 



PANTANAL

Adelaide Dittmers

 

 

Éramos um grupo de oito homens, acompanhados por um guia experiente, desbravando a mata fechada do Pantanal.  Sonho antigo de ver e viver as belezas daquela região única.

Caminhávamos lentamente por uma estreita trilha, rodeada por uma vegetação baixa e grandes árvores, quando, subitamente, uma cobra jaracuçu cruzou o nosso caminho no seu rastejar lento e sinuoso. Estacamos respeitosamente para deixá-la passar. A beleza de suas cores nos fascinou.

O desafio da aventura dominava todos nós.  Cuidado e excitação transbordavam de nossos olhares. O que iríamos encontrar à nossa frente. Área de rica fauna e características diferentes, uma joia natural brasileira.

Continuamos nossa caminhada apreciando o entorno, saboreando o cheiro da floresta e seus tons mutantes. Depois de andarmos por um bom tempo, a floresta se abriu e lagoas, que brilhavam à luz do sol apareceram diante de nós.  Elegantes tuiuiús se refrescavam em suas águas límpidas. O canto do uirapuru desceu de uma árvore em um concerto da natureza.

Nem o calor quase insuportável e o clima extremamente seco nos faziam desistir de prosseguir por aquele lugar mágico.  Parávamos várias vezes para observar o voo de um tucano-toco ou a corrida de um veadinho assustado ao nos ver.

A cada passo, algo nos chamava a atenção, o que provocava um sorriso em nosso guia.

O barulho de águas turbulentas chegou aos nossos ouvidos e, mais adiante, um rio borbulhava suas águas, escondendo vorazes piranhas e às suas margens, jacarés imóveis aproveitavam o calor do sol.

Sentamos para descansar e colocando nossas mochilas no chão, aproveitamos para abri-las e tirar alimentos para matar a fome e a sede, naquela tarde ardente.  Restabelecidos seguimos, entusiasmados em encontrar novas surpresas.

Um tamanduá-bandeira passou por nós em disparada.  Estranhamos, porque geralmente são animais calmos. O guia balançou a cabeça em silêncio.  Parecia estar avaliando aquela atitude do animal, mas continuou em frente.

De repente, o crepitar da vegetação nos chegou aos ouvidos. O guia parou. Seu rosto se contraiu e ele disse precisarmos voltar imediatamente, porque a floresta estava queimando. O susto fez minha respiração parar. Meus companheiros se olharam aterrorizados.

Nesse momento, uma fagulha começou a arder em uma árvore próxima.  Em segundos, o galho foi tomado pelo fogo, espalhando-se pela árvore. O fogo era amedrontador, crescia com muita rapidez, as labaredas estalavam, em um ritmo rápido e se agigantavam bem perto de nós.

Como se tivéssemos sido empurrados pelo nosso terror, corremos velozmente na direção em que viemos.  Ao longo da correria, fomos nos livrando de nossas mochilas para correr o mais rápido possível.  As pesadas botas fizeram um companheiro tropeçar e cair.  Ajudamos a levantá-lo e continuamos nossa desvairada corrida. A fumaça começou a nos sufocar.  Tiramos as camisas para cobrir a boca e o nariz. 

Bocas aberta à procura de oxigênio, chegamos ao rio. O guia ligou para pedir socorro.  Para aliviar o calor do incêndio nos atiramos nas águas. O pavor endureceu meu corpo e raciocínio. As chamas na floresta pareciam alcançar o céu. O cheiro do fogo tomava tudo à nossa volta.

Subitamente, uma onça apavorada saiu da mata em direção ao rio. O guia com rapidez e destreza disparou um dardo para adormecê-la.  Ela caiu.  Aproximamo-nos dela e a molhamos.  Tinha uma das patas feridas.

Quando estávamos perdendo a esperança de nos salvarmos, o ronco de um motor atraiu nossa atenção. Um grande helicóptero parou e pairou no ar. Um cabo foi baixado. Passamos em volta do corpo da onça com muito cuidado e o belo animal foi o primeiro a ser içado.

Aos poucos, um a um foi levado ao helicóptero. A tensão ao sermos puxados para cima contrastava com o alívio de estarmos sendo resgatados.

Em baixo, o fogo se alastrava, queimando impiedosamente aquele paraíso verde. O helicóptero subiu mais para se livrar da intensa fumaça, que subia pelo ar.

Na aeronave, o silêncio nos abocanhou por uns minutos. Depois, fomos nos recuperando do choque e nos abraçamos comovidos. Durante o voo, aproximei-me da onça desacordada.  Passei a mão em sua cabeça. Conseguimos salvá-la, mas quantos outros animais morreriam…  Um arrepio percorreu-me ao pensar na destruição, que acontecia naquela região tão singular, abrigo de tantos animais e de um ecossistema tão rico.

Lágrimas amargas queimaram meus olhos.  Minha garganta ardeu como tivesse sido atingida pelo fogaréu. O espanto espelhava-se em cada semblante. A incredulidade estampada em cada olhar.

E naquele momento pensei com tristeza, como o homem pode ser capaz de destruir a própria casa em que vive.

 

O SEQUESTRO - Dinah Ribeiro de Amorim

 

 




O SEQUESTRO

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Amy Lancaster, famosa modelo americana, destaca-se muito no meio da moda pela sua beleza e porte. Cria tanta fama que recebe convite para participar como convidada especial numa famosa exibição de moda, em Paris.

É o sonho de toda modelo, tornar-se de fama internacional, principalmente, em Paris, o mundo da moda.

A empresa que a contrata, na América, estabelece contatos com a equipe em Paris, reservando-lhe o melhor hotel da cidade e outras mordomias.

Amy, vaidosa, sente-se, finalmente, realizada. Consagrou-se, após muito treino e esforço.

Ao chegar a Paris, seu coração acelera, só ao avistar as lindas paisagens.

É o sonho que se realiza, após tantas fantasias imaginadas, a esse respeito.

Acompanhada de duas amigas, também modelos, descansa no quarto de hotel, até serem chamadas para fotos e ensaios do desfile.

Em Paris, o mundo da moda é lindo, de fama mundial, sendo os rumores e as intrigas costumeiras, internas, sabiamente não divulgadas.

Iriam desfiar duas equipes, com suas modelos e inovações: a formada pelo famoso Lui Le Blanc, antigo, de conhecimento mundial, mas considerado, por muitos, já ultrapassado e, Maurice Coteaux, um novato, exibicionista, que ameaça derrubar o colega.

Como em toda profissão, existe a inveja, o poder, a briga, a conquista pela soberania que, se necessário, poderá chegar às brigas e às loucuras.

Apesar das novas modelos convidadas, serem bem guardadas, com acompanhantes e guardas secretos, existe a preocupação de sofrerem qualquer desagravo. Vieram para desfilar para Lui Le Blanc e são guardadas pela equipe dele, apesar dos muitos serviçais infiltrados em sua empresa, para espionarem as atividades, a serviço de Maurice Coteaux.

Claro que Amy e as amigas não sabem disso. Paris representa o ideal delas, em assunto de moda e nada de perigo as perturba e as acomete.

Uma tarde quente, não prevista, invade Paris. Amy, vendo que estão sem água gelada, enquanto as amigas dormem, sai ao corredor à procura de gelo, com alguma camareira de plantão. Parece que todos dormem devido ao calor.

Não a encontra. Percorre, curiosa, os arredores do belíssimo hotel, cheio de detalhes do tempo dos reis de França. Admira-se com quadros e enfeites, distraída, quando é agarrada, bruscamente, por braços fortes que lhe prendem as mãos e, antes que consiga gritar, colocam um tampão em sua boca. Sente-se empurrada para uma porta de saída e, antes que emita algum som, fazem-na adormecer com algo que lhe dão para cheirar.

Adormecida, é colocada em um carro que sai às pressas, antes que alguém os aviste.

Pobre Amy, acorda algumas horas depois, sonolenta, prisioneira, colocada numa cama malcheirosa, num quarto pequeno, que revela o lado pobre de Paris.

Muito assustada, trêmula, pergunta ao rapaz feio, de boné preto, que toma conta dela, onde está? Por que fizeram isso?

Ele não responde. Pensa nas amigas do seu quarto. Será que darão por sua falta?

As modelos que ficaram dormindo, acordam e, assustadas, descobrem que Amy não está. Tentam avisar a guarda do hotel, a empresa que as contratou, e também a polícia.

Logo, o quarto delas é invadido por policiais, investigadores, jornalistas, querendo mais informações e novidades sobre esse famoso rapto.

Lui Le Blanc, o famoso estilista que a contratou, descabelado e eufórico, tem uma leve desconfiança do acontecido. Maurice Coteaux deve estar por trás desse rapto. Não quer que seu nome apareça mais que o dele. É capaz de tudo por ambição e exibir seu nome.

A sujeira da bela moda e dos desfiles caríssimos também existe em Paris.

Aconselhado pelo advogado, resolve suspender o dia do desfile, até encontrarem a linda modelo Amy Lancaster. Não haverá mais nenhuma exibição, e tranca-se em seu escritório.

Os jornais e revistas noticiam o fato e a polícia de Nova Iorque é chamada para auxiliar a investigação.

As notícias pela televisão só falam nisso e até Amy, prisioneira, fica ouvindo sobre o seu rapto. Se pudesse se comunicar com eles, de algum modo, como seria bom.

O rapaz que está com ela, tomando conta, impede que fuja, mas não parece muito ruim de todo. Serve-lhe as refeições, arruma-lhe a cama para dormir, olha-a às vezes, com curiosidade. Parece entender de moda também.

Amy pergunta seu nome e chama-se Gilbert, natural de Givenchy, a terra de Monet. Como ele, gosta também de pintura.

Amy aproveita a arte para que ele se abra mais e converse com ela. Gilbert acaba confessando sua paixão por pintura e ter entrado na moda como auxiliar de Maurice, por falta de dinheiro. Confessa também que foi raptada para não brilhar no desfile de Lui, o grande rival que a contratou, sendo achada logo após, e devolvida à América. Ele e seus companheiros receberiam muita grana com o seu rapto e fugiriam de Paris, auxiliados, antes que alguém os descobrisse.

Amy começa a arquitetar um plano de fuga dali, após a conversa com o rapaz, que se torna amigável.

Ouve, por uma fresta da janela, os sinos que tocam, várias vezes ao dia, então deduz que está próxima à matriz Notre Dame. Pela mesma fresta, consegue ver os contornos da Torre Eifel, está próxima ao centro, não muito longe do hotel.

Percebe que muitos passantes caminham por ali. Seria fácil jogar algum bilhete na rua ou uma bola de papel neles. Como conseguir escrever algo?

Gilbert, enquanto toma conta dela, desenha o tempo todo. Tem papel e lápis. Deve estar desenhando seu rosto, percebe porque ele a olha, ocasionalmente.

Amy tem uma ideia. Embebedá-lo, atraí-lo, quem sabe consegue pegar o papel e jogá-lo pela janela.

Numa estante velha, jogada num canto, percebe uma garrafa de rum.

Fazendo-se tristonha e chorosa, convence o rapaz a tomarem uma bebedeira, já que estão juntos e ficarão lá algum tempo.

Gilbert cheira a garrafa e acha que ficarão mal, é muito velha.

Não faz mal, afirma categórica Amy, rum não estraga, quanto mais velho, melhor. E os dois entram na bebedeira. Ela toma cuidado para não cair em exagero, derrama um pouco na roupa, que fica cheirando álcool.

Gilbert, exagera, sentindo-se meio liberto da culpa que anda a sentir e Amy apanha disfarçadamente o retrato e joga pelo buraco do vidro da janela, feito um canudo.

O papel é encontrado, reconhecido por uma senhora idosa que vê muito a televisão. Entrega-o ao guarda da rua que, imediatamente, o leva à delegacia. A senhora informa onde o encontrou.

Pelo barulho, Amy entende que a descobriram e espera a sua liberdade. Gilbert, sonolento e bêbado, nem percebe quando o carregam, após abrirem a porta do quarto.

A modelo famosa torna-se mais famosa ainda, depois que é liberta.

Gilbert é preso e obrigado a revelar seu mandante, Maurice Coteaux, o invejoso, afastado do desfile e obrigado a se defender da acusação de rapto.

Acontece o desfile de Lui Le Blanc, com muita pompa e modelos famosos. Ainda é a coqueluche de Paris.

A carreira de Amy se desenrola muito, após isso, que percorre o mundo todo.

 

UMA NOITE NA ARENA DE VERONA - Alberto Landi

 



UMA NOITE NA ARENA DE VERONA

Alberto Landi

 

Era uma noite mágica em Verona e a lua cheia iluminava a cidade antiga.

Curioso, decidi explorar a famosa Arena, um magnífico anfiteatro romano que resistiu ao tempo.

Ao entrar, fiquei maravilhado com as imensas pedras que formavam as arquibancadas.

O som da multidão ecoava nas paredes, como se o próprio passado estivesse vivo.

Os habitantes da cidade se reuniram para assistir um espetáculo grandioso: uma peça teatral que contava as histórias de heróis e deuses da mitologia romana.

O ar estava carregado de expectativas enquanto as pessoas se acomodavam em seus lugares, vestindo trajes coloridos da época.

Encontrei um lugar próximo ao centro, onde poderia sentir toda a energia da apresentação.  

À medida que as luzes se apagavam, um silêncio reverente tomou conta da Arena. Os atores surgiram sob a luz das tochas, trajando roupas elaboradas que brilhavam à luz da chama.

A história começou a se desenrolar diante de meus olhos: guerreiros lutando por honra, damas em busca do amor e reinos em conflito. A atuação era tão intensa que parecia que os próprios deuses estavam presentes.

Deixei-me levar pela emoção da cena, sentindo cada golpe, cada suspiro como se fizessem parte da minha própria vida. O calor das tochas aquecia meu rosto e o cheiro do incenso perfumava o ar, transportando para aquele mundo distante.

No intervalo, observando os outros espectadores, notei que havia comerciantes, nobres e camponeses. Todos unidos pela paixão do teatro. As histórias compartilhadas entre risadas e sussurros criavam uma conexão imediata entre todos. 

Um sábio contador de histórias nos disse:

— A arena não é apenas pedra, é o coração pulsante de Verona!

Quando a peça recomeçou, estava ainda mais atento à experiência.

As batalhas eram representadas com tanta habilidade que parecia sentir a adrenalina correr nas veias. O clímax do espetáculo trouxe lágrimas aos olhos de muitos, uma cena poderosa onde os amantes eram separados pela guerra.

Ao final da apresentação, a multidão explodiu em aplausos ensurdecedores.

Levantei-me com todos os outros, coração batendo forte, com a emoção do momento. Os atores fizeram uma reverência profunda agradecendo ao público por compartilhar aquele instante mágico na histórica Arena de Verona.

Na saída, sob o brilho das estrelas, senti que havia sido parte de algo muito maior do que apenas uma apresentação teatral.

Aquela noite ficou gravada em minha memória para sempre - um testemunho da beleza do teatro e da capacidade humana de contar histórias que transcendem o tempo.

Verona não é apenas uma cidade, mas um lugar onde o passado e presente se entrelaçam em um espetáculo majestoso e eterno.

 


O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...