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domingo, 25 de agosto de 2024

PANTANAL - Adelaide Dittmers

 



PANTANAL

Adelaide Dittmers

 

 

Éramos um grupo de oito homens, acompanhados por um guia experiente, desbravando a mata fechada do Pantanal.  Sonho antigo de ver e viver as belezas daquela região única.

Caminhávamos lentamente por uma estreita trilha, rodeada por uma vegetação baixa e grandes árvores, quando, subitamente, uma cobra jaracuçu cruzou o nosso caminho no seu rastejar lento e sinuoso. Estacamos respeitosamente para deixá-la passar. A beleza de suas cores nos fascinou.

O desafio da aventura dominava todos nós.  Cuidado e excitação transbordavam de nossos olhares. O que iríamos encontrar à nossa frente. Área de rica fauna e características diferentes, uma joia natural brasileira.

Continuamos nossa caminhada apreciando o entorno, saboreando o cheiro da floresta e seus tons mutantes. Depois de andarmos por um bom tempo, a floresta se abriu e lagoas, que brilhavam à luz do sol apareceram diante de nós.  Elegantes tuiuiús se refrescavam em suas águas límpidas. O canto do uirapuru desceu de uma árvore em um concerto da natureza.

Nem o calor quase insuportável e o clima extremamente seco nos faziam desistir de prosseguir por aquele lugar mágico.  Parávamos várias vezes para observar o voo de um tucano-toco ou a corrida de um veadinho assustado ao nos ver.

A cada passo, algo nos chamava a atenção, o que provocava um sorriso em nosso guia.

O barulho de águas turbulentas chegou aos nossos ouvidos e, mais adiante, um rio borbulhava suas águas, escondendo vorazes piranhas e às suas margens, jacarés imóveis aproveitavam o calor do sol.

Sentamos para descansar e colocando nossas mochilas no chão, aproveitamos para abri-las e tirar alimentos para matar a fome e a sede, naquela tarde ardente.  Restabelecidos seguimos, entusiasmados em encontrar novas surpresas.

Um tamanduá-bandeira passou por nós em disparada.  Estranhamos, porque geralmente são animais calmos. O guia balançou a cabeça em silêncio.  Parecia estar avaliando aquela atitude do animal, mas continuou em frente.

De repente, o crepitar da vegetação nos chegou aos ouvidos. O guia parou. Seu rosto se contraiu e ele disse precisarmos voltar imediatamente, porque a floresta estava queimando. O susto fez minha respiração parar. Meus companheiros se olharam aterrorizados.

Nesse momento, uma fagulha começou a arder em uma árvore próxima.  Em segundos, o galho foi tomado pelo fogo, espalhando-se pela árvore. O fogo era amedrontador, crescia com muita rapidez, as labaredas estalavam, em um ritmo rápido e se agigantavam bem perto de nós.

Como se tivéssemos sido empurrados pelo nosso terror, corremos velozmente na direção em que viemos.  Ao longo da correria, fomos nos livrando de nossas mochilas para correr o mais rápido possível.  As pesadas botas fizeram um companheiro tropeçar e cair.  Ajudamos a levantá-lo e continuamos nossa desvairada corrida. A fumaça começou a nos sufocar.  Tiramos as camisas para cobrir a boca e o nariz. 

Bocas aberta à procura de oxigênio, chegamos ao rio. O guia ligou para pedir socorro.  Para aliviar o calor do incêndio nos atiramos nas águas. O pavor endureceu meu corpo e raciocínio. As chamas na floresta pareciam alcançar o céu. O cheiro do fogo tomava tudo à nossa volta.

Subitamente, uma onça apavorada saiu da mata em direção ao rio. O guia com rapidez e destreza disparou um dardo para adormecê-la.  Ela caiu.  Aproximamo-nos dela e a molhamos.  Tinha uma das patas feridas.

Quando estávamos perdendo a esperança de nos salvarmos, o ronco de um motor atraiu nossa atenção. Um grande helicóptero parou e pairou no ar. Um cabo foi baixado. Passamos em volta do corpo da onça com muito cuidado e o belo animal foi o primeiro a ser içado.

Aos poucos, um a um foi levado ao helicóptero. A tensão ao sermos puxados para cima contrastava com o alívio de estarmos sendo resgatados.

Em baixo, o fogo se alastrava, queimando impiedosamente aquele paraíso verde. O helicóptero subiu mais para se livrar da intensa fumaça, que subia pelo ar.

Na aeronave, o silêncio nos abocanhou por uns minutos. Depois, fomos nos recuperando do choque e nos abraçamos comovidos. Durante o voo, aproximei-me da onça desacordada.  Passei a mão em sua cabeça. Conseguimos salvá-la, mas quantos outros animais morreriam…  Um arrepio percorreu-me ao pensar na destruição, que acontecia naquela região tão singular, abrigo de tantos animais e de um ecossistema tão rico.

Lágrimas amargas queimaram meus olhos.  Minha garganta ardeu como tivesse sido atingida pelo fogaréu. O espanto espelhava-se em cada semblante. A incredulidade estampada em cada olhar.

E naquele momento pensei com tristeza, como o homem pode ser capaz de destruir a própria casa em que vive.

 

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