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quinta-feira, 4 de junho de 2020

SANGUE FRIO E PENSAMENTO RÁPIDO - Do Carmo



 


SANGUE FRIO E PENSAMENTO RÁPIDO
Do Carmo


Depois de um dia estafante de trabalho, chuvoso, super abafado e tendo que enfrentar um congestionamento insuportável, cheguei em casa. Foi com alívio que tranquei a porta decidida a tomar um reconfortante banho e desmaiar na cama.

Deixei como de costume o chaveiro com as chaves do carro, do escritório e da porta de entrada, na própria porta, pendurada na fechadura. A bolsa e minha pasta deixei-as em uma cadeira ao lado de um console, logo perto da entrada. Sem notar nada de diferente que pudesse chamar  atenção, fui para a cozinha, preparei um capuccino na minha canequinha preferida, e fui para o quarto. Só então notei a luz acesa. 

A Eliana esqueceu de apagá-la. Mais um passo e vejo a porta do armário aberta, e para meu espanto, refletido no espelho da porta, um homem deitado de costas embaixo de minha cama.

Não sei como não gritei tal o pavor que senti. Sem fazer nenhum movimento que demonstrasse minha descoberta, fingi pensar em voz alta:

-            Vou pedir uma pizza, estou com preguiça de cozinhar, e nada mais agradável que pizza e uma taça de bom vinho.

Então, fingindo tranquilidade, peguei o telefone, liguei para a polícia. Com voz firme e determinada, disse:

-            Senhor, eu estou na Rua Tulipa nº 508 apto 13 eu preciso que entregue uma pizza com a máxima urgência.

Asperamente o policial disse que brincadeiras dessa espécie eram abomináveis, mas eu rapidamente, sem que ele tivesse chance de falar ou desligar, eu continuei:

-     Eu preciso que o senhor entregue logo, estou ficando com muita fome, não gosto de esperar. Ele meio desconfiado responde:

-            A senhora está em apuros?

-            Exatamente, senhor, que bom que o senhor falou esse sabor, venha rápido, por favor, vou esperá-lo na porta.
-             
Desliguei o telefone e continuei tomando o capuccino, que quase não descia pelo rochedo da garganta de tão seca que estava. Mas sorridente comecei a cantarolar, embora meu coração batucasse e quase saltasse pela boca: PARA LÁ TIM BUM, BUM, BUM, PARA LÁ TIM BUM, BUM, BUMBUUUUM para demonstrar descontração. Certamente esse bandido era o fugitivo assassino procurado.

Decorridos alguns minutos, que demoraram séculos a passar, ouvi Pirrimmmmm, o mais alegre que jamais ouvira e rapidamente fui até a sala e com mãos tremulas destranquei e abri a porta, dando passagem a quatro policiais fortemente armados, que silenciosamente dirigiram-se ao quarto iluminado e eles aprisionaram o fugitivo, sem que ele tivesse tido tempo de tentar escapar.

Aos empurrões, saiu gritando que voltaria e aí sim, eu veria o que é ser enganado por uma moça azeda.

Seu olhar de fio de navalha escurecia seu rosto jovem e bonito, que mostrava  não ter mais de vinte anos. Ainda com olhar cortante pelo ódio, voltou-se para mim e explodiu em blasfêmias. Entrou na viatura gritando que voltaria.

Desabei na cama e chorei de agradecimento a Minha Mãe Santíssima.


DE REPENTE O FIM. - Do Carmo



Contratar detetive particular é seguro? - Detetive Daniele

DE REPENTE O FIM.
Do Carmo


Depois de muitos anos de convivência, difícil é não perceber a modificação do comportamento do parceiro.  Assim aconteceu com o casal Maria e Eduardo, sempre citados como modelo de amor infinito e fidelidade concreta.

Sem aparente motivo, Maria começou a notar diferentes atitudes nos hábitos do marido, longos momentos de alheamento e desfocados olhares para o nada, passeios solitários e explicações absurdas, por não combinarem com seu temperamento.

Imaginava mil motivos, mas nenhum a satisfazia, pois o amor que os unia há tantos anos, não se enquadrava no contexto  em que viviam.

Sem consultar ninguém, decidiu contratar um detetive particular de grande credibilidade que conheceu pela TV, e secretamente marcou entrevista.

Continuava observando o marido e cada vez mais ficava cismada com as desculpas que ele dava quando ela o questionava sobre as saídas sorrateiras, pois nunca foi frequentador de praças e jardins, dizendo que só desocupados vagavam por esses lugares. Dizia também que estava indo à igrejas, pois começava a sentir falta de religião. Se falasse que frequentava bibliotecas, ela aceitaria uma vez que era amante da leitura. 

Finalmente chegou o tão esperado e ansioso dia do novo encontro com o detetive, quando ele lhe entregaria o relatório de conclusão da investigação.

Maria não sabia o que fazer. Abrir imediatamente o envelope recebido, ou lê-lo no táxi de volta, ou ainda esperar chegar a casa, acalmar-se, se possível, ou ainda deixar para o outro dia, quando estivesse só.  

Dilema do inferno, o que decidir, sentia o calor das lágrimas ardentes prestes a rolar. Sem muito refletir, foi para o quarto, fechou a porta e desabou em lágrimas. 

Não mensurou o tempo passado nesse transe, mas quando resolveu sair, já tinha decidido que esperaria pelo amanhã.

O restante do dia foi o mesmo marasmo.

Na manhã seguinte, a rotina fantasma continuou.

Depois de ler o jornal, Eduardo falou como ultimamente:

- Querida, volto para o almoço.  Saiu.

Imediatamente, Maria vai para o quarto e trêmula de ansiedade e pavor, pega o envelope revelador e sentando-se na poltrona do penteador, rasga-o e retira uma só folha datilografada.

Senhora Maria, tendo cuidadosamente seguido e investigado os passos e comportamentos de seu marido, senhor Eduardo, tenho a informar que todas as explicações dadas pelo seu marido sobre suas idas a igrejas, praças e jardins, são verídicas, como a senhora constata nas fotos. Sempre cabisbaixo e triste, olhar distante, ficando horas sentado nos bancos, algumas vezes balançando a cabeça, passando as mãos no rosto, nos cabelos, como se quisesse espantar pensamentos daninhos.

Totalmente abismada com o resultado tão esperado da investigação, resolve conversar com o marido, francamente, logo depois do almoço.

Como sempre ele chega triste e acabrunhado, prepara-se para almoçar e assim que termina a refeição, levanta-se e sem palavras retira-se para a sala com o jornal na mão.

Muito aflita Maria o segue e senta-se em uma poltrona em frente a ele e com voz embargada pela emoção e pavor pelo que vai ouvir, o questiona:

- Eduardo, o que está acontecendo com você? Em todos esses anos de nosso casamento, nunca o vi tão distante e triste. O que está acontecendo, você não me ama mais?

Tal qual impulsionado por uma mola, Eduardo empertiga-se e aos brados de leão grita:

-Você é a culpada, não me ama mais, age estranhamente como uma folha ao vento, mal fala comigo, não me olha nos olhos com aquela chama azulada do amor, o que você quer que eu sinta? Analisei-me profundamente para descobrir o que fiz para você deixar de me amar, o porquê desse comportamento surdo-mudo, sempre com semblante triste, demonstrando infelicidade, me perguntava, errei onde, Senhor Deus, me esclareça, mostre-me um caminho para voltarmos à vida romântica e feliz que sempre tivemos.

Sem acreditar no que ouvia Maria também se levanta e estendendo os braços e com o rosto de cintilante rubi, banhado em alegres lágrimas de amor, encaminha-se para Eduardo gritando:

-É o fim, felizmente, é o fim!

Paralisado pela explosão de felicidade de Maria, ele desaba na poltrona e com voz rouca de emoção e susto, julgando que ela esteja dizendo que não o  ama mais, desarvorado repete:

– Por que o fim? Então você, realmente, não me ama mais?

Maria, sem entender direito o que Eduardo havia falado, entre soluços felizes e abraços descompassados tentava acalmar-se para poder explicar o que ela imaginava sobre o comportamento dele.

Eduardo disse em tom imperativo:

-Maria, sente-se e fale comigo com clareza, o que realmente você está sentindo ao meu respeito.

Secando as lágrimas, respirando com menos ansiedade, explica que julgava que ele não mais a amasse, e que essas saídas extravagantes, esses lugares que ele dizia ir, antes abominados por ele, visitar igrejas, tudo fora de suas preferências. O silêncio indiferente que usava, para mim era demonstração de desinteresse, falta de amor, fim de um casamento. Querido eu o amo como sempre, e sei que jamais deixarei esse amor morrer, sentia-me muito triste, porque julgava que você não mais me queria.

  Não acredito que houve tanto sofrimento por suposições errôneas. Ah! Que alívio, eu amo você, Maria, sempre irei amá-la. Eu ardia de ciúme, pensando que havia outro homem em seu coração. Como fui idiota. Pensar em um absurdo como esse, conhecendo você como eu conheço não tinha propósito.

E depois de muitos abraços e beijos apaixonados, foram para o quarto e Maria, muito feliz, disse - De repente o fim.

Acordaram abraçados, como há muito não acontecia.


MINHA PREFERÊNCIA - Do Carmo



Cestas de Café da Manhã, Chocolate, Doces e Salgados - Página ...


MINHA PREFERÊNCIA
Do Carmo



Eu sempre preferi salgadinho a doce. E graças a essa preferência, fiquei amiga de um famoso vendedor ambulante que ficava borboleteando a Secretaria de Estado em que eu trabalhava, nas horas críticas da fome. Sempre no horário da saída para o almoço e no final do expediente.

Seus quitutes, realmente, eram pedaços de céu quentinho. Para meu desespero, nunca deixei de comprá-los, fingia ser a Olivia Palito e comia.

Já se havia tornado hábito eu encomendar salgadinhos no almoço e pegá-los ao final do dia e levá-los para casa, além dos devorados na hora.

Certa vez, um vendedor desconhecido, estava no lugar do senhor João, com o qual já tínhamos amizade de querência, como ele dizia.

Curiosa perguntei:

- O senhor João não veio hoje? O senhor o está substituindo? O que aconteceu para ele não vir?

Simplesmente respondeu:

- Aquele velhaco está onde deveria estar a muito tempo. Está no xilindró, a senhora nunca ficou com chifre de bode na barriga depois de comer? Ele usa erva da maldade para viciar as freguesas. Agora ele vai pagar o que fez para mim, dizendo que ele trabalha melhor do que eu.

Bastante incrédula, voltei para casa com os salgadinhos desse novo vendedor, não toquei neles por ter dúvidas, de repente lembrei-me de que havia anotado o telefone do senhor João, para alguma encomenda extra.

Como um raio, liguei para casa dele e quem atendeu foi um dos filhos que muito indignado, respondendo a minha pergunta, contou-me o seguinte:

- Infâmia, senhora, fizeram uma enorme armação para meu pai, batizaram os sanduiches com folhas de erva do Diabo. Um desconhecido comprou um desses sanduiches e logo foi a uma Delegacia próxima e denunciou meu pai, que imediatamente foi algemado e levado preso.

Agora somente nos resta esperar pelo julgamento, que será no próximo mês. Um dos meus professores da Faculdade é seu advogado de defesa, uma vez que é um dos comilões assíduos e amigão. Está confiante na vitória.

Os dias andaram na rapidez de tartaruga, tartarugando a passar.

Finalmente o julgamento começou. Muitos preâmbulos, apresentações e inicia a chamada das testemunhas, sendo primeiro as de acusação.

Ao chamarem a segunda testemunha, uma senhora levanta-se muito alterada, tenta começar a falar, mas, entre cascata de lágrimas confessa que tinha ajudado na troca dos sanduiches bons pelos batizados. 

O acusador tentou fugir, mas os seguranças rapidamente o algemaram, então ele declarou ter sido pago pelo vendedor senhor Fulgêncio, o desconhecido, para denunciar o senhor João do crime de entorpecente.

O senhor João estava lívido, assustado e sem saber o que fazer.
Sua esposa e os filhos revoavam ao seu redor, abraçando e beijando, deixando-o sufocado. De repente, feliz levantou os braços e gritou:

- Agradeço, oh! Meu Deus. Como o senhor é bom e justo comigo!

Os jurados diante da sinceridade do libertado réu, batem palmas.

Depois de uns dias de feliz restauro de vida, volta com seu baú repleto de delícias, vendendo tudo aos famintos e saudosos comilões.



sexta-feira, 27 de março de 2020

FIGURAS DE LINGUAGEM - NOSSA ALIADA





FIGURAS DE LINGUAGEM -  NOSSA ALIADA


Aproveitando a quarentena para tirar dúvidas sobre as Figuras de Linguagem

Aqui colocaremos vídeos animados que o professor Noslen gravou para ENEM sobre Figuras de Linguagem, uma das mais importantes  ferramentas de escrita. Tudo bem fácil e claro. 
E, um vídeo com exercícios, que tal tentar?

Acompanhem:

















quinta-feira, 5 de março de 2020

Decisão precipitada? Talvez... - Hirtis Lazarin




Decisão precipitada?  Talvez...
Hirtis Lazarin



Depois de um dia exageradamente quente, caem lá fora os primeiros pingos de uma chuvinha mansa.  A brisa balança a cortina fina de voal, invade a sala e acaricia-lhe o rosto.  O tilintar da colherinha na xícara vazia de café soa como música.  

Abre a garrafa de vinho e uma taça desce deslizando.  Boceja várias vezes e o sono devagarinho vem.  É uma sensação preguiçosa e confortante.  Anita fecha o livro que lia e os olhos também.  Adormece profundamente.

O silêncio aconchegante é interrompido pelo toque do telefone e ela desperta.  O bem-estar do momento é maior que a vontade de falar com alguém.  Sabe que não é Gustavo, seu companheiro.  Ele viajou a negócios e já se falaram, naquela tarde, duas vezes.  E não era costume dele ligar fora de hora. 

Ignorou os toques insistentes, mas quando viu que o relógio marcava duas horas da manhã, se arrependeu do que fez.  

"Ninguém ligaria pra alguém se não fosse emergencial, que desajuizada eu sou... Pode ser alguém precisando de ajuda.  Mas quem?  A esta hora eu não posso ficar ligando para minha família e para todos meus amigos".

 A espera de uma nova ligação é angustiante, Anita rói as unhas que já estão no toco, outra taça de vinho, mais outra e mais outra... O álcool dá-lhe um pouco de sossego.

Quando já não acredita mais na possibilidade de saber quem estava do outro lado da linha, o telefone toca novamente. Anita pega-o num salto tão desajeitado que, por pouco, não se esborracha no chão.  Queria saber quem era, mas temia ouvir o que essa pessoa tinha pra lhe contar.  O alô aflito de Anita foi logo interrompido por uma voz feminina, rouca e sensual.  Não se identifica e não lhe dá chance de falar.  Desfia uma ladainha imensa e Anita só ouve  o nome de Gustavo.  Ela passa mal, sente dificuldade em respirar, a vista escurece e ela desfalece.

Quando recobra os sentidos está estatelada no chão, com o fio comprido do telefone enroscado no corpo, os óculos com lentes trincadas atirados pra debaixo da mesa.  O relógio marca quatro horas da manhã.  O turbilhão de palavras que ouviu roda na sua cabeça como disco de vinil em rotação errada.  Aos poucos, foram se organizando em frases conexas e a mensagem se completa.  Uma bomba!  "Será que foi ele quem pediu pra amante fazer a ligação? Nunca pensei que vivia com um homem falso e covarde.

Anita anda de um lado para outro como barata tonta, senta, levanta, toma num gole só o vinho que restava na garrafa, balbucia ofensas, grita palavrões.  Treme tanto que não consegue achar o número de telefone que precisa.  Tenta se acalmar, liga o computador e busca no Google o telefone do hotel "Copacabana Palace", no Rio de Janeiro.  Liga e ouve o que jamais queria ouvir: "O casal Gustavo e Lucimara estão, sim, hospedados aqui.  A reserva vai até o final de semana."

"Viagem de negócios?  E foram tantas naquele ano...Homem carinhoso, companheiro de todas as horas.  Nunca desconfiei de você.  Caminhamos sempre juntos, construímos tudo juntos.  Quanta luta e esforço.  E a cada vitória nossa, quanta comemoração!  Eu não mereço essa traição.

Anita não era mulher de ficar parada esperando o mundo desabar, mas para ninguém é fácil vê-lo ruindo sem nada pra fazer. Sabia que nada conserta a falta de confiança.  Impossível, para ela, dividir a vida com alguém quando se quebra esse cristal.   Chorou tudo que podia chorar, os olhos inchados e vermelhos pareciam picados por abelhas. Seguiu em frente, fez uma mala, com o mínimo de coisas que precisava e esperou o dia amanhecer.  

Depois de uma hora, desembarca no aeroporto.  Sairia do país.  Para onde?  Não sabia ainda.  Dinheiro não lhe faltava para levar uma vida confortável em qualquer lugar do mundo.

Antes de sair de casa, deixou sobre a mesa da sala, debaixo de uma fotografia rasgada do casal, apenas um bilhete de adeus.



quarta-feira, 4 de março de 2020

A resposta é sua - Hirtis Lazarin




A resposta é sua
Hirtis Lazarin


Ela acordou assustada com os gritos do despertador.  Acendeu a luz tênue do abajur e constatou que o relógio estava certo.  Marcava exatamente cinco horas, vinte e sete minutos.  A impressão dela era de ter acabado de se deitar. "Não é possível! Acho que os ponteiros apostaram corrida durante a noite e o maior, mais esperto e poderoso, venceu o desafio.  Saltou do quatro para o cinco e lá se foi uma hora engolida da madrugada.

Com a dificuldade de um corpo vivido, Helena sentou-se na cama, orou para Nossa Senhora das Causas Impossíveis, calçou os chinelos tão velhos quanto ela, e arrastou-se até a cozinha.

Nenhuma fruta, apenas um pãozinho amanhecido e requentado e uma caneca de café aguado.  O pó de café não podia dar-se ao luxo de ser esbanjado no coador.  Depois de um cigarro apreciado até o último suspiro, ela espia o tempo lá fora. Nublado e frio.  Não importa, nada a esmorece.  Ainda tem um sonho e sabe que sem ele a vida tornar-se-ia vazia, sem gosto e nem valeria mais a pena viver.  Sabe também que todo sonho exige esforço e o esforço nos conduz ao prêmio.  E o prêmio terá o tamanho da nossa persistência.

Veste o único casaco de lã sobre a roupa que dormiu, calça a bota de borracha que alcança seus joelhos e está pronta para mais um dia de busca.

O ônibus da linha verde, sempre pontual, atrasa.  Mais de trinta minutos já se passaram.  O frio castiga-lhe o rosto enrugado e, em cada ruga mais profunda, esconde-se um capítulo de sofrimento.  As pernas doem, mas não a fazem desistir de seu propósito.  É o que a mantém viva depois que seu companheiro se foi.

Cinquenta anos de esperança.

Cinquenta anos de busca;

Cinquenta anos de saudade.

Alegrias e tristezas são constantes em nossa vida.  Sabedoria é saber lidar com elas.

Cada manhã, a velha senhora desce próxima a uma estação de metrô e ali passa o dia.  Carrega um cartaz plastificado com o nome de sua irmã, seis anos mais nova.  As duas foram deixadas e esquecidas num orfanato.  Aos dezoito anos, Helena foi apresentada à vida e encaminhada a uma família para trabalhar como doméstica.  Alguns anos depois, já casada, voltou ao orfanato para resgatar a irmã, não mais a encontrou.  Perderam-se para sempre. 
Era pouco mais de meio-dia quando a chuva apertou.  Foi no bar do português que ela conseguiu abrigo.  Consultou a carteira e tinha o suficiente para um lanche e coca cola.

Uma jovem sentada numa mesa próxima, observava como aquela senhora humilde saboreava o sanduíche.  Era com tanto gosto que parecia estar diante de uma ceia de Natal.  Aquela fisionomia atraia e intrigava-a.   Por mais que tentasse, não decifrava o quê, nem o porquê.   Aqueles olhos... Aquele sorriso tristonho... Pensou em se aproximar, mas o tempo era curto e o compromisso inadiável.

Inquieta, Gisele se foi, mas aquele semblante povoou seus sonhos por noites seguidas.  Voltou àquele bar várias vezes, caminhou pelas ruas próximas e nada...  As tentativas de busca foram muito mais do que se possa imaginar.  Mas ela mesma nem sabia porque se atormentava tanto.  Até que, graças ao tempo e às orações, aquele pensamento esporadicamente retornava, sem sofrimento, apenas lembranças.

Mas coisas nos acontecem independentemente da nossa vontade e cada um  arruma explicações de acordo com suas convicções.

E foi numa tarde ensolarada que o milagre aconteceu:  Gisele encontrou Helena, sentada nas escadarias do Teatro Municipal, tentando se proteger do calor.  Aproximou-se e, em pouco tempo, as duas tagarelavam como antigas conhecidas.  Gisele, com sutileza e jeitinho, foi colhendo informações sobre a vida daquela senhora, tão estranha e tão familiar.  A cada detalhe revelado, a cada nome mencionado...E quando apareceu o nome do orfanato, o mistério se revelou.  Foi choro, foi abraço, foi o melhor momento da vida de Helena.   A avó de Gisele era a irmã que ela sempre acreditou estar viva.  A busca incansável terminou.

Caro leitor, vale a reflexão:  Tudo acontece por acaso?  Ou Deus teve piedade do sofrimento de uma senhora tão fervorosa e concedeu-lhe uma graça?  Ou já nascemos trazendo uma malinha que aprisiona nosso destino?


terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Prêmio São Paulo de Literatura - 2019


Prêmio São Paulo de Literatura

Uma das mais conceituadas premiações de literatura no País e a maior em valor individual, o Prêmio São Paulo de Literatura tem como objetivo estimular a produção literária de qualidade, valorizar o setor e favorecer a formação de leitores e escritores, reconhecendo grandes nomes e também novos talentos.

Os vencedores de 2019 foram anunciados em novembro e receberam o troféu durante a cerimônia. Ana Paula Maia foi premiada na categoria Melhor Romance de 2018 pela obra “Enterre seus mortos”, e Tiago Ferro foi contemplado como Melhor Romance de Estreia de 2018 por “O pai da menina morta”.




http://www.cultura.sp.gov.br/premiacoes-da-cultura-de-sao-paulo-2019-conheca-os-vencedores-e-homenageados/

ENTERRE SEUS MORTOS

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(VEJA AQUI TRECHOS DESTE LIVRO)





O PAI DA MENINA MORTA

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quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

CONFRATERNIZAÇÃO 2019 - COM AMOR TUDO FICA MAIS GOSTOSO!!

CONFRATERNIZAÇÃO 2019
EMPÓRIO SANTA MARIA

É um enorme prazer estar ao lado de corações tão sinceros e leais como os de vocês,  Família Ical. 

Foi muito gratificante ver os olhos felizes pelo encontro, os abraços apertados pela amizade de dez anos ou mais. 

O papo estava agradável, as pessoas estavam descontraídas, o serviço estava perfeito, havia muita fartura na mesa, abundância e variedade. E, foi essa razão de tão poucas fotos. 

A ideia de fazermos a confraternização nesse lugar maravilhoso, foi da Dinah. Obrigada, chefa.

Agradecemos também ao gentil atendimento da Fernanda e do Bruno, Empório Santa Maria: Av Cidade Jardim, 790 - SP/SP:

http://www.emporiosantamaria.com.br/



Agora estamos de férias. 
Retomaremos no dia 6 de fevereiro, com sangue total!!


Ah, quem estava lá?

Ana Maria e Olavo Maruggi
Suzana e Luiz Guilherme
Hirtis e Henrique
Eliana e Ricardo Augusto
Noêmia Iasz
Maria Do Carmo
Anna Catarina
Anna Izabel (mãe da Anna catarina)
Ilka
Hilda (amiga da Ilka)

Veja  as fotos, algumas repetidas, mas são as únicas que temos: 


PARA A DINAH:















O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...