A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

O fantástico resgate do amor de uma mãe - Alberto Landi

 



O fantástico resgate do amor de uma mãe

Alberto Landi

 

Charlotte, nascida em 1920 em Castle Combe, interior da Inglaterra, pertencia a uma família de protestantes.

Ela tinha sonhos frequentes que a deixavam triste, deprimida, sonhava com seu próprio falecimento.

Estava desesperada, pois com quatro filhos não tinha o suporte e orientação necessária do marido, ex combatente da primeira Guerra mundial, que após retornar da guerra se entregou a bebida, um pai infeliz  e marido ausente.

O sonho, ao lado de certas lembranças que surgiam no estado de vigília, fazia parte de seu quotidiano, influenciando desta maneira o seu desenvolvimento psicológico, emocional e social.

Aconteceu que prematuramente o sonho tornou-se realidade, deixando os filhos pequenos.

 

Muitos anos se passaram...

Marta, americana natural e moradora de San Diego, tem dois filhos.

Sua profissão jornalista, fotógrafa e escritora.

Num determinado dia, viu um anuncio no jornal local: Vende-se uma casa no interior da Inglaterra, por um euro, no pequeno vilarejo de Castle Combe.

Como requisito seria necessária uma pequena reforma e fixar residência pelo menos por seis anos.

Como ela sempre quis conhecer esse país, entusiasmou-se pela publicação e começou a pesquisar.

Por ser uma escritora, achou que seria o local adequado para exercer a profissão.

Nesse lugar havia um pequeno castelo, que os moradores diziam ser rico em historias e lendas imaginarias.

Castle Combe se assemelhava a um cenário visto em filme de suspense, Psicose, ficava no alto de uma colina, com características bem sinistras. Um vilarejo que nasceu com os celtas e que até hoje nenhuma construção foi alterada e ou complementada.

Aproveitou um programa de incentivo do governo e adquiriu a casa.

Ela desde criança tinha visões com Charlotte e vivia dividida entre uma vida atual e passada. Era como um quebra-cabeça com certas peças apagadas, outras fora de lugar e outras nítidas, mas fáceis de se encaixarem.

Geralmente, nas pessoas as lembranças de infância assomam de forma desordenada sem nenhuma cronologia.

Dentre suas lembranças, destacava-se um chalé onde morava com filhos e marido.

Lembrava com muita clareza o lugar em que vivia bem como suas ocupações diárias.

Esses sonhos passaram a dominar sua vida, pois eram imagens claras de uma família, num pequeno lugar da Inglaterra.

Ela procurou um terapeuta. O analista, após submete-la a sessões de regressão, concluiu:

--Não são sonhos, são lembranças de vidas passadas!

Com o apoio da família, Marta viaja para averiguar a casa, em busca de pistas de seu passado.

Ela pressentia que os filhos de Charlotte que apareciam nos sonhos poderiam estar vivos e ela teria um papel relevante junto àquelas crianças de ontem. O sonho mostrava o local, justamente o mesmo do anuncio do jornal. 

O objeto central de suas preocupações eram os filhos deixados. Ela tinha lembranças de pessoas, lugares....

A dor da separação dos filhos devia ter sido tão intensa, aflitiva por deixá-los no mundo tão grande, o sentimento de culpa por não conseguir superar a morte e deixá-los desprotegidos.

Penso que o passado espiritual interfere diretamente sobre nossa existência atual.

Ela se recordava de que Charlotte gostava de ler, escrever pequenos contos infantis.

A jovem escritora, por sua vez sem muita aprendizagem escrevia desde pequena e demonstrava com livros, habilidade que constituía herança da existência anterior.

Tinha necessidade de encontrar sua família da vida passada.

Aquelas crianças tinham sido privadas ainda na infância daquilo que seus filhos atuais estavam desfrutando agora, por isso, sentia que tinha que fazer algo a respeito.

A intensificação das lembranças ocorreu na mesma faixa etária, 32 anos quando Charlotte faleceu.

Com o material recolhido das regressões e das lembranças espontâneas, deu inicio a uma grande busca, os filhos de sua vida anterior.

O quebra cabeça começava a mostrar contornos mais nítidos.

Escreveu várias cartas para os moradores locais, indagando sobre uma mulher chamada Charlotte, que teria vivido num chalé na década de 30, num determinado lugar do vilarejo.

Com o passar do tempo, apenas uma carta foi respondida e decisiva.

A mulher foi identificada como, Charlotte e os filhos tinham sido enviados para orfanatos diferentes.

A sua busca mostrava algum resultado.

Conseguiu o nome e data de nascimento dos quatro filhos: George, Oliver, Elizabeth e Bridget.

Certo dia recebeu um telefonema inesperado, de um de seus filhos da sua existência anterior, George.

O encontro com ele foi com muita emoção, ela com apenas 32 anos seria uma revelação um tanto quanto alucinatória para qualquer pessoa.

Apesar de certa confusão no inicio, este forneceu o endereço e numero do fone de Oliver, mas o paradeiro das meninas naquela ocasião era desconhecido, pois foram para outro orfanato diferente dos irmãos.

George então com 71 anos, demonstrou grande reserva e ceticismo diante desses fatos.

Ela revelou coisas que somente ele, seus irmãos e a mãe sabiam, como que levava as crianças para passear num pequeno lago, contava historias infantis, e que George, uma ocasião trouxera para casa uma pequena cabra, e ainda que uma das meninas havia se ferido na perna subindo a colina.

Ele ficou atônito com tudo que ela contava em detalhes. Não teve dúvidas, é minha mãe que voltou!

As irmãs foram localizadas e já com idade acima de 60 anos.

O contato presencial com George foi na pequena igreja local. As pessoas mais chegadas e até o pároco, ficaram conhecendo a historia e compareceram a esse encontro. Num longo abraço caíram num choro emocionado. Após algumas horas chegaram Oliver e as irmãs, e as emoções continuaram.

Conseguiu reunir em torno de si, os filhos de outra vida, reatando laços que nem o tempo nem a morte, foram capazes de extinguir.

É uma historia de busca e amor de uma mãe pelos seus filhos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEIXE AQUI UMA MENSAGEM PARA O AUTOR DESTE TEXTO - NÃO ESQUEÇA DE ASSINAR SEU COMENTÁRIO. O AUTOR AGRADECE.

A ÚLTIMA CARTA - Helio Fernando Salema

  A ÚLTIMA CARTA Helio Fernando Salema     Ainda sentada em frente ao gerente do Banco, Adélia viu, no seu celular, a mensagem de D. Mercede...