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quarta-feira, 22 de junho de 2022

O MENDIGO OSÉIAS E O SEU DESTINO - Alberto Landi

 


O MENDIGO OSÉIAS E O SEU DESTINO

Alberto Landi

 

Todos os mendigos são solitários, pois a própria pobreza os faz desconfiar inclusive de outros mendigos à sua volta.

 

Quando um tinha um cobertor melhor ou um apetitoso prato de comida, o outro mendigo já o olhava com inveja e raiva fazendo todo o possível para inverter a situação, até roubar do companheiro aquilo que lhe faltava. 

 

Oséias, um mendigo sofrido e bom, morando num canto sujo e úmido de um bairro fino, nunca levantou os olhos a quem quer que passasse ao seu lado mesmo porque ele era invisível aos olhos de quem não queria ver a decadência de um homem ainda jovem e aparentemente saudável naquele canto sujo e fétido. Todo mundo o evitava, passavam longe...ninguém queria estar próximo a um indivíduo naquela situação.

 

Era um dia lindo e ensolarado para todos, menos para Oséias. Os dias eram sempre iguais, cansativos, tristes, monótonos, pois não tinha TV para se distrair, não tinha um sofá para descansar suas pernas magras ossudas e nem mesmo uma cama para repousar seu corpo cansado!

 

A única vantagem de Oséias era que a noite ele tinha uma visão surreal do céu, que as estrelas pareciam saudá-lo. Ele conversava com elas, lhe dava nomes... Havia a Tiquinha que parecia estar sempre sorrindo pra ele, a Destreza que era muito séria, mas a mais brilhante. A lzinda que ficava o tempo todo apagando e acendendo. Parecia brincar de esconde-esconde com ele. Elas eram suas únicas amigas.

 

Só depois que clareava o dia é que Oséias pegava no sono, já com os ossos tão cansados e doloridos de dormir no cimento duro, e só acordava quando o sol já estava alto no céu. Um dia, Oséias estava muito triste, pois se sentia muito só e abandonado, e resolveu andar...andar...  Até não aguentar mais, até suas pernas dobrarem pelo cansaço e ele partir desta vida. Estava resolvido. Quem iria se importar com ele, um sujeito sujo e fedido? 

 

Caminhando por aquele bairro de gente fina quando inesperadamente a sua frente surge uma criança. Um menino magro alto, de cabelos encaracolados, olhos muito claros me encarou e disse:

— Tio, olha o brinquedo que eu ganhei. E ficou ao meu lado, sem nojo, sem a repugnância que causava nos adultos, me mostrava tudo do novo brinquedo, como funcionava, com bastante euforia como se amiguinho dele ele fosse. Com voz embargada e comovida Oseias perguntou: 

— Qual é seu nome? 

— Gabriel. Na sua inocência nem imaginava que mostrou a Oséias o caminho a seguir.

 

Há anos Oseias havia deixado a mulher e seu filho numa cidade muito longe dali e na época ele achava que era um irresponsável e inútil pois estava desempregado. Envergonhado decidiu sair pelo mundo e nunca mais teve notícias da família. Resolveu voltar para casa. O seu lar o seu lugar de onde nunca devia ter saído.

 

Ao chegar, de longe com os olhos embargados viu seu filho jogando bola e a mulher no portão que parecia estar à espera. Ao verem Oseias, eles correram e o abraçaram com o coração cheio de alegria. O mendigo sentiu-se tão acolhido e amado que não parava de chorar.

 

Agradeceu aos prantos na mente, aquele garoto que surgiu no seu caminho como por encanto lhe mostrando sem perceber que tinha que voltar a vida da família. Tinha que lutar e nunca, nunca desistir dos seus entes queridos.

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