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quinta-feira, 2 de setembro de 2021

JOÃO LOROTA - Henrique Schnaider

 


JOÃO LOROTA

Henrique Schnaider

 

Na grande praça de touros, idos de 1800 e nada, atual Praça da República. Era um dia com plateia cheia. Bem lá no meio do povão agitado, querendo ver sangue na arena, estava o João Lorota. Levava a fama de grande mentiroso. Devido a isso o apelido.

Ele era totalmente desacreditado, pois só contava histórias do arco da velha. As pessoas queriam ouvir o que ele tinha para contar, apenas para se esborrachar de rir.

O pessoal queria mais é ver o Touro Tan Tan enfiar aqueles chifres afiados no ventre do pobre toureiro. “Puxa, algo injusto”. Até parece que o touro era o herói, e o toureiro o vilão daquela batalha. O povo gritava, pega ele Tan Tan, pega ele Tan Tan. O João na concorrência, tentando arranjar plateia, falava, falava e falava, um papagaio.

Ele nem se interessava pelo que acontecia na arena onde a tourada pegava fogo. O que será que o João falava? Para ele quem ganhasse aquela luta não era nem herói nem vilão, situação sem interesse. O povo torcia e o João distorcia.

O touro Miúra muito bravo.  Foi ficando cada vez mais furioso. Raspava sem parar os cascos no chão cheio de pedriscos que pulavam para todos os lados. Rap, rap, rap. Os olhos eram de puro ódio, vermelho ardente. Verdadeiras centelhas de fogo do diabo.

O que deixava o Tan Tan cada vez mais irado soltando fogo pelas ventas, era o pano vermelho sangue, nas mãos do toureiro balançando para todos os lados, vamp, vamp, vamp. O povo, pega ele Tan Tan e o João aos gritos pedindo para o povo ouvir suas histórias absurdas.

João Lorota olhava para todos ali, esperando, esperando, esperando até alguém se dispor a prestar atenção. Paciente, apesar da gritaria, João um professor, queria dar a sua aula, afirmando com convicção e conhecimento:

– Este homem que tudo consegue, um guerreiro alado, este homem vai longe. Este homem vai chegar à Lua com certeza. Irá até lá numa nave que terá foguetes poderosos para levá-lo e depois trazer de volta.

Estará vestido com uma roupa especial para poder respirar e protegê-lo daquele lugar sem vida da Lua. Com certeza irá nos mostrar do que ela é feita. Voltará nas asas do seu foguete para contar tudo que viu lá e trazendo pedaços do satélite.  Vontade de ferro, vencerá todos os obstáculos.

Este homem estará lá no futuro. Ele ainda vai nascer daqui a muitos anos e muitos anos, filho de um casal de cientistas. Ele será chamado de astronauta. Será capaz de muitas coisas e de muitas coisas será capaz. Nós não poderemos presenciar esta façanha pois ainda vivemos em tempos muito atrasados.

Quem quiser acreditar pode acreditar, pois quem me ouvir verá a verdade. Não duvidem e nem riam de mim. Apenas eu vejo tudo com os olhos do futuro. Não sou um mentiroso, apenas eu tenho um pressentimento, que me deixa enxergar aquilo que vocês desconhecem.

Alguém do lado do João falou com ar de deboche:

– Esta história tem um cheiro de mentira -  e todo mundo riu. Deixando o João Lorota entre um sentimento de constrangimento e ressentimento. Foi embora dali, pois ninguém mais queria ouvir suas histórias.

Mal sabiam todas aquelas pessoas. Nem nós nunca saberemos. Como o João poderia saber, lá naquele passado tão distante, de tanta coisa que, dezenas e dezenas de anos depois, se concretizaria e tornariam verdade a história do João sobre a viagem a lua.  Só podemos dizer que ele era um visionário.

Sempre que ouvirmos alguém prevendo coisas lá no futuro. É bom a gente por um pé atrás antes de duvidar.

Um comentário:

  1. Excelente!!! Gostei muito do final sobre previsão. Creio que duvidamos, pois ainda não temos capacidade para imaginarmos o futuro.

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