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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

SIMPLICIDADE - Hirtis Lazarin

 

        




SIMPLICIDADE

Hirtis Lazarin                                                                                                                  

 

Cheguei finalmente ao vilarejo incrustado bem no alto da montanha.  O caminho pedregoso e escorregadio, cheio de curvas estreitas e serpenteantes, fez o táxi demorar mais do que o previsto.

A chuva havia cessado e a lua crescente, num sorriso cheio, apareceu entre nuvens velozes e banhou-nos, instantaneamente, com sua luz incerta.  Algumas estrelas atreveram-se a aparecer.   O céu ouvia e via tudo calado: os grilos a trinar saltando, às escondidas, entre a vegetação rasteira; as cigarras irritantes envolvidas numa cantoria monótona, a coruja a postos fingindo ser a guardiã dos animais.

A pousada onde passaria os dias era toda de madeira e com um só andar.  Rodeada de salgueiros e hortênsias parecia mais um ateliê de artista.

Adormeci cedo junto com os pássaros.  Os lençóis brancos, fios egípcios, acariciavam-me o sono cheio de pensamentos bons.

Assim que o clarão da manhã primaveril entrou no meu quarto por um vacilo das cortinas mal ajustadas, saltei da cama.  Tinha muito a desfrutar.

À primeira vista, o lugarejo cabia num só olhar.  Mais parecia um quadro pintado ou um cenário fotográfico.

Uma paisagem pitoresca e cheia de magia como se tivesse parado no tempo.  Conservava o charme bucólico do passado.  As casinhas seguiam padrão arquitetônico.  Todas pintadas de branco com sacadas suspensas e ornadas com floreiras ornamentais.  Passava-me a impressão de competição prazerosa entre os moradores.

A Igrejinha... Ah! A igrejinha, não cabiam mais que trinta pessoas. Na sua lateral leste, a sombra adocicada de uma castanheira em floração.  Atração aos pássaros e borboletas.  Foi construída em estilo local, tijolos pintados de vermelho e um telhado que descia bem baixo sobre as janelas como um chapéu a protegê-la do sol.

No final da rua principal, lá embaixo, o mar espreguiçava em seu momento de sesta para não espantar um bando de gaivotas que caminhava indiferente ciscando entre as pedras em busca do que comer.

Era início de temporada.  Poucos turistas, quase só moradores transitavam pelas ruas estreitas e calçadas com paralelepípedos.  Gente simples e hospitaleira, de fácil conversa.  As pessoas andavam devagar, o cachorro e o gato também, o dia passava devagar.  Não havia pressa.  Dava tempo para apreciar o café da manhã, conversar com hóspedes, brincar com as crianças.

Momentos propícios para se valorizar a simplicidade.  Encontrar alegria no simples que expõe a beleza crua e o gosto pela vida do jeito que ela é.  Ter tempo para ouvir nossa alma.

 Uma borboleta amarela?

 Ou uma flor seca que se desprendeu e não quis pousar?

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