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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

A ESCOLA DA MINHA VIDA - Claudionor Dias da Costa

 



A ESCOLA DA MINHA VIDA

Claudionor Dias da Costa

 

                      Nos meus sessenta anos e carente de sentimentos de resgate de momentos passados, tomei a decisão e fui para a rodoviária a caminho de minhas memórias.

                      Após algumas horas de asfalto irregular, mudei para aquele ônibus sacolejante na poeirenta estrada para reviver minha juventude feliz.

                      A cidade onde nasci é pequena e pacata, bem diferente do tamanho da emoção que senti quando cheguei.  Um turbilhão  brotou rapidamente em minha cabeça e procurei me acalmar  , fixando o olhar na igreja do padre Jerônimo , tão generoso e melhor conselheiro das  famílias de lá, que fez história com suas andanças e amizades .Aquela torre amarelada que na época me parecia tão alta,  de repente tornou-se  tão pequena como o meu olhar perdido  naquele transe ao lembrar o lugar que deixei um dia.

                    Entrei num dos bares que rodeiam a praça Florença e enquanto me dedico a saborear um sorvete de limão, pergunto ao rapaz atendente sobre as oportunidades de estudo na cidade. E ouço o que parece palavras já de a muito tempo:

                  - Tem apenas uma escola pública de dois andares, recentemente reformada antes da eleição, que fica colorida durante o ano letivo pelos uniformes azuis que sobem a escadaria

                    Naquele instante, não perdi mais tempo, pedi para guardar minha mala e caminhei em direção à escola. Passei pela rua lateral da praça, desci a ladeira passando atrás da igreja e olhei à frente. Surgiu imponente ainda conservando a fachada antiga.

                    A escadaria em frente à porta principal é a própria saudade do tempo vivido ali.

                    Os amigos com seus apelidos malucos pareciam ainda circular ruidosamente por aquele prédio e não mais que de repente lembrei dos olhos azuis da Maria das Graças que causava inveja até para seu uniforme daquela cor. 

                    Entrei nos corredores largos por onde corria tantas vezes, recebendo broncas da Dona Albina, a severa inspetora de alunos. Acho que esta profissão de bedel nem existe mais. Ou existe? Bem, segui em frente olhando aquele piso de cerâmica quadriculada, confuso como boa parte de minha vida. Parei em frente da sala em que fiz o quarto ano. As carteiras são mais modernas, coloridas e anatômicas, bem diferente daquelas de nosso tempo de madeira envernizada com vãos nos assentos e duras. As janelas altas são as mesmas e fiquei olhando para fora contemplando as arvores e o gramado lateral, como se os anos não tivessem passado.

                   Aquelas paisagens não muito diferentes de tantos lugares, mas, que nos namoricos pelos cantos com a Maria das Graças traziam visões esfumaçadas como se o paraíso fosse ali.

                   Com a formação no colegial parti para a cidade grande e com sacrifícios consegui trabalhar com Contabilidade e prossegui pela vida, conseguindo depois meu próprio escritório.          

                   Após dois anos, casei-me com a Maria das Graças e aquela menina dos olhos azuis radiante com alma generosa caminhou pela vida ao meu lado. Tudo isto parecendo um pequeno instante mesmo após trinta anos. E um dia de Outono aquele Amor se foi...Era um anjo que voltava para algum lugar naquele imenso céu.

                 Nossos dois filhos que nos deram muitas alegrias partiram como águias em suas asas de aventura para tentar a vida no exterior. Eu me aposentei.

                  E agora, estou aqui refletindo na escola que parece parou no tempo e eu junto com ela. Conclui que é o cenário de fundo da minha vida.

                  De repente parece que acordei. Caminhei apressado pensando em pegar minha mala no bar e chegar à casa de meu primo que me acolheria.

Na rua, não resisti e olhei para aquele prédio onde ainda parecia morar a felicidade como se quisesse fixar na memória e voltar a viver aquelas grandes emoções novamente. E falei sozinho com a garganta engasgada:

              - É... foi a escola da minha vida.

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