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segunda-feira, 7 de março de 2016

Melhor a emenda que o soneto - Rejane Martins


Melhor a emenda que o soneto
Rejane Martins

Meu filho completaria 15 anos em breve, e nesse ano em particular ele estava muito animado, afinal dia cinco de julho cairia exatamente no sábado, o melhor dia da semana! Nada o impediria de reunir todos os amigos, da antiga e da atual escola, do judô, e do prédio em que vivemos.

Havia me solicitado que reservasse o salão de festas, assim teriam um espaço, onde se divertiriam sem ter um adulto vigiando-os.

Após árdua negociação, acabou entendendo que o edifício tem regras quanto a utilização das dependências e que, os pais dos amigos estavam confiando a mim a integridade de seus filhos. Por isso a minha presença na festa era inegociável.

Mas, como bom filho moderno, não aceitou de primeira. E, claro que, ciente da limitação que toda criança sofre, magnanimamente cedeu às regras estabelecidas.

Ele condescendeu, mas  limitou minha participação exigindo que fosse esporádica, não permitiria uma vigilância cerrada.

Bem, descortinada tamanha soberba por parte do meu filho, o tom da conversa deixou de ser amigável passou a ser impositivo.

Se quiser uma festa de aniversário deverá aceitá-la nos meus moldes. Não agirei de forma irresponsável traindo a confiança dos pais que deixaram de boa vontade, seus filhos sob a meu encargo. Caso você não aceite, cancelaremos o preparativo da festa antes de começar. Decida agora.

Entramos em acordo, e ele meio a contragosto concordou com as condições. E em sua mente, os preparativos começaram a tomar forma e alçaram voo, vez por outra precisava puxar os pés dele e forçar que tocassem o solo novamente.

A partir desse momento, a festa passou a funcionar como moeda de troca, tudo que se referisse a ele era questionado e porque não dizer ameaçado com o cancelamento da festa. Confesso que abusei de minha autoridade nesse período, mas existe maneira mais eficaz de se conseguir algo que através do financeiro.

Ele resistiu bravamente à toda provação a qual foi submetido, sempre negociava com sabedoria, pois sabia que qualquer passo em falso perderia algo que lhe era muito caro, principalmente naquele ano.

Certo dia, revestido de toda arrogância que pudera concentrar, ele me confrontou quando foi advertido sobre o perigo que impôs a todos em casa quando, ao sair da casa de sua avó, esqueceu a chave na fechadura pelo lado de fora. Cabe salientar que a porta da frente da casa de sua avó não havia recuo da rua, estava à vista de todos que passavam pela calçada.

Além de não admitir o perigo em que colocou a todos, tentou argumentar com toda a sabedoria do alto de seus quatorze anos e postando-se inflexível e bastante imaturo.

Mais pelo seu posicionamento que pelo ato em si, o evento tão aguardado evento de julho foi cancelado sumariamente. E para complementar o castigo, com requinte de crueldade, ele foi obrigado a avisar a todos que não haveria mais solenidade.

Dia após dia, ele se deprimia com a anulação, mas não dava o braço a torcer. Reivindicava um sentimento de culpa por parte da mãe, que nunca vinha. Assistir a autora de tanta decepção, tão altiva e imperturbável, o consumia ainda mais.

Enfim, o grande dia chegou, a chama da esperança de que tudo seria contornado e ele teria a sua festa, ainda ardia dentro de seu peito. Mas o sábado transcorria na rotina da casa sem nenhuma variação, e a esperança pouco a pouco se esvaía.

Ao final do dia, recebemos a visita de um amigo dele que precisava ir ao shopping, mas não havia ninguém na casa dele que pudesse o levar. Meu filho compadecido da sorte do amigo, me pediu que os levassem ao compromisso. Concordei e para não sobrecarregar demais minha mãe a deixei em casa descansando.

Fomos e, rapidamente o amigo dele solucionou o afazer, indaguei se eles estariam dispostos a assistir um filme no cinema, mas eles negaram veemente. Então retornamos para casa.

Ao entrar em casa, o Fábio teve a maior surpresa, todos os seus amigos estavam lá, esperando por ele. Eles prepararam toda a festa, bolo, salgados, bebidas e tudo que uma festa de respeito pede.


Ao ser cumprimentado pelos amigos, todos exigiram que ele pedisse desculpas a mim, pois tudo que tinha feito havia sido combinado com eles para que conseguissem realmente surpreendê-lo.  

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