A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quinta-feira, 14 de março de 2024

O DESCASO - Leon Alfonsin Vagliengo

 



O DESCASO

Um exemplo de serenidade e sangue-frio.

 

Leon Alfonsin Vagliengo

 

Um homem vinha por uma rua tranquila, acompanhado de dois cães policiais. Era uma rua curta e estreita, com apenas dois quarteirões, e àquela hora da noite nunca tinha movimento nenhum.

Os animais deviam ser bem treinados, pois andavam à solta, sem guia, e vinham cheirando tudo o que encontravam pelos cantos, atravessando a via em zigue-zague, indo e voltando de calçada para calçada, ainda sem perceber que no outro extremo da rua, um gato, deitado confortavelmente bem no meio de seu leito, os observava, impávido, imóvel, inexpressivo, mas atento, revelando sua absoluta tranquilidade e autoconfiança.

Enquanto o perigo se aproximava, em certo momento o gato apenas moveu sua cabeça para um lado, calmamente, certamente para avaliar sua rota de fuga, voltando-a de novo para a posição inicial, e seguiu mantendo-se naquele aparente estado de nirvana e absoluta paz interior, sem mostrar amofino com o movimento dos cães, que vinham, aos poucos, chegando.

Quando já estavam a alguns metros e, finalmente, o viram, estes dispararam em sua direção numa desabalada e feroz carreira, evidentemente alimentando péssimos propósitos em relação à saúde do felino.

Porém, o gato, num triz, saltou para a calçada e dali para um muro bem alto, onde encarapitou-se, e de lá voltou a observar os cães, agora com aquele inexpressivo olhar de descaso, próprio da espécie.

Isso tudo eu vi de longe, sem poder interferir. Confesso que me “deu nos nervos”.

Moral da história: Numa disputa, nunca se deixe surpreender pelo pulo do gato.


quarta-feira, 13 de março de 2024

A lagarta e a flor. - Adelaide Dittmers

 

 


A lagarta e a flor.

Adelaide Dittmers

 

O jardim brilhava banhado pelos raios de sol, que envolviam a vegetação, tornando sua cor mais vívida.

Uma pequena lagarta rastejava pela terra avermelhada, comendo avidamente as folhinhas e as ervas que encontrava pelo caminho.

Ao parar embaixo de uma folhagem, onde um belo e raro lírio azul se aninhava, ouviu uma voz que vinha lá de cima:

— Oi, bichinho! Você não se envergonha de ter que se arrastar por esse solo barrento e devorar tudo o que encontra.

A lagartinha levantou os olhos de preguiça e fitou languidamente a flor:

— Não é porque você é bonita, perfumada e mora no alto, rodeada por folhas verdes, que realçam sua beleza, que deve desprezar aqueles que você não conhece.  Posso ser tão bela quanto você.

A flor soltou uma gargalhada, que balançaram suas pétalas e disse zombeteiramente:

— Você não se enxerga mesmo!

A lagartinha olhou com indiferença para o lírio e seguiu seu caminho.

Mais adiante, parou e avaliou um tronco de árvore.  Era forte, pensou.  Agarrou-se a ele e ali ficou estática.  Depois de algum tempo, um fio de seda foi se enrolando e se tornando mais e mais duro até formar um casulo.

A flor observou de longe aquela transformação. “Que triste fim. A natureza é sábia em se livrar do que é insignificante e feio.” Pensou.

Um vento suave fez suas pétalas dançarem, realçando sua beleza.

Dias se passaram e, em uma manhã de céu azul, salpicado de nuvens brancas, o casulo começou a quebrar e, de seu interior, surgiu uma belíssima borboleta, cuja cor preta salientava o lilás, o azul, o amarelo e o branco, que formavam desenhos perfeitos em suas asas.

Ela parou um pouco para se recompor daquele novo nascimento e alçou um voo elegante e sereno, dando volteios pelo ar azulado do dia.

Ao passar pelo jardim, avistou o lírio azul e, com um sorriso maroto, pousou nele com delicadeza.

— Oh, linda borboleta, que alegria tê-la em minhas pétalas!

— Não me reconhece, flor? Sou a lagarta rastejante de uns dias atrás.

O lírio emudeceu.  Como isso foi possível.  Depois que o casulo se formou, ignorou-o por completo.

A borboleta então acrescentou:

— Nem toda a aparência define um ser.  Depende do que carregamos dentro de nós.

E voou para longe.

 

 

SEGREDO - Hirtis Lazarin

 



SEGREDO

Hirtis Lazarin

 

— Vem almoçar, “minina” bonita. Fiz o almoço que você pediu.

— Vó, eu não sou mais “minina”, tenho quinze anos – grita Júlia, lá do quarto.

Dona Tereza arruma a mesa com capricho, escolhe os melhores pratos e os copos coloridos, aqueles que a neta mais gosta.

Mais de dez minutos se passaram, a comida já esfriou e a avó se policia pra não perder a paciência. Faz apenas dois dias que a adolescente chegou no sítio. Está de férias, e a mãe acreditou que a filha, em contato com a natureza, esqueceria um pouquinho do celular. Mas nesses primeiros dias, Júlia quase não saiu de dentro de casa, apesar de todas as tentativas da avó.

Dona Tereza almoçou sozinha, lavou a louça e a comida voltou para o fogão. Respirou fundo, engoliu a seco pra não perder a paciência e soltar seus palavrões favoritos. Fingiu que tudo bem, e Julia só almoçou quando bem-quis.

O dia seguinte amanheceu convidativo e lindo de viver. Um céu azul enfeitado de pequenos e quase invisíveis flocos de nuvens bem espalhados. A passarada, sem medo de nada, invadiu os galhos frutíferos. A fartura era tanta de encher o bico de alegria.

Dona Tereza abriu todas as janelas, puxou as cortinas que impediam a visão completa do belo e a luz entrou poderosa. Junto, uma brisa calma, mas não incapaz de ser sentida no rosto e nos nós dos cabelos. Pavarotti, o galo imponente, iniciou sua cantoria poderosa. E as galinhas espertas e já prontas para a caminhada diária. O cachorro Dom, como já estava acostumado, disparou latindo em direção às aves. Era de brincadeira.

Júlia foi acordada com todo esse rebuliço, mais a voz da avó à sua cabeceira com o copo cheio de leite e café, coadinho na hora. E mais um pão quentinho com manteiga. Um esforço para entusiasmá-la com coisas diferentes do seu dia a dia. Entretê-la: recolher ovos no galinheiro, cortar a alface na horta e cenoura também; brincar com a cabritinha de apenas dois meses e o lago cheio de peixinhos.

Ela se esqueceria do celular? Tomara!

Dona Tereza, depois de um sermão tranquilo igual ao do padre Pietro, conseguiu que a adolescente lhe entregasse o aparelho, desde que fizesse o bolo de chocolate com muito chocolate. E o trato era devolver só à noite seguinte.

No dia seguinte, foi um corre-corre no sítio “Pedacinho de Terra”. Dois carros de polícia, Dona Tereza, com os cabelos em pé, gaguejava tanto, as palavras saiam tão enroladas que não se fazia entender. Júlia chorava sem parar e sua mãe, que acabava de chegar e sem entender tamanha confusão, caiu desmaiada no chão.

Vamos lá: no dia anterior, Júlia comeu sozinha mais da metade do bolo de chocolate. A avó, preocupada, deixou à disposição um medicamento caso a neta se sentisse mal. A menina, ansiosa, andava pra cá e pra lá. Ligava a t.v. e não conseguia se prender a nenhuma programação. E a senhorinha, fazendo crochê, só a observava. Mantinha-se firme em sua posição. Até pensou em voltar atrás, os setenta anos vividos, queria sossego.

À noite, depois de muita insistência e não querendo magoar tanto a avó, Júlia tomou um copo de chá de maracujá, colhido fresquinho no pé. As ramas pendiam de tão pesadas. Era maracujá que não acabava mais. Ao engolir o chá, ela fez caretas e muitas caretas de um jeito escondido.  Mesmo assim não conseguia dormir. Dona Tereza sugeriu, então, que ela usasse o telefone fixo pra falar com as amiguinhas. A toda moderninha achava aquele aparelho muito engraçado, pra não falar ridículo e, como invenção do século passado, deveria ser descartado. Mentiu que não sabia fazer a ligação e discutiu com a avó, que pra não se alterar e perder a paciência, fingiu que era surda.

Já era madrugada quando a senhorinha se levantou e foi até a cozinha buscar água. O quarto de visitas estava com as luzes acesas. Aproximou-se da porta feito uma onça cautelosa à espreita da presa. A neta ainda estava ao telefone. Falava alto, as risadas eram tantas e o diálogo era estranho. Foi possível ouvir algumas palavras comprometedoras.  Precisava descobrir o assunto da conversa.

Dona Tereza, apesar da idade, tinha audição aguçada e faro de gente esperta. Buscou os óculos, não sabe o porquê, mas precisava deles. Coisa de gente velha.  Colou os ouvidos à porta e prestou muita atenção. Ainda conseguiu ouvir um pouco do assunto…

— Rose, você ouviu o que ele combinou? Prestou atenção? Eu estou anotando o endereço, anote também. Ai, a linha voltou a cruzar. Cale a boca, pra eu ouvir bem o Bruno.

— Oi, eu entendi tudinho, Bruno. Eu tenho um notebook novinho e tenho curso completo de computação.  Só repete o horário. Dezenove horas? 

— Saco, a linha descruzou outra vez, Rose. Eu não ouvi direito. Ah! Você ouviu?  Repete pra mim e anote. Nossa, já são duas da manhã. Ainda bem que minha avó toma remédio pra dormir. Deve estar roncando.

E os cabelos de D. Tereza foram se arrepiando. Os pelos do corpo também. Os olhos cresciam arregalados e o cérebro se contorcia.

— Bruno, você está aí? Acho que estou falando sozinha… Rose, esconda todas essas anotações. Você é meio atrapalhada.  Se alguém descobrir, estamos fritas. Você está agitada? Eu estou é muitooooooo. Ah! Está ouvindo ele? Eu não estou. Praga do infernoooo! Agora estou. Olá, Bruno, fala depressa antes que a linha descruze. Ok. Entendi. No final da semana, estarei em casa. Beijos. Bye, bye!

 Rose, segredo eterno. Só pra nós, hein! Poderosas. Vou desligar. Tá bem! Ok. Bye Bye. Desligue. Eu vou sonhar com os anjos.

— Mas não vai, não -  Resmungou Dona Tereza, lá fora.

Ela não se aguentou. Bateu na porta já entrando. Júlia fingiu estar dormindo. Mas não convenceu, não. Segurava ainda bem firme o telefone. E o aparelho estava quente, fervendo.

As duas, avó e neta, travaram uma longa conversa. Foi difícil arrancar o tal segredo; demorou um tempão, mas saiu por inteiro, não importa, se foi aos trancos e barrancos. O plano era encontrar-se com a turminha do Bruno. Eram quatro ratos de computador. Clonavam cartão de crédito e enganavam velhinhos inocentes e descuidados. E o dinheiro caía em bicas, uma fonte sem fim. Sem fim, até serem descobertos e presos.

Quando o dia clareou, Dona Tereza não teve dúvidas e chamou a polícia.

 

quarta-feira, 6 de março de 2024

O Sequestro - Um dia de grande tensão - Alberto Landi

 



O Sequestro

Um dia de grande tensão

Alberto Landi

 

Flavia, uma estudante de 17 anos, residente em São Paulo, estava no segundo colegial.  Muito esforçada, independente e inteligente. Vitório Cunha e Manuela estavam orgulhosos pelo empenho da filha. Herdeira das empresas, Vitório acreditava em seu potencial de liderança administrativa.  Afinal, eram bem-sucedidos, de situação financeiramente estável, e reconhecidos como sendo detentores de uma das maiores empresas do ramo têxtil.

A família Cunha faz curtas viagens nos finais de semana, passam dias na fazenda de gado leiteiro no oeste paulista, ou na casa de praia em Ubatuba no litoral norte, onde residem numa pequena ilha. É comum vê-los chegar ou sair de helicóptero do prédio onde estão localizados os escritórios de comando das empresas, ou embarcando para o exterior e voltarem repletos de compras.

Tanta ostentação atraiu olhares...

Manuela, certa manhã, estava no escritório quando recebe um telefonema desconhecido:

— Estamos em poder de sua filha, se quiser vê-la com vida, siga as instruções. Ponha 50 mil dólares numa valise preta, e deixem-na no altar da igreja Boa Morte, coluna da esquerda, às 16 horas de hoje.

Manuela sentiu uma vertigem passar pela espinha dorsal e paralisar seus movimentos, as mãos trêmulas não obedeciam aos gestos, a vista turva inibia caminhos. Alguém a sacudiu querendo saber se estava bem.  Aquela voz ainda estava turbinando seus ouvidos:

— Liguem para Vitório, é urgentíssimo! – Gritou com a voz titubeante. E depois contou ao assistente o que estava acontecendo. “Hoje é um dia que ela ficaria na escola até o final da tarde”.

Prontamente, ele telefonou para a escola de Flávia, afinal, poderia ser um trote. Mas, a direção da escola confirmou que a jovem não compareceu à aula. Seguidas vezes ligou para o celular da moça, e não obteve resposta.

“Então não é trote! Meu Deus!”

Rapidamente contataram Lobato, um amigo da família, padrinho da Flávia, um policial aposentado que atualmente trabalha com investigações, que logo se prontificou em ajudar rastreando a origem do telefonema, acionando reforços para capturar o sequestrador, e a família foi orientada para que fizesse exatamente o que o sequestrador exigiu.

Manuela estava prostrada no sofá, o médico já a examinava, a mulher se apresentava em estado de choque. Ela gemia aflita, e Vitório tentava acudi-la, mas como urgia que as providências fossem tomadas e tudo acabasse bem, ele voltava-se para o grupo policial.

Planejam qual seria a estratégia dali por diante. O tempo corria e não poderiam perder a oportunidade de resgatar Flávia e, ao mesmo tempo, prender os sequestradores.

A maleta preta, contendo os 50 mil dólares exigidos, já estava sobre a mesa. Além do dinheiro, um GPS instalado na alça mostraria o destino do objeto. Um grande time de policiais à paisana foi orientado a não perder a maleta de vista.

A família estava desesperada, desequilibrada em suas ações e pensamentos. Contra eles, o medo, o pavor, e o tempo… havia pouco tempo para a quantia ser levada à Igreja da Boa Morte, na Luz.

Vitório estava preparado para sair, tinha escutas por dentro da camisa, e micro câmera na armação dos óculos. Na igreja, já estavam a postos alguns “fieis” espalhados entre os assentos, e um mendigo à entrada estendia a mão suja para alguns visitantes.

Vitório, temia por Flávia. Seguiu determinado quando saiu do automóvel. À sua frente a imponente construção amarela onde, possivelmente, devolveriam sua filha. Ao entrar, lembrou de fazer uma ligeira oração. Na mão direita, a maleta. Seus olhos correram o espaço dourado do interior da igreja. Deveria seguir pelo corredor lateral esquerdo, entrar no hall do altar e lá deixar a maleta. Os passos cautelosos ecoavam no assoalho amadeirado. Procurava pelos cantos alguém que fosse suspeito, procurava por Flávia. Teve vontade de gritar seu nome. Nesse momento ouviu Lobato falar no ponto do ouvido: “siga em frente, Vitório. Não titubeia, estamos a postos”. Acelerou e subiu os poucos degraus que o levariam ao altar. Arriscou olhar em volta, e nada lhe chamava a atenção. Viu o amigo no primeiro banco, ajoelhado como se rezasse fervorosamente. Quem sabe rezava mesmo, ele era padrinho de Flávia.

Depositou a maleta ao lado da coluna dourada, como exigido, o coração apertado gritava para que ele não cometesse erros. Voltou ao átrio. Tentou relaxar os músculos, postou-se ao lado da última capela, observando o silêncio que o ambiente guardava. Os outros policiais estavam atentos, disfarçados de fiéis, confundiam até Vitório.

 

Enquanto isso, na casa, Manuela recebe uma ligação. Era do celular da Flávia. A mãe congelou. Certamente seriam os sequestradores. Nervosamente atendeu. Não era. Era a própria Flávia:

“Vim fazer um trabalho na casa da Sofia, e acabei faltando à aula. Na pressa de terminar o trabalho, esqueci de avisar você, mamãe. Então, não vá me pegar na escola, vou para casa mais tarde, vou de táxi”.

Manuela teve uma injeção de dinamismo no mesmo instante. Sua menina estava bem.

— Ela está bem, não foi sequestrada! – Gritou para o assistente.

Precisava avisar o marido. Mandou uma mensagem, sabendo que as mensagens dela sinalizavam diferentemente no celular dele. Imediatamente ele leu, abriu um sorriso enorme, mas conteve-se. O coração aos pulos, mas agora mais controlado, transmitiu para Lobato, através do ponto do ouvido, todo o texto de Manuela.

E as ordens mudaram agora:

“Troque imediatamente aquela valise pela valise vazia que trouxemos, e vá embora, Vitório. Vá acudir Manuela. Deixe o resto conosco. Os bandidos não sabem que a Flavinha está bem e que já sabemos disso. Vamos pegar esses vagabundos! ”.

Não deu tempo de fazer a troca, uma mulher bem-vestida entrou no corredor central da igreja, foi direto para o altar. Às vezes olhava para os lados, mas percebia-se que seus olhos fixaram a valise. Apanhou-a de modo repentino e urgente.

Os policiais a cercaram e a levaram algemada para a delegacia.

Mais tarde, Lobato voltou a se encontrar com a família. Flávia riu dos fatos, mas depois percebeu que era uma boa armadilha, essa dos sequestradores.

 

— Esse é um golpe que está em vigor, infelizmente, diante do medo de perder o ente familiar, muitas famílias pagam o resgate para o falso sequestro - disse Lobato.

No entanto, como Flávia era jovem e esperta, levantou uma dúvida:

— Mas, como eles podiam saber que eu não iria à aula?

— Não sabiam, querida. Só tinham certeza de que, se desse certo, embolsaram 50 mil.

 

segunda-feira, 4 de março de 2024

MATERIAIS DE TODAS AS AULAS


MATERIAIS DE TODAS AS AULAS











 IN MEDIA RES - 21 DE FEVEREIRO DE 2024


IN MEDIAS RES: In medias res é uma frase latina que significa “no meio das coisas”. Na escrita, usamos esse termo para descrever uma história que começa no meio da ação, sem o preâmbulo de uma introdução. O impacto imediato no público provoca a emoção que o fará seguir adiante. O narrador colocando o leitor no centro da ação, ele emprega uma sensação de urgência, tornando a narrativa mais imersiva. É uma estratégia poderosa para cativar o público. Muito diferente das histórias que seguem uma sequência linear de cronologia.

Ilíada de Homero, já começa no meio da Guerra de gregos e troianos. Odisseia, o poema começa 10 anos após a Guerra de Troia, com o protagonista, Odisseu, sendo mantido em cativeiro pela deusa Calipso. O resto da história é contada em flashbacks, que exploram os acontecimentos que levaram à cena de abertura.

 

1. Comece pelo meio. Escolha um momento culminante, conflito, discussão, briga, revelação – qualquer coisa que indique que alguma cadeia de eventos ocorreu neste mundo antes do momento crucial.

2. Injete sua história de fundo. Se você começar sua história no meio, o público eventualmente precisará saber quem são esses personagens e o que está acontecendo. Informações relevantes podem ser fornecidas por meio de flashbacks, fluxos de pensamento, alteração da voz do narrador, ou por meio de diálogo - mas há um equilíbrio que todo escritor deve encontrar ao fornecer informações suficientes ao leitor para que ele entenda a situação atual sem despejar um tesouro de conhecimento sobre ele.

3. Torne isso urgente. A cena que você escolher para iniciar deve ser um momento crucial e de alto risco para os personagens principais de sua história e deve fazer parte integrante do enredo. Provoque o leitor, deixe-o ansioso imaginando como e por que aconteceu, e ansioso também para saber se tudo vai dar certo para os protagonistas.

 

TAREFA 1: Uma herança bilionária leva uma família inteira ao desiquilíbrio, à ganância, e ao crime.  

TAREFA 2: Uma pessoa está desaparecida, ela foi sequestrada, e isso gera tumulto familiar e empresarial.






QUE NUNCA FALTE EMOÇÃO NA ESCRITA 
28 DE FEVEREIRO DE 2024

Quando os autores não se preocupam em empenhar emoção na história, é muito provável que a história não faça a necessária conexão com o leitor. Pois é através da emoção contida na trama que o leitor sentirá empatia com o enredo. Se não houver essa conexão, é porque não houve emoção suficiente no texto.

Não tenham medo da pieguice, não fujam daquilo que é importante para segurar seu leitor: emoção textual. O texto é sua mercadoria, ofereça a melhor, a mais atraente, a mais empolgante.

Além do já costumeiro conselho “mostre, em vez de contar”, vocês, escritores, precisam ir mais fundo, se apoderando dos pensamentos dos personagens, das expressões faciais, dos sinais através dos olhares, dos movimentos corporais. Não devem ter receio de levar o personagem às lágrimas, ou às últimas consequências. Façam isso e explorem os sentimentos deles para contagiar o leitor. Invoquem o passado do personagem para provocá-lo, tragam à tona um amor esquecido que vem agora torturá-lo, um crime escondido, um segredo que ele jamais imaginou as consequências se fosse revelado. Provoquem seus personagens! Trabalhem arduamente na emoção do personagem, na emoção textual.

Descrevam dores e sofrimentos, mostrem seus corações batendo forte, o suor escorrendo pelas costas ou suas mãos ficando dormentes por cerrar os punhos. Podem ir além, dizendo ao leitor que ele teme pela sua vida. Sim, numa conversa do narrador com o leitor, ou do personagem com o leitor, mostrem a insegurança, o medo do personagem. Explorem tudo através das figuras de linguagem, escolham um título chamativo, façam valer as ferramentas literárias que moram nos confins de tantas escritas.


Criar dois contos tendo o cuidado de empenhar emoção nos personagens, e no enredo.


TAREFA 1: “Uma jovem de 15 anos faz inquietas descobertas por meio de linhas telefônicas cruzadas”

 

TAREFA 2Uma milionária, importante empresária do ramo de minérios, sofre um mal súbito e perde a memória.









AS EMOÇÕES HUMANAS TRANSFERIDAS 
PARA OS PERSONAGENS
07 DE FEVEREIRO DE 2024

As emoções humanas nos ajudam a lidar com a vida cotidiana, permitindo-nos comunicar ou demonstrar o que sentimos em relação a certas situações, pessoas, fatos, pensamentos, sentidos, sonhos e memórias.

Muitos psicólogos acreditam que existem seis tipos principais de emoções, também chamadas de emoções básicas. Eles são: felicidade, raiva, medo, tristeza, desgosto e surpresa. A felicidade é a nossa reação ao positivo, assim como o desgosto é o revoltante e a surpresa é o inesperado. Da mesma forma, reagimos à aversão por meio da raiva, ao perigo por meio do medo e à dificuldade ou perda por meio da tristeza.

Todas as outras emoções são variedades de emoções básicas. Depressão e luto, por exemplo, são variedades de tristeza. O prazer é uma variedade de felicidade, e o horror é uma variedade de medo. De acordo com psicólogos, as emoções secundárias se formam combinando graus variados de emoções básicas. Assim, surpresa e tristeza produzem decepção, enquanto nojo e raiva produzem desprezo. Múltiplas emoções também podem produzir uma única emoção. Por exemplo, raiva, amor e medo produzem ciúme.

Cada emoção é caracterizada por qualidades fisiológicas e comportamentais, incluindo as de movimento, postura, voz, expressão facial e flutuação da taxa de pulso. O medo é caracterizado por tremores e aperto dos músculos. A tristeza aperta a garganta e relaxa os membros. A surpresa é uma emoção particularmente interessante, caracterizada por olhos arregalados e queixo caído, que dura apenas um momento e é sempre seguido por outro tipo de emoção.

Com os personagens literários, não é diferente. Eles têm reações reais aos conflitos, e essas reações são gatilhos emocionais que promovem a sequência da história. 

Aqui apontamos algumas delas para ajudar o escritor no desenvolvimento emocional do personagem:

Apatia / Ansiedade / Tédio / Compaixão / Desprezo / Êxtase / Empatia / Inveja / Medo / Constrangimento / Euforia / Perdão / Frustração / Gratidão / Mágoa / Culpa / Ódio / Esperança / Horror / Saudades / Histeria / Amor / Paranoia / Piedade / Prazer / Orgulho / Raiva / Arrependimento / Remorso / Simpatia...


 Hoje falaremos do MEDO, emoção que atribuiremos ao nosso protagonista na história que será criada em na aula on-line:

 

O medo é a reação emocional a uma fonte real e específica de perigo. Um mecanismo de sobrevivência, o medo está geralmente relacionado a uma apreensão em relação à dor. O medo severo é uma reação ao perigo terrível que se aproxima, e o medo trivial ocorre como resultado de um confronto que não representa uma ameaça significativa. Os graus de medo variam de uma leve cautela à paranoia. O medo pode afetar a mente inconsciente por meio de pesadelos.

O medo é muitas vezes confundido com a ansiedade, que é uma emoção muitas vezes exagerada e vivenciada mesmo quando a fonte do perigo não está presente ou tangível. Embora o medo esteja ligado à ansiedade e a outras condições emocionais, como paranoia e pânico, é uma emoção separada por si só.

Os psicólogos descobriram que o medo pode ser ensinado. Por exemplo, as crianças podem ser condicionadas a temer certas coisas. Além disso, acidentes acendem medos. Uma criança que cai em uma piscina e luta para nadar pode desenvolver um medo de piscinas, natação ou água.


 SEGUNDO CONTO: nova história será criada, e o protagonista reagirá com RAIVA: (pesquisar mais)

 

A raiva é a emoção que expressa aversão ou oposição a uma pessoa, ou coisa que é considerada a causa da aversão. Os psicólogos consideram a raiva uma emoção natural necessária para a sobrevivência. A raiva pode trazer melhorias comportamentais; no entanto, a raiva descontrolada pode causar problemas sociais e pessoais.

Os psicólogos dividem a raiva em três categorias. Um tipo de raiva é uma reação instintiva a ser preso ou ferido. Outro tipo é uma reação à percepção de ser intencionalmente prejudicado ou maltratado por outros. O terceiro tipo de raiva, que inclui a irritabilidade, reflete os traços de caráter pessoal de um indivíduo.

A raiva às vezes é exibida por meio de atos agressivos repentinos e evidentes. Um indivíduo incontrolavelmente zangado é suscetível a perder a capacidade de fazer julgamentos sensatos e agir com responsabilidade. A raiva extrema é obviamente autodestrutiva, assim como a raiva que não é expressa externamente e mantida internamente. A raiva é muitas vezes mal utilizada por indivíduos que agem com raiva como um meio de manipular os outros.




CONTO DE MISTÉRIO E SUSPENSE

06 de dezembro de 2023

 

A narrativa que envolve mistério e suspense é particularmente interessante por seus detalhes. O enredo deste gênero pode tratar de um crime, de uma traição… ou de terror.


O formato da linguagem é fundamental para criar suspense. Há expressões apropriadas para este gênero literário. Como exemplo, os advérbios fazendo parte da narrativa para emprestar um ar de “rotina quebrada” chamando o leitor para a história:


Subitamente

Inesperadamente

Repentinamente

Sorrateiramente

Bruscamente

Assustadoramente

Imprevisto


Perceba que, em sua maioria, são os advérbios de modo que ilustram a quebra do cotidiano das histórias de suspense.

 

O Conto de Mistério e Suspense obedece algumas “regras” para ter cheiro, sabor, formato e impacto de suspense:

 

- Quase não há diálogo nesse gênero. E quando há, é porque está sendo usado como dispositivo para criar implicações, mistérios e inferências. Muitas vezes as palavras ou frases são enigmáticas, o que favorece esse gênero literário, e ajudam a tornar o diálogo misterioso. No entanto, não se deve exagerar, tornando cada frase tão obscura que o leitor fique totalmente perdido.

 

- Quando se deseja que o texto tenha aspecto de relato pessoal em tom de confissão, cumplicidade, usa-se a primeira pessoa “Eu”. Esse método, utilizado por grandes escritores como Edgar Alan Poe, promove um ar de credibilidade ao que se conta, como se o narrador tivesse feito parte dos fatos. Há também a narrativa em terceira pessoa (observador ou onisciente: que tudo viu, tudo sabe e expõe pensamentos e sentimentos das personagens).

 

- Destacam-se adjetivos e os verbos de ações inusitadas.  Todo o texto bem combinado com boas metáforas.


- O suspense é criado pela interrupção da narrativa num momento culminante.

 

- Este gênero é guiado pelas vozes aflitas (terror), sussurros, gritos, segredos, códigos, chaves, murmúrios...

 

- Bom que haja diversas pistas: umas falsas e outras verdadeiras.

 

- Atentar para que a estrutura do texto responda a todas essas questões:

 

O QUÊ? – O (s) fato (s) que determina (m) a história;

QUEM? - O personagem ou personagens;

COMO? - O enredo, o modo como se costuram os fatos;

ONDE? - O lugar ou lugares da ocorrência

QUANDO? - O momento ou momentos em que se passam os fatos;

POR QUÊ? - A causa do acontecimento.


- O ambiente pode ser inicialmente claro e limpo, mas de repente fica desconfortável. Ouvem-se ruídos estranhos. Os 5 sentidos são aguçados, e precisam ser empregados no texto: ouvir gotejamentos, sussurros, passos, um objeto que cai, o vento zunindo que desloca um papel. Há de se ter desconfiança e curiosidade. Em suma, o suspense tem que estar presente no texto.


- Use palavras, vocabulário específico para criar suspense: adjetivos expressivos, exagerados; advérbios de modo, de lugar, de tempo que acrescentem circunstâncias especiais às ações.


- Crie um desfecho inusitado, surpreendente.

 

Criar os textos:

- História de suspense/investigativo.

 

Cenário de suspense ESTAÇÃO DE METRÔ. Um passageiro presencia um crime, um assassinato. Ele aproveita o celular que já estava sendo usado, e faz o vídeo do crime. O criminoso percebe isso, e...

 

APÓS A ESCRITA DO CONSIDERADO RASCUNHO: Com mais tempo, melhore sua história, dê a ela frases mais apropriadas, avalie se o texto entrega o que promete – suspense – segredo – medo – desconfiança – perseguição. Use a sinestesia, os 5 sentidos, as metáforas... RELEIA O TEXTO - Envie seu conto (não se preocupe com o tamanho dele, pois não será possível criar um texto curto com esse apelo). Trabalhe o enredo para culminar em um desfecho que surpreenda.


PRAZO: fevereiro 2024.

Não se preocupe com o tamanho do texto.




O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...