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quarta-feira, 13 de março de 2024

A lagarta e a flor. - Adelaide Dittmers

 

 


A lagarta e a flor.

Adelaide Dittmers

 

O jardim brilhava banhado pelos raios de sol, que envolviam a vegetação, tornando sua cor mais vívida.

Uma pequena lagarta rastejava pela terra avermelhada, comendo avidamente as folhinhas e as ervas que encontrava pelo caminho.

Ao parar embaixo de uma folhagem, onde um belo e raro lírio azul se aninhava, ouviu uma voz que vinha lá de cima:

— Oi, bichinho! Você não se envergonha de ter que se arrastar por esse solo barrento e devorar tudo o que encontra.

A lagartinha levantou os olhos de preguiça e fitou languidamente a flor:

— Não é porque você é bonita, perfumada e mora no alto, rodeada por folhas verdes, que realçam sua beleza, que deve desprezar aqueles que você não conhece.  Posso ser tão bela quanto você.

A flor soltou uma gargalhada, que balançaram suas pétalas e disse zombeteiramente:

— Você não se enxerga mesmo!

A lagartinha olhou com indiferença para o lírio e seguiu seu caminho.

Mais adiante, parou e avaliou um tronco de árvore.  Era forte, pensou.  Agarrou-se a ele e ali ficou estática.  Depois de algum tempo, um fio de seda foi se enrolando e se tornando mais e mais duro até formar um casulo.

A flor observou de longe aquela transformação. “Que triste fim. A natureza é sábia em se livrar do que é insignificante e feio.” Pensou.

Um vento suave fez suas pétalas dançarem, realçando sua beleza.

Dias se passaram e, em uma manhã de céu azul, salpicado de nuvens brancas, o casulo começou a quebrar e, de seu interior, surgiu uma belíssima borboleta, cuja cor preta salientava o lilás, o azul, o amarelo e o branco, que formavam desenhos perfeitos em suas asas.

Ela parou um pouco para se recompor daquele novo nascimento e alçou um voo elegante e sereno, dando volteios pelo ar azulado do dia.

Ao passar pelo jardim, avistou o lírio azul e, com um sorriso maroto, pousou nele com delicadeza.

— Oh, linda borboleta, que alegria tê-la em minhas pétalas!

— Não me reconhece, flor? Sou a lagarta rastejante de uns dias atrás.

O lírio emudeceu.  Como isso foi possível.  Depois que o casulo se formou, ignorou-o por completo.

A borboleta então acrescentou:

— Nem toda a aparência define um ser.  Depende do que carregamos dentro de nós.

E voou para longe.

 

 

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