A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quarta-feira, 9 de agosto de 2023

CONTO COLETIVO - A GRANDE JORNADA - CAPÍTULO EM BUSCA DO DESCONHECIDO

 

 



A GRANDE JORNADA.




origem: Minuto Náutico



Capítulo I

AO ENCONTRO DO DESCONHECIDO

 

 

O céu tingia-se de diversas cores, que se refletiam nas águas azuis e serenas de Paraty. O astro-rei surgia com toda a sua majestade no horizonte, iluminando o belo e recortado litoral, onde pequenas ilhas salpicavam de verde o mar límpido, que levantava brancas espumas, quando batia nas pedras ou languidamente beijava as areias brancas das praias.

Três homens conversavam animados em uma marina, onde estava ancorado um veleiro de uns 35 pés (10,67 metros), imponente, com suas velas brancas, que balançavam ao sabor do vento, parecendo impaciente de singrar as águas profundas e inquietas do oceano.

Os homens saltaram para o barco. Havia expectativa e êxtase na expressão de cada um deles, a tensão e o entusiasmo misturavam-se no íntimo deles, pois iam realizar o grande sonho de suas vidas: contornar o mundo pelos mares infindos e muitas vezes perigosos do planeta.

O planejamento da viagem durou quase dois anos, em que estudaram os ventos, as correntes marítimas e todos os revezes, que poderiam acontecer durante essa grande aventura.

Determinaram que iriam até o sul da África para passar pelo Cabo da Boa Esperança e alcançar o Oceano Índico.

Pedro tinha o título de Capitão-Amador, um mestre velejador tarimbado, que navegara pelo litoral brasileiro e em outros mares com um grupo até os Estados Unidos. Júlio, oceanógrafo, que há muito tempo queria enfrentar de perto os humores do mar, e Geraldo, um executivo bem-sucedido, cansado da exigência de suas funções, que sempre almejara a liberdade e os perigos de uma grande aventura.

Sábado foi o dia escolhido para a partida, apesar de que na quinta-feira à noite tudo já estivesse pronto e conferido para longa viagem. O barco totalmente revisado e com a documentação em ordem, os mantimentos, o suprimento de água potável, o combustível para o motor a ser usado nas calmarias, o rádio, enfim tudo adequadamente providenciado. Ansiosos, Júlio e Geraldo queriam zarpar na sexta-feira, mas Pedro não concordou: “sexta-feira, não.  Todo marujo sabe que sair do porto numa sexta-feira dá azar”.

Ao embarcarem, Geraldo e Júlio estranharam aquela ferradura enferrujada pendurada no convés, que contrastava com a modernidade do veleiro. Ao lado dela, uma cachorrinha vira-lata os recebeu, abanando o rabo com alegria.

 — Essa é a Tica, disse Pedro. Vai com a gente para dar sorte; a viagem é longa, vamos precisar. E passem a mão na ferradura sempre que entrarem na embarcação para espantar o azar.

Geraldo e Júlio não eram supersticiosos, mas obedeceram ao Mestre, divertidos com as inesperadas novidades. A cachorrinha seria, sem dúvida, uma alegre companhia, independentemente de trazer a sorte esperada.  Afinal, essas crendices de Pedro não atrapalhariam em nada.  Quem sabe, não teriam algum fundamento? Quem sabe?

O vistoso e imponente barco começou a navegar mansamente, comandado pelas mãos hábeis do capitão, auxiliado pelos dois amigos. Na marina, um grupo de pessoas formado por curiosos e familiares dos intrépidos navegantes acenavam emocionados, alguns com lágrimas nos olhos, ao acompanhar o suave balanço do barco rumo às surpresas inimagináveis do mundo marítimo. O coração descompassado pelo temor do que lhes podia acontecer.

A família de Geraldo era a mais preocupada, pois ele nunca se aventurou numa embarcação e, pela pressão, que sofrera nos últimos tempos, sua saúde ficara abalada.

No píer, os sussurros das orações simples, Pai-Nosso e Ave-Maria, até súplicas e promessas a serem cumpridas quando da volta dos novos marujos.  Esses atos de fé e esperança dominavam a mente e o coração daqueles que vislumbravam o afastamento do magnífico barco.

Pedro ao timão, vento a favor, sol ameno, o veleiro avançava com suave balanço no mar sereno, para o langor de seus ocupantes, distanciando-se da costa. A pequena igreja da borda de Paraty foi ficando menor, até que já não podiam vê-la.

E assim foram eles à procura de grandes emoções e em busca do desconhecido.

Tica explorava os cantos do barco, cheirando aqui e ali. Às vezes apoiava-se na amurada e olhava para longe, como a admirar a paisagem. Também se mostrava excitada com a nova situação.

Devidamente protegidos pelos cuidados reais e esotéricos do Mestre Pedro, os três amigos apreciavam aquele momento, sentindo-se confiantes para a grande aventura que se iniciava.

— Que vida boa! — Disse Geraldo, entusiasmado. — Não vou enjoar nunca.

Pedro sorriu com uma expressão zombeteira.  Mal sabia Geraldo, que muitas vezes os mais experientes marinheiros punham para fora o que já não tinham mais no estômago, quando uma tempestade atingia a embarcação.

Navegando pelo cenário cinematográfico do litoral, recortado por pequenas enseadas de águas preguiçosas, que disfarçavam o mar revolto de águas mais profundas, os três aventureiros inspiravam com prazer o ar salgado e morno do mar.

Gaivotas voavam em bando, mergulhando para pegar peixes.  Golfinhos passaram por eles, conversando alegremente entre si. 

— A natureza é soberba!  Sempre adorei o mar! Exclamou Júlio.

— Mas estejam preparados porque muitas vezes ele nos desafia. E é para isso que estamos fazendo essa viagem, para testarmos nossa coragem, inteligência e persistência, não é mesmo, companheiros?

— E descobrir novas experiências, conhecer lugares distantes e outros povos.  Sobretudo, aprender a lidar com o desconhecido e o inesperado. Se formos bem-sucedidos, voltaremos outros homens.  Disse Geraldo, emocionado.

 

Geraldo era empresário, dono de importantes empresas de variados ramos no Brasil e fora do país. Seus negócios oscilam nas bolsas de valores do mundo, conforme a maré. Desde os quinze anos habitou escritórios e indústrias. Antes, acompanhava o velho pai e avô, mas agora, já não os tem e a administração de todo negócio está em suas mãos. Não teve filhos e, portanto, não tem um substituto para arrebanhar a labuta. O estresse começou a provocar-lhe sintomas de desgaste emocional, o que preocupava a esposa. Precavido, sempre fez astronômicos seguros de vida, pensando no futuro da mulher. Uma viagem de aventura o ajudaria a liberar a energia boa, e por essa razão estava na embarcação. Mas, desta vez, com a viagem de meses que faria com os amigos, Geraldo fez mais do que “seguro de vida”, montou um canal de patrocínio entre grandes empresários, a cada etapa da viagem, um valor significativo entraria na conta dos três companheiros. Os vídeos da viagem seriam postados no canal “A GRANDE JORNADA”, e os valores em pix abasteceriam a conta bancária. Os investidores de cada etapa, estampariam uma lista valiosa de empresas e pessoas que acreditavam no sucesso daquela aventura, ou que acompanhavam a adrenalina da tripulação. Isso era mais um estímulo para a viagem, uma válvula de ânimo que os impulsionaria mais confiantes. O vídeo do veleiro zarpando teve um alcance estupendo, tendo sido compartilhado milhares de vezes, o que provocou novos investidores a entrarem no rol.

 

Julio sempre trabalhou com pesquisa marítima, já participou de mergulhos profundos em mares diversos, é um professor renomado com inúmeras literaturas publicadas. É convidado para programas de entrevistas, projetos e pesquisas, seu nome é sempre lembrado quando o assunto é oceanografia. Mas, ele jamais realizou uma viagem desse tipo, onde experimentaria o oceano e suas adversidades em um veleiro. Por ser ele um profissional tão conhecido e referenciado, os vídeos postados no canal “A grande jornada”, ganharam o mundo da ciência e curiosidade.

 

Pedro é um experiente navegador, um Capitão-Amador que singrou diversos mares, mais do que um aventureiro, é um arrojado desbravador, um homem audacioso, corajoso, muito cauteloso, apesar de tudo. Pedro sempre teve veleiro, este levava a estampa de uma “FERRADURA” no casco, um veleiro que já enfrentou tempestades e se saiu muito bem dos ambientes hostis. O navegador sempre inspirou outros colegas que ouviam suas histórias de sobrevivência de viagens como essa. Religioso, místico, crente de simpatias e rezas, observador dos mares e dos homens.

 

 

Capítulo II

 

 

 

 

 


terça-feira, 8 de agosto de 2023

O Velho CHICO - Alberto Landi

 



O Velho CHICO

Alberto Landi

 

Sou apenas um rio, não posso falar, mas quero fazer um alerta a todos vocês, não me tragam poluição! Meu nome é Chico, venho lá de longe, da Serra da Canastra, vou levando um pouco de irrigação a todas as regiões que percorro.

Por onde passo vou até o sertão.

Muita gente me chama de Velho Chico, mas também sou conhecido como um grande rio da integração.

Viajo por vários estados, e aquele que, por ventura, se arriscar em me poluir, saiba que é como tirar pedaços de mim.

Faço aqui para todos um apelo, para quem danificar o meu leito, peço por caridade um pouco mais de respeito.

Vejam vocês, sem poluição levo água potável para beber para toda a população, forneço minhas águas para as usinas hidrelétricas. Também solicito a todos que não joguem detritos em mim, isso me causa muita dor. Tratem bem seus esgotos, não acabem com meu leito.

Se vocês têm o direito de viver, eu também tenho.

Sou como a cana para o engenho, sou necessário.

Isso é um grande pedido que faço para toda a população, desde Minas Gerais até o sertão. Possuo grande importância social, econômica e cultural por onde vou, até no transporte de cargas sou útil, alem de abastecer açudes e rios menores, garantindo uma boa segurança hídrica em todas essas regiões. Através de sistemas de irrigação ajudo a realizar atividades agropecuárias como criação de gado e cultivo de frutas.

Agradeço antecipadamente a vossa compreensão, antes de eu secar é melhor me preservar!

 

 

UMA VIAGEM INTERESSANTE. - Alberto Landi

 

 


UMA VIAGEM INTERESSANTE.

Alberto Landi


Algum tempo atrás tive a oportunidade a convite da empresa, a qual trabalhava, de visitar as instalações fabris no município de Candeias, Bahia. Ela produzia a matéria-prima para fabricação de borracha e para utilização em outros segmentos de mercado Conhecido com o nome técnico de Carbon Black ou Negro de Fumo.

Ao chegar ao aeroporto, no município de Lauro de Freitas, saindo em direção a Salvador, há um grande bambuzal que forma uma espécie de túnel natural sobre a via, ocupando um trecho de um pouco mais de 1,5 km de extensão. O cenário se tornou um dos cartões postais da cidade. Seus feixes envergados existem há cerca de 80 anos e já faz parte da história do Brasil. 

Teve no passado, uma importância estratégica, esse local foi criado entre os anos 20 e 40 e serviu para proteger a base aérea brasileira e americana, em meio a tensão da Segunda Guerra. Esse corredor florestal era utilizado para esconder e camuflar o acesso à chegada da base, onde estavam os aviões da FAB e Americana.

Após esse período, se tornou o caminho oficial de Boas-vindas e despedidas dos visitantes. A cidade se desenvolveu para a região próxima do bambuzal. É o primeiro ponto turístico a ser visto por quem chega à capital baiana e também é o último, no caso de quem sai pelo aeroporto.

O encantamento pela paisagem não é novo, desde a segunda metade do século XX, os bambus chamam atenção, é um espaço a ser preservado.

Dirigindo por essa via elegante, ladeada por bambus, uma paisagem impecável, fiquei surpreso ao me pegar dirigindo muito mais rápido do que o generoso limite de 60 km por hora. O motor silencioso e a aceleração linear do veículo alugado, um Onix, faziam com que todas as velocidades parecessem quase idênticas.

Repentinamente, o trafego foi interrompido por um acidente na via, enquanto parado, fiquei navegando na internet no pequeno computador instalado no painel do carro, e me atualizava com as notícias divulgadas no mundo inteiro. Os noticiários já anunciavam novidades que permitiriam aos seres humanos limpar os oceanos poluídos, produzir água potável ilimitada, cultivar alimentos no deserto, curar doenças mortais, lançar enxames de drones movidos a energia solar.

Durante o meu estágio na fábrica, conheci pessoas simples, algumas voltadas para artes e cultura.

Findo o estágio, me restou três dias para explorar um pouco a capital, que esse ano comemorou 474 anos.

Visitei com algumas pessoas, iniciando pela Foz do rio Joanes, num local chamado Buraquinho, paradisíaco onde o mar e o rio se encontram, uma inigualável beleza, cercada por coqueiros, areia clara e cenários fotogênicos.

Farol da Barra, lindo monumento dos tempos da colonização, construído antes mesmo da cidade a ser fundada. Erguido em 1536, é a primeira fortificação do País. A torre atual foi instalada em dezembro de 1839, homenagem ao nascimento e D. Pedro II, abriga também o museu náutico da Bahia.

Visitamos algumas igrejas, muitas me chamaram a atenção, como a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco.

Este santuário era iluminado apenas com a luz natural virada dos altos vitrais e o ar tinha um cheiro forte de incenso. Altares dourados, e bancos de madeira polida, um estilo barroco, havia acordes crescentes vindos de um órgão de tubos que ressoavam por todo o santuário.

Repentinamente apareceu um homem, que aparentava uns 60 anos, ereto e régio, com uma postura até jovial e uma expressão convincente.

Pensei é o bispo! Que privilegio poder conhecer bem de perto.! Usava batina sacerdotal branca, estola dourada, uma faixa bordada e uma mitra cheia de pedras preciosas. Avançou com os braços estendidos para a congregação presente no momento, parecendo flutuar enquanto ia ao centro do altar, passando pelo púlpito formal e descendo, de modo a ficar no mesmo nível dos paroquianos. Em seguida fez a leitura de uma passagem do Evangelho de São Marcos.

Nos santuários que visitei, observei também a perfeição dos entalhes feitos manualmente, a ligação com Deus nas esculturas sacras e a conservação dos monumentos, simplesmente exuberante.

Posso afirmar que tudo isto me encantou nessa cidade com suas belezas do tempo colonial em contraste com o modernismo.  Povo alegre, comunicativo, descendente de uma miscigenação que deu origem ao povo baiano: europeu, indígena e negro africano.

Tenho que agradecer aos novos amigos que fiz, os quais demonstraram muita solidariedade! 

 

sexta-feira, 14 de julho de 2023

O CIRCO Leon Alfonsin Valiengo

 



O CIRCO

A mente acumula memórias e sentimentos. Por vezes eles afloram de alguma maneira.

 

                                                                                                                               Leon Alfonsin Vagliengo

 

        O dia a dia de Bernardo e Valentina era sempre o mesmo: muito trabalho, cuidando do seu pequeno sitio no interior de Minas Gerais, onde moravam e garantiam o sustento com a criação de galinhas, uma pequena e variada horta, algumas árvores frutíferas, além da cabrita Mimosa, e da vaquinha Margarida, que lhes davam o leite diário, e do bode Marcriado, que cuidava da recepção de visitantes.  Bernardo havia planejado, ainda, iniciar uma criação de coelhos para corte, mas Valentina não deixou, dizendo ao marido que seria muita maldade com os bichinhos, provocando nele um sentimento de culpa só por ter pensado nisso.

No primeiro sábado de cada mês faziam as compras das provisões para o sítio e, como sempre, viajavam alguns quilômetros em sua velha caminhonete por uma estrada de terra vicinal, na região de Varginha, onde se dizia que, às vezes, apareciam objetos voadores. Durante o percurso pelos trechos desabitados Bernardo tentava disfarçar, mas mantinha-se tenso, calado, e não conseguia esconder a forte inquietação que o dominava, pois era bastante crédulo e acreditava nas histórias que ouvia de seus vizinhos sobre pessoas abduzidas, raptadas por seres extraterrestres. Nesses momentos, invariavelmente tinha que suportar uma carinhosa zombaria de sua mulher, que lhe dizia “Cê é muito encucado, home! Curuis credo” – “Num me atazana, muié! Para di fazê disfeita!” — Ele sempre respondia.

Naquela manhã, bem cedo, trafegando nesse trecho já bem próximos da pequena cidade onde fariam as compras, tiveram a atenção despertada por um terreno recentemente desmatado, em cujo centro estava uma construção metálica, fazendo lembrar a João o Teatro de Alumínio, que um dia havia visto numa fotografia de São Paulo. A estrutura tinha um formato incomum, com janelinhas redondas em toda sua circunferência, e as palavras “Grande Circo do Coelho” sobre a porta de entrada identificavam a sua finalidade.

— Vixe! Esse Circu é dimais da conta, sô! Ispia só! — comentou Valentina.

Chegando à cidade, encontraram vários cartazes que anunciavam o Grande Espetáculo Circense, com uma propaganda muito bem-feita, anunciando para aquela noite uma apresentação nunca vista antes, inesquecível e fantástica, mas sem revelar detalhes da programação. Em cada cartaz, o desenho de um grande coelho, sorridente, parecido com o Pernalonga das histórias em quadrinhos, sorria de maneira muito simpática, numa imagem que fazia alusão a um importante participante de mágicas, o coelho. Uma frase instigante completava o cartaz: “Depois de assistir a este espetáculo você nunca mais duvidará de nada”.

Depois de examinarem um daqueles cartazes com evidente Interesse, Bernardo olhou para Valentina com aqueles olhos sorridentes de convite, que ela entendeu e imediatamente exclamou “nóis vamu?!”, já empolgada com a ideia.

Apressaram-se com as compras, voltaram ao sítio e adiantaram todas as tarefas, entusiasmados com as perspectivas de uma noite diferente e divertida. Já se haviam passado quase duas horas do meio-dia quando puderam almoçar. Bernardo disse que estava “varado di fome”, fome de leão, e comeu muito. Depois deitou-se um pouco para a merecida sesta, como fazia todos os dias, e pediu a Valentina para chamá-lo a tempo de se preparar para irem ao circo.

 

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Ao chegarem ao Circo, um bom público vindo das cercanias e da cidade já formava uma grande fila para a compra dos ingressos. Aos poucos todos foram entrando e se acomodaram, e enquanto aguardavam, em meio a um burburinho de animadas conversas, puderam também notar a presença de uma mesa no canto do palco, com uma cartola sobre ela, dessas usadas por mágicos, ligeiramente maior, negra como de praxe, em posição invertida, com as abas para cima.

        Exatamente às vinte horas, horário previsto para o início do espetáculo, as portas metálicas do circo foram fechadas e, para espanto do público, surgiu de trás das cortinas um impressionante coelho cinza e branco, de quase dois metros e enormes orelhas, vestido com uma longa casaca negra, ostentando um sorriso dentuço grande e simpático, acenando alegremente enquanto se encaminhava ao centro do palco, andando em pé, como fazem os humanos. Lá chegando, inclinou-se numa longa reverência, cumprimentando o espantado público, que não acreditava no que estava vendo.

— Eita fantasia bunita dimais da conta, sô! — Exclamou Bernardo.

— Cabuloso, né? Inté parece um cueio, mermo! — Ouviu de Valentina, muito admirada.

Continuando, o enorme coelho apresentou-se como o Mágico Orelhinhas e fez um breve e estranho relato de suas experiências “neste planeta”, dentre as quais destacou as viagens que realizou com um sujeito chamado Gulliver no ano de mil e setecentos do calendário dos humanos, numa máquina do tempo, das quais trouxe atrações para montar o seu espetáculo de mágicas fantásticas.

A seguir, fingindo não perceber o assombro que estava provocando no público com sua imagem excêntrica e aquela conversa absurda, o mágico Orelhinhas iniciou a apresentação e passou a realizar truques ilusionistas muito intrigantes, como todos são: sem nada dizer, mudou várias vezes, de repente, a cor da sua casaca; transformou rígidas bengalas em lenços macios e os fez desaparecer num tubo que se desvaneceu no ar, para reaparecerem de repente na cabeça de alguém da plateia; fez surgir um buquê de lindas rosas amarelas passando um lenço sobre as patas vazias e gentilmente o ofereceu a uma senhora da plateia; enfim, realizou dezenas de outros desafios à lógica do entendimento comum, num longo espetáculo de ilusionismo, recebendo muitos aplausos dos incrédulos e extasiados espectadores, que aos poucos foram se acostumando e esquecendo a estranheza daquela situação insólita.

Bernardo estava encantado com o show, mas do fundo de sua memória vinha a impressão de que já tinha visto todas aquelas mágicas. Num certo momento, quando viu as rosas, olhou apaixonado para Valentina, contente em ver a felicidade que ela demonstrava com aquele lindo sorriso que não saía de seu rosto, e pensou em dar-lhe também um buquê de rosas, assim que pudesse. Mas seriam vermelhas, de paixão. E ainda pediria um beijão em troca.

        Após a longa série de mágicas que literalmente encantaram o público, Orelhinhas finalmente dirigiu-se à mesa onde estava a cartola e a tomou nas patas, anunciando:

  E agora, senhoras e senhores, diretamente de Lilliput, o clímax deste espetáculo!

Antes de mais nada exibiu o interior da cartola, para mostrar que estava vazia. Depois colocou-a no chão, no centro do palco, cobrindo-a com um lenço de seda; fechou os olhos e concentrou-se por alguns instantes, remexendo graciosamente o focinho, como fazem ininterruptamente os coelhos, e, finalmente, fez deslizar o lenço, descobrindo a cartola, de onde imediatamente saltaram, primeiro uma mocinha e depois um homenzinho, ambos com uns vinte centímetros de altura. Imediatamente os dois começaram a crescer, parando quando tinham perto de meio metro, um minuto depois. Então, num gesto teatral e com grande mesura, ambos se apresentaram:

— Eu sou a mini anã Aninha! — Disse a mocinha, com voz maviosa.

— Eu sou o mini anão Adão!  — Disse o homenzinho, com uma voz surpreendente, que mais parecia um trovão.

E arremataram em uníssono, com o jargão dos circos:

— Distinto público, MUITOOO... BOAAA... NOITEEEEE!

Na sequência do espetáculo, iniciaram a representação de um rápido drama caricato em que, após um divertido colóquio, Adão declarou seu amor por Aninha e a pediu em casamento. Ela se mostrou muito emocionada, mas, prudente como toda mulher, logo perguntou como ele iria sustentá-la. Adão não se fez de rogado: imediatamente virou-se para Orelhinhas e pediu-lhe um emprego no circo:

— Eu sei imitar passarinhos como ninguém — propôs.

Sinto muito, Adão, mas essa atração está muito explorada, não tem mais graça, já não interessa ao público porque muita gente sabe imitar passarinhos — respondeu o Coelhão, com cara de desinteressado.

— Sim, mas não do jeito que eu faço, retrucou Adão. Vou fazer uma demonstração, aposto que o senhor vai gostar. Veja!

E o anão Adão saiu voando, um voo alegre e variado: subiu uns cinco metros, circulou várias vezes em volta do palco, desceu quase até o chão, subiu novamente e, ao final, pousou num trapézio acima do picadeiro emitindo alegres chilreios de rouxinol, para assombro da plateia que o aplaudiu efusivamente entre estrepitosas gargalhadas, agora completamente afeita a toda aquela situação fantástica e insólita de que participava.

— Você me convenceu! Está contratado! — exclamou Orelhinhas, finalizando o teatrinho com aquele riso de quem já conhecia o desfecho.

O enorme coelho então retomou o comando do palco para comunicar o fim do espetáculo e, a seguir, assumindo uma expressão grave e séria em seu olhar, revelou que o circo metálico em que se encontravam era, na verdade, uma nave espacial que havia decolado durante o início do espetáculo e agora dirigia-se ao planeta Cenoura, pertencente à Galáxia dos Coelhos, situada logo após a perigosa Galáxia do Bode. Insensível a alguns desmaios entre o público, continuou, em tom de discurso:

— Nós, coelhos, desde que conseguimos dominar a tecnologia dos voos espaciais há muitos séculos, começamos a migrar do planeta Cenoura para o planeta Terra, procurando um novo lar em missão de alegria, felizes em levar a ternura dos coelhos para aprendizado dos humanos. Muitos pioneiros de nosso planeta criaram suas famílias na Terra, multiplicando-se e aperfeiçoando nossa linhagem através de gerações, sempre embelezando os vossos bosques e jardins e alegrando as suas crianças, mas verificamos que alguns dos nossos são por vocês cruelmente sacrificados. 

Bernardo sentiu que a carapuça lhe servia, pela intenção que tivera de criar coelhos.

E Orelhinhas prosseguiu:

— Por isso, vendo tanta ingratidão, promovemos esta missão, que tem por finalidade iniciar a captura de humanos a fim de empregá-los nas plantações de verduras e legumes de nosso planeta, para a alimentação dos coelhos, seus habitantes originários.  Estamos numa nave muito veloz, suave e silenciosa e, atentos ao espetáculo, vocês nada perceberam, mas já estamos muito distantes da Terra.

E para que ninguém tivesse dúvidas, ainda sugeriu:

 Vejam pelas escotilhas! – exclamou ele, apontando para as janelinhas redondas.

Muitos correram para ver. Bernardo tomou a mão de Valentina e se apressaram para a escotilha mais próxima, olharam e viram, apavorados, a Terra já muito distante, apenas um pontinho azul, parecia uma bolinha de gude.  Mal exclamaram “VIXE!” e Bernardo passou a sentir alguns solavancos; seria, já, a aterrisagem, ou melhor, a acenourisagem?

Não, não! Parecia mesmo que ele estava sendo sacudido por alguém. Olhou de imediato para Valentina, preocupado com ela, e viu, mesmo estranhamente percebendo que estava com os olhos fechados, que ela já não estava lá, mas lhe dizia repetidamente “Acorda, home! Acorda! Cê tá cum sonho ruim! Acorda, véio!”.

 Bernardo abriu os olhos, coração aos pulos, acabou de acordar, e deu de cara com Valentina, que segurava seus ombros e rindo-se da situação, perguntou “Cê tá bão?”. Meio atordoado Bernardo só disse “Tô, uai”, levantou-se e foi para o banheiro lavar o rosto, ainda pensando naquele coelho enorme, nos liliputianos Aninha e Adão e naquela inacreditável imitação de passarinho. Ouviu Valentina gritar, do quarto:

— Toma banho i bota uma ropa bunita, mais vai logo, si não nóis perde a hora du Circu.

Desta vez, Bernardo não teve dúvidas nem vergonha, e assumiu:

—Num vô, não, sô! Adiscurpa, fiquei veiáco. Tô cum medo dus E.T.


terça-feira, 20 de junho de 2023

LIMA BARRETO - VIDA E OBRA - PESQUISADO POR CLAUDIONOR DIAS DA COSTA

 

Afonso Henriques de Lima Barreto

 

Nascimento: 13 de maio de 1881, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro

Falecimento: 1 de novembro de 1922, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro

Filhas: Amália Augusta de Lima Barreto

Pais: Amélia Augusta de Lima BarretoJoão Henriques de Lima Barreto

Formação: Escola Politécnica da UFRJ

 

Lima Barreto foi um dos principais escritores do pré-modernismo brasileiro. Além de escritor, ele foi jornalista e suas obras estão relacionadas com temáticas sociais e nacionalistas.

Publicou romances, sátiras, contos, crônicas e uma vasta obra em periódicos, principalmente em revistas populares ilustradas e periódicos anarquistas do início do século XX.

A maior parte de sua obra foi redescoberta e publicada em livro após sua morte levando-o a ser considerado um dos mais importantes escritores brasileiros. “Facílimo na língua, engenhoso, fino, dá impressão de escrever sem torturamento – ao modo das torneiras que fluem uniformemente a sua corda-d’água". (Monteiro Lobato)

 

Biografia

 Era filho de João Henriques de Lima Barreto, filho de uma antiga escrava e de um madeireiro português,[e de Amália Augusta, filha de escrava e agregada da família Pereira Carvalho.Seu pai ganhava a vida como tipógrafo. Aprendeu a profissão no Imperial Instituto Artístico. Sua mãe foi educada com esmero, sendo professora da 1ª à 4ª série. Ela faleceu quando ele tinha apenas seis anos e João Henriques trabalhou muito para sustentar os quatro filhos do casal. João Henriques era monarquista, ligado ao visconde de Ouro Preto, padrinho do futuro escritor. As lembranças de um período frutífero que era do Segundo Reinado[6] de Dom Pedro II, bem como a participação da Princesa Isabel na Abolição da Escravatura marcaram a visão crítica de Lima Barreto sobre o regime republicano.

Em abril de 1907, Lima Barreto fez suas primeiras contribuições para uma revista de grande circulação, ao se tornar secretário da Fon-Fon, a pedido do poeta e jornalista Mário Pederneiras.[7] Contudo, sua estadia na revista não durou muito: em junho do mesmo ano, sentindo-se desvalorizado, demite-se e, em outubro, lança a revista Floreal, da qual foi o diretor e principal contribuinte.[7] Além destas, Barreto também contribuiu para as revistas A.B.C. e Careta.[7]

Em 1911, publicou o romance Triste Fim de Policarpo Quaresma nas páginas do Jornal do Commercio, pagando do próprio bolso a edição em livro lançada em dezembro de 1915. Nessa época, tornaram-se mais agudas as crises de alcoolismo e depressão do escritor, o que provocou sua primeira internação no hospício em 1914.

Publicou textos em periódicos com viés socialista.

Passados quatro anos da primeira internação no Hospital dos Alienados devido ao alcoolismo, seus problemas de saúde pioraram e Lima Barreto foi aposentado em dezembro de 1918.( com 37 anos)

Nos  períodos de internação no hospício continuou a escrever para diários e romances.Em 1921,  o autor apresentaria sua terceira candidatura à Academia Brasileira de Letras (nas duas tentativas anteriores, fora preterido; nesta última, o próprio escritor desistiria antes das eleições).

De 1909 a 1922 foi excluído da crítica oficial com um "silêncio implacável" quanto aos seus escritos.[8] Em sua época não era fácil ter um original aceito pelos maiores editores do Rio, e ele, como vários outros apelaram por publicações em Portugal, tendo sido sua obra Recordações do Escrivão Isaías Caminha seguido esse caminho em 1907.

Sua "posição combativa" e sua "crítica contundente" custaram-lhe a marginalidade e a indiferença da elite cultural.[8] Este comportamento de seus pares temporais encontra-se refletido no fato da descoberta e valorização de sua obra após a sua morte, fato que pode facilmente ser associado à sua afirmação em artigo publicado no dia 6 de junho de 1922 na Revista Careta: "O Brasil não tem povo, tem público", típico de sua visão do mundo que o cercava e que aparece na dominante ironia presente em seu personagem narrador: Quaresma.

 

Morte

Com a saúde cada vez mais debilitada, Lima Barreto faleceu de um colapso cardíaco no dia 1º de novembro de 1922, aos 41 anos, em sua casa, no bairro de Todos os Santos, no Rio de Janeiro.

 

Crítica

Muitos críticos apontam que a obra literária de Lima Barreto ora alcança altos níveis de criatividade e realização estética, ora abdica de maiores preocupações artísticas para se assumir como panfleto ou meio de documentação social, política e histórica. 

Temas

Lima Barreto foi o crítico mais agudo da época da Primeira República Brasileira, rompendo com o nacionalismo ufanista e pondo a nu a roupagem republicana que manteve os privilégios de famílias aristocráticas e dos militares.Sua produção literária está quase inteiramente voltada para a investigação das desigualdades sociais, da hipocrisia e da falsidade dos homens e das mulheres em suas relações dentro da sociedade. Em muitas obras, como no seu célebre romance Triste Fim de Policarpo Quaresma e no conto "O Homem que Sabia Javanês", o método escolhido por Lima Barreto para tratar desses temas é o da sátira, cheia de ironia, humor e sarcasmo.

Em sua obra, de temática social, privilegiou os pobres, os boêmios e os arruinados, assim como a sátira que criticava de maneira sagaz e bem-humorada os vícios e corrupções da sociedade e da política .Suas obras seguem duas vertentes principais: a sátira menipeiaA sátira menipeia é uma forma de sátira escrita geralmente em prosa, com extensão e estrutura similar a um romance, caracterizada pela crítica às atitudes mentais ao invés de a indivíduos específicos) e o romance do realismo resgatando em ambos os formatos as tradições cômicas, carnavalescas e picarescas da cultura popular.[11]

Para Lima Barreto, escrever tinha a finalidade de criticar o mundo circundante para despertar alternativas renovadoras dos costumes e de práticas que, na sociedade, privilegiavam certas classes sociais, indivíduos e grupos.

Barreto ganha certos contornos macabros ao narrar a história dos habitantes de uma pequena cidade que, ao descobrirem que se poderia fabricar ouro a partir de ossos humanos, esquecem todos os seus supostos valores éticos e morais, de extrato cristão, e cometem profanações e assassinatos em função da possibilidade de riqueza e ascensão social.

Lima Barreto declara diversas vezes não aprovar nenhum tipo de preciosismo na escrita literária. Também publicou sob pseudônimos.

 

Lista de obras

Romances

·         Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909)

·         Triste Fim de Policarpo Quaresma (1911)

·         Numa e a Ninfa (1915)

·         Clara dos Anjos (1922/1948), póstumo

Novelas

·         O Subterrâneo do Morro do Castelo[nota 1] (1905/1997), póstumo

·         As Aventuras do Dr. Bogoloff[nota 2] (1912/1950), póstumo

·         Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919)

Teatro

·         "Casa de Poetas" (1951), póstumo

·         "Os Negros" (1951), póstumo

Coletâneas de contos

·         Histórias e Sonhos (1920)

·         O homem que sabia javanês e outros contos (1997), póstumo

Coletâneas de crônicas

·         Bagatelas (1923), póstumo

·         Os Bruzundangas (1923), póstumo

·         Feiras e Mafuás (1953), póstumo

·         Marginália (1953), póstumo

·         Vida Urbana (1953), póstumo

·         Coisas do Reino de Jambon (1956), póstumo

·         Impressões de Leitura (1956), póstumo

·         Sátiras e outras subversões: textos inéditos[nota 3] (2016), póstumo

Memórias e correspondência

·         Diário Íntimo (1953), póstumo

·         Cemitério dos Vivos (1956), póstumo e inacabado

·         Correspondência (1956), póstumo, 2 volumes

Adaptações

·         Osso, Amor e Papagaios (1957), de Carlos Alberto de Souza Barros e César Memolo Jr.

·         O Homem que Sabia Javanês (1988), de Maurício Buffa

·         Fera Ferida (1993), de Aguinaldo SilvaAna Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares

·         O Homem que Sabia Javanês (1994), de Guel ArraesJorge Furtado e João Falcão

·         Policarpo Quaresma, Herói do Brasil (1998), de Paulo Thiago

·         Miss Edith e Seu Tio (2000), de Francisco Vilachã

·         O Homem que Sabia Javanês (2004), de Xavier de Oliveira

·         O Homem que Sabia Javanês (2005), de Jô Fevereiro

·         Um Músico Extraordinário (2005), de Francisco Vilachã

·         O Triste Fim de Policarpo Quaresma (2008), de Ronaldo Antonelli e Francisco Vilachã

·         Triste Fim de Policarpo Quaresma (2010), de Antunes Filho

·         A Nova Califórnia (2010), de Francisco Vilachã

·         Clara dos Anjos (2011), de Marcelo Lelis e Wander Antunes

·         Triste Fim de Policarpo Quaresma (2013), de Luiz Antonio Aguiar e Cesar Lobo




Características das Obras

As obras de Lima Barreto apresentam uma linguagem coloquial e fluida. Uma das características é o teor satírico e humorístico presente em seus escritos.

Em grande parte, suas obras estão pautadas na temática social, expressando muitas injustiças como preconceito e o racismo.

Além disso, criticou os modelos políticos da República Velha e do Positivismo. Foi simpatizante do socialismo e do anarquismo, rompendo com o nacionalista ufanista.

Triste Fim de Policarpo Quaresma

Sua obra que merece destaque é o “Triste Fim de Policarpo Quaresma”. Ela foi escrita em 1911 nos folhetins e representa uma das mais importantes do movimento pré-modernista.

Narrada em terceira pessoa, apresenta uma linguagem coloquial e trata-se de uma crítica à sociedade urbana da época.

Ela foi adaptada para o cinema em 1998 intitulada: Policarpo Quaresma, Herói do Brasil.

Frases de Lima Barreto

·    O Brasil não tem povo, tem público.”

·    Não é só a morte que iguala a gente. O crime, a doença e a loucura também acabam com as diferenças que a gente inventa.”

·    E chegada no mundo - escrevia em 1948 - a hora de reformarmos a sociedade, a humanidade, não politicamente, que nada adianta; mas socialmente, que é tudo.”

·    O football é uma escola de violência e brutalidade e não merece nenhuma proteção dos poderes públicos, a menos que estes nos queiram ensinar o assassinato.”

·    Por esse intrincado labirinto de ruas e bibocas é que vive uma grande parte da população da cidade, a cuja existência o governo fecha os olhos, embora lhe cobre atrozes impostos, empregados em obras inúteis e suntuárias noutros pontos do Rio de Janeiro.”

 


Retrato de Lima Barreto, em sua ficha de internação no Hospício Nacional de Alienados, no ano de 1914.

 

Ocupação

escritorjornalista

Período de atividade

1902–1922

Género literário

Movimento literário

 




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