A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023
VINGANÇA A QUALQUER CUSTO
AINDA HÁ TEMPO PARA AMAR - CONTO COLETIVO 2011
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quarta-feira, 16 de agosto de 2023
MARATONA LITERÁRIA - PRODUÇÃO DE TEXTOS INFANTIS
segunda-feira, 14 de agosto de 2023
O FOTÓGRAFO - Alberto Landi
Vinicius,
o fotografo
Alberto
Landi
Vinicius desde criança gostava
de andar de bicicleta e apreciar fotos da natureza.
Tudo começou na
juventude com a oferta feita por um de seus amigos para trocar a bicicleta por
uma câmera.
A partir desse momento passou
a registrar não apenas amigos e familiares, mas também a cidade de São Paulo
que era o alvo principal de sua lente. A experiência transformou-o num dos
melhores profissionais a evidenciar os principais acontecimentos da cidade
Entusiasmado com o seu
trabalho, a prefeitura oferece a ele um estágio de retratista documentarista,
até então inexistente.
Com o tempo foi
efetivado e a sua função era registrar a execução e inauguração de obras,
documentar logradouros, estabelecimentos ligados ao município, prédios
históricos, flagrantes cotidianos. Passou a ser fotografo oficial.
A prefeitura então enfatizou a importância de se ter
um departamento de laboratório fotográfico.
Esse cargo propiciou uma
oportunidade de entrar em contato com pessoas importantes.
Abriu também um estúdio,
recebendo muitos convites de particulares para registrar festas, casamentos,
batizados, acontecimentos em geral.
Chegou a ceder a jornais
e revistas da época como O Cruzeiro, Realidade, Grande Hotel, imagens de
acontecimentos importantes.
Ao longo dos anos
produziu muitos registros, mas pelas sucessivas administrações municipais e a
pouca valorização, se perderam.
O que sobreviveu ao
tempo ficou em diversas instituições de memória da cidade, podendo ser
encontrados no Arquivo Geral da cidade, no Museu de Imagem e som.
Na década de 60, havia
muitas reformas urbanísticas, ele assumiu o projeto das elites cujas imagens,
ajudaram a construir a vitrine de uma importante cidade do Brasil.
Ele sempre dizia:
— Um momento nunca é
apenas um momento, sempre existe algo além da imagem, que podemos ver, que
enxergamos e passamos a sentir.
Após muitos anos na sua
profissão, chegou o momento da aposentadoria. Quis imortalizar a essência da
natureza registrando imagens, como áreas naturais e parques.
Sempre dizia:
— A fotografia de uma
paisagem tirada na luz dourada do sol da tarde, mostra um ponto de vista da
natureza que pessoas raramente observam a olho nu, riquezas de cenários, cores.
Em qualquer lugar se consegue ótimos temas para protagonizar imagens. Algumas delas
podem ser tiradas junto à vida selvagem, mas isso requer um abrigo seguro, um
posto de observação, muito tempo e outras providências necessárias.
Agora como amador, escolheu
como lazer visitar os cemitérios da cidade.
Percorria as infindáveis
alamedas, fotografava esculturas, monumentos e jazigos que ele julgava ser belo,
interessante ou curioso.
Ele dizia sempre que esses
lugares eram museus ao ar livre, pois podia se encontrar esculturas de
artistas renomados, túmulos de personalidades notáveis, uma verdadeira riqueza
arquitetônica e belíssimas obras de arte.
Ressaltava que a cruz era
um dos símbolos mais destacados, em seus tamanhos, texturas e estilos, atraíam
atenção e tocavam as pessoas de algum modo, independente de religião ou credo.
Enquanto a cultura
gótica era representada por sofrimento, dor ou angústia, na de Roma antiga servia
para punir condenados à morte por crucificação.
Os mausoléus mais
sofisticados indicavam o poder aquisitivo da família na época. Muitos deles
pertenciam à elite do século passado, onde seus antigos casarões já foram
demolidos, sobrando hoje apenas o tumulo para lembrança de uma época em que a
ferrovia e o café dominavam a economia da cidade. Quem ganhava eram os
visitantes, pois havia até disputas para se ter o jazigo mais belo.
Dizia sempre que seria
ótimo desmistificar a ideia de que é apenas tristeza e de desconforto, de
dor e luto, mas sim um espaço de contemplação, meditação, de preces pela
memória daqueles que já se foram, de reverenciar a lembrança e saudade.
O encontro com as obras
na paisagem natural é um convite agradável à reflexão e propicia pensamentos e
sentimentos positivos para aqueles que visitam e que levam consigo a magia da
arte, e inspiração.
O jazigo de Monteiro Lobato,
um bloco de granito negro que lembra a forma de um grande baú, onde se pode
imaginar que lá se escondem personagens criados por ele, muito interessante de
se apreciar.
Andando pelas longas alamedas
pode se chegar ao modernismo, nas esculturas com assinaturas de grandes
artistas.
Há também mausoléus de personagens
históricos, como o de Washington Luis e Campos Sales
Há obras incríveis: diversos
tipos de pedras, granitos belíssimos, mostrando contraste entre a porção serrada
e polida das mais diversas cores, muito interessante de se apreciar. Os cantos
dos pássaros nos ciprestes e pinheiros, flores sobre túmulos, anjos, por do sol
em meio às árvores, refletindo o brilho sobre os belos querubins, tudo
embelezando o local.
É um espaço especial
destinado a homenagear a memória daqueles que partiram, onde elementos como vitrais,
bancos, imagens religiosas, enriquecem e contribui para aliviar dor do luto.
Uma ocasião, ele presenciou
uma senhora chorando, sobre um lindo tumulo de mármore e granito.
Ela estava com os braços
cheios de rosas-vermelhas, uma vestimenta que cobria completamente o corpo, que
lembrava uma mulher oriental, era bela como uma flor.
Em seu pranto dizia em
voz alta:
— Toninho! (Antonio)
minha joia preciosa, por que você me deixou tão cedo? A sua ausência me provoca
dores, sem você a vida não tem mais sentido, não tenho mais vontade de viver.
Ele observava a certa distância esse lamento.
Ficou comovido e
resolveu se aproximar dela com objetivo de oferecer seu amparo, num gesto de
carinho e consolo.
Mas, surpreso, viu que na
placa sobre o jazigo estava gravado o nome Samir Assad e não “Toninho” que era
o objeto do lamento da viúva.
Ele incrédulo se acercou
mais ainda, pediu licença e após reverenciá-la fez uma observação;
— Senhora, me emocionou
muito o seu lamento e dor, todavia esse tumulo não parece ser do seu marido,
pois aqui consta o nome de Samir.
Ela, carinhosamente,
ouve Vinicius e diz:
— Meu jovem, um dia
sentiremos falta de tudo o que não pudemos viver, das coisas mais belas que
deixamos de fazer, das tardes com um horizonte todo tingida de laranja, das
noites enluaradas. Somos feitos de retalhos, que a vida nos doa, e no dia a
dia, vamos costurando nossa história entre sorrisos e lágrimas. Somos feitos de
pedaços que ficam e que vão embora.
— Para uma árvore há
esperança; se for cortada, brota de novo e torna a viver, mesmo que suas raízes
envelheçam, e o seu toco morra na terra, basta um pouco de água, e ela brota, soltando
galhos como uma planta nova, mas isso não acontece com pessoas, que vão e não
retornam mais.
— Estou no lugar certo,
pois Toninho quando vivo, devido ao fisco do imposto de renda, não colocava
nada em seu nome!
— Ele, querendo
confortá-la, e muito gentil, argumentou que a morte infelizmente surge a qualquer
momento e por vezes leva pessoas que nos sãos especiais. Não chore a beira de
seu jazigo, pois ele não está lá!
Procure visualizá-lo no
sopro dos ventos, nas chuvas de verão e nos chuviscos da primavera, no brilho
das estrelas e no canto dos pássaros. A saudade eterniza a presença de quem se foi... Com o tempo esta dor se aquieta, se transforma em silêncio, que espera pelos braços
da vida, um dia Reencontrar!
Continuou perambulando registrando imagens
sabendo que em cada tumulo havia uma história linda, triste ou curiosa para se
contar e não somente a beleza que cada imagem mostrava.!‘
quarta-feira, 9 de agosto de 2023
CONTO COLETIVO - A GRANDE JORNADA - CAPÍTULO EM BUSCA DO DESCONHECIDO
A GRANDE JORNADA.
Capítulo I
AO ENCONTRO
DO DESCONHECIDO
O céu tingia-se de diversas cores, que se
refletiam nas águas azuis e serenas de Paraty. O astro-rei surgia com toda a
sua majestade no horizonte, iluminando o belo e recortado litoral, onde pequenas
ilhas salpicavam de verde o mar límpido, que levantava brancas espumas, quando
batia nas pedras ou languidamente beijava as areias brancas das praias.
Três homens conversavam animados em uma marina,
onde estava ancorado um veleiro de uns 35 pés (10,67 metros), imponente, com suas velas
brancas, que balançavam ao sabor do vento, parecendo impaciente de singrar as
águas profundas e inquietas do oceano.
Os homens saltaram para o barco. Havia
expectativa e êxtase na expressão de cada um deles, a tensão e o entusiasmo
misturavam-se no íntimo deles, pois iam realizar o grande sonho de suas vidas: contornar o mundo pelos mares infindos e muitas vezes perigosos do planeta.
O planejamento da viagem durou quase dois anos,
em que estudaram os ventos, as correntes marítimas e todos os revezes, que
poderiam acontecer durante essa grande aventura.
Determinaram que iriam até o sul da África para
passar pelo Cabo da Boa Esperança e alcançar o Oceano Índico.
Pedro tinha o título de Capitão-Amador, um mestre
velejador tarimbado, que navegara pelo litoral brasileiro e em outros mares com
um grupo até os Estados Unidos. Júlio, oceanógrafo, que há muito tempo queria
enfrentar de perto os humores do mar, e Geraldo, um executivo bem-sucedido, cansado
da exigência de suas funções, que sempre almejara a liberdade e os perigos de
uma grande aventura.
Sábado foi o dia escolhido para a partida, apesar
de que na quinta-feira à noite tudo já estivesse pronto e conferido para longa
viagem. O barco totalmente revisado e com a documentação em ordem, os
mantimentos, o suprimento de água potável, o combustível para o motor a ser
usado nas calmarias, o rádio, enfim tudo adequadamente providenciado. Ansiosos,
Júlio e Geraldo queriam zarpar na sexta-feira, mas Pedro não concordou:
“sexta-feira, não. Todo marujo sabe que
sair do porto numa sexta-feira dá azar”.
Ao embarcarem, Geraldo e Júlio estranharam aquela
ferradura enferrujada pendurada no convés, que contrastava com a modernidade do
veleiro. Ao lado dela, uma cachorrinha vira-lata os recebeu, abanando o rabo
com alegria.
— Essa é a
Tica, disse Pedro. Vai com a gente para dar sorte; a viagem é longa, vamos
precisar. E passem a mão na ferradura
sempre que entrarem na embarcação para espantar o azar.
Geraldo e Júlio não eram supersticiosos, mas
obedeceram ao Mestre, divertidos com as inesperadas novidades. A cachorrinha seria, sem dúvida, uma alegre
companhia, independentemente de trazer a sorte esperada. Afinal, essas crendices de Pedro não atrapalhariam
em nada. Quem sabe, não teriam algum
fundamento? Quem sabe?
O vistoso e imponente barco começou a navegar
mansamente, comandado pelas mãos hábeis do capitão, auxiliado pelos dois
amigos. Na marina, um grupo de pessoas formado por curiosos e familiares dos
intrépidos navegantes acenavam emocionados, alguns com lágrimas nos olhos, ao
acompanhar o suave balanço do barco rumo às surpresas inimagináveis do mundo
marítimo. O coração descompassado pelo
temor do que lhes podia acontecer.
A família de Geraldo era a mais preocupada, pois
ele nunca se aventurou numa embarcação e, pela pressão, que sofrera nos últimos
tempos, sua saúde ficara abalada.
No píer, os sussurros das orações simples,
Pai-Nosso e Ave-Maria, até súplicas e promessas a serem cumpridas quando da
volta dos novos marujos. Esses atos de
fé e esperança dominavam a mente e o coração daqueles que vislumbravam o
afastamento do magnífico barco.
Pedro ao timão, vento a favor, sol ameno, o
veleiro avançava com suave balanço no mar sereno, para o langor de seus
ocupantes, distanciando-se da costa. A
pequena igreja da borda de Paraty foi ficando menor, até que já não podiam
vê-la.
E assim foram eles à procura de grandes emoções e
em busca do desconhecido.
Tica explorava os cantos do barco, cheirando aqui
e ali. Às vezes apoiava-se na amurada e olhava para longe, como a admirar a
paisagem. Também se mostrava excitada com a nova situação.
Devidamente protegidos pelos cuidados reais e
esotéricos do Mestre Pedro, os três amigos apreciavam aquele momento,
sentindo-se confiantes para a grande aventura que se iniciava.
— Que vida boa! — Disse Geraldo, entusiasmado. —
Não vou enjoar nunca.
Pedro sorriu com uma expressão zombeteira. Mal sabia Geraldo, que muitas vezes os mais
experientes marinheiros punham para fora o que já não tinham mais no estômago,
quando uma tempestade atingia a embarcação.
Navegando pelo cenário cinematográfico do
litoral, recortado por pequenas enseadas de águas preguiçosas, que disfarçavam o
mar revolto de águas mais profundas, os três aventureiros inspiravam com prazer
o ar salgado e morno do mar.
Gaivotas voavam em bando, mergulhando para pegar
peixes. Golfinhos passaram por eles,
conversando alegremente entre si.
— A natureza é soberba! Sempre adorei o mar! Exclamou Júlio.
— Mas estejam preparados porque muitas vezes ele
nos desafia. E é para isso que estamos
fazendo essa viagem, para testarmos nossa coragem, inteligência e persistência,
não é mesmo, companheiros?
— E descobrir novas experiências, conhecer
lugares distantes e outros povos.
Sobretudo, aprender a lidar com o desconhecido e o inesperado. Se formos
bem-sucedidos, voltaremos outros homens.
Disse Geraldo, emocionado.
Geraldo era empresário, dono de importantes
empresas de variados ramos no Brasil e fora do país. Seus negócios oscilam nas
bolsas de valores do mundo, conforme a maré. Desde os quinze anos
habitou escritórios e indústrias. Antes, acompanhava o velho pai e avô, mas
agora, já não os tem e a administração de todo negócio está em suas mãos. Não
teve filhos e, portanto, não tem um substituto para arrebanhar a labuta. O
estresse começou a provocar-lhe sintomas de desgaste emocional, o que
preocupava a esposa. Precavido, sempre fez astronômicos seguros de vida,
pensando no futuro da mulher. Uma viagem de aventura o ajudaria a liberar a
energia boa, e por essa razão estava na embarcação. Mas, desta vez, com a
viagem de meses que faria com os amigos, Geraldo fez mais do que “seguro de
vida”, montou um canal de patrocínio entre grandes empresários, a cada etapa da
viagem, um valor significativo entraria na conta dos três companheiros. Os
vídeos da viagem seriam postados no canal “A GRANDE JORNADA”, e os valores em
pix abasteceriam a conta bancária. Os investidores de cada etapa, estampariam
uma lista valiosa de empresas e pessoas que acreditavam no sucesso daquela
aventura, ou que acompanhavam a adrenalina da tripulação. Isso era mais um
estímulo para a viagem, uma válvula de ânimo que os impulsionaria mais
confiantes. O vídeo do veleiro zarpando teve um alcance estupendo, tendo sido compartilhado
milhares de vezes, o que provocou novos investidores a entrarem no rol.
Julio sempre trabalhou com pesquisa marítima, já
participou de mergulhos profundos em mares diversos, é um professor renomado
com inúmeras literaturas publicadas. É convidado para programas de entrevistas,
projetos e pesquisas, seu nome é sempre lembrado quando o assunto é
oceanografia. Mas, ele jamais realizou uma viagem desse tipo, onde experimentaria
o oceano e suas adversidades em um veleiro. Por ser ele um profissional tão
conhecido e referenciado, os vídeos postados no canal “A grande jornada”,
ganharam o mundo da ciência e curiosidade.
Pedro é um experiente navegador, um
Capitão-Amador que singrou diversos mares, mais do que um aventureiro, é um
arrojado desbravador, um homem audacioso, corajoso, muito cauteloso, apesar de
tudo. Pedro sempre teve veleiro, este levava a estampa de uma “FERRADURA” no
casco, um veleiro que já enfrentou tempestades e se saiu muito bem dos
ambientes hostis. O navegador sempre inspirou outros colegas que ouviam suas
histórias de sobrevivência de viagens como essa. Religioso, místico, crente de
simpatias e rezas, observador dos mares e dos homens.
Capítulo II
terça-feira, 8 de agosto de 2023
O Velho CHICO - Alberto Landi
O Velho CHICO
Alberto
Landi
Sou
apenas um rio, não posso falar, mas quero fazer um alerta a todos vocês, não me
tragam poluição! Meu nome é Chico, venho lá de longe, da Serra da Canastra, vou
levando um pouco de irrigação a todas as regiões que percorro.
Por
onde passo vou até o sertão.
Muita
gente me chama de Velho Chico, mas também sou conhecido como um grande rio da
integração.
Viajo
por vários estados, e aquele que, por ventura, se arriscar em me poluir, saiba
que é como tirar pedaços de mim.
Faço
aqui para todos um apelo, para quem danificar o meu leito, peço por caridade um
pouco mais de respeito.
Vejam
vocês, sem poluição levo água potável para beber para toda a população, forneço
minhas águas para as usinas hidrelétricas. Também solicito a todos que não
joguem detritos em mim, isso me causa muita dor. Tratem bem seus esgotos, não
acabem com meu leito.
Se
vocês têm o direito de viver, eu também tenho.
Sou
como a cana para o engenho, sou necessário.
Isso é
um grande pedido que faço para toda a população, desde Minas Gerais até o
sertão. Possuo grande importância social, econômica e cultural por onde vou,
até no transporte de cargas sou útil, alem de abastecer açudes e rios menores,
garantindo uma boa segurança hídrica em todas essas regiões. Através de
sistemas de irrigação ajudo a realizar atividades agropecuárias como criação de
gado e cultivo de frutas.
Agradeço
antecipadamente a vossa compreensão, antes de eu secar é melhor me preservar!
UMA VIAGEM INTERESSANTE. - Alberto Landi
UMA VIAGEM INTERESSANTE.
Alberto Landi
Algum tempo atrás tive a oportunidade a convite da
empresa, a qual trabalhava, de visitar as instalações fabris no município de
Candeias, Bahia. Ela produzia a matéria-prima para fabricação de borracha e
para utilização em outros segmentos de mercado Conhecido com o nome técnico de
Carbon Black ou Negro de Fumo.
Ao chegar ao aeroporto, no município de Lauro de
Freitas, saindo em direção a Salvador, há um grande bambuzal que forma uma
espécie de túnel natural sobre a via, ocupando um trecho de um pouco
mais de 1,5 km de extensão. O cenário se tornou um dos cartões postais da
cidade. Seus feixes envergados existem há cerca de 80 anos e já faz parte da história do Brasil.
Teve no passado, uma importância estratégica, esse local foi criado
entre os anos 20 e 40 e serviu para proteger a base aérea brasileira e
americana, em meio a tensão da Segunda Guerra. Esse corredor florestal era
utilizado para esconder e camuflar o acesso à chegada da base, onde estavam os
aviões da FAB e Americana.
Após esse período, se tornou o caminho oficial de
Boas-vindas e despedidas dos visitantes. A cidade se desenvolveu para a região
próxima do bambuzal. É o primeiro ponto turístico a ser visto por quem chega à
capital baiana e também é o último, no caso de quem sai pelo aeroporto.
O encantamento pela paisagem não é novo, desde a
segunda metade do século XX, os bambus chamam atenção, é um espaço a ser
preservado.
Dirigindo por essa via elegante, ladeada por
bambus, uma paisagem impecável, fiquei surpreso ao me pegar dirigindo muito
mais rápido do que o generoso limite de 60 km por hora. O motor silencioso e a
aceleração linear do veículo alugado, um Onix, faziam com que todas as
velocidades parecessem quase idênticas.
Repentinamente, o trafego foi interrompido por um
acidente na via, enquanto parado, fiquei navegando na internet no pequeno
computador instalado no painel do carro, e me atualizava com as notícias
divulgadas no mundo inteiro. Os noticiários já anunciavam novidades que
permitiriam aos seres humanos limpar os oceanos poluídos, produzir água potável
ilimitada, cultivar alimentos no deserto, curar doenças mortais, lançar enxames
de drones movidos a energia solar.
Durante o meu estágio na fábrica, conheci pessoas
simples, algumas voltadas para artes e cultura.
Findo o estágio, me restou três dias para explorar
um pouco a capital, que esse ano comemorou 474 anos.
Visitei com algumas pessoas, iniciando pela Foz do
rio Joanes, num local chamado Buraquinho, paradisíaco onde o mar e o rio se
encontram, uma inigualável beleza, cercada por coqueiros, areia clara e
cenários fotogênicos.
Farol da Barra, lindo monumento dos tempos da
colonização, construído antes mesmo da cidade a ser fundada. Erguido em 1536, é
a primeira fortificação do País. A torre atual foi instalada em dezembro de
1839, homenagem ao nascimento e D. Pedro II, abriga também o museu náutico da
Bahia.
Visitamos algumas igrejas, muitas me chamaram a
atenção, como a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco.
Este santuário era iluminado apenas com a luz
natural virada dos altos vitrais e o ar tinha um cheiro forte de incenso.
Altares dourados, e bancos de madeira polida, um estilo barroco, havia acordes
crescentes vindos de um órgão de tubos que ressoavam por todo o santuário.
Repentinamente apareceu um homem, que aparentava uns
60 anos, ereto e régio, com uma postura até jovial e uma expressão convincente.
Pensei é o bispo! Que privilegio poder conhecer bem
de perto.! Usava batina sacerdotal branca, estola dourada, uma faixa bordada e
uma mitra cheia de pedras preciosas. Avançou com os braços estendidos para a
congregação presente no momento, parecendo flutuar enquanto ia ao centro do
altar, passando pelo púlpito formal e descendo, de modo a ficar no mesmo nível
dos paroquianos. Em seguida fez a leitura de uma passagem do Evangelho
de São Marcos.
Nos santuários que visitei, observei também a
perfeição dos entalhes feitos manualmente, a ligação com Deus nas esculturas
sacras e a conservação dos monumentos, simplesmente exuberante.
Posso afirmar que tudo isto me encantou nessa cidade
com suas belezas do tempo colonial em contraste com o modernismo. Povo
alegre, comunicativo, descendente de uma miscigenação que deu origem ao povo
baiano: europeu, indígena e negro africano.
Tenho que agradecer aos novos amigos que fiz, os
quais demonstraram muita solidariedade!
sexta-feira, 14 de julho de 2023
O CIRCO Leon Alfonsin Valiengo
O CIRCO
A mente acumula memórias e
sentimentos. Por vezes eles afloram de alguma maneira.
Leon Alfonsin Vagliengo
O dia a dia de Bernardo e Valentina era
sempre o mesmo: muito trabalho, cuidando do seu pequeno sitio no interior de
Minas Gerais, onde moravam e garantiam o sustento com a criação de galinhas,
uma pequena e variada horta, algumas árvores frutíferas, além da cabrita
Mimosa, e da vaquinha Margarida, que lhes davam o leite diário, e do bode
Marcriado, que cuidava da recepção de visitantes. Bernardo havia planejado, ainda, iniciar uma
criação de coelhos para corte, mas Valentina não deixou, dizendo ao marido que
seria muita maldade com os bichinhos, provocando nele um sentimento de culpa só
por ter pensado nisso.
No
primeiro sábado de cada mês faziam as compras das provisões para o sítio e,
como sempre, viajavam alguns quilômetros em sua velha caminhonete por uma estrada
de terra vicinal, na região de Varginha, onde se dizia que, às vezes, apareciam
objetos voadores. Durante o percurso pelos trechos desabitados Bernardo tentava
disfarçar, mas mantinha-se tenso, calado, e não conseguia esconder a forte
inquietação que o dominava, pois era bastante crédulo e acreditava nas
histórias que ouvia de seus vizinhos sobre pessoas abduzidas, raptadas por
seres extraterrestres. Nesses momentos, invariavelmente tinha que suportar uma
carinhosa zombaria de sua mulher, que lhe dizia “Cê é muito encucado, home! Curuis
credo” – “Num me atazana, muié! Para di fazê disfeita!” — Ele sempre respondia.
Naquela
manhã, bem cedo, trafegando nesse trecho já bem próximos da pequena cidade onde
fariam as compras, tiveram a atenção despertada por um terreno recentemente
desmatado, em cujo centro estava uma construção metálica, fazendo lembrar a
João o Teatro de Alumínio, que um dia havia visto numa fotografia de São Paulo.
A estrutura tinha um formato incomum, com janelinhas redondas em toda sua
circunferência, e as palavras “Grande Circo do Coelho” sobre a porta de entrada
identificavam a sua finalidade.
—
Vixe! Esse Circu é dimais da conta, sô! Ispia só! — comentou Valentina.
Chegando
à cidade, encontraram vários cartazes que anunciavam o Grande Espetáculo
Circense, com uma propaganda muito bem-feita, anunciando para aquela noite uma
apresentação nunca vista antes, inesquecível e fantástica, mas sem revelar
detalhes da programação. Em cada cartaz, o desenho de um grande coelho,
sorridente, parecido com o Pernalonga das histórias em quadrinhos, sorria de
maneira muito simpática, numa imagem que fazia alusão a um importante participante
de mágicas, o coelho. Uma frase instigante completava o cartaz: “Depois de
assistir a este espetáculo você nunca mais duvidará de nada”.
Depois
de examinarem um daqueles cartazes com evidente Interesse, Bernardo olhou para
Valentina com aqueles olhos sorridentes de convite, que ela entendeu e
imediatamente exclamou “nóis vamu?!”, já empolgada com a ideia.
Apressaram-se
com as compras, voltaram ao sítio e adiantaram todas as tarefas, entusiasmados
com as perspectivas de uma noite diferente e divertida. Já se haviam passado
quase duas horas do meio-dia quando puderam almoçar. Bernardo disse que estava
“varado di fome”, fome de leão, e comeu muito. Depois deitou-se um pouco para a
merecida sesta, como fazia todos os dias, e pediu a Valentina para chamá-lo a
tempo de se preparar para irem ao circo.
<<<<<
O >>>>>
Ao
chegarem ao Circo, um bom público vindo das cercanias e da cidade já formava
uma grande fila para a compra dos ingressos. Aos poucos todos foram entrando e se
acomodaram, e enquanto aguardavam, em meio a um burburinho de animadas
conversas, puderam também notar a presença de uma mesa no canto do palco, com uma
cartola sobre ela, dessas usadas por mágicos, ligeiramente maior, negra como de
praxe, em posição invertida, com as abas para cima.
Exatamente às vinte horas, horário
previsto para o início do espetáculo, as portas metálicas do circo foram
fechadas e, para espanto do público, surgiu de trás das cortinas um impressionante
coelho cinza e branco, de quase dois metros e enormes orelhas, vestido com uma
longa casaca negra, ostentando um sorriso dentuço grande e simpático, acenando
alegremente enquanto se encaminhava ao centro do palco, andando em pé, como
fazem os humanos. Lá chegando, inclinou-se numa longa reverência, cumprimentando
o espantado público, que não acreditava no que estava vendo.
—
Eita fantasia bunita dimais da conta, sô! — Exclamou Bernardo.
—
Cabuloso, né? Inté parece um cueio, mermo! — Ouviu de Valentina, muito
admirada.
Continuando,
o enorme coelho apresentou-se como o Mágico Orelhinhas e fez um breve e
estranho relato de suas experiências “neste planeta”, dentre as quais destacou
as viagens que realizou com um sujeito chamado Gulliver no ano de mil e
setecentos do calendário dos humanos, numa máquina do tempo, das quais trouxe
atrações para montar o seu espetáculo de mágicas fantásticas.
A
seguir, fingindo não perceber o assombro que estava provocando no público com
sua imagem excêntrica e aquela conversa absurda, o mágico Orelhinhas iniciou a
apresentação e passou a realizar truques ilusionistas muito intrigantes, como
todos são: sem nada dizer, mudou várias vezes, de repente, a cor da sua casaca;
transformou rígidas bengalas em lenços macios e os fez desaparecer num tubo que
se desvaneceu no ar, para reaparecerem de repente na cabeça de alguém da
plateia; fez surgir um buquê de lindas rosas amarelas passando um lenço sobre
as patas vazias e gentilmente o ofereceu a uma senhora da plateia; enfim,
realizou dezenas de outros desafios à lógica do entendimento comum, num longo
espetáculo de ilusionismo, recebendo muitos aplausos dos incrédulos e
extasiados espectadores, que aos poucos foram se acostumando e esquecendo a
estranheza daquela situação insólita.
Bernardo
estava encantado com o show, mas do fundo de sua memória vinha a impressão de
que já tinha visto todas aquelas mágicas. Num certo momento, quando viu as
rosas, olhou apaixonado para Valentina, contente em ver a felicidade que ela
demonstrava com aquele lindo sorriso que não saía de seu rosto, e pensou em
dar-lhe também um buquê de rosas, assim que pudesse. Mas seriam vermelhas, de
paixão. E ainda pediria um beijão em troca.
Após a longa série de mágicas que
literalmente encantaram o público, Orelhinhas finalmente dirigiu-se à mesa onde
estava a cartola e a tomou nas patas, anunciando:
—
E agora, senhoras e senhores,
diretamente de Lilliput, o clímax deste espetáculo!
— Eu sou a mini anã Aninha! —
Disse a mocinha, com voz maviosa.
— Eu sou o mini anão Adão! — Disse o homenzinho, com uma voz
surpreendente, que mais parecia um trovão.
E arremataram em uníssono, com o jargão dos
circos:
— Distinto público, MUITOOO... BOAAA...
NOITEEEEE!
Na
sequência do espetáculo, iniciaram a representação de um rápido drama caricato
em que, após um divertido colóquio, Adão declarou seu amor por Aninha e a pediu
em casamento. Ela se mostrou muito emocionada, mas, prudente como toda mulher, logo
perguntou como ele iria sustentá-la. Adão não se fez de rogado: imediatamente
virou-se para Orelhinhas e pediu-lhe um emprego no circo:
—
Eu sei imitar passarinhos como ninguém — propôs.
― Sinto
muito, Adão, mas essa atração está muito explorada, não tem mais graça, já não
interessa ao público porque muita gente sabe imitar passarinhos — respondeu o
Coelhão, com cara de desinteressado.
—
Sim, mas não do jeito que eu faço, retrucou Adão. Vou fazer uma demonstração,
aposto que o senhor vai gostar. Veja!
E
o anão Adão saiu voando, um voo alegre e variado: subiu uns cinco metros, circulou
várias vezes em volta do palco, desceu quase até o chão, subiu novamente e, ao
final, pousou num trapézio acima do picadeiro emitindo alegres chilreios de
rouxinol, para assombro da plateia que o aplaudiu efusivamente entre
estrepitosas gargalhadas, agora completamente afeita a toda aquela situação
fantástica e insólita de que participava.
—
Você me convenceu! Está contratado! — exclamou Orelhinhas, finalizando o
teatrinho com aquele riso de quem já conhecia o desfecho.
O
enorme coelho então retomou o comando do palco para comunicar o fim do
espetáculo e, a seguir, assumindo uma expressão grave e séria em seu olhar,
revelou que o circo metálico em que se encontravam era, na verdade, uma nave
espacial que havia decolado durante o início do espetáculo e agora dirigia-se
ao planeta Cenoura, pertencente à Galáxia dos Coelhos, situada logo após a perigosa
Galáxia do Bode. Insensível a alguns desmaios entre o público, continuou, em
tom de discurso:
—
Nós, coelhos, desde que conseguimos dominar a tecnologia dos voos espaciais há muitos
séculos, começamos a migrar do planeta Cenoura para o planeta Terra, procurando
um novo lar em missão de alegria, felizes em levar a ternura dos coelhos para
aprendizado dos humanos. Muitos pioneiros de nosso planeta criaram suas
famílias na Terra, multiplicando-se e aperfeiçoando nossa linhagem através de
gerações, sempre embelezando os vossos bosques e jardins e alegrando as suas
crianças, mas verificamos que alguns dos nossos são por vocês cruelmente
sacrificados.
Bernardo
sentiu que a carapuça lhe servia, pela intenção que tivera de criar coelhos.
E
Orelhinhas prosseguiu:
—
Por isso, vendo tanta ingratidão, promovemos esta missão, que tem por
finalidade iniciar a captura de humanos a fim de empregá-los nas plantações de
verduras e legumes de nosso planeta, para a alimentação dos coelhos, seus
habitantes originários. Estamos numa
nave muito veloz, suave e silenciosa e, atentos ao espetáculo, vocês nada
perceberam, mas já estamos muito distantes da Terra.
E
para que ninguém tivesse dúvidas, ainda sugeriu:
— Vejam pelas escotilhas! – exclamou ele,
apontando para as janelinhas redondas.
Muitos
correram para ver. Bernardo tomou a mão de Valentina e se apressaram para a
escotilha mais próxima, olharam e viram, apavorados, a Terra já muito distante,
apenas um pontinho azul, parecia uma bolinha de gude. Mal exclamaram “VIXE!” e Bernardo passou a sentir
alguns solavancos; seria, já, a aterrisagem, ou melhor, a acenourisagem?
Não,
não! Parecia mesmo que ele estava sendo sacudido por alguém. Olhou de imediato
para Valentina, preocupado com ela, e viu, mesmo estranhamente percebendo que
estava com os olhos fechados, que ela já não estava lá, mas lhe dizia
repetidamente “Acorda, home! Acorda! Cê tá cum sonho ruim! Acorda, véio!”.
Bernardo abriu os olhos, coração aos pulos,
acabou de acordar, e deu de cara com Valentina, que segurava seus ombros e rindo-se
da situação, perguntou “Cê tá bão?”. Meio atordoado Bernardo só disse “Tô, uai”,
levantou-se e foi para o banheiro lavar o rosto, ainda pensando naquele coelho
enorme, nos liliputianos Aninha e Adão e naquela inacreditável imitação de
passarinho. Ouviu Valentina gritar, do quarto:
—
Toma banho i bota uma ropa bunita, mais vai logo, si não nóis perde a hora du
Circu.
Desta
vez, Bernardo não teve dúvidas nem vergonha, e assumiu:
—Num
vô, não, sô! Adiscurpa, fiquei veiáco. Tô cum medo dus E.T.
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