A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

AINDA HÁ TEMPO PARA AMAR - CONTO COLETIVO 2011

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

BIBLIOTECA - LIVROS EM PDF

quarta-feira, 4 de março de 2020

A resposta é sua - Hirtis Lazarin




A resposta é sua
Hirtis Lazarin


Ela acordou assustada com os gritos do despertador.  Acendeu a luz tênue do abajur e constatou que o relógio estava certo.  Marcava exatamente cinco horas, vinte e sete minutos.  A impressão dela era de ter acabado de se deitar. "Não é possível! Acho que os ponteiros apostaram corrida durante a noite e o maior, mais esperto e poderoso, venceu o desafio.  Saltou do quatro para o cinco e lá se foi uma hora engolida da madrugada.

Com a dificuldade de um corpo vivido, Helena sentou-se na cama, orou para Nossa Senhora das Causas Impossíveis, calçou os chinelos tão velhos quanto ela, e arrastou-se até a cozinha.

Nenhuma fruta, apenas um pãozinho amanhecido e requentado e uma caneca de café aguado.  O pó de café não podia dar-se ao luxo de ser esbanjado no coador.  Depois de um cigarro apreciado até o último suspiro, ela espia o tempo lá fora. Nublado e frio.  Não importa, nada a esmorece.  Ainda tem um sonho e sabe que sem ele a vida tornar-se-ia vazia, sem gosto e nem valeria mais a pena viver.  Sabe também que todo sonho exige esforço e o esforço nos conduz ao prêmio.  E o prêmio terá o tamanho da nossa persistência.

Veste o único casaco de lã sobre a roupa que dormiu, calça a bota de borracha que alcança seus joelhos e está pronta para mais um dia de busca.

O ônibus da linha verde, sempre pontual, atrasa.  Mais de trinta minutos já se passaram.  O frio castiga-lhe o rosto enrugado e, em cada ruga mais profunda, esconde-se um capítulo de sofrimento.  As pernas doem, mas não a fazem desistir de seu propósito.  É o que a mantém viva depois que seu companheiro se foi.

Cinquenta anos de esperança.

Cinquenta anos de busca;

Cinquenta anos de saudade.

Alegrias e tristezas são constantes em nossa vida.  Sabedoria é saber lidar com elas.

Cada manhã, a velha senhora desce próxima a uma estação de metrô e ali passa o dia.  Carrega um cartaz plastificado com o nome de sua irmã, seis anos mais nova.  As duas foram deixadas e esquecidas num orfanato.  Aos dezoito anos, Helena foi apresentada à vida e encaminhada a uma família para trabalhar como doméstica.  Alguns anos depois, já casada, voltou ao orfanato para resgatar a irmã, não mais a encontrou.  Perderam-se para sempre. 
Era pouco mais de meio-dia quando a chuva apertou.  Foi no bar do português que ela conseguiu abrigo.  Consultou a carteira e tinha o suficiente para um lanche e coca cola.

Uma jovem sentada numa mesa próxima, observava como aquela senhora humilde saboreava o sanduíche.  Era com tanto gosto que parecia estar diante de uma ceia de Natal.  Aquela fisionomia atraia e intrigava-a.   Por mais que tentasse, não decifrava o quê, nem o porquê.   Aqueles olhos... Aquele sorriso tristonho... Pensou em se aproximar, mas o tempo era curto e o compromisso inadiável.

Inquieta, Gisele se foi, mas aquele semblante povoou seus sonhos por noites seguidas.  Voltou àquele bar várias vezes, caminhou pelas ruas próximas e nada...  As tentativas de busca foram muito mais do que se possa imaginar.  Mas ela mesma nem sabia porque se atormentava tanto.  Até que, graças ao tempo e às orações, aquele pensamento esporadicamente retornava, sem sofrimento, apenas lembranças.

Mas coisas nos acontecem independentemente da nossa vontade e cada um  arruma explicações de acordo com suas convicções.

E foi numa tarde ensolarada que o milagre aconteceu:  Gisele encontrou Helena, sentada nas escadarias do Teatro Municipal, tentando se proteger do calor.  Aproximou-se e, em pouco tempo, as duas tagarelavam como antigas conhecidas.  Gisele, com sutileza e jeitinho, foi colhendo informações sobre a vida daquela senhora, tão estranha e tão familiar.  A cada detalhe revelado, a cada nome mencionado...E quando apareceu o nome do orfanato, o mistério se revelou.  Foi choro, foi abraço, foi o melhor momento da vida de Helena.   A avó de Gisele era a irmã que ela sempre acreditou estar viva.  A busca incansável terminou.

Caro leitor, vale a reflexão:  Tudo acontece por acaso?  Ou Deus teve piedade do sofrimento de uma senhora tão fervorosa e concedeu-lhe uma graça?  Ou já nascemos trazendo uma malinha que aprisiona nosso destino?


terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Prêmio São Paulo de Literatura - 2019


Prêmio São Paulo de Literatura

Uma das mais conceituadas premiações de literatura no País e a maior em valor individual, o Prêmio São Paulo de Literatura tem como objetivo estimular a produção literária de qualidade, valorizar o setor e favorecer a formação de leitores e escritores, reconhecendo grandes nomes e também novos talentos.

Os vencedores de 2019 foram anunciados em novembro e receberam o troféu durante a cerimônia. Ana Paula Maia foi premiada na categoria Melhor Romance de 2018 pela obra “Enterre seus mortos”, e Tiago Ferro foi contemplado como Melhor Romance de Estreia de 2018 por “O pai da menina morta”.




http://www.cultura.sp.gov.br/premiacoes-da-cultura-de-sao-paulo-2019-conheca-os-vencedores-e-homenageados/

ENTERRE SEUS MORTOS

Resultado de imagem para ENTERRE SEUS MORTOS

(VEJA UM COMENTÁRIO DESTA OBRA)

(VEJA AQUI TRECHOS DESTE LIVRO)





O PAI DA MENINA MORTA

Resultado de imagem para O PAI DA MENINA MORTA

(VEJA UM COMENTÁRIO DESTA OBRA)


(VEJA AQUI UM TRECHOS DESTE LIVRO)


quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

CONFRATERNIZAÇÃO 2019 - COM AMOR TUDO FICA MAIS GOSTOSO!!

CONFRATERNIZAÇÃO 2019
EMPÓRIO SANTA MARIA

É um enorme prazer estar ao lado de corações tão sinceros e leais como os de vocês,  Família Ical. 

Foi muito gratificante ver os olhos felizes pelo encontro, os abraços apertados pela amizade de dez anos ou mais. 

O papo estava agradável, as pessoas estavam descontraídas, o serviço estava perfeito, havia muita fartura na mesa, abundância e variedade. E, foi essa razão de tão poucas fotos. 

A ideia de fazermos a confraternização nesse lugar maravilhoso, foi da Dinah. Obrigada, chefa.

Agradecemos também ao gentil atendimento da Fernanda e do Bruno, Empório Santa Maria: Av Cidade Jardim, 790 - SP/SP:

http://www.emporiosantamaria.com.br/



Agora estamos de férias. 
Retomaremos no dia 6 de fevereiro, com sangue total!!


Ah, quem estava lá?

Ana Maria e Olavo Maruggi
Suzana e Luiz Guilherme
Hirtis e Henrique
Eliana e Ricardo Augusto
Noêmia Iasz
Maria Do Carmo
Anna Catarina
Anna Izabel (mãe da Anna catarina)
Ilka
Hilda (amiga da Ilka)

Veja  as fotos, algumas repetidas, mas são as únicas que temos: 


PARA A DINAH:















quinta-feira, 31 de outubro de 2019

FINAL DE TARDE - Hirtis Lazarin



Imagem relacionada

FINAL DE TARDE
Hirtis Lazarin



Finalmente Lívia achou um cantinho aconchegante capaz de amenizar seu sofrimento, um refúgio deserto onde podia gritar até perder a voz e chorar uma cachoeira de lágrimas.  Um sofrimento sem fim que herdou após o rompimento de um namoro prestes a virar noivado.


Suas tardes tornaram-se rotineiras.  Caminhava quase um quilômetro até chegar à praia.  Sempre no momento em que o sol agonizava detrás de uma cortina alaranjada, mas garantindo que, na manhã seguinte, voltaria.  As ondas chocando-se com os rochedos, a espuma branca cobrindo a areia, a imensidão azul-esverdeada cheia de mistérios, transmitiam-lhe um pouco de paz.  A paz que se foi de um jeito incompreensível e brusco quando a verdade se mostrou inquestionável.


Fazia exatamente dois anos que Lívia conhecera Luca, numa exposição de pinturas impressionistas de artistas brasileiros.  Estava ela deslumbrada diante de um quadro de Washington Maquetas.  Já lera o suficiente sobre o impressionismo iniciado por Monet, mas era a primeira vez que estava diante de obras dessa escola de arte.  Impressionante a técnica das pinceladas rápidas e soltas, retratando as coisas exatamente como o pintor as vê a luz do sol, ao ar livre para que pudessem reproduzir melhor as nuances de cores da natureza.


Lívia foi despertada dessa contemplação por um perfume amadeirado e suave.
  Olhou pros lados e não havia ninguém.  Atrás dela estava o causador de sua desconcentração.  Luca aproximou-se e, como apreciador dessa arte, o papo foi longo e interessante.  Estabeleceu-se uma sintonia que virou namoro e chegou aos preparativos do noivado.

Dois meses antes da festa, Luca viajou à Europa a negócios.  Depois de alguns dias, as mensagens foram rareando, os telefonemas não mais atendidos até o desaparecimento dele das redes sociais.  O choque maior aconteceu quando a família informou que o rapaz estava bem e não voltaria tão cedo ao Brasil.  Lívia foi nocauteada e, sem dó, jogada ao chão.  Por mais que pensasse não descobria nenhuma pista do porquê desse rompimento sem uma palavra, sem qualquer explicação..  Nenhum desentendimento...

 Como era possível acreditar? Luca parecia tão verdadeiro, tão seguro dos planos.  Uma pessoa não muda de ideia sobre coisas tão sérias de um dia pro outro... Um turbilhão de perguntas sem respostas... "Aqueles olhos grandes me olhavam de um jeito que até parecia poesia?"

O conto de fadas acabou e a jovem caiu numa tristeza profunda.  Abandonou o trabalho, afastou-se dos amigos, trancou-se dentro de casa e dentro de si mesma.  Durou uma eternidade até que, num entardecer conseguiu caminhar até a praia.  E a primeira música que conseguiu ouvir foi cantada pelas ondas do mar.  O mar cantava só pra ela...

" Sabe, a gente cresce e tem vontade de ser menino outra vez, Os joelhos ralados doem menos que a desilusão de um grande amor'.


O ARRASTAR DA SEMANA - Do Carmo



Resultado de imagem para malas prontas


O ARRASTAR DA SEMANA
Do Carmo


Finalmente chegou o final de semana!  Arre! Como demorou a passar!

Os dias arrastaram-se vagarosamente, deixando o pequeno Augusto deveras faminto para as brincadeiras ensandecidas que iria saborear nas areias quentes de Guarujá.

 Afoito, a cada minuto fazia um balanço de sua bagagem, preocupado em deixar esquecido algum item que para ele era caso vital.

Em contrapartida, Rebeca, sua irmã mais velha dois anos, olhava para o nada com seus olhos de damascos maduros, sonhando com o escorregar do sol no horizonte litorâneo. Para ela, o pôr do sol no mar, é um momento de carinhoso afago entre o astro rei e o majestoso oceano.

A cada instante Augusto perguntava:

-  Demora muito para papai chegar?

Seu olhar parecia um tornado saindo pela janela.

Rum, rum, rum, ouviu-se e em seguida gritos:

- Chegou! Ufa!

Antonio entra e perguntando se tudo está pronto, olha a bagagem esperando para ser transportada.

 – Sim, responde Maria com sorriso adocicado, e o carro abastecido e vistoriado?

Então:

-  Pneu na estrada! Grita Augusto.

UMA VIAGEM INUSITADA. - Do Carmo


Resultado de imagem para congestionamento à noite


UMA VIAGEM INUSITADA.
Do Carmo



- Uaaaaau! Grita Augusto. Não acredito que finalmente estamos saindo de casa e logo mais estaremos entrando no apartamento de Guarujá.

Com voz de veludo, Maria pede que o filho se acalme e tente uma sonequinha.

A perspectiva de chegarem rápido é extremamente remota, uma vez que a Rodovia dos Imigrantes estava afogada de carros.

Rebeca continuava impassiva. Sonhava acordada pensando se encontraria novamente aquele rapaz, com quem muito conversou no feriado passado.  

Rodaram por alguns quilômetros em silencio. De repente tudo parado. A estrada era um tapete de luzes, de um lado brancas, de outro vermelhas.

O engarrafamento era assustador. Guardas Rodoviários passavam em motos com sirenes estridentes, tentando fazer comboio, pois a Serra do Mar estava fechada pela serração.

Augusto acorda com o barulho das sirenes e ainda sonolento pergunta:

- Chegamos? Que música é essa que parece de louco?

- Filho, são sirenes, estamos esperando nossa vez para continuarmos em comboio até o final da serra.

- Que horas são mamãe? Pergunta Rebeca.

- Querida, são duas e vinte.

- Dormi. Que bom, não senti agonia de estarmos tanto tempo parados. O que se pode fazer é apenas nos programar para nosso final de semana. As aventuras que viverei, pessoas que conhecerei e talvez encontrar quem eu sonhei.

Augusto olha desanimado para aquele colar de faróis, aconchega-se no banco e adormece novamente.

O automóvel fica em silêncio e logo começam a seguir caminho em compasso de manada cansada e depois de mais três horas de viagem, saem da balsa do Guarujá e rapidamente chegam ao apartamento.

Antonio está exausto, suado e faminto. Não teve tempo sequer de lanchar. Em desabafo fala: 

- Se eu encontrar o inventor de feriados, eu faço um saboroso “Homem à Cabidela” acompanhado de Farofa de Ossos.  Vou dormir.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

TRAUMAS - Hirtis Lazarin



Imagem relacionada

TRAUMAS
Hirtis Lazarin


Jorge, vinte e cinco anos, era o mais novo frentista contratado pra trabalhar no maior posto de combustível no bairro Santa Catarina.  Tinha experiência no ramo, era muito esforçado e caprichoso.   Curioso e agitado, não conseguia ficar parado.  Se ocioso, procurava logo o que fazer ou ajudar um colega.  Guardava em mente uma frase (não se lembra do nome do autor) e procurava seguir o que as palavras aconselhavam: "Se lhe pedirem pra varrer a rua, faça-o como Michelangelo pintava os quadros, Bethoven compunha e Shakespeare escrevia".
Em pouco tempo conquistou a confiança do patrão e a acolhida dos demais funcionários.  Seria mais que natural que a convivência o aproximasse deles, não foi o que aconteceu.

Jorge era calado,  ouvia muito e falava pouco.  Não expunha seus sentimentos, por mais que tentassem arrancá-los.  Assuntos pessoais afligiam-no.  Se questionado insistentemente, perdia o controle, causando terror e assustando quem estivesse por perto.  Logo depois, arrependido, sentia vergonha e terminava o dia acabrunhado e triste.

 Jorge era um ímã, passava confiança, autossuficiência e segurança.  Seu sorriso era discreto e seu olhar misterioso.   O mistério aguça a curiosidade das pessoas e inquieta-as.  O jovem despertava fascínio nas mulheres que atendia.  Aqueles olhos pretos e grandes escondiam um segredo e atraiam-nas.  Elas, por natureza curiosíssimas, queriam desvendá-lo.

Os colegas não se conformavam com a indiferença dele diante de moças charmosas e atraentes.  Quanto mais galanteios ouvia, mais reticente Jorge ficava.  A frase que repetia sempre era: "Não quero me casar".  E aí se alguém quisesse comentar. 

Nas noites de sexta-feira, os rapazes se reuniam no boteco da esquina.  Era a hora da cervejinha gelada e da linguiça torradinha.  Jorge pensava no futuro e frequentava as aulas num curso de suplência.  Sabia que ninguém luta sozinho, nem progride sem esforço.  Não trocava as aulas por nada.

Num final de semana em que as aulas foram suspensas, Jorge juntou-se aos colegas no boteco.  Como não era acostumado a beber, depois de vários copos de cerveja, sua língua destravou e a sinceridade aflorou.  O álcool anula os sentimentos de culpa, vergonha, remorso e a pessoa acaba falando o que sempre teve vontade de falar,  mas nunca o fez por medo, insegurança, vergonha.  E foi então que Jorge revelou seu grande segredo.

Nasceu num lar que desmoronado.  O pai abrutalhado e covarde agredia a esposa e os dois filhos.  Desapareceu quando foi pego abusando de Jorge, com cinco anos de idade.  A mãe, mulher fraca, entregou-se à bebida.  O garoto descontava a raiva ferindo o irmãozinho com picadas de agulha.  O conselho titular acionado, encaminhou-os a um abrigo e depois de um tempo, nunca mais viu o irmão.  Quando a escola que Jorginho frequentava realizava reuniões de pais, era a assistente social quem comparecia.  O menino carente queria ter um pai e uma mãe como seus amiguinhos.   A tristeza que sentia foi se acumulando até se transformar em ódio às famílias.  E, dessa experiência dolorosa, sua aversão ao casamento.   Foi a primeira vez que Jorge vomitou tudo aquilo que dilacerava a alma.  Uma catarse.

Hoje Jorge frequenta sessões de terapia...


O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...