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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

A PERSEGUIÇÃO - Adelaide Barrozo Dittmers




 


A PERSEGUIÇÃO

Adelaide Barrozo Dittmers

 

A rua estreita estava deserta no fim daquela tarde chuvosa. Nuvens escuras eram empurradas pelo vento.

Um cachorro latiu, talvez alertado pelo barulho de passos rápidos, que ecoavam pela rua.

Uma mulher jovem, quase correndo, seguia pelo meio da rua, sem se importar com as pedras irregulares e escorregadias, que a faziam tropeçar.  Constantemente olhava para trás.  Feições contraídas pelo medo.  No ombro, uma bolsa de alças, colada ao corpo.

Ao virar a cabeça novamente desequilibrou-se e caiu.  Levantou-se como um raio, não se importando com os joelhos, que sangravam.  E mancando continuou seu caminho.

Mais adiante, parou em frente de uma pequena casa, empurrou com força o portão.  Atravessou o pequeno jardim e enfiou a chave na fechadura com mãos trêmulas. Entrou, batendo a porta.

Logo depois, uma cortina se mexeu na janela e uma sombra espreitou atrás dela.

A chuva desabou mais forte.  Raios riscaram o céu, seguidos pelo estrondo de trovões.   As luzes das moradias foram sendo acesas.

O balançar da cortina denunciava a presença da moça. O barulho de um carro juntou-se ao da chuva.  O veículo parou em frente à casa. 

A cortina parou de se mexer.  Um homem forte, com chapéu e capa preta saltou e perscrutou a casa com um olhar feroz.  Abriu o portão com violência e bateu à porta várias vezes. E nada. Nenhum movimento se ouvia.  A casa permaneceu escura e quieta como se estivesse vazia.

Com um gesto de raiva e uma expressão carregada e irritada o desconhecido correu para o carro. Bateu com violência no volante do veículo e saiu com velocidade.

Meia hora depois, a porta foi aberta devagar.  A moça apareceu e, olhando para todos os lados, foi lentamente até o portão.  Em uma das mãos carregava uma mala, na outra um guarda-chuva, que encobria parte de seu rosto.

Com rapidez, percorreu as ruas da cidade.  Atenta, movimentava a cabeça de um lado para outro.  A tensão endurecia seus passos. 

A estação de trem apareceu no fim de uma rua e ela acelerou, quase correndo ao avistá-la.

Chegando lá, correu para a bilheteria.  Poucas pessoas estavam lá, mas ela parou na plataforma, bem distante delas.  A ansiedade e o nervosismo inundaram o rosto lívido.   Apertou a alça da mala, como se quisesse afastar o medo, que a possuía.

Um apito surgiu ao longe.  A moça estremeceu e retesou o corpo.  O trem surgiu bufando sua pressa.  Mal parou, ela subiu pelos degraus e entrou.  Sentou-se a uma janela, embaçada pela chuva, olhando com ansiedade a plataforma da estação.

Minutos depois, as rodas rangeram ao contato com os trilhos e o trem começou a resfolegar pelo esforço de seguir o caminho.

Um forte e profundo suspiro irrompeu do peito da mulher.   De repente, seu rosto se transformou em uma máscara de horror ao divisar o home de capa preta, que surgiu na estação e correu na direção do trem, que foi ganhando velocidade.  O homem estacou, jogando os braços para baixo, ao perceber que não conseguiria alcançá-lo.

A perseguida fechou os olhos, recostando-se na poltrona.  Estava exausta. Nem o alívio de estar partindo descontraiu suas feições.  

No dia seguinte a pacata cidade foi sacudida pela notícia do assassinato do prefeito pela sua jovem amante.  Um policial à paisana, que passava, ouviu os tiros.  Entrou no lugar e viu uma mulher sair em disparada pela porta dos fundos.  Reconheceu-a.  O caso era um escândalo na pequena cidade.  No entanto, antes de persegui-la, tentou socorrer a vítima, que ainda estava com vida, mas não conseguiu.  O homem morreu em seus braços.


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