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quinta-feira, 13 de outubro de 2022

O GIGANTE GRANDÃO Helio Fernando Salema

 


O GIGANTE GRANDÃO

Helio Fernando Salema

 

Quando eu e meu irmão Felipe éramos pequenos, ele, por volta dos sete anos, e eu nove, costumávamos passar férias de fim de ano na fazenda do tio João. Já no meio do ano começavam as expectativas, os dias passavam, mas parecia que as férias não chegavam.

Não sei quando começou, mas até hoje marcadas em nossas memórias, as histórias contadas pelo tio. Geralmente era no início da noite, que ele, sentado na sua cadeira de balanço com almofadas feitas pela vovó, nos chamava para sentar perto dele, às vezes no chão de madeira.

Cada dia era uma história diferente e, certamente, a que mais marcou foi a do GIGANTE GRANDÃO. Começou quando ele, mais uma vez, nos alertou para não subirmos nos pés de janelão. Já tínhamos ouvido o seu Francisco, antigo funcionário da fazenda, falar que ele pegaria para nós aqueles frutos roxinhos;  ele os chamava de jambolão. Nada de subir naquelas árvores altas.

O tio explicava que aquelas frutas lá do alto eram do GIGANTE GRANDÃO. À noite ele vinha e se alimentava daqueles frutos maduros. Assim ninguém deveria subir nas árvores. O próprio tio puxava os galhos mais baixos e nós catávamos e saboreávamos aqueles frutos docinhos. Isso durante o dia, pois segundo o tio, com o dia claro o GIGANTE GRANDÃO ficava numa caverna, lá no pico do morro, no meio da mata virgem.

Descrevia a caverna como sendo muito pequena, pois quando o dia clareava o GIGANTE diminuía de tamanho e assim conseguia penetrar facilmente. Ao escurecer, ele saía e, ao caminhar nas trevas, seu tamanho aumentava assustadoramente.

Numa noite de temporal, o vento forte sacudia os galhos das árvores, movimentava as portas e janelas. Aquele barulhão, dizia o tio João, era provocado pelo GIGANTE GRANDÃO. Todos deveríamos ficar quietos e rezando baixinho até a chuva passar. Crianças obedientes e com as pernas balançando de tanto medo, como os galhos das árvores, rezávamos com fervor e silenciosamente.

No dia seguinte saíamos para ver os estragos causados pelo temporal e pelo GIGANTE GRANDÃO.

Um dia, próximo das férias, chega a triste notícia de que faleceu o tio João, ou melhor, foi para o céu e, junto com ele, o GIGANTE GRANDÃO  

— Que pena… Que saudades daquele tempo tão bom.

 

Um comentário:

  1. Oi Helio boa tarde gostosa sua história, lembra também a minha infância parabéns

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