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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Chocolate quente - Pedro Henrique Pereira

 

 


Chocolate quente

Pedro Henrique Pereira

 

Você abre a janela do quarto e a luz do sol abraça seu rosto: as rogadas férias finalmente chegaram.

     Seu corpo vibra de maneira veemente com a imagem que tua mente concebe da casa de vovó.

     Oh, lugar bom. Terra batida, galinha caipira, chocolate quente às quatro da tarde.

     A vida de fato vale seu preço. Indubitavelmente, este momento de descanso e regozijo é o que você mais aguarda no ano, pois o cotidiano leva-te ao delírio infindável de se ter responsabilidades, e a carne clama pelo chocolate quente às quatro da tarde.

     Porque dele, jaz sobre ti o extermínio dos acontecimentos e o louvor disso que a humanidade deu a nomenclatura de vida.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Brincar - Pedro Henrique

 

    


Brincar

Pedro Henrique

 

     Quando eu era pequena, imaginava que a dor era minha amiguinha, porque eu e ela sempre brincávamos. Podia ser a hora que fosse: quando mamãe me chamava de imprestável, quando minhas irmãs arrancavam meus cabelos com seus dedos perversos ou quando todos rejeitavam ficar perto de mim.

     Independentemente de tudo isso, eu e ela nunca nos separamos. Era como se entre nós duas existisse um pacto, uma coisa só nossa, do qual o resto do mundo não era bem-vindo. E, quando ela sumia por muito tempo, eu sentia sua falta.

     Às vezes, imaginava que ela tinha ido brincar lá na rua com as outras crianças e que depois voltaria para brincar comigo, porque ninguém brincava comigo.

     As pessoas se ressentiam de mim, diziam que eu era doida. Eu até gostei dessa palavra. Doida. Legal, né?

     Um dia, um coleguinha da minha escola falou que a mãe dele disse que era para ele ficar longe de mim, porque eu era maluca e poderia lhe fazer mal.

     No início, ouvir aquilo foi como andar e, de repente, sentir um prego rasgar minha carne e morar dentro dela até chegar um adulto e arrancá-lo.

     Porém, eu não tinha nenhum adulto por perto, então apenas ri, até porque era impossível eu fazer mal a alguém. O que eu queria mesmo era brincar, apenas brincar.

     Mas, com o tempo, todas as outras crianças começaram a não chegar perto de mim por eu ser doida, e eu passei a não gostar mais dessa palavra.

     Perguntei, certa vez, ao vovô Firmino o que era ser doida, e ele me respondeu que era uma coisa ruim. Perguntou por que eu estava falando aquilo. Disse a ele que meus coleguinhas da escola não queriam ficar perto de mim por eu ter essa coisa ruim.

     No começo ele estranhou, não entendeu muito bem o que eu estava dizendo, mas depois, como se uma lâmpada acendesse bem acima de sua cabeça, ele confidenciou-me que poderia me ajudar, que não seria muito difícil, bastaria apenas brincarmos.

     Escutar aquilo foi uma das experiências mais extraordinárias de toda minha vida, era como dançar balé no céu e ao olhar para baixo ver todos os meus amiguinhos enxergando-me, e pela primeira vez, eles não corriam de mim, mas sim, me admiravam.

     Entusiasmada, lembro de ter perguntado ao vovô se as outras crianças iriam querer brincar comigo depois de sua ajuda, ele respondeu alegre que sim. Então, quis sua ajuda mais do que tudo no mundo, pois finalmente todos iriam ver a minha dança.

     Vovô Firmino morava comigo, minhas irmãs, mamãe e Valdir. O homem que virou meu pai depois que o meu verdadeiro papai se transformou em estrelinha por mexer em um fio errado no trabalho.

     Vovó Neide também virou estrelinha, é por isso que o vovô Firmino morava com a gente. E que bom que ele morava com a gente porque assim ele poderia me ajudar.

     No entanto, ele só me ajudava quando mamãe e Valdir estavam no trabalho e minhas irmãs na escola. Contudo, isso não importava, o importante mesmo é que na manhã seguinte após a ajuda do vovô eu estaria curada e poderia brincar, e a primeira pessoa com quem eu queria brincar seria a Ana, porque ela tinha as melhores bonecas e os melhores giz de cera.

     Recordo de ter passado a noite inteira imaginando quantos desenhos lindos eu faria com aqueles gizes. Faria várias borboletas, casinhas e até uma sereia. Eu adorava sereias.

     Quando crescesse, queria ser uma.

Já tinha até imaginado a cor da minha cauda. Seria roxa com bolinhas amarelas em formato de estrela-do-mar, igual ao desenho que pensei em fazer com os gizes coloridos de Ana.

     Eu até pedi para mamãe comprar uma caixa de giz de cera igual à dela, mas ela falou que “não iria gastar o pouco da porra do dinheiro que ganhava limpando aqueles banheiros fedendo a mijo da rodoviária com uma garota que não presta pra nada a não ser encher o saco.”

     Naquele dia, senti uma nuvem carregada pairando sobre mim. Era como se os pingos dessa nuvem levassem consigo uma parte de quem eu era, até não existir mais nada, exceto o quintal, vazio e sem rosas que era morar em mim.

     Entretanto, o que mais me deixou triste era que sempre via mamãe dando o dinheiro que ganhava para Valdir. Bastava ele dar um soco no rosto dela e, pronto, ela o entregava.

     Pensei em dar um soco nela também. Achei que assim ela me daria a caixa de giz colorido, mas quando dei o soco, ele só pegou na sua perna.

     Ela me catou pelos cabelos e me bateu com a vara cheia de pontinhas pontudas que guardava no guarda-roupa. A vara arrancava do meu corpo uma gosma vermelhinha, bem molenga. Parecia uma slime feita de água.

     Sendo assim, eu sabia que a única forma de encostar naqueles gizes coloridos era se Ana me emprestasse. Porém ela não queria. Disse que nunca emprestaria seu material para alguém como eu. Até falou uma palavra estranha chamada “Síndrome de Down”. Você sabe o que é isso, leitor? Ah, depois que terminar a história você me conta. Não tem problema, eu não tenho pressa.

     Mas uma coisa que tenho pressa em contar a você é que não fiquei com raiva de Ana, não mesmo. O vovô sempre me falou que não podemos ter raiva de ninguém, e além disso, só de ir à escola eu já me sentia bem. Era mágico estar lá e ficar brincando com todos os brinquedos que o colégio oferecia e também tinha as tias que sempre ficavam comigo e deixavam eu fazer tranças nos cabelos delas e algumas vezes elas faziam tranças no meu também.

     No entanto, neste mesmo dia, no dia em que Ana rejeitou me emprestar o giz, me lembro de chegar em casa e não querer mais falar com o vovô, porque ele mentiu para mim. E, quando alguém mente para você, você deixa de falar com essa pessoa.

     Sendo assim, peguei seu ensinamento sobre não nutrir raiva por ninguém e coloquei na janela do meu quarto para os pássaros comerem.

     Mas mesmo assim, ele me obrigou a falar com ele. Disse que queria brincar comigo de novo. Quando recusei, ele me bateu de punho fechado, como Valdir faz com mamãe quando quer dinheiro.

     Então, de fininho, bem nas pontas dos pés, a dor veio, atravessando a sala, passando pelo corredor, abrindo a porta do meu quarto e como de costume, me chamando para brincar.


Um dia memorável - Alberto Landi

 





Um dia memorável

Alberto Landi

 

Paris, 2 de dezembro de 1804.

 

Era um domingo frio de inverno, a neve caía suavemente cobrindo tudo como um manto branco. Apesar de o tempo estar bem severo, sentia uma empolgação especial por visitar Catedral de Notre-Dame.

Antes de sair, vesti-me adequadamente para o clima: casaco longo bem quente, luvas, um cachecol para proteger a parte superior do corpo, pois o vento estava cortante.

Sabia que a caminhada seria desafiadora, até a Catedral, mas mesmo assim estava determinado.

Ao colocar o pé para fora de casa, deparei-me com a beleza suave da neve. Cada passo produzia um som suave, havia gravetos em alguns lugares misturados com a neve, criando um contraste interessante entre o branco puro e os tons terrosos.

A paisagem era mágica. As árvores cobertas de flocos brancos, a camada branca sobre os telhados e janelas caía suavemente como um manto de tranquilidade que transformava a paisagem em um cenário de conto de fadas, onde cada floco parecia dançar no ar antes de se acomodar suavemente transformando as casas em pequenas obras de arte. No ar, havia cheiro de madeira aquecida proveniente das residências e a visão do vapor saindo das chaminés era encantadora, dava uma sensação de calma.

Embora a beleza ao meu redor fosse hipnotizante, o tempo estava implacável. Precisava ter cuidado com o chão escorregadio para seguir em frente. Pessoas se apressavam para chegar aos seus destinos, enquanto outras se divertiam na neve.

Após uma caminhada um tanto longa e contemplativa, avistei finalmente a catedral, mas ainda no trajeto notei que as janelas das casas estavam embaçadas e poucos ousavam sair para enfrentar o clima rigoroso, porém a maioria das pessoas já havia ido cedo para a catedral, onde a história seria feita.

O ar estava impregnado de uma quietude solene como se a cidade estivesse prendendo a respiração em antecipação ao evento monumental que estava prestes a ocorrer. 

A Notre-Dame com a sua imponente estrutura, suas torres pareciam tocar o céu, irradiando uma sensação de grandeza e espiritualidade que encantavam todos os que a contemplavam, os pináculos acumulavam neve criando uma imagem deslumbrante. As gárgulas estavam todas tingidas de branco como se estivessem guardando um tesouro gelado.

Os sinos ecoavam, chamando os fieis e curiosos para dentro de suas paredes sagradas.

No interior, tochas iluminavam o espaço grandioso, refletindo nas colunas de pedra e nos vitrais coloridos que contavam histórias de um passado glorioso.

Os nobres e demais autoridades estavam vestidos em trajes luxuosos, trajavam capas pesadas de veludo adornadas com bordados finos, enquanto as mulheres vestiam elegantes vestidos de seda decorados com rendas delicadas e detalhes brilhantes.

O murmúrio da multidão se misturava ao som dos acordes, criando uma sinfonia vibrante que preenchia o ar com uma energia contagiante enquanto risos e conversas se entrelaçavam em um ambiente festivo.

Próximo à entrada, as carruagens dos nobres e dignitários estavam parados. A luz do entardecer dava um brilho e o efeito luminoso sobre as carruagens, que provavelmente eram feitas de materiais como metal polido ou madeira envernizada, refletiam de maneira atraente.

O murmúrio das conversas entre eles ecoava suavemente no ar gelado, enquanto olhares curiosos se dirigiam a catedral majestosa onde algo grandioso estava prestes a acontecer.

Assim que a imensa porta se abriu, um silêncio reverente envolveu os presentes.

Napoleão e Josephine adentraram com uma presença marcante, seus passos firmes ecoando no piso de pedra.

Eram figuras imponentes envoltas em trajes luxuosos que flutuavam ao redor deles, exalando um ar de triunfadores.

Os olhares estavam fixos no casal, como se o próprio destino tivesse escolhido para selar o momento histórico que estava prestes a acontecer.

Os sinos tocavam com mais intensidade simbolizando a magnitude do momento e a importância do casal. Era uma reverência pela nova era que Napoleão estava trazendo.

Os fiéis reunidos, velas acesas lançando uma luz suave sobre os rostos emocionados. O som de cantos vindos do fundo do altar reverberava nas paredes altas, e o aroma de incenso envolvia o ambiente, criando uma atmosfera de devoção e espiritualidade que tocava profundamente os corações presentes.

Este evento não foi apenas uma cerimônia religiosa, mas também um ato político significativo que consolidou o poder de Napoleão como imperador.

Ele havia se elevado rápido na hierarquia política e militar da França pós-revolução francesa.

Decidiu se coroar como imperador, estabelecendo assim o primeiro império francês.

Durante a cerimônia, fez algo bastante notável. Pegou a coroa das mãos do Papa Pio VII e colocou em sua própria cabeça. Foi um gesto poderoso que simbolizava sua independência e a ideia de que ele não dependia da aprovação da Igreja para governar. Em seguida, coroou Josephine como imperatriz. Buscou legitimar seu governo através deste ato cerimonial, criando uma imagem de poder que seria crucial para suas campanhas militares subsequentes.

Isto foi um ponto culminante na sua ascensão e um precursor dos eventos tumultuosos que se seguiriam, durante sua Era.

Este foi um dia memorável para mim, que tive a oportunidade de assistir ao evento, repleto de solenidade e emoção, onde cada detalhe parecia ser cuidadosamente planejado, desde os trajes elaborados até os discursos inspiradores que ecoavam nas mentes e corações de todos os presentes.  

 

 

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

O CASAMENTO REAL - Alberto Landi

 



O CASAMENTO REAL

Alberto Landi 


Em uma manhã ensolarada de 22 de maio de 1886, as ruas de Lisboa se encheram de flores e música para celebrar o casamento de D. Carlos. O jovem rei de Portugal, filho de D. Luís l, da Casa de Bragança e da rainha D. Maria II, com D. Amélia de Orléans, uma princesa francesa, membro da Casa de Orléans, uma mulher com espírito forte e independente.

O Palácio da Ajuda, onde viviam, estava adornado com tapeçarias luxuosas e os nobres da corte se preparavam para testemunhar a união que prometia trazer estabilidade ao reino.

No entanto, por trás das cortinas luxuosas de seda e dos sorrisos forçados, um conflito fervia.

D. Carlos era pressionado pelos seus conselheiros a formar alianças estratégicas para fortalecer o seu governo, enquanto a princesa sonhava com um casamento baseado no amor e parceria, e não apenas em obrigações políticas.

Durante os preparativos, D. Amélia encontrou um diário escondido nos aposentos do rei.

As páginas revelavam suas verdadeiras preocupações: ele temia que sua posição como rei o tornasse incapaz de amar livremente. O peso das expectativas e obrigações reais o aprisionava e ele ponderava em seus pensamentos se poderia ser feliz ao lado dela.

Na manhã do casamento, enquanto todos aguardavam ansiosos na igreja, D. Amélia decidiu confrontar o rei. Com o coração acelerado, procurou por ele nas dependências do palácio.

D. Carlos, com uma voz decidida e autoritária, disse:

— Não podemos começar uma vida juntos se não formos honestos um com o outro.

Ele a fitou com uma expressão de surpresa, mas seu gesto revelava dúvida.

— Acima de tudo, sou o rei, respondeu ele, e essa é uma prioridade inegociável.

— E eu sou apenas uma princesa, encarando-o com um olhar penetrante.

— Não podemos ser prisioneiros de nossos papéis, argumentou ela. Devemos encontrar uma maneira de unir nossos destinos sem perder nossas identidades.

O silêncio pairou entre eles como uma tempestade prestes a eclodir. O rei sabia que ela estava certa, no entanto, a pressão da corte o sufocava.

— O que você sugere? Ele murmurou finalmente!

— Que façamos um pacto! Prometeremos nos apoiar mutuamente em nossas aspirações pessoais e buscar juntos a felicidade que este casamento pode nos trazer.

O rei hesitou, mas ao olhar nos olhos dela, viu não apenas uma esposa, mas uma parceira disposta a enfrentar os desafios ao seu lado.

— Aceito, respondeu com um leve aceno de cabeça, ele sentiu um misto de alívio e esperança.

Juntos, eles caminharam para a Igreja Nossa Senhora da Conceição para celebrar a união diante do povo e da corte, agora mais seguros do que nunca de que poderiam enfrentar as adversidades juntos.

O conflito havia sido resolvido não apenas por palavras ou promessas formais, mas pela coragem de serem verdadeiros um com o outro.

 

Terminada a cerimônia, subiram numa magnífica carruagem adornada com flores e tecidos vermelhos luxuosos. Os sinos ecoando, som de fanfarras anunciando a passagem da corte.

À medida que se aproximava da Torre de Belém, o entusiasmo do povo aumentava.

A Torre, com sua arquitetura majestosa, era o cenário perfeito para esse momento grandioso.

Adultos levantando braços em celebração, pescadores interromperam suas atividades para prestar reverência.

O casal real acenava e sorriam amplamente cientes do papel importante que iriam desempenhar na vida dos portugueses!

E assim começou a história deles: um rei e uma rainha que buscavam não apenas governar, mas também construir um lar onde o amor e a liberdade pudessem coexistir!

 


quarta-feira, 27 de novembro de 2024

DICAS IMPORTANTES PARA SEUS TEXTOS

 

1. Como inserir TRAVESSÃO nos textos do Word:
Aperte simultaneamente as teclas: 
Ctrl + ALT + Hífem do teclado numérico.



2. Como inserir o símbolo de GRAU no Word:
Pressione a tecla AltGr + o símbolo do grau que está na tecla do colchete









Para ativar a leitura em voz alta:

CNTRL + ALT + ESPAÇO







Depois virão outras dicas 
aqui mesmo...











quarta-feira, 16 de outubro de 2024

A ÚLTIMA QUARTA - LEON A. VAGLIENGO

 





A ÚLTIMA QUARTA

Dizer o quê? As coisas vão, mesmo, acontecendo...

                                                                                                                               Leon Alfonsin Vagliengo

 

COSTURANDO A VIDA

 No princípio da vida de casados, os jovens Ângelo e Carmem Di Fortuna ganhavam a vida trabalhando lado a lado na modesta oficina de costura, que montaram com muita simplicidade e capricho a pequena garagem alugada, para trabalhar com pequenos ajustes ou consertos em roupas e outros serviços semelhantes. Distribuindo cartões por todo o bairro, de casa em casa, para divulgar seus serviços, ele conseguiu atrair os primeiros clientes e algum movimento para a oficina.

Foi assim, numa convivência diária de muito amor e dedicação, que se tornaram conhecidos no lugar, ganharam o sustento e criaram o filho que logo tiveram, que batizaram como Gastão Di Fortuna. Gastão foi o nome escolhido em comum acordo pelos dois, porque identificava um personagem de muita sorte, nos desenhos criados por Carl Barks, dos estúdios da Disney.

A perfeição dos trabalhos realizados pelas mãos de fada de Carmen aos poucos conquistou muitos fregueses, e surgiram algumas encomendas de feitio: ora uma camisa ou uma blusa, uma saia ou um vestido; todas foram atendidas com muita qualidade, trazendo fama para a oficina, e muitos outros pedidos surgiram. Precisaram alugar um espaço maior e contratar mais profissionais da costura, sempre sob a supervisão de Carmem, e assim foi se consolidando uma pequena manufatura, a que deram o nome fantasia de “Carmen – Roupas de Qualidade”.

Todo esse processo de evolução dos negócios teve a conduzi-lo o talento inato, as posturas firmes e acertadas do empresário Ângelo, amparado pelo suporte técnico de produção e controle de qualidade exercidos com maestria por sua esposa na orientação dos novos contratados.

Entre as corretas decisões do casal estava a de formar uma equipe completa e bem treinada de bons profissionais, dando estabilidade e autonomia à empresa ao longo dos anos, que assim pôde sobreviver a sua maior perda e ao momento mais difícil da vida de Ângelo, quando Carmen, numa quarta-feira muito triste, foi abatida por um enfarte súbito e fulminante, e ele se viu, ainda relativamente jovem aos quarenta e nove anos, de repente e para sempre, sem o amor de sua esposa querida, a companheira fiel com quem compartilhara os melhores momentos de toda a vida.

 NASCE UM IDEAL

Inconformado com a viuvez precoce e trágica, Ângelo precisava encontrar uma forma de superar a infelicidade que o atingira; e, numa decisão muito emotiva, fundou uma nova empresa à parte, um estúdio independente para costura de altíssima qualidade, ao qual atribuiu o nome de “Carmen – Ateliê de Roupas Finas”, com o propósito de elevá-lo ao apogeu do sucesso no mundo da moda e assim perpetuar a lembrança de Carmen, uma justa homenagem a sua parceira de sonhos, a mulher corajosa com quem também dividira os dias difíceis que tiveram no início da vida em comum.

Obcecado com esse projeto, contratou uma jovem estilista para orientar o design e a produção limitada de roupas de alta moda, selecionou duas de suas mais refinadas costureiras e as reservou para o Ateliê, e durante os três anos seguintes viveu uma vida quase monástica, de imoderada dedicação ao trabalho na direção das duas empresas, sem descansos que lhe permitissem desabafar a tensão nervosa, que apenas crescia desde a morte de Carmen.

O sucesso do Ateliê já despontava, com a participação em badalados desfiles de moda, quando a saúde de Ângelo começou a dar alguns sinais de exaustão. Aos cinquenta e dois anos deu-se conta de que o seu corpo já não era mais o mesmo de antes: o peso aumentou, surgiu uma barriguinha, as roupas pareciam estar encolhendo. Os exames de laboratório, que até recentemente traziam sempre resultados de que se envaidecia, passaram a colocar minhocas na sua cabeça, revelando indicadores apenas razoáveis.

Sem dar muita importância a essas mudanças, passivamente as atribuía ao avanço da idade e ao estresse devido às preocupações com o trabalho, mas sem nunca correlacionar nada com a profunda tristeza que sentia desde a perda da esposa. Mas às vezes, sozinho em casa, chorava ao lembrar-se dela.

A intensa atividade, cuidando dos negócios, o obrigara a restringir apenas para os fins de semana as corridas matinais, que antes eram diárias e lhe davam tanta satisfação. Sem perceber, nessa onda passou a atenuar o seu estresse com uma crescente compensação gastronômica, nada aconselhável para a saúde.

O ESTRESSE

Mesmo com toda essa carga negativa, não renunciava à realização de seu ideal, nem à direção e ao controle das empresas, que construíra com muito empenho, rigor e dedicação ao longo de toda a vida. Entretanto, já estava preparando o filho Gastão, a quem ainda via como um menino, apesar de já estar com trinta anos e diplomado em administração, para um dia substituí-lo no comando das empresas; porém, ainda o considerava muito “verde” para assumir o controle, e não confiava totalmente em suas decisões, principalmente na área financeira.

Devido a isso, no começo lhe fazia discretas observações e sugestões, mas à medida em que Gastão foi conquistando autonomia em suas funções, assumindo a liderança dos funcionários e se tornando conhecido no mercado, a crescente tensão e a insegurança de Ângelo se agravaram por ciúme e foram se tornando exageradas; passou a fazer críticas ao filho que terminavam em discussões, muitas vezes acaloradas e diante dos funcionários, criando constrangimentos e assumindo proporções inconvenientes para o clima da empresa. Ele depois percebia e se arrependia do seu descontrole, mas sempre quando já era tarde.

Num desses dias Ângelo chegou ao trabalho furioso, falando sozinho, porque, no trânsito, avançara um sinal vermelho sem perceber, quase provocando um acidente. Além dos xingamentos que ouviu, com certeza o radar havia registrado a placa do seu carro, e seria penalizado. Durante todo o percurso restante foi remoendo uma desagradável sensação de culpa que feria profundamente a sua vaidade de motorista.

Raivosamente, e ainda incomodado com os dissabores do trânsito por que tinha passado, abriu com violência a porta do carro, para descer. Colocou uma perna para fora, mas não conseguiu mover o corpo. “Além de barbeiro estou gordo mesmo”, pensou, ainda mais irritado, e tentou balançar o tronco, dando impulso na direção da porta; novamente, não saiu do lugar. Fez isso mais uma vez, sem sucesso. De repente, ficou claro que algo estava errado e o incidente de trânsito que o atormentava saiu como por encanto de sua mente. Só assim se deu conta de que estava preso, pois não havia desengatado o cinto de segurança. Mais irritado ainda com essa “mancada” ridícula, soltou-se e rumou para o escritório, agora ruminando a evidência de que sua cabeça não estava funcionando bem.

Esse episódio burlesco foi a gota d’água.

Percorrendo a estreita calçada que o levava ao escritório, Ângelo foi se acalmando. Abriu a porta, entrou e se encaminhou diretamente para sua mesa de trabalho, sentou-se confortavelmente na poltrona reclinável, mas nem olhou para contas, relatórios ou documentos. Preferiu meditar sobre os episódios recentes e tudo mais que estava acontecendo com ele, e ao final, mais tranquilo, respirou fundo e até se riu ao pensar que não conseguira sair do carro porque não havia soltado o cinto de segurança: “que ridículo, ainda bem que ninguém viu”, ponderou.

Essa pausa foi importante para reconhecer que andava muito nervoso e estava na hora de se afastar da empresa por um tempo, para um necessário descanso. Ainda era relativamente moço e depois desse longo período de dedicação quase absoluta ao trabalho por três anos, precisava desligar-se de suas memórias para retomar integralmente sua vida, voltando aos exercícios regulares, à alimentação saudável e a outras coisas que pudessem lhe devolver um pouco da saúde física e emocional.

Dinheiro não lhe faltava. Há muito tempo tinha deixado de ser uma preocupação. Admitiu até a possibilidade de encontrar uma nova companheira. Carmem estaria sempre no lugar mais especial de seu coração. Mas a vida, impiedosamente, continuava. Precisava encerrar o luto e encontrar um rumo. Ela certamente aprovaria. Ademais, tinha que admitir: o seu corpo há tempos estava exigindo os carinhos de uma mulher.

Então, decidiu-se.

Uma longa conversa com Gastão e algumas recomendações, foram suficientes para convencê-lo de que o seu menino estava pronto para assumir a direção total das empresas por uns dias, enquanto ele estivesse fora. Seria uma ótima experiência administrativa, além de excelente oportunidade para passar umas férias no Rio de Janeiro, que Ângelo ainda não conhecia. E nada melhor do que Copacabana. Iria já na manhã seguinte, uma quarta-feira, dia previsivelmente tranquilo na estrada. O próprio Gastão providenciou a reserva de um apartamento num hotel que conhecia, na Rua República do Peru.

UM MISTÉRIO

A viagem pela rodovia foi tranquila. Dirigir seu próprio carro, para Ângelo, sempre foi uma terapia de grande efeito. Foi devagar, relaxado, sem pressa de chegar, apreciando o passeio, desfrutando aquela sensação de liberdade e descompromisso que desde muito tempo não experimentava. Almoçou num restaurante da estrada, achou que a comida estava ótima.

Chegou a Copacabana no meio da tarde, e registrou-se no hotel sem prestar atenção em nada, ansioso que estava para conhecer a famosa praia. Arrumou suas coisas no quarto, refrescou-se, depois vestiu roupas de corredor, inclusive uma camiseta de sua grife comercial, com o logotipo formado pelas letras CRQ, e logo saiu.  Ao chegar ao calçadão da Avenida Atlântica, buscou uma referência para não se perder na volta. Escolheu e gravou bem na memória um anúncio do refrigerante Sprite, na esquina da rua do hotel.

O dia estava muito agradável, uma leve brisa vinda do mar atenuava os efeitos do sol de final de tarde, e não estava aquele calor que sempre ouvira dizer do Rio de Janeiro. Algumas moças bonitas que passavam iam despertando nele a percepção de que se encontrava num ambiente diferente, que lhe inspirava aventuras. Respirando tanta liberdade depois de tanto tempo, já imaginava travessuras para a noite, os hormônios que lhe restavam andavam agitados havia algum tempo.

Depois de caminhar por uns minutos pelo calçadão do lado da praia, resolveu correr um pouco pela ciclovia asfaltada e quase vazia de bicicletas; ainda conseguia dar uma boa corrida. Logo percebeu que outro corredor, um desconhecido, estranhamente o acompanhava, calado. Seguiram correndo em silêncio até o Forte, voltaram até o outro extremo da avenida e retornaram novamente no sentido do Forte; nesse momento, sem mais nem menos, o outro corredor lhe perguntou se iriam voltar “tudo de novo”; Ângelo não entendeu nada, mas achou muito engraçado. Começava a sua terapia carioca.

— Ué! Você eu não sei. Eu já estou terminando e vou parar já, já.

Com isso começaram uma conversa amistosa e ficou sabendo que o rapaz, que se chamava Severino, trabalhava numa construção ali perto; logo se despediram e cada um foi para o seu lado. Esse é gente boa, mas é meio maluco, pensou Ângelo, divertido.

O exercício tinha sido muito bom, uns oito quilômetros de corrida leve, mas já estava cansado e passou a procurar a rua com o anúncio do Sprite. Deveria ser por ali, mas à medida que passavam os quarteirões, constatou, preocupado, que havia um anúncio daqueles em cada esquina. E agora? Qual dessas é a rua... Como é o nome mesmo? Não lembrava também o nome da rua do Hotel.

Finalmente, encontrou uma que lhe pareceu familiar. É essa, pensou. Foi por ela e encontrou um hotel. Ainda não estava familiarizado com a fachada, nem com as instalações, mas pela distância da Avenida só podia ser aquele, não havia outros naquele quarteirão.

— É aqui! — acreditou, exclamando em voz alta num desabafo de alívio, para a estranheza de um casal que saia do prédio nesse momento.

Deixara a chave do quarto 28 na portaria. Ainda bem que tinha boa memória para números, pois não foi reconhecido pelo recepcionista, que estranhou quando pediu a chave. Desconfiado, o rapaz verificou e confirmou que não havia nenhum registro de hóspede em nome de Ângelo Di Fortuna, e o quarto 28 não poderia ser, porque estava vago. Depois de muita insistência de Ângelo, que já demonstrava um misto de impaciência e irritação, e para resolver definitivamente o impasse sem maiores confusões, o rapaz concordou em lhe mostrar o quarto. Chamou o vigilante do hotel para os acompanhar, abriu a porta do quarto 28, e lá, realmente, Ângelo não encontrou as suas coisas. Assustado, correu à garagem do hotel, e lá também não encontrou seu carro.

Estava só com as roupas de corrida, suado, cansado, não tinha dinheiro, nem cartão de crédito, nem celular, nem mais nada.  Saiu daquele hotel completamente aturdido e passou a andar a esmo pelas ruas das imediações. Não conseguia entender o que estava acontecendo.

 

 

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

ALBERTO LANDI - PROJETO MEU ROMANCE

 






Foi quando as vésperas

 De natal...

 

Foi quando nas vésperas de natal, a avó acordou com um som familiar: o barulho de um carro chegando.  Seu coração acelerou com a esperança, e levantou-se rapidamente. Após alguns segundos, ouviu o tilintar das sinetas na porta. Com o coração na mão, correu para abrir.

Para sua surpresa, ali estava seu neto, com os olhos brilhando e um sorriso radiante. Ele estava em farda militar, mas a alegria de vê-lo fez esquecer por um momento as marcas da guerra.

— Vovó! - Ele exclamou, envolvendo-a em um abraço apertado que parecia durar uma eternidade.

As lágrimas escorriam pelo rosto enquanto ela o observava agora tão crescido e maduro.

Ele contou que havia conseguido uma licença especial para passar o Natal em casa. Ela mal podia acreditar na sorte que tinha. O pesadelo da guerra parecia ter se dissipado por um momento mágico.

Naquela noite, a casa foi preenchida com risos e histórias de bravura. O jovem trouxe lembrança de seus companheiros de batalha e falou sobre como a esperança e a amizade foi essencial durante os dias difíceis. Ela preparou o jantar mais farto que conseguiu repleto de pratos favoritos do neto.

O cheiro da comida misturava-se ao aroma das árvores de Natal decorada, criando uma atmosfera calorosa e acolhedora.

Ao final da refeição, brindaram não só a vida e a família, mas também a paz que ambos ansiavam.

Ela sentiu que todos os seus esforços para garantir um futuro melhor para ele não tinham sido em vão. Ela sabia que a vida poderia ser imprevisível, mas naquele momento, tudo parecia perfeito.

Depois do jantar, enquanto olhavam as luzes piscando na árvore de Natal, o jovem compartilhou seus planos: queria estudar mais e ajudar outros a encontrar caminhos melhores após a guerra. Ela sorriu ao ouvir suas aspirações: sua fé no neto estava renovada.

Naquela noite mágica de Natal, eles não apenas celebraram o retorno do jovem soldado, mas também rejuvenesceram a esperança e o amor que sempre existiam entre eles. E assim mesmo com as dificuldades à frente, estavam prontos para enfrentar qualquer desafio juntos!


Uma nova amizade

 

 O investigador Carlos sempre foi uma pessoa de métodos tradicionais. Com anos de experiência em investigações de crimes comuns, ele se encontra em um novo desafio: crescentes ocorrências de crimes cibernéticos que assolavam a cidade.

Sem saber por onde começar foi designado para um curso de tecnologia que prometia abrir sua mente para o mundo digital.

No primeiro dia do curso, Carlos sentou-se ao lado de uma mulher carismática chamada Liz. Ela rapidamente se apresentou como uma especialista em segurança da informação e parecia ter um conhecimento profundo sobre o assunto.

Liz tinha um ar intrigante que chamava a atenção de todos ao seu redor.

Seus cabelos eram longos e ondulados, de um castanho profundo que brilhava sob a luz. Os olhos de um azul intenso pareciam analisar cada movimento de Carlos com curiosidade e um toque de malícia. Tinha um sorriso encantador, mas havia algo enigmático nela, como se escondesse segredos profundos. Vestia-se de forma elegante com roupas de grife, que realçavam sua figura esguia e confiante. Blazer ajustado e uma blusa sofisticada davam um ar profissional, mas também deixavam transparecer sua feminilidade. Cada gesto dela era calculado, como se estivesse sempre ciente do impacto que causava.

Essa combinação de beleza e inteligência fazia com que o investigador se sentisse atraído por ela, mas também o deixava em alerta. Afinal ele não sabia se estava lidando com uma aliada genuína ou uma astuta manipuladora.

Ele ficou impressionado com a facilidade dela em explicar conceitos complexos e logo se tornaram amigos.

À medida que o curso avançava, ela compartilhava histórias sobre suas experiências no setor. Falava sobre hackers éticos, invasões de sistemas e a importância da proteção de dados.

Fascinado, não percebeu que ela estava usando suas informações para traçar um plano.

Aos poucos ela começou a perguntar sobre o trabalho dele na polícia.

Inocentemente compartilhava detalhes sobre investigações em andamento e as fraquezas do sistema policial. Ela ouvia atentamente sorrindo como se estivesse interessada, mas, na verdade, estava absorvendo cada palavra.

Certa noite, enquanto estudavam juntos após o curso, ela sugeriu a Carlos para que a apresentasse alguns contatos na polícia.

¨”Posso ajudar seu departamento com algumas dicas sobre segurança cibernética”, disse ela com um sorriso sedutor. Ele hesitou, mas a ideia de ter uma aliada experiente era tentadora.

Quando ele finalmente decidiu apresentá-la ao seu chefe, ele não tinha ideia de que Liz tinha planos muito mais sombrios. Usando seu acesso a polícia como uma fachada, ela começou a arquitetar um ataque cibernético contra o próprio departamento.

Os dias se passaram e os computadores da polícia começaram a apresentar falhas inexplicáveis. Informações confidenciais começaram a vazar e os investigadores ficaram perdidos.

Carlos, preocupado com o que estava acontecendo, começou a investigar internamente.

Foi então que ele constatou algo alarmante. Ela não era quem dizia ser.

Usando suas habilidades adquiridas no curso e as informações que Carlos lhe fornecera, ela estava por trás dos ataques cibernéticos.

Com isso em mente, ele decidiu confrontá-la. Em uma conversa tensa após o curso ele disse:

Você me enganou desde o início. “Não está aqui para ajudar, você é parte do problema.”

Ela sorriu maliciosamente e respondeu: “Você realmente achou que alguém com meu conhecimento iria perder tempo ajudando a polícia? Eu só precisava de informações certas para conseguir o meu objetivo”.

Com seu instinto investigativo despertado, ele rapidamente acionou seus colegas de trabalho. Juntos, conseguiram rastrear os passos dela e impedir um ataque devastador ao sistema da polícia.

No final do curso, ele não apenas aprendeu sobre crimes cibernéticos, mas também aprendeu uma lição valiosa sobre confiança e vigilância.

A tecnologia poderia ser uma ferramenta poderosa nas mãos certas ou uma arma nas mãos erradas.

E assim ele se despediu do curso com um novo entendimento do mundo digital- e um alerta constante sobre aqueles que poderiam estar à espreita nas sombras da rede.

O departamento de polícia decidiu que em vez de punir Liz por suas ações, ela poderia usar suas habilidades para ajudar a comunidade.

Reconhecendo seu talento e a importância de direcioná-la para o bem, eles propuseram a ela que colaborasse em projetos de segurança cibernética, onde poderia ensinar outros sobre os riscos do hacking e como se proteger no mundo digital.

Ela aceitou a proposta com um misto de alivio e entusiasmo. Essa nova oportunidade não apenas a ajudou a redimir seus erros, mas também a conectou com pessoas que compartilhavam sua paixão por tecnologia.

Assim, ela transformou uma história em um exemplo de como erros podem se tornar lições valiosas e como é possível fazer a diferença de forma positiva!


O Detetive Vai à Ópera.



Após concluir o curso sobre tecnologia aplicada a crimes cibernéticos em Paris, o detetive se preparava para iniciar um novo treinamento em justiça criminal.

Sentia-se um pouco apreensivo, pois os dias chuvosos e o inverno marcado por uma neve úmida criavam um ambiente acolhedor, mas, ao mesmo tempo, melancólico.

Em meio a essa atmosfera, ele recebeu convite de dois colegas franceses para assistir à ópera. A ideia de se envolver na rica cultura parisiense parecia uma oportunidade perfeita para aliviar a tensão e se distrair, mesmo por algumas horas.

E assim foi assistir à ópera La Traviata, no famoso Teatro Garnier.

Havia trazido na viagem um belo terno cinza que há meses estava esquecido em seu armário. Bem-vestido, pegou o metrô até a estação Ópera Garnier.

Ao entrar no teatro, ficou maravilhado, observando o foyer, escadaria principal, auditório, cortinas, palco, sala de estar, candelabros, detalhe decorativo e até uma biblioteca.

Antes do início do evento, o sussurro da plateia era quase ensurdecedor, o ensaio de violinos propiciava momentos agradáveis.

O detetive Carlos observava todas as pessoas ao seu redor: rostos ansiosos e sorrisos iluminados pela expectativa do início.

Iniciada a apresentação, notou uma jovem sentada na mesma fileira onde estava. Vestia trajes em veludo azul com lantejoulas que refletiam com as luzes da ribalta, criando um espetáculo de brilho no escuro. Cada movimento dela parecia flutuar entre as luzes.

Ela era o centro das atenções, mas Carlos sabia que sua beleza poderia eventualmente esconder um perigo iminente.

Ele não pode evitar o impulso de flertar. No intervalo de um ato para outro, ele se aproximou dela, falando em francês.

— Desculpe a minha intromissão - disse com um sorriso confiante - Você tem um brilho que ofusca até as estrelas.

A jovem sorriu de volta, mas logo seu olhar se desviou para algo atrás deles.

Eles avistaram um homem saindo apressadamente do teatro. A sua postura chamou a atenção do detetive.

A curiosidade começou a falar mais alto que seu desejo de flertar.

Pediu licença e deixou a jovem por uns momentos, que havia se apresentado como Amélie. Decidiu seguir o homem pela rua ao lado do teatro. Este se infiltrou num beco escuro, Carlos hesitou antes de prosseguir. O beco era estreito, havia fuligem no ar.

Resolveu segui-lo. O homem parou em uma porta velha de madeira marcada por marcas de grafites.

— Por que você está fugindo?? Perguntou, tomando coragem.

À medida que conversavam, a tensão aumentou, e um confronto físico começou.

Nesse momento, quando se atracaram, chegaram os colegas policiais franceses que o imobilizaram e o interrogaram. Seu nome é Pierre.

Este confessou que, sendo barítono, foi negada a sua participação na ópera. Para se vingar, arquitetou um plano mirabolante, com dois marginais infiltrados no teatro. A saída inesperada era para criar um álibi, pois estando fora, ninguém poderia suspeitar dele.

Todos retornaram para o teatro para evitar uma tragédia maior.

No interior, a atmosfera havia mudado drasticamente, a plateia agitada e pessoas apontando para o palco.

Uma das atrizes principais, a Violetta, havia caído durante a performance.

Carlos se dirigiu ao backstage e encontrou Amélie, tentando ajudar a atriz caída.

Algo não está certo, vamos investigar, disse Carlos aos colegas.

Pierre confessou o plano, informando que os dois marginais estavam se preparando para envenenar a atriz principal e sabotar a ópera. Cientes da urgência da situação, se reuniram em um canto discreto do backstage. Com o plano dos marginais em mente, precisavam agir rápido para impedir que a tragédia acontecesse.

— Precisamos encontrar uma maneira de encontrá-los antes que seja tarde demais - disse Carlos, seus olhos se fixando nos rostos dos artistas.

Um dos colegas franceses informou que ouviu alguns rumores sobre uma conversa suspeita na cafeteria do teatro.

Eles precisavam se infiltrar lá e ouvir o que os marginais estavam planejando.

— Um deles comentava, se conseguirmos colocar veneno na bebida dela antes do ato final, será um sucesso, enquanto mexia em um pequeno frasco com líquido escuro.

Os três avançaram rapidamente para cima dos marginais. Surpreendidos pela abordagem repentina, eles tentaram reagir, mas Carlos e os demais foram mais rápidos. Com as autoridades chamadas e a situação sob controle, respiraram aliviados. Foi efetuada a prisão de Pierre e dos marginais.

Amélie respirou aliviada pela prisão de todos. A plateia, antes tensa, começou a aplaudir, reconhecendo sua bravura e determinação. Ao socorrer Violetta.

Os detetives se aproximaram para agradecer. “Você foi incrível, Amélie, sua coragem fez toda a diferença.”

Ela apenas balançou a cabeça, consciente de que, em momentos como esse, o verdadeiro heroísmo reside na disposição de agir em benefício dos outros.

Enquanto as luzes do teatro acendiam novamente e a música começava a tocar suavemente, Amélie percebeu que havia encontrado não apenas uma nova paixão pela vida, mas também uma conexão com o detetive, não apenas uma nova amizade, mas algo mais especial.

Os sorrisos trocados e os olhares cúmplices deixaram claro que ambos estavam abertos à possibilidade de um romance.

Com o coração acelerado, Amélie decidiu que era hora de explorar esse novo capítulo em sua vida. Afinal, às vezes as melhores histórias começam no meio do caos, e ela estava pronta para viver a sua. 

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...