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terça-feira, 10 de setembro de 2024

Taça, e mais vinho - Pedro Henrique

 


Taça, e mais vinho

Pedro Henrique

    

O vento levantava os cabelos ruivos de Beatriz fazendo-os beijar o nada. Estava frio do lado de fora do restaurante, entretanto o que de fato a incomodava era o que residia dentro.

     Havia ceifado com êxito de sua memória o que vivera com Fred (seu parceiro de trabalho), contudo não se pode fugir da fúria da paixão, ela vai te consumir de qualquer jeito.

     Ela está lá, em cada toque hesitante, em cada olhar apreensivo, em cada pensamento intrusivo.

     Fred a encara percebendo que está muito quieta. Ele tenta puxar conversa, porém Beatriz não abre mão de manter intacta a muralha que a cerca, a coisa que a segrega do mundo, do sofrimento.

     — Até quando você vai ficar me evitando? Questiona o rapaz.

     — Eu não estou te evitando.

     — Beatriz, desde que chegamos você não prestou atenção em nada do que eu disse.

     — Isso é mentira.

     — Ah, é? Então, o que eu estava falando neste exato momento?

     Beatriz o observa percebendo que ele jamais compreenderá. Irritada, levanta e sai do estabelecimento.

     Quando chega em casa nada passa por sua mente a não ser o desejo avassalador que ruge dentro dela por uma taça de vinho.

     Na primeira taça, pensa em Fred; no seu cabelo, no seu rosto, na forma engraçada com que fala, no seu jeito de andar, na sua boca.

     Na segunda taça, lembra de seu pai, da noite em que o matara, no gosto suculento que escorria do prato da vingança que sentiu ao passar a lâmina de um estilete em sua garganta.

     Na terceira taça pensava em Patrick e no lixo de ser humano que, infelizmente, descobriu que ele era.

     Taça e mais vinho, taça e mais vinho, taça e mais vinho! Mais, mais e mais! É preciso adormecer o que vive e que merece a morte. É preciso cortar a nódoa explícita que uma madrugada deixou. É preciso manter a barreira e a segregação.

     Taça e mais vinho. Sim, mais, pois a vida brada e quando ela brada há de se ter coragem para bater de frente, no entanto, Beatriz não tem coragem, falta-lhe e muito, é perigoso demais voltar lá e ela sabe disso, pena que Fred não.

     Caberá somente ao destino decidir qual será o próximo passo desta história.

 

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