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terça-feira, 6 de agosto de 2024

CAPITÃO MENDES - Adelaide Dittmers

 



CAPITÃO MENDES

Adelaide Dittmers

 

O velho aviãozinho soltou um ronco profundo e cansado no esforço de alçar vôo mais uma vez. No comando, um homem também entrado em anos concentrado em guiá-lo para alcançar as alturas. O rosto sério encobria a imensa satisfação que lhe ia na alma.

O céu azul pontilhado por nuvens brancas abraçou-os. Os raios de sol iluminaram as asas azuis e vermelhas do pequeno avião ao dar uma volta para perseguir caminhos incertos.

Capitão Mendes era conhecido e admirado na pequena cidade, em que vivia.  Construíra o pequeno avião e riscava os ares em ousadas manobras.  Voar era sua paixão.

Ia para onde seu coração mandava, deixando ao acaso os rumos a tomar. Sobrevoava montanhas, campos e algumas vezes a orla marítima. Respirava a aventura de estar nas alturas e de ver a vida passar lá embaixo. Aterrissava em lugares inóspitos, sorvendo a felicidade de suas andanças audaciosas.

Enfrentava os perigos com a segurança de que iria superá-los.  Muitos lhe perguntavam se não tinha medo de que o avião sofresse uma pane. Ele dava de ombros e respondia que não tinha medo de morrer e sim de não viver.

Naquela bonita manhã, voando para um destino incerto e se deixando levar para algum lugar, que o surpreendesse, ao passar por um grande pasto, vislumbrou uma cena que o assustou.  Um homem fugia a cavalo, enquanto outro jazia no capinzal.

Com uma brusca manobra, começou a descer e aterrissou perigosamente perto do homem.  Desceu as escadas correndo e alcançou o ferido, cuja camisa estava rubra de sangue.

O pobre homem lançou-lhe um olhar suplicante.

— O que aconteceu? Perguntou, ajoelhando-se ao lado dele.

— Um tiro! Balbuciou e desmaiou.

Mendes levantou a camisa da vítima.  Havia duas perfurações na altura da cintura.   Rápido, tirou a camiseta e a enrolou no ferimento. Bateu levemente no rosto do homem para acordá-lo.  Quando conseguiu, com imenso esforço o levantou e o incentivou a ir ao hospital.  Colocou os braços dele sobre seus ombros e o arrastou até a aeronave.

Arfando com dificuldade, sentou-se na relva para recuperar as forças após ter acomodado o ferido no pequeno espaço do avião.

Levantou ainda ofegante e assumiu o comando de seu companheiro de aventuras. No caminho, já emitiu um SOS para que o homem fosse atendido rapidamente.  Ao aterrissar na curta pista de seu sítio, uma velha ambulância os esperava.

Levado ao hospital, o homem foi atendido com rapidez e foi submetido a uma cirurgia para a retirada dos projéteis, que felizmente não tinham atingido nenhum órgão.  Fora de perigo e se recuperando bem, o fazendeiro contou que seu agressor era um vizinho, que comprara terras naquela região recentemente, e invadira uma grande área de sua fazenda.  Quando foi notificado pelos meios legais de que tinha que devolver o que roubara, ficou furioso.

Naquela manhã, tinha ido ao pasto examinar uma vaca prenhe, que estava próxima de ter um bezerro, quando de repente, o vizinho chegou a galope e atirou.

Mendes foi homenageado pela sua coragem e eficiência no salvamento ao fazendeiro.

E quando o velho avião decolava para novas aventuras, olhares de respeito o seguiam. E sorrisos lembravam da frase preferida do destemido aviador.

“Não tenho medo de morrer e sim de não viver”.

 

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