A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Paredes como pontes - Ana Catarina Sant’Anna Maués

 



Paredes como pontes

Ana Catarina Sant’Anna Maués

 

  Casa nova, rua nova, ambiente novo, vizinhos novos, era tudo o que eu precisava naquele momento. Acabei de sair de um relacionamento sem filhos, o que me deixava mais tranquilo, e queria fazer tudo diferente, na vilinha que passaria a morar. Porém, a vizinhança era sisuda, deu para ver logo de início. Rostos fechados, ninguém cumprimentava ninguém, nem com simples bom dia. Com as casas geminadas percebia-se a ausência de silêncio durante o dia e também à noite, e foi assim, através das paredes, que pude conhecer um a um dos meus companheiros da vila.

   Rafaelo, meu vizinho da direita, morava com a filha. Era idoso, com forte pigarro devido ao vício do tabaco. Podia-se escutar os gritos da filha dando bronca, toda vez que ele acendia um cigarro e depois tossia forte quase engasgando.

   Do lado oposto estava a viúva Bernardete. Descobri o nome por acaso, certa vez que ela atendeu ao telefone e se identificou para quem estava do outro lado da linha. Pontualmente às vinte e uma horas podia-se escutar seu pranto, regados de soluços.

   Mais adiante a Sra. Matilde com a casa cheia de cachorros, que latiam bastante, interrompendo meu cochilo nos finais de semana após o almoço.

   Por fim os recém-casados Beto e Esmeralda. Descobri os nomes entre os sussurros fogosos altas horas da noite, que me faziam imaginar beijos e carícias atrevidas do casalzinho.

  Enfim, foi assim que conheci um pouco sobre eles, e eles a mim certamente, identificando pela parede, minha alergia noturna, que me fazia espirrar, pelo menos quinze vezes antes de adormecer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEIXE AQUI UMA MENSAGEM PARA O AUTOR DESTE TEXTO - NÃO ESQUEÇA DE ASSINAR SEU COMENTÁRIO. O AUTOR AGRADECE.

A ÚLTIMA CARTA - Helio Fernando Salema

  A ÚLTIMA CARTA Helio Fernando Salema     Ainda sentada em frente ao gerente do Banco, Adélia viu, no seu celular, a mensagem de D. Mercede...