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segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

QUARTO DE RAPAZ - Suzana da Cunha Lima

 




QUARTO DE RAPAZ

Suzana da Cunha Lima

 

Era mesmo quarto de rapaz solteiro.  A mãe já cansara de arrumar e pedir para ele dar uma ordem naquele caos, mas nada adiantava. “Estou estudando, mãe! ”

Havia toalha de banho úmida debaixo da cama, saquinhos com restos de batatinhas chips, refrigerante morno, tênis e meias jogados no chão, roupas espalhadas pelos quatro cantos e a bela escrivaninha estilosa, que fora do avô, abarrotada de coisas: livros, cadernos, lápis e canetas de todos os tipos, folhas em branco e rabiscadas e o computador quase engolido por anotações e bilhetinhos.

 Ah, e o rapaz... sempre com o celular agarrado na mão, parecia não se importar com aquela confusão generalizada, onde praticamente encontrava tudo.  Num dado momento, no entanto, parece que se cansou, se esticou todo e disse para si mesmo: Vou tomar um banho! E sumiu para o banheiro.

Nesse momento a caneta não se aguentou e criticou duramente o caderno aberto, cheio de riscos e anotações:

- Vê se dá uma ordem nisso.  Eu capricho na letra e você vive rabiscando tudo. Parece até que não gosta do que escreve.

- E o que posso fazer? É o jeito dele estudar, oras!

- Ainda bem que já estou todo escrito – replicou o livro – ele só realça o que interessa e isso porque sou dele mesmo.  Aquele outro livro, que ele pegou na biblioteca, não pode riscar, rasurar, realçar, nadinha, senão tem que pagar outro e não é nada barato.

- Vocês viram que desenho bonito ele fez aqui? Parece um sistema de vias, ruas e viadutos. – comentou a página do caderno de desenho.

- Você é burra mesmo, folha branca. É o sistema cardiológico, não está vendo o coração e as coronárias? Irritou-se o livro da Biblioteca, altivo em sua lombada dourada.

-   O que eu sinto é que já estou esgotado, entupido de fatos, números e fotos, nem sei mais o quê - suspirou o computador -   o menino pensa que sou saco sem fundo. E para que tudo isso?

Nisso o estudante retorna, nu em pelo, cabelos pingando e o celular na mão. Sorriso de orelha a orelha:

- Mãe, mãe, adivinha só!  PASSEI NO VESTIBULAR DE MEDICINA E NA FEDERAL!

 

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