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segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

O BURRO FALANTE - Henrique Schnaider

 


O BURRO FALANTE

Henrique Schnaider


Geninho era um burro que nasceu burro e como todo burro que se preza era teimoso.  Quando nasceu, o seu Chico não viu nada demais naquele burrinho que pinoteava e zurrava solto no campo feliz e contente.

Com o passar dos dias seu Chico começou a ouvir uma voz tagarelando, mas não atinava de quem era. Pensou até num fantasma que estivesse perseguindo-o. Até que um dia para seu assombro ouviu o burro Geninho resmungando.

— Seu Chico eu falo, falo, e falo, bla, bla, bla, e o senhor não me responde, sou eu, Geninho. Por acaso o senhor tem alguma coisa contra um burro que fala ? Disse rindo,  quichiii.

Seu Chico arrepiou-se inteiro como era possível o burro Geninho falar, piscou os olhos, limpou os ouvidos e Geninho se arrebentando de rir quichiiiii. Seu Chico olhou para o burro e disse:

 — Oh, burro besta metido a falar, e além de tudo, com essa risada escrachada.

O caipira custou a acreditar que podia conversar com Geninho e logo pensou, vão pensar que enlouqueci. A única coisa que o Geninho é, muito teimoso, custa a me obedecer. Vou levar este burro para minha mulher a Rosinha, espero que o burro fale com ela e assim terei certeza de que não estou louco.

E lá se foi seu Chico levando o Geninho pela corda tagarelando como um papagaio.

Chegando em casa seu Chico gritou:

 — Rosinha, mulher, corre até aqui vem ver uma coisa, você não vai acreditar o nosso burro Geninho fala.

Rosinha veio correndo pensando, meu Deus meu marido bebeu. Quando ela chegou em frente ao burro o caipira já quase alucinado disse:

 — Vamos lá, Geninho, fale alguma coisa para minha mulher.

O burro não se fez de rogado, disse disfarçando para Rosinha não vê-lo falando: — Patrão, o senhor quer mesmo que eu fale? Olha, o senhor não vai gostar hein.

Seu Chico já espumando de raiva:

— Fale de uma vez, seu burro, senão te meto o chicote.

— Está bom, está bom, então lá vai, e é bom se preparar, pois lá vai uma burrada daquelas.  Disse Geninho à mulher: — Como o seu Chico, teve coragem de casar-se com uma mulher tão feia como a senhora? Quichiii!

Dona Rosinha ficou da cor de um tomate maduro:

— Chico, seu desgramado! Aposto que foi você que ensinou este burro besta vir até aqui me insultar dessa maneira.

 Dona Rosinha de repente, se deu conta da situação, arregalou os olhos incrédula:

— O que é isto? Este burro fala? Chico que brincadeira é essa?

Seu Chico fuzilando o Geninho com os olhos disse

— Seu burro miserável, além de só falar besteira, ainda por cima é um mal-educado, atrevido, mas, corajoso. Acabou falando para a Rosinha aquilo que eu nunca tive coragem de dizer e agora que a verdade veio à tona, vou desabafar aquilo que está entalado na minha garganta faz tempo. Eita mulher feia, soh! Louco fui eu que me casei com ela.

Geninho ganhou neste dia, além da admiração e amizade, uma bela ração extra de alfafa,  e aprendeu que nem sempre em boca aberta entra mosquito.

 

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