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segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

COROA SEM REI - Ana Catarina Sant’Anna Maués

 




Coroa sem rei

Ana Catarina Sant’Anna Maués

 

   Como num castelo de vidros grossos, à prova de bala, lá estava ela a rodopiar como a bailar nos velhos salões de candelabros a luz de velas, de um tempo distante. Porém, agora somente admirada por olhos curiosos, que faiscavam a cada cintilar dos gordos rubis que faziam par com reluzentes esmeraldas em contraste com, não menos valiosos, desbotados topázios.

Sem dar atenção aos que a cobiçavam ela lembrava, bons tempos aqueles, dizia para si mesma, e ao encontrar a memória saiam de mãos dadas a passear pelos labirintos das lembranças. Perdi a conta de quantos anos tenho. Já fui usada em bailes e bodas, guerras e acordos de paz. Reis poderosos, me ostentaram com grandeza, eu sozinha enaltecia o monarca, pois a imponência de minha altivez era suficiente para o glamour. Quando o soberano, ao recolher-se no sono de uma noite, me deixava ao lado, descia à simplicidade de sua natureza, era como um homem singular, tão igual quanto um mero camponês, mas ao raiar do novo dia, ao colocar-me, paramentado com manto, era a glória como se Deus fosse.

   Hoje aqui, neste museu, sirvo para exibir a nobreza de tempos outrora, imponente ainda sou, mas do que serve uma coroa sem rei?   

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