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quinta-feira, 4 de maio de 2017

O DIÁRIO DE GLAUCIA - Christianne Vieira



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O DIÁRIO DE GLAUCIA
Christianne Vieira

Uma  tarde chuvosa, um dia tristonho com cara de inverno, bom para dormir a tarde toda, se entupir de chocolates, assistindo a um bom filme. Teria uma tarefa muito chata pela frente, desmontar a casa de seus pais. Já empacotara  quase todos os objetos, roupas, utensílios de cozinha, jardim, e mais um monte de cacarecos acumulados ao longo de muitas décadas.  Olhava ao redor e parecia que nunca conseguiria dar um fim.

Glaucia já estava muito cansada, cheirava a pó, e naftalina, não sabia porque os antigos gostavam de encher os armários  com elas. O ar parecia ser ainda mais velho, dentro deles.

Ela odiava essa tarefa, e tudo que se relacionava a ela. Arrumação era a atividade número um, na sua lista de coisas odiosas. Seus irmãos viviam ocupados, ela foi a intimada. Teriam que entregar o imóvel em poucos dias, e empacotar três décadas, de história.

Tentou muito se esquivar, fingiu estar em crise de rinite, simulou uma virose, mas nada adiantou. Bom, sem saída, foi para lá e resolveu que terminaria logo com essa chatice.

Agora, só restava, o último e temido cômodo, o quarto de despejo, lugar esse que todos, por vários anos, despejaram tudo aquilo  que não gostavam, ou queriam , na verdade se livrar.

Entrou com cuidado, devido a pilha de badulaques jogados, prontos para espatifarem, ou até mesmo soterrá-la em escombros.

Como o passado pode ser tão pesado?! Como pode carregar tantas angústias? Mexer nessas pilhas, era o mesmo que cutucar feridas ainda abertas, ou questões mal resolvidas.

No entanto, ela não tinha mais o que fazer? Uma vez, que se encontrava sem saída, teria que começar. Uni duni te, a escolhida foi você. Apontou na direção da pilha sorteada ao acaso, e retirou a raquete de tênis, sem cordas, que estava no topo... embaixo encontrou uma caixa lacrada com durex, era tanto durex, que se alguém tivesse que se enforcar, talvez conseguisse.

Era muito velho, parecia verter uma gosma, fantasmagórica assustadora. Imaginou-se entrando em coma, em contato com tantos ácaros.

Foi soltando toda aquela meleca, até que liberou a tampa da caixa. Primeira parte concluída. Ufa, já era algum progresso, continuava viva.

Encontrou então livros, cadernos, todos encapados, com plástico colorido, veja bem, não era contact, ultra moderno, era o velho plástico mesmo, que dava o maior trabalho na hora de embalar. Ela lembrava da dificuldade!

No fim da pilha, surpresa, um diário rosa, gordo,  tão gordo que nem fechava. Tinha tantas coisas coladas entre as paginas, que se assemelhava a listas telefônicas.

Essa história de remexer no passado estava ficando alucinógena. Se contasse para algum jovem, eles achariam que ela estava realmente pirada.

Respirou fundo. Quantas lembranças ele havia guardado ao longo desses anos?
Fazia tanto tempo, que ela não se lembrava. Abriu a contracapa, nome, Glaucia, idade, 14 anos.

Meu Deus, já fazia quase quarenta anos... Quantas coisa ela vivera depois disso! Talvez até gostasse de ler.

Essa época em sua vida, fora repleta de descobertas, a primeira paixão, a mudança de escola, o turbilhão de hormônios que faziam da sua vida uma montanha russa.

Seria uma forma de chacoalhar sua vida monótona. Fazia tempo que não encontrava cor e alegria.

Aqueles anos, de adolescência cheios de cor, planos, quando  amava cada embalagem de chup chup morango  colado, se preocupava com cabelo, ou com espinhas. Chorava escutando na vitrola musicas  românticas. Distante, mas muito  vivo dentro dela.


Como se um portal tivesse sido aberto, o passado  e o presente andassem lado a lado. Sentou em um cantinho,  parecia ter encontrado um pote de ouro no fim do arco-íris, aquele diário estava salvando sua vida, descortinando sua alma. Quem sabe, seria seu passaporte para uma nova chance de ser feliz?!

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