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terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Decepção - Adelaide Dittmers

 




Decepção

Adelaide Dittmers

 

Jussara pegou a bolsa com força.  Piscava para disfarçar as lágrimas que teimavam em desabar pelo rosto contraído.

Saiu abruptamente do escritório.  Com passos rápidos chegou até o carro.  Abriu a porta e se jogou no banco. A bolsa voou para o assento lateral. A cabeça latejava.

Como puderam fazer aquela palhaçada e dar a promoção à Mariana.  Ela é que merecia aquela posição.  Trabalhara como uma louca, dedicara-se totalmente, esquecendo sua vida particular.  Atravessara madrugadas, montando aquele importante projeto. E agora, só porque Mariana era sobrinha do diretor, fora escolhida para tocá-lo. O trabalho dela era mal-elaborado, cheio de falhas, o que prejudicaria a empresa.  Estava inconformada. Era uma grande injustiça.

Ligou o carro. O pé apertou o acelerador. Os pneus guincharam com a arrancada violenta.  Percorreu as ruas automaticamente. Fechou outro carro, cujo motorista buzinou, gritando um xingamento. Passou por um sinal vermelho.

Com sorte, chegou ilesa ao prédio em que morava. Afundou com força o botão do elevador, rezando para estar vazio.  Não queria ver ninguém e ter que fingir que estava tudo bem. Soltou um suspiro profundo ao chegar ao seu andar.

Abriu a porta e se jogou no sofá. “Não vou suportar essa sacanagem.  Amanhã peço minha demissão.”

O celular tocou.  Era Lúcia, sua grande amiga.  Hesitou em atender, mas precisava desabafar com alguém.

Uma voz preocupada soou do outro lado da linha.

— Ju, querida amiga, nem vi você sair.  Já sei o que aconteceu. A notícia está correndo solta por aqui.  Você não merece isso. 

— Vou sair da firma.  Estou decidida. Sei que tenho capacidade para trabalhar em outro lugar, onde reconheçam meu valor.

— Acalme-se!  Não se precipite!

— Estou tentando digerir minha decepção, mas não fico nem mais um dia nessa empresa. Perdi o Fred pela loucura do meu trabalho.  Adiei férias.  Passei fins de semana no computador. Perdi o chão.

— Estou indo aí para tomarmos algo e você espairecer. Ah! O Jorginho está ao meu lado e também quer ir.

Jussara ficou por uns segundos em silêncio e respondeu com uma voz entrecortada pela emoção.

— Venham sim! Estou precisando de boa companhia.

Um pálido sorriso aflorou em seus lábios. Pelo menos tinha amigos.


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